quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

2021 na pressão

A "biruta" dos mercados deu uma endoidada por estes dias. Tanto os ativos globais, como os domésticos volatilizaram fortes, por variadas razões. 

No Brasil, o mercado de ações ingressou numa espiral de realizações (seis pregões seguidos de queda do B3) e o dólar deu uma "esticada" a R$ 5,41. Por outro lado, no mercado de juro a curva curta deu uma estabilizada e a longa declinou um pouco. A justificar isso uma leitura mais "dovish" do Banco Central, devendo antecipar o processo de aperto monetário, depois de comunicado da ata do Copom e da retirada do termo "foward guindance" na reunião. Isso reforça a tese de que o juro Selic nominal a 2% ao ano não representa o momento econômico que vivemos. Está claramente fora do equilíbrio. Há, inclusive, no mercado os que consideram a taxa mais apropriada para o momento, com pressões inflacionárias derivadas do câmbio esticada, em algo próximo a 4,5% ao ano.  

Neste contexto de ajuste, provocado por essa mudança de leitura, ainda existe alguma expectativa em saber como o governo deve financiar a extensão do auxilio emergencial, pensando na neutralidade sobre o teto de gastos. Será possível? Paulo Guedes já levanta esta possibilidade da volta do auxílio pelo período de dois a três meses, até completar o ciclo de vacinação em massa da população. Mas será que o ciclo completo de vacinação em massa só deve durar três meses. E qual a sustentabilidade da dívida pública e do déficit, em trajetória explosiva?

O fato é que esta segunda onda (ou vaga, como dizem em Portugal) da pandemia vem se mostrando mais rigorosa do que a primeira, entre março e abril do ano passado. O mundo passa por uma prova de resistência ainda mais pesada, com o vírus se espalhando mais rapidamente e sofrendo estranhas mutações, da Amazônia, do Reino Unido, da África do Sul, entre outros lugares.

Soma-se a isso, por aqui no Brasil ruídos causados pela total falta de governabilidade do presidente Bolsonaro. A todo momento são declarações intempestivas dadas, tensionando ainda mais as relações em sociedade. O que é fato é que ele não consegue pacificar os vários extratos sociais, sua relação com a imprensa, sempre em confrontação e bate-bocas. Em plena pandemia, quando as várias esferas de governo, os representantes da sociedade, deveriam estar unidos e fortes, o que se observa é o contrário, dissipação e acusações mútuas.

Para piorar, na ausência deste apoio emergencial, a popularidade de Bolsonaro só cai. Pesquisas de opinião indicavam que a avaliação "regular a bom" recuou ainda mais, de 32% para 26% e a "ruim a péssimo" aumentou, assim como o indicador de rejeição. Várias carreatas aconteceram nas capitais por estes dias, além de panelaços.

No mundo político, às vésperas das eleições no Congresso dos seus presidentes, muito se comenta sobre a possibilidade de colocar em plenário os pedidos de "impeachment" (os pedidos já passam de 61!). A "fratura exposta ideológica" na sociedade, por variadas razões, se mantem ou só piora. Não parece haver sinal de consolidação. Em leitura figurativa, cresce, isso sim, o receio da perda do membro!

Pela leitura de muitos, para que o processo de “impeachment” avance, o presidente precisa estar na lona em termos de popularidade, sem apoio parlamentar, com mobilização popular contrária, ou então envolvido em algum caso de corrupção. Na verdade, é o conjunto destes fatores, da obra, a definir seu destino. Não nos parece que tenha chegando a tanto, mas pelo “andar da carruagem”, mantidas as condições de temperatura e pressão atuais...Não será surpresa se ele não completar seu mandato.  

No plano global, alguns fatores devem ser lembrados. Temos o avanço da Covid e o processo de vacinação muito lento em diversos países, movimentos especulativos de “hedge funds” ocorreram por estes dias, o que fizeram o índice de volatilidade VIX disparar e há incertezas sobre a dimensão do pacote fiscal norte-americano anunciado. Por lá, as declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, não agradaram o mercado. Apesar do banco central americano ter feito o que se esperava nesta semana, mantendo o juro e os programas de suporte, o chairman do Fed disse que ainda há "um longo caminho a ser percorrido" para alcançar as metas de inflação e emprego.

Enfim, neste momento não existem motivos para estarmos otimistas ou confiantes. Ainda vivemos um período crítico, de transição e incertezas sobre o futuro. Pairam dúvidas sobre o ritmo de vacinação, disponibilidade de insumos, e normalização da economia global e daí, dos mercados. Difícil saber para que direção se guiar.

O momento é de espera. 

Vamos conversando.

Julio Hegedus Netto, Economista, Doutorando UÉvora

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

TENTANDO ENXERGAR O FUTURO


O que pensar do futuro num país conflagrado em que todos têm opinião sobre tudo, mas certeza sobre nada? 

Não dá para levar a sério negacionistas, se sustentando por "placebos", "mata-piolhos" e quetais, no combate a um vírus devastador, que já levou a vida de mais de 205 mil pessoas no Brasil. Se fosse isso, não teríamos mais o problema do virus, bastava o tal "tratamento precoce" e tudo estaria resolvido. A OMS teria chancelado este "tratamento", este coquetel e a crise estaria superada. "Aaahhh, isso não avança pois existe um complô comunista!"...

Por favor, menos delírios. E o pior é que quando se pensa nestas "articulações" malucas, os delírios partem de ambos os lados ou espectros ideológicos, da extrema direita, governando este País, até a extrema esquerda. 

Bom, mas o tema deste artigo não versa sobre esta "salada ideológica", esta polarização inútil, que se espalha pelo País. 

Nosso objetivo aqui é achar um "norte" para tentar navegar por este "ano da vacina" (que bom!), do recém eleito Joe Biden no governo norte-americano (tirando Donald Trump e colocando em cheque o populismo de direita no mundo), e no Brasil, essencial, da discussão das reformas, para mim, algo inadiável para pavimentar o caminho dos próximos tempos. 

A vacina saindo, mesmo com tantos ruídos e imbecilidades pelo caminho, já será um bom avanço, algo "libertador", por abrir caminhos para a "normalização" na vida em sociedade. Claro que não será tomar a primeira dose da vacina e pronto, tudo resolvido. Vamos voltar a viver sem máscaras, sem alcool gel, abraçando a beijando a todos. Não! Nada disso! Ainda virá a segunda dose, várias etapas de grupo de pessoas a serem vacinadas, e toda cautela será necessária. 

Calcula-se que pelo este ano de 2021 será percorrido neste processo. A imunização total, talvez apenas lá para o início de 2022. Assim esperamos.   

Outro ponto a destacar é o retorno do pragmatismo e do bom senso político na maior potência do mundo, os Estados Unidos. Donald Trump pode ser afastado em defintivo do mundo político ("impeachment" agora no Senado norte-americano) e a trilha liberada para as políticas mais responsáveis, muitas vezes, mais social democratas. Claro que, neste contexto, a trajetória da dívida pública norte-americana se tornará uma preocupação a mais, a o risco de lockout presente a cada final de ano fiscal.

Retornando ao Brasil, a agenda econômica, de reformas estruturais, nos parece o maior desafio para este ano. Sim, porque continuamos ladeira abaixo nos indicadores Doing Business no Banco Mundial. Nosso ambiente de negócios é altmente tóxico e a desindustrilização segue como mantra. Por isso, a urgência desta agenda de reformas. 

A começar pela reforma da Previdência, muito mais ambiciosa quando formulada pela equipe econômica, com regime de capitalização, dando a cada um a responsabilidade pela sua poupança acumulada, passando por "ajustes pesados" nos servidores públicos e nos militares, estes sempre poupados pelos diligentes lobbies, fechando em reformas pesadas nos estados e municípios, focos centrais dos desequilíbrios estruturais hoje existentes no setor público. Ou seja, a reforma do regime de Previdência do Paulo Guedes não acabou. Foi deixada pelo caminho, era aquilo nas condições políticas dadas, e me parece óbvio o pouco empenho do presidente Jair Bolsonaro. 

A reforma Tributária, outro arremedo, com a unificação de uns poucos e uma tímida rearrumação da carga fiscal sobre o sistema econômico. Acabar com o ICMS, "promotor" de tantas "guerras fiscais" no passado? Criar um imposto único, o IVA? Debater, de fato, a adoção de um "pacto federativo"? Não. Claro que o desgaste político em torno das reformas é inevitável, e o presidente não parece muito disposto a passar por isso. 

Por fim, a reforma do Estado, uma reforma essencial e urgente quando se observa que boa parte das despesas obrigatórias, que só crescem e comprometem o orçamento e a gestão do governo, estão "escondidas" na rubrica Pessoal e Encargos, incluindo aqui inativos que recebem salário integral. Então vamos combinar o seguinte. Ou cortamos este benefício e limitamos a 5,4 mil reais o salário dos aposentados, como todos que recebem INSS, ou nos locupletamos todos e acabamos com o regime previdenciário. Não dá para sustentar esta "fábrica de privilégios" (segundo Paulo Guedes). 

Não dá é para um cidadão ser privilegiado, por ter um sindicato específico de servidores públicos, sempre fazendo lobby no Congresso, contra a situação "pulverizada" de milhares de brasileiros, sem esta representatividade aguerrida e focalizada. 

Isso não me parece razoável! 

E eu me estendo a algumas áreas das empresas públicas, verdadeiros "cabides de empregos" e de privilégios, desde a Petrobras, passando pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica e BNDES. Este último, aliás, vive do repasse do FAT e "turbina" seus lucros em operações de mercado. Assim se torna fácil ser uma empresa lucrativa. Funcionários do BNDES, acumulando vários penduricalhos, se aposentando com mais de 40 mil reais, acima do teto, se refletindo na inviabilidade do fundo de pensão Fapes. É mole?? 

Quando citadas as empresas, me esqueci de comentar outro desafio do ministro Guedes, o pacote das privatizações. Por onde andam? Por que não avançam? Correios, Eletrobras, parte do BB, subsidiárias da Petrobras, estradas diversas, aeroportos, tudo já deveria ter ido para fora. 

Será que este governo, será que o Bolsonaro teria coragem para tanto? Será que ele dará o necessário apoio ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para tocar esta agenda em 2022? 

Eu não acredito...

Vamos conversando...

 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

UM PUXADINHO

O Brasil precisa sim ser revirado de trás para frente, de cabeça para baixo, ao avesso. Uma revolução nos costumes, na forma de pensar, na seriedade no trato dos diversos temas, na gestão, nos modelos de gerenciamento, precisam sim passar pela mente dos brasileiros. 

Uma pessoa lúcida, equilibrada, que busque o entendimento, mas assertiva e determinada, agindo de forma corajosa, realmente, para enfrentar os interesses, precisa surgir para as eleições de 2022. Uma pessoa com a razão ao seu lado, sabedora do que deve ser feito, com bom senso e uma disposição para enfrentar abusos e interesses escusos. 

No setor público não dá para manter uma "casta de servidores privilegiados", mobilizados por sindicatos aguerridos, mas de costas para a sociedade e a verdadeira dimensão da "coisa pública". Não faz sentido a maior aspiração de um jovem ser fazer concurso e ir para as mamatas e estabilidades do serviço púiblico. Este deve ser vocação, sacrifício, não um "nicho de privilegiados".  

Não podemos fortalecer o setor público, às custas do definhar do setor privado, até porque este mesmo setor público precisa de arrecadação federal, obtida pelo sistema econômico, pelas empresas, pelas famílias, para assim manter seus fluxos de despesa. 

Daí a indagação: mais de privilégios e sinecura e do aumento de arrecadação, da carga de impostos sobre a iniciativa privada? 

Há um cansaço perceptível. 

A mídia se aproveita e o "presidente" atual vive a gerar tensões, bate bocas, que não levam a nada. 

A última foi a sua surpreendete grita sobre as decisões do presidente do Banco do Brasil, André Beltrão, de saneá-lo, defendendo seis mil bancários no PDV e a redução do número de agências bancárias. Em resposta, Bolsonaro, disse que iria demitir o prisidente e que o momento era inadequado. Se Jair acha q o setor bancário não precisa passar por um "enxugamento pesado", pensar o quê? 

Isso é, aliás, um fenômeno global. Os grandes bancos, no Brasil e no mundo, vão passando por transformações, dada a emergência da internet, das operações virtuais. O pobre presidente do Banco do Brasil fez o certo. É preciso passar sim por um "profundo saneamento do banco". A verdade é que o BB, como tantos "elefantes brancos", é pesado, ineficiente e vem perdendo share de mercado para a concorrência. 

Aí chega o presidente e diz que não vai fazer nada disso e que o pobre presidente do BB está demitido. 

Como fica o PAULO GUEDES numa hora destas? Sim, porque a agenda liberal do ministro, o programa de privatização e de liberalização da economia vem sendo ignorado! Desde sempre. 

Se eu fosse o Guedes, pegava o boné e um abraço, ia embora. Mas não. 

Ele se cala, engole em seco e entuba mais esta loucura do "capitão". Na nossa opinião, mais um enigma a ser decifrado neste comportamento do "chicagoboy". Um doutor por Chicago se sujeitando a humilhação por um cidadão sentado na cadeira, mas sem a mínima qualificação!!!  

Guedes entubou uma reforma da Previdência, totalmente descaracterizada, não consegue avançar na sua agenda de reforma, a Administrativa e a Tributária se resumem a poucas medidas! Isso torna sua gestão na Economia, na Fazenda, um "arremedo", um puxadinho. 

Faz o possível diante das circunstâncias políticas? Sim, mas quem gerou estas circunstâncias altamente tóxicas para o avanço da gestão econômica? 

Vamos conversando. 


Editorial do Estadão (17/02)

LULA PROMETE O ATRASO: A razia bolsonarista demanda a eleição de um presidente disposto a trabalhar dobrado na reconstrução do País. A bem d...