segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

TENTANDO ENXERGAR O FUTURO


O que pensar do futuro num país conflagrado em que todos têm opinião sobre tudo, mas certeza sobre nada? 

Não dá para levar a sério negacionistas, se sustentando por "placebos", "mata-piolhos" e quetais, no combate a um vírus devastador, que já levou a vida de mais de 205 mil pessoas no Brasil. Se fosse isso, não teríamos mais o problema do virus, bastava o tal "tratamento precoce" e tudo estaria resolvido. A OMS teria chancelado este "tratamento", este coquetel e a crise estaria superada. "Aaahhh, isso não avança pois existe um complô comunista!"...

Por favor, menos delírios. E o pior é que quando se pensa nestas "articulações" malucas, os delírios partem de ambos os lados ou espectros ideológicos, da extrema direita, governando este País, até a extrema esquerda. 

Bom, mas o tema deste artigo não versa sobre esta "salada ideológica", esta polarização inútil, que se espalha pelo País. 

Nosso objetivo aqui é achar um "norte" para tentar navegar por este "ano da vacina" (que bom!), do recém eleito Joe Biden no governo norte-americano (tirando Donald Trump e colocando em cheque o populismo de direita no mundo), e no Brasil, essencial, da discussão das reformas, para mim, algo inadiável para pavimentar o caminho dos próximos tempos. 

A vacina saindo, mesmo com tantos ruídos e imbecilidades pelo caminho, já será um bom avanço, algo "libertador", por abrir caminhos para a "normalização" na vida em sociedade. Claro que não será tomar a primeira dose da vacina e pronto, tudo resolvido. Vamos voltar a viver sem máscaras, sem alcool gel, abraçando a beijando a todos. Não! Nada disso! Ainda virá a segunda dose, várias etapas de grupo de pessoas a serem vacinadas, e toda cautela será necessária. 

Calcula-se que pelo este ano de 2021 será percorrido neste processo. A imunização total, talvez apenas lá para o início de 2022. Assim esperamos.   

Outro ponto a destacar é o retorno do pragmatismo e do bom senso político na maior potência do mundo, os Estados Unidos. Donald Trump pode ser afastado em defintivo do mundo político ("impeachment" agora no Senado norte-americano) e a trilha liberada para as políticas mais responsáveis, muitas vezes, mais social democratas. Claro que, neste contexto, a trajetória da dívida pública norte-americana se tornará uma preocupação a mais, a o risco de lockout presente a cada final de ano fiscal.

Retornando ao Brasil, a agenda econômica, de reformas estruturais, nos parece o maior desafio para este ano. Sim, porque continuamos ladeira abaixo nos indicadores Doing Business no Banco Mundial. Nosso ambiente de negócios é altmente tóxico e a desindustrilização segue como mantra. Por isso, a urgência desta agenda de reformas. 

A começar pela reforma da Previdência, muito mais ambiciosa quando formulada pela equipe econômica, com regime de capitalização, dando a cada um a responsabilidade pela sua poupança acumulada, passando por "ajustes pesados" nos servidores públicos e nos militares, estes sempre poupados pelos diligentes lobbies, fechando em reformas pesadas nos estados e municípios, focos centrais dos desequilíbrios estruturais hoje existentes no setor público. Ou seja, a reforma do regime de Previdência do Paulo Guedes não acabou. Foi deixada pelo caminho, era aquilo nas condições políticas dadas, e me parece óbvio o pouco empenho do presidente Jair Bolsonaro. 

A reforma Tributária, outro arremedo, com a unificação de uns poucos e uma tímida rearrumação da carga fiscal sobre o sistema econômico. Acabar com o ICMS, "promotor" de tantas "guerras fiscais" no passado? Criar um imposto único, o IVA? Debater, de fato, a adoção de um "pacto federativo"? Não. Claro que o desgaste político em torno das reformas é inevitável, e o presidente não parece muito disposto a passar por isso. 

Por fim, a reforma do Estado, uma reforma essencial e urgente quando se observa que boa parte das despesas obrigatórias, que só crescem e comprometem o orçamento e a gestão do governo, estão "escondidas" na rubrica Pessoal e Encargos, incluindo aqui inativos que recebem salário integral. Então vamos combinar o seguinte. Ou cortamos este benefício e limitamos a 5,4 mil reais o salário dos aposentados, como todos que recebem INSS, ou nos locupletamos todos e acabamos com o regime previdenciário. Não dá para sustentar esta "fábrica de privilégios" (segundo Paulo Guedes). 

Não dá é para um cidadão ser privilegiado, por ter um sindicato específico de servidores públicos, sempre fazendo lobby no Congresso, contra a situação "pulverizada" de milhares de brasileiros, sem esta representatividade aguerrida e focalizada. 

Isso não me parece razoável! 

E eu me estendo a algumas áreas das empresas públicas, verdadeiros "cabides de empregos" e de privilégios, desde a Petrobras, passando pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica e BNDES. Este último, aliás, vive do repasse do FAT e "turbina" seus lucros em operações de mercado. Assim se torna fácil ser uma empresa lucrativa. Funcionários do BNDES, acumulando vários penduricalhos, se aposentando com mais de 40 mil reais, acima do teto, se refletindo na inviabilidade do fundo de pensão Fapes. É mole?? 

Quando citadas as empresas, me esqueci de comentar outro desafio do ministro Guedes, o pacote das privatizações. Por onde andam? Por que não avançam? Correios, Eletrobras, parte do BB, subsidiárias da Petrobras, estradas diversas, aeroportos, tudo já deveria ter ido para fora. 

Será que este governo, será que o Bolsonaro teria coragem para tanto? Será que ele dará o necessário apoio ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para tocar esta agenda em 2022? 

Eu não acredito...

Vamos conversando...

 

Editorial do Estadão (17/02)

LULA PROMETE O ATRASO: A razia bolsonarista demanda a eleição de um presidente disposto a trabalhar dobrado na reconstrução do País. A bem d...