quarta-feira, 31 de março de 2021

MACRO MERCADOS DIÁRIO 31/03/2021 - PRECISAMOS DE ESTABILIDADE

Foi uma terça-feira (dia 30) em que os investidores ainda “lambiam as feridas” do “caos político” do dia anterior. O esforço aqui era absorver a reforma ministerial, atento aos embates entre os militares e o governo, e ainda transitando pela pandemia, que ontem atingiu recorde de mortes (3.668) e o Orçamento, totalmente disfuncional, em negociação no Congresso.

Mesmo assim, alguns ainda conseguiram enxergar algumas positividades sobre o que aconteceu. A reforma ministerial, por exemplo, mostrou “alguma aproximação entre Executivo e Legislativo”, e, mais do que isso, de que o Centrão, no seu pragmatismo pela governabilidade, deve assumir o leme do návio nestes mares revoltos. Com um dos seus quadros, Vera Arruda (PP-DF), num posto estratégico do Planalto (Casa Civil), a impressão é que o ritmo das negociações deve se tornar outro. Ela, inclusive, já presidente da CMO, deve conseguir “destrinchar” melhor o Orçamento de 2021 (OGU), o “bode na sala” a ser retirado.

O maior problema no OGU é que ele foi aprovado na Câmara com “subestimação das despesas de custeio” para tornar possível a acomodação do festival de emendas. Algo totalmente irreal. Agora, é lutar para que o Congresso retire boa parte destas emendas para que “caibam no Orçamento”, como disse Paulo Guedes.

Foi um dia, também, de indicadores divulgados, mais “amenos” do que o esperado. O IGP-M de março veio com 2,94%, maior taxa para o mês desde o Plano Real, mas abaixo das projeções; a Caged com expansão de 401 mil vagas formais, bem melhor do que o esperado, o que pode ser lido que a retomada da economia acontece, apesar dos pesares. Para isso, é o que disse Paulo Guedes, muita campanhade vacinação precisa ser agilizada. Talvez nosso quadro não seja tão ruim, por já termos produção nacional, pelo Butantan e em breve, pelo governo, o que pode tornar possível a vacinação de todos adultos acima de 50 anos até maio. Por outro lado, não podemos deixar de observar o caos até aqui, com recorde de mortes neste dia 30, 3.668.

Nos EUA, o ritmo é intenso, com uma média de 3 milhões de pessoas por dia, podendo resultar em 90% dos adultos vacinados agora em abril. Isso se reforça também à ampla campanha de vacinação no Reino Unido, já com metade dos adultos já tendo tomado a “primeira dose”.

Isso nos leva a crer que a prioridade é organizar as campanhas de vacinação e cessar de uma vez por todas os bate bocas inúteis. Enquanto a vacina não vem, as pessoas têm que ficar em casa sim, tem que haver lockdown, mesmo que nas suas várias modalidades. Isolamento social é a única saída, além de máscara e álcool gel, além de todo cuidado nas movimentações. Não tem jeito. Vários países superaram este virus no mundo, com destaque para Portugal (2 pessoas morreram ontem !), Nova Zelândia, Austrália, Israel, Chile, Uruguai, e vamos achando países.

Falando da reforma ministerial, já citada acima, pode representar um fortalecimento do Centrão, em prol da governabilidade do País, meio que enquadrando o presidente, num sinal amarelo de que se ele não colaborar e não “calar a boca, remédios amargos e fatais acabarão necessários”. Para bom entendedor...

Já o afastamento dos comandantes militares (maior crise desde a redemocratização de 1985), também se guiou pela mesma mensagem...”voce está isolado e é bom se enquadrar”.

Voltando ao mercado, outro dado nesta situação caótica foi o desempenho fiscal, do governo central, com déficit de R$ 21,2 bilhões, um pouco abaixo do esperado.

Neste contexto, no dia 30, a bolsa paulistana, pela manhã, muito volátil, à tarde deu uma reagida, fechando no azul, avançando 1,24%, a 116.849 pontos, beneficiada pela recuperação dos papéis de consumo domésticos, diante da perspectiva de aceleração das vacinações. No mês de março, até o dia 30, a valorização chegou a 6,19%, meio que compensando a perda de 1,82% no ano.

No mercado de juros, todas as pontas da curva deram uma recuada, depois do IGP-M menor do que o esperado e a reforma ministerial enquadradora, além do Caged mais robusto. Agora crescem as apostas de que o ajuste de juro, dividido entre 0,75 e 1,0 ponto percentual, deve tender mais para a segundo “range”. O presidente do BACEN, Roberto Campos Neto, aliás, disse que o ajuste do juro pode ser célere, caso as negociações do Orçamento não se encaminhem bem.

Por fim, em dia de PTAX, o câmbio segue pressionado, o que se reflete numa readequação dos investidores estrangeiros, neste ambiente de confrontos e ameaças de ruptura. Neste contexto, dia 30, o dólar, que chegou a R$ 5,80 em alguns momentos do dia, deu uma cedida ao fim, fechando a R$ 5,7619 (-0,08%). Já os CDSs avançaram um pouco, de 228,4 pontos a 231,4, refletindo este ambiente de desconfiança dos investidores estrangeiros.

CENTRÃO E GOVERNABILIDADE, 30/03/2021

Na metade do mandato, em frágil composição política no Congresso, sempre às turras com o então presidente da casa Rodrigo Maia, Jair Bolsonaro acabou como um dos articuladores para a eleição da dupla Rodrigo Pacheco, para o Senado, e Artur Lira, para a Câmara, no início de fevereiro. 

Era previsível, portanto, algum "troca troca político", uma nova composições de forças teve que ser construída. Ou seja, isso não foi gratuito. Algo teve que se dado em troca, pela "sustentação de aluguel" do Centrão ao governo Bolsonaro. 

Sendo assim, novas "influências" ao governo se tornaram fato, o que se confirmou nos "ajustes" realizados nesta segunda-feira (dia 29).

Em movimentação que surpreendeu a todos, Jair Bolsonaro acabou realizando uma reforma ministerial de peso, com mudanças em seis cargos. 

Especulações indicam que os proximos a caírem deverão ser Ricardo Salles do Meio Ambiente, Rogerio Marinho, do Desenvolvimento Regional, e o ministro da Educação, mais um fundamentalista que eu não recordo agora o nome. 

Podemos "calcular" que o governo está sendo levado a estas decisões, em função da necessidade de limpar a sua agenda ideológica por pressão do Centrão, outros, mais pragmáticos, consideram que em parte sim, pois muitos destes quadros no governo vinham atrapalhando no seu bom transcurso. 

No caso de Rogério Marinho, a razão seria também os constantes embates com o ministro Paulo Guedes, cioso da necessidade de respeito ao "teto dos gastos", e também pela austeridade, a não ingressar em nenhuma aventura populista, que não possa ser sustentável depois. 

Nas mudanças empreendidas nesta segunda-feira (dia 29), seis cargos foram trocados. 

Na Defesa, saiu o general Fernando Azevedo para abrir espaço ao general Braga Netto, antes na Casa Civil, agora ocupada pelo general Luis Eduardo Ramos, deslocado da Secretaria de Governo para a entrada da deputada Flavia Arruda, esposa do ex-deputado José Roberto Arruda. Pode estar aqui sendo construído o tal "rearranjo" do Centrão na relação com o governo. Isso porque será ela a negociar com o Congresso cargos e a analisar várias emendas dos deputados 

Na Justiça, assume o delegado da Polícia Federal, Anderson Torres, conhecido do filho 01 Flavio Bolsonaro. André Mendonça volta para a AGU, com a saída de José Levi, por discordar do presidente Bolsonaro; 

E finalmente, no Ministério das Relações Exteriores saiu Ernesto Araújo e entra o Embaixador Carlos Alberto Franco França. Este, então chefe do cerimonial do Planalto, tende a ser mais discreto e menos histriônico nas relações do Brasil com o resto do mundo. Com certeza, não deve gerar fricções, por exemplo, com a China, maior parceiro comercial do Brasil na atualidade. Este país é simplesmente 70% da nossa pauta comercial, maior demandante de soja, minério de ferro e um dos maiores de carne dos nossos frigoríficos. 

Sobre as mudanças na Advocacia-Geral da União, saiu José Levi Mello, entra André Mendonça, possível candidato para o STF na próxima aposentadoria dos 11, de Marco Aurélio de Mello. 

Sobre a troca na Defesa, um fato a chamar atenção é que os três comandantes, Aeronáutica, Marinha e Exercito, também saíram. Isso representa um claro indicativo de que as FFAA não aderiram ao populismo do presidente Bolsonaro. Outro fato a chamar atenção é que o general Fernando Azevedo demonstrou, de forma cabal, que o Exercito é uma instituição de Estado e não de governo. Ou seja, não irá embarcar em nenhuma aventura populista. 






Editorial do Estadão (17/02)

LULA PROMETE O ATRASO: A razia bolsonarista demanda a eleição de um presidente disposto a trabalhar dobrado na reconstrução do País. A bem d...