quinta-feira, 17 de outubro de 2024

BDM 171024

 *Rosa Riscala: BCE volta a cortar juro, mas expectativa é se haverá guidance*


Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*


… O BCE deve entregar hoje (9h15) novo corte de 25pbs do juro na zona do euro, mas a maior expectativa é para a entrevista de Lagarde (9h45), que poderá sinalizar para a continuidade das quedas, o que sustentaria a força do dólar. O diferencial das taxas com os Estados Unidos – onde o Fed adota um discurso gradualista – pressiona o câmbio dos emergentes.


… Outro risco para esses países é o protecionismo de Trump, além das incertezas sobre a economia da China, que, no entanto, anunciou novidades contra a crise imobiliária. Hoje, no final da noite, sai mais uma bateria de indicadores chineses, inclusive o PIB do 3Tri. Na agenda em NY, são importantes as vendas no varejo e a produção industrial. Netflix divulga balanço após o fechamento. Aqui, mais uma polêmica fiscal surge com os dois projetos do governo para tirar estatais ainda dependentes do Orçamento.


… O mercado recebeu muito mal as propostas encaminhadas ao Congresso que afrouxam as regras para que empresas públicas saiam da contabilidade tradicional e passem a gastar como instituições independentes, mesmo que ainda dependam de dinheiro do Tesouro.


… O Planejamento, que elaborou os projetos, afirma que a mudança melhora a situação fiscal, pois hoje os recursos próprios das estatais também acabam entrando no Orçamento e concorrem com outros gastos.


… Os ruídos com a novidade levaram Fernando Haddad a dar entrevista buscando corrigir a leitura de “contabilidade criativa” feita pelos investidores: “Não há hipótese de tirar as estatais do arcabouço fiscal”, disse o ministro, no final da manhã.


… Segundo o ministro, “o objetivo da medida é exatamente o contrário; não é nada disso que vocês estão pensando; o projeto explora a possibilidade de se reduzir o aporte federal feito nessas companhias.” Ele admitiu que pode fazer ajustes na redação do projeto.


… Para Gabriel Leal de Barros (ARX), o texto da proposta é mesmo dúbio, com uma transição a ser regulamentada por Ato do Executivo da qual não se conhecem detalhes. “Tirar despesas das estatais do orçamento vai na direção contrária da que o governo deveria sinalizar.”


… Em comentário à coluna do jornalista Fernando Dantas (Estadão), Barros disse que “o governo deveria cortar, e não manobrar gastos”.


… O efeito das declarações de Haddad foi pontual e à tarde o estresse já voltava à curva dos juros futuros (leia abaixo).


… Para a Warren Investimentos, a ausência do registro das operações no Siafi sugere falta de transparência. Além disso, a alegação de que as empresas se tornariam mais eficientes e menos dependentes do Tesouro não parece adequada.


… “Não é a falta de contrato de gestão que as faz menos eficientes ou dependentes. Nada as impede de se tornarem independentes e, assim, deixarem de integrar o orçamento federal”, segundo análise dos economistas da corretora.


… O mercado confia em Haddad, mas agora quer o aval de Lula para as iniciativas de contenção dos gastos.


… Nesta 4ªF, no encontro de representantes dos maiores bancos privados do País com Lula, eles teriam se convencido de que o presidente decidirá a favor do ministro da Fazenda em temas de natureza fiscal, apurou o repórter Matheus Piovesana (Broadcast).


… Segundo relatos, no encontro, Haddad afirmou ao presidente que o equilíbrio fiscal é o que vai assegurar um crescimento sustentável e equilibrado da economia. Os presentes “viram, ouviram e sentiram que Lula confia no ministro”.


… Participaram os presidentes de Itaú Unibanco, Bradesco, Santander Brasil, BTG Pactual e Safra, além do presidente da Febraban, Isaac Sidney. Eles definiram a conversa com Lula, que foi pedida pelos bancos a Haddad, como “bastante cordial”.


… Ainda com informações de bastidores, Lula e Haddad manifestaram preocupação com o esgotamento das fontes de captação do crédito imobiliário, que ainda é muito dependente da poupança. Mesmo a Caixa, passará a exigir entrada maior nos financiamentos.


REFORMA TRIBUTÁRIA – Incomodado com a demora dos senadores em apreciar o texto enviado pela Câmara em julho, Lira só pautará a votação do 2º projeto de regulamentação após o Senado votar a primeira proposta.


… A informação é do Broadcast. Como o Senado provavelmente fará mudanças no primeiro projeto, o texto voltará para a Câmara, mas Lira acredita que há tempo suficiente para a reforma ser concluída este ano.


MAIS AGENDA – Logo cedo (5h), sai a prévia do IPC-Fipe e, às 8h, vem o IGP-10, que deve acelerar de 0,18% em setembro para 1,31% em outubro, segundo a mediana no Broadcast. As projeções são todas de alta: 1,00% a 1,41%.


LÁ FORA – Nos EUA, as vendas no varejo (9h30) têm previsão de alta de 0,4% em setembro, mas a produção industrial (10h15) deve cair 0,1%. Para o auxílio-desemprego (9h30), a estimativa é de queda de 3 mil pedidos.


… Às 11h, sai o índice NAHB de confiança das construtoras (out). Ao meio-dia, Austan Goolsbee (Fed) fala e serão divulgados os estoques de petróleo do DoE, com projeção de crescimento de 1,9 milhão de barris.


… Na zona do euro, antes do BCE, tem a leitura final de setembro do CPI. Os BCs da Turquia (8h) e Chile (18h) decidem juros. Na China (23h), além do PIB/3Tri, saem as vendas no varejo e produção industrial de setembro.


AFTER HOURS – Alcoa disparou 6%, com o lucro por ação ajustado no 3Tri (US$ 0,57) mais do que no dobro das projeções (US$ 0,25). Além disso, a empresa informou alta de 5% na produção de alumínio na base anualizada.


CHINA – O ministro da Habitação, Ni Hong, anunciou aumento do programa de crédito habitacional para 4 trilhões de yuans (US$ 562 bilhões) até o fim do ano, na tentativa de estabilizar a crise vivida pelo setor imobiliário.


… Isso significa que o volume de empréstimos vai quase dobrar contra o valor atual, de 2,2 trilhões de yuans.


… Apesar disso, o anúncio do governo decepcionou. O mercado queria os trilhões de yuans sobre a compra de casas não vendidas e não como expansão de crédito a incorporadoras, disseram traders para a Bloomberg.


CONFIA DESCONFIANDO – O mercado não está sentindo firmeza nenhuma nas garantias de equilíbrio fiscal.


… Durou tão pouco ontem o respiro dos negócios com o desmentido de Haddad sobre a retirada das estatais do arcabouço, que até o fechamento, o efeito de alívio já havia se dissipado. É muita espuma para lidar todo dia.


… Sob altos e baixos, que dão a medida da cautela, os DIs registraram abertura tensa, com alta de até 10 pb, devolveram prêmio com os comentários do ministro, para na reta final voltaram a operar na defensiva.


… Os investidores confiam na palavra da Fazenda, mas cobram de Lula a defesa explícita de cortes de gastos, temendo que o Planalto e a ala política do governo sabotem os esforços de controle das contas públicas.


… No fechamento, o juro para Jan26 subia a 12,640% (de 12,610% na véspera); Jan27 avançava a 12,810% (de 12,775%); Jan29, a 12,825% (de 12,770%); Jan31, a 12,800% (de 12,710%); e Jan33, a 12,720% (de 12,630%).


… Também o câmbio deu rápidos sinais de esgotamento ao alívio que Haddad tentou proporcionar. O dólar não demorou a zerar a queda ensaiada e virar levemente para o positivo, para fechar cotado a R$ 5,6651 (+0,14%).


… No pano de fundo, a moeda americana também reproduziu a alta em escala global, com o mercado se antecipando ao corte do BCE e não descartando a chance de vitória de Trump e de suas políticas protecionistas.


… No noticiário doméstico, o BC informou que o fluxo cambial total na semana passada foi positivo em US$ 3,245 bilhões, resultado de entrada de US$ 1,684 bilhão pela conta financeira e US$ 1,561 bi pela via comercial.


… No acumulado de outubro, o fluxo está positivo em US$ 2,550 bilhões, com entradas de US$ 2,657 bilhões pela conta comercial e saídas de US$ 106 milhões pela financeira. No ano, já ingressaram US$ 9,313 bilhões.


THE GOOD, THE BAD AND THE UGLY – Protagonista de uma alta de quase 2%, Vale salvou o Ibov de cair, embora a piora de humor do DI à tarde com o fiscal tenha melado os planos da bolsa de resgatar os 132 mil pontos.


… O índice à vista fechou em 131.749,72 pontos (+0,54%), com giro financeiro, de R$ 51,7 bilhões, turbinado pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa. Amanhã, tem exercício de opções.


… Vale driblou a queda de 1,88% do minério em Dalian e subiu 1,91% (R$ 62,34), repercutindo positivamente a informação do relatório trimestral de que a produção de minério de ferro do 3Tri foi a maior desde o 4Tri/2018.


… Petrobras ON caiu 0,29% (R$ 40,78) e PN recuou 0,51% (R$ 37,21), num desempenho que foi ligeiramente pior do que a estabilidade do petróleo Brent (-0,04%, R$ 74,22 o barril), à espera dos desdobramentos no Oriente Médio.


… Bancos não tiveram direção única. Do lado positivo, BB (+1,10%; R$ 26,76), Santander (+0,35%; R$ 29,04) e Bradesco ON (+0,23%; R$ 13,23). Na outra ponta, Itaú caiu 0,60% (R$ 35,04) e Bradesco PN cedeu 0,33% (R$ 15,10).


… Depois de anunciar investimento de US$ 70 milhões nos EUA, Embraer disparou 6,74% (R$ 48,77). Azul subiu 3,91% (R$ 6,11) e Vamos ganhou 3,88% (R$ 5,89).


… Azzas se destacou no campo negativo, caindo 1,59%, a R$ 41,36, com a notícia, confirmada pela empresa, de que o executivo Paulo Kruglensky deixou o cargo de diretor de Integração.


… LWSA (-2,25%; R$ 4,35) devolveu parte dos ganhos da véspera e IRB (-1,66%; R$ 43,27) completou a lista das piores baixas.


GIRA A RODA – Com mais um balanço melhor que o esperado, o do Morgan Stanley, o setor financeiro foi a estrela do dia nas bolsas de NY, numa sessão também marcada pelo movimento de rotação das techs para as small caps.


… Com lucro por ação (US$ 1,88) muito acima do esperado (US$ 1,59) no 3Tri, a ação do banco subiu 6,5%. A receita, de US$ 15,4 bilhões, também superou a expectativa, de US$ 14,35 bilhões.


… Último dos grandes bancos americanos a divulgar balanço, o Morgan reforçou o otimismo com um possível pouso suave na economia dos EUA.


… United Airlines, que divulgou balanço na véspera após o fechamento do mercado, saltou 12,4%.


… O S&P 500 (+0,47%) fechou em 5.842,47 pontos e o Dow Jones (+0,79%) superou os 43 mil pontos (43.077,70), novo recorde. Nasdaq subiu menos (+0,28%, a 18.367,08 pontos), em dia ruim para quase todas as sete magníficas.


… Superando os principais índices, o Russell 2000, das small caps, avançou 1,6%, a 2.287 pontos, maior nível desde novembro de 2021.


… O cenário para as small caps melhorou na esteira do forte payroll de setembro e do corte de juros do Fed, disse Nicholas Lentini (Morgan Stanley) à Bloomberg.


… Recentemente, ele elevou o setor de “venda” para “neutro” em relação às grandes empresas.


… À Reuters, Michael Kantrowitz (Piper Sandler) afirmou que investidores também saíram do setor de tecnologia, muito caro, para ações de grandes bancos.


… “As pessoas estão ampliando seu portfólio, comprando small caps de qualidade e o setor financeiro”.


… Mas ele ainda não vê um grande movimento em direção a empresas menores. Para isso, seria necessária uma aceleração no crescimento da economia americana, disse.


… De acordo com o Goldman Sachs, o S&P 500 tem potencial de ficar acima de 6.000 pontos até o fim do ano. Historicamente, em anos eleitorais, o mercado sobe em setembro e outubro, segundo a CFRA Research.


… No câmbio, o movimento foi ditado pela perspectiva de corte de juro hoje pelo BCE e pelo CPI abaixo do esperado no Reino Unido, o que deu força para o índice dólar (DXY), que fechou em alta de 0,29%, a 103,561 pontos.


… A libra esterlina caiu ao menor nível em quase dois meses (-0,70%, a US$ 1,2980) com o CPI britânico em 1,7% em setembro, na comparação anual, ante expectativa de 1,9%. Contra agosto, ficou estável, de +0,1% esperado.


… O núcleo do índice (+0,1% na margem e 3,2% na base anualizada), abaixo das expectativas de 0,3% e 3,4%, respectivamente, amplia as chances de corte de juro pelo BoE inglês.


… Na véspera do BCE, o euro caiu 0,28%, para US$ 1,0859. O iene cedeu 0,26%, a 149,594/US$, depois de o integrante do BoJ Seiji Adachi defender que as taxas de juros sejam elevadas de forma “gradual e cuidadosa”.


… Sem agenda de indicadores no dia, os juros dos Treasuries tiveram leve queda, ampliando a correção das altas recentes. O retorno da note de 2 anos recuou a 3,935% (de 3,946%) e o da note de 10 anos, a 4,014% (de 4,033%).


EM TEMPO… Debenturistas CVC aprovaram em assembleia o reperfilamento das debêntures de 4ª e 5ª emissões.


JHSF aprovou a 15ª emissão de debêntures de R$ 600 milhões. Serão emitidas 600 mil debêntures, com valor nominal unitário de R$ 1.000.


CAIXA SEGURIDADE recebeu autorização da CEF, sua controladora, para uma oferta pública subsequente de ações (follow-on). A efetivação da potencial oferta está sujeita às condições de mercado.


BHP produziu 64,6 milhões de toneladas de minério de ferro no primeiro trimestre fiscal de 2025, alta de 2% na comparação anual; produção de cobre subiu 4% no período, para 476,3 mil toneladas.

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