terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

AGENDA DO GOVERNO: VAI MONITORANDO...

 

Câmara dos Deputados
Curto prazo
PLP 19/2019 – Autonomia do Banco Central
PL 4476/2020 - Lei do Gás (Marco regulatório do gás)
PL 3877/2020 - Depósitos voluntários (autoriza o acolhimento de depósitos voluntários de instituições financeiras pelo Banco Centra)
PL 6726/2016 - Teto Remuneratório (define quais pagamentos serão submetidos ao teto do funcionalismo)
PL 3515/2015 – Superendividamento (lei para aperfeiçoar a disciplina do crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do superendividamento)
Retomada dos Investimentos
PEC 45/2019 - Reforma Tributária
PL 2646/20 - Debêntures (cria um novo instrumento financeiro, chamado de debêntures de infraestrutura, para financiar projetos nas áreas de infraestrutura)
PL 5877/2019 - Privatização da Eletrobras
PL 5387/2019 – Marco legal do mercado de câmbio
PL 191/2020 - Mineração em terras indígenas
Costumes
PL 6438/2019 - Posse de armas de fogo
PL 6125/2019 - Excludente de ilicitude
PL 3780/2020 - Aumento de pena para abuso sexual em menores
PL 6093/2019 - Documento único de transporte
PL 1776/2015 - Inclui pedofilia como crime hediondo
PL 2401/2019 - Ensino doméstico
Outras pautas
PEC 32/2020 - Reforma Administrativa
PL 3729/2004 - Licenciamento Ambiental
PL 5518/2020 - Concessões Florestais
PL 2633/2020 - Regularização Fundiária
Senado
Curto prazo
PL 4.199/2020 - Cabotagem (BR do Mar)
PLP 146/2019 – Marco legal das startups
PL 7.843/2017 - Eficiência Administrativa
PL 5191/2020 - Cria o Fundo de Investimento Agrícola (Fiagro)
Retomada de investimentos
PLS 261/2018 - Ferrovias
PL 3178/2019 – Modifica a partilha de petróleo e gás
PLS 232/16 - Modernização do setor elétrico
Pauta fiscal
PEC 186/20195 - PEC Emergencial
PEC 187/2019 - PEC dos Fundos
PEC 188/2019 - Pacto Federativo
PLP 137 - Uso de recursos de fundos para gastos da pandemia
Costumes
PL 3723/2019 - Ampliação da posse de armas
PLS 216/2017 - Revisão da lei de drogas
PLC 119/2015 - Altera o estatuto do índio em relação ao infanticídio
Outras pautas
PLC 8/2013 - Cobrança de pedágio (autoriza a implantação de sistema de livre passagem com identificação eletrônica em pedágios nas rodovias brasileiras, com cobrança proporcional ao trecho efetivamente percorrido pelo motorista)

NOTAS LUSITANAS: BIRUTA DOIDA

Foi uma semana intensa, talvez a mais conturbada em muitos meses, embora isso seja difícil afirmar, tendo Jair Bolsonaro sentado na cadeira do Planalto em Brasília. É todo dia a arrumar confusão, gerar polêmicas, colocar "bodes na sala". 

Na virada da semana passada ainda veio mais truculento, realizando uma intervenção totalmente desastrada e amalucada na Petrobras, anunciando a saída do presidente da estatal, Castello Branco. Em paralelo, um deputado bolsonarista, Daniel Silveira, ingressou numa espiral de cassação, de perda de mandato, mantido preso, por decisão do STF e do Congresso. Junto a isso, a pandemia continua a causar estragos no País, muito longe de uma solução, com mortes diárias em média, próximas a 1,3 mil. Para piorar, começam a faltar doses de vacina no País, tal a política de baixa qualidade do ministério de Saúde do ministro general Pazuello. Aliás, isso ainda se torna mais chocante. O foco total dos governantes deveria estar voltado para a solução desta crise sanitária global. 

Não. Estamos discutindo a saída do presidente da Petrobras. 

No anúncio da saída do presidente da Petrobras, Bolsonaro tentou sustentar seus argumentos, defendendo que haviam "grupos" na qual era interessante manter o preço dos derivados do petróleo (gasolina, diesel, etc) alinhado com as oscilações do barril de petróleo no mercado internacional. Várias criticas também foram direcionadas ao presidente da empresa, mais interessado que estava em desviar o foco. Isso que mais choca. 

Vivemos uma crise sanitária pandêmica e o presidente preocupado em demitir o presidente da Petrobras! Como o mandato de dois anos dele vence agora em março, sendo reconduzido ou não pelo Conselho da Empresa e o presidente da República, este resolveu melar o processo. 

Nesta terça-feira (dia 23) acontece a reunião do Conselho e não será surpresa se os onze conselheiros resolverem "peitar" o presidente e questionarem esta demissão. Havia dito também o presidente, na verdade, para obter apoio popular, que o Castello Branco pouco ia na empresa neste período de pandemia, estando desde março do ano passado em casa, e que o seu salário era desproporcional, segundo ele, em R$ 50 mil por semana (confere?), dentre outras acusações pessoais. Na verdade, tentou esvaziar o presidente, dando uma satisfação à opinião pública. 

Um caos completo, uma biruta doida. Para piorar, o substituto indicado, o general Joaquim Silva e Luna veio com a pérola de que a estatal tem que se preocupar com o petróleo, mas também, por ser pública, com outros objetivos, como o social. Ou seja, caímos no buraco negro do bolivarianismo venezuelano da PDVSA, petroleira de lá. Chavez e Maduro usaram a estatal para fazer política publica, dado o esgotamento de recursos públicos arrecadados. 

É neste ambiente de embates e beligerancia que vamos nos arrastando até 2022. Situação é realmente, muito complicada. 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

MACRO MERCADOS 22/02/21

MACRO MERCADOS

Segunda-feira, 22/02/2021

 

Overview

 

   As sinalizações são muito ruins para o mercado nesta segunda-feira (dia 22). A intervenção do governo Bolsonaro na Petrobras, substituindo um homem do ministro Guedes (Castello Branco), por mais um general, desta vez egresso da Itaipu Binacional (General Joaquim Silva e Luna) e a ameaça de “meter o dedo na energia elétrica” são fatores mais do que suficientes para termos uma semana bem tumultuada. No mercado de ações o movimento é de selloff (vendas fortes). Uma virada acontece na linha de conduta do governo: perde espaço o liberalismo de Paulo Guedes, ganha espaço o velho intervencionismo nacional desenvolvimentista dos militares. Sendo assim, crescem os rumores sobre a saída de Paulo Guedes, um liberal democrata, o ingresso de um ministro ainda mais subserviente ao presidente, além do desmembramento do seu ministério e a saída do presidente do BB, “remanejamentos” de ministérios do Exterior (Ernesto Araújo), Meio Ambiente (Ricardo Salles), das Minas e Energia (Bento Albuquerque), entre outros. Voltando à Petrobras, a reunião do Conselho acontece nesta terça-feira e um detalhe amenizador é a existência de um estatuto de 2018, que blinda a petroleira da interferência no seu sistema de preços. As fichas estão, portanto, na mesa. Enquanto isso, a Covid 19 segue fazendo estragos.

 

Comportamento dos ativos

 

Neste momento, há uma percepção de aumento do risco Brasil, com inflação em alta, juro na mesma toada, assim como câmbio mais depreciado. Sendo assim:

 

Ø  Inflação

 

        Tendência de elevação. Nesta semana em destaque o IPCA-15 de fevereiro, devendo desacelerar de 0,78% em janeiro a algo em torno de 0,5% agora em fevereiro. Isso, no entanto, não é suficiente para acalmar os mercados, dadas as pressões da depreciação do câmbio (desmonte de posições dos investidores no futuro, embora a liquidez global seja abundante) e os choques das commodities (petróleo valorizando 70% desde outubro e minério de ferro  140% em 12 meses). Diante destas pressões não será surpresa se o IPCA fechar o ano acima do centro da meta (3,75%). Na Focus, estimativa é de 3,62%, mas em tendência de alta há seis semanas e a Wind trabalha com 4%.

 

 

Ø  Taxa de Juros

 

   Tendência de alta. Temos uma clara pressão pela inclinação da curva de juro futuro, tanto para as pontas curtas como para as longas. Sendo assim, observa-se claramente um descasamento entre as taxas curtas, pela Selic em 2% e as longas, já acima de 4%. Esta inclusive parece ser a projeção de consenso do mercado pela Focus. Para a próxima reunião do Copom, em março, cresce a possibilidade de elevação da taxa Selic, para 2,5%. 

 

Ø  Câmbio

 

        Breve apreciação no curto prazo, mas depreciação no longo prazo, dado o ambiente político conturbado e os riscos fiscais cada vez mais presentes. O envio da PEC Emergencial, por três meses, entre R$ 250 e R$ 300, mas sem contrapartida (de onde vem estes recursos?) é uma preocupação para os mercados. O dólar segue acima de R$ 5,30. Na sexta-feira fechou em R$ 5,385 (-1,0%), dada a liquidez global mais abundante, mas chegou a R$ 5,469 ao longo do dia. Isso nos leva a acreditar que o ambiente externa seria favorável ao dólar mais apreciado neste momento, mas a crise interna permanente afeta estas expectativas.             

 

Agenda semanal

 

Numa semana carregada de indicadores e balanços as atenções devem seguir centradas no ambiente político conturbado, dada a possibilidade de “guinada populista” do governo Bolsonaro. Nos indicadores, pelo lado da inflação, temos o IPCA-15 (4ª feira); IGP-M de fev (5ª feira); prévia do IPC-S (3ª feira); e o IPC da Fipe(5ª feira).

 

Na 6ª feira temos a Pnad Contínua de dezembro e o superávit primário consolidado de janeiro. Os dados do governo central saem na quinta. Na 4ª feira temos o relatório da dívida pública de janeiro e o Banco Central divulga as Notas da Imprensa de janeiro do setor externo e da moeda e do crédito.

 

Estejamos atentos também a uma bateria de balanços a serem divulgados...

 

Bons negócios a todos !


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

O EXEMPLO DE BOTSWANNA, de Alexandre Pieritz

 Como o segundo país mais pobre do mundo ficou mais rico que o Brasil?

Quando conseguiu sua independência, em 1966, Botsuana era o segundo país mais pobre do mundo. Apesar de ter a extensão territorial da Espanha, o país possuía apenas 12km de estradas pavimentadas, não havia hospitais e universidades e a maior parte da população era analfabeta. No país inteiro, havia apenas 20 pessoas com ensino superior e 100 com ensino médio.

De lá pra cá, muita coisa mudou: Botsuana foi o segundo país que mais cresceu no mundo. Entre 1966 e 2019, a renda per capita do país cresceu 5,3% ao ano, em média. Um desenvolvimento nessa velocidade permite que um povo dobre seu padrão de vida a cada 13 anos, fazendo com que Botsuana ultrapassasse o Brasil em nível de renda na última década.

Botsuana é um dos exemplos mais impressionantes de transformações econômicas da era moderna. O primeiro presidente do país, Seretse Khama, teve grande importância nessa história. Negro e casado com uma mulher branca, enfrentou forte resistência externa de países vizinhos à época abertamente racistas, como África do Sul e Rodésia.

Apesar disso, a liderança foi bem sucedida em fundar as bases de um país próspero. A constituição de Botsuana, escrita com grande influência do partido fundado Seretse Khama, criou mecanismos de freios e contrapesos para impedir a ascensão de regimes autoritários. O país segue sendo a mais longínqua democracia multipartidária da África.

A administração pública privilegiou a meritocracia e a eficiência. Ao contrário de muitos países vizinhos, Botsuana não deu privilégios e vantagens para a população local nos serviços públicos, e inicialmente teve que contar com o auxílio de técnicos estrangeiros em funções chaves da administração pública até que a população local fosse suficientemente educada e capacitada para competir pelos mesmos empregos.

Esses elementos institucionais que fundaram o país foram fundamentais para que a benção dos recursos naturais não se transformasse em maldição. Pouco depois de independente, Botsuana descobriu vastas reservas de diamante. Mas ao contrário da grande maioria dos países africanos, essa fonte riqueza não levou guerras civis ao surgimento de regimes ditatoriais e corruptos. Segundo a Transparência Internacional, Botsuana é o país menos corrupto da África.

A boa governança aliada às receitas da exploração de recursos naturais permitiram que o país expandisse o acesso a serviços essenciais, como a educação básica. Ainda na década de 80, apesar de ser muito mais pobre que o Brasil, Botsuana já nos ultrapassava em escolaridade média. O país também facilitou a vida de quem queria trabalhar e empreender, subindo posições nos rankings de facilidade para fazer negócio e liberdade econômica.

Botsuana ainda é um país de renda média, mas já supera o Brasil em vários indicadores importantes.

Botsuana vs Brasil

▶PIB por habitante: R$ 18,5 mil | R$ 15,3 mil

▶Escolaridade média: 9,6 anos | 8 anos

▶Facilidade para fazer negócios: 87º | 124º

▶Liberdade econômica: 40º | 144º

Botsuana, apesar de ter inúmeros problemas típicos de países em desenvolvimento, é um dos casos mais impressionantes de redução da pobreza no mundo, especialmente considerando seu ponto de partida. O Brasil deve sem tentar se inspirar nos países e experiências que dão certo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

NOTAS LUSITANAS: O QUE NOS ESPERA

Passada a eleição dos presidentes do Congresso, vamos sobrevivendo nesta montanha russa descontrolada de emoções, que se tornou o Brasil. Ora é o presidente a provocar "marolas", ora a mídia, sedenta de sangue, na tese do "quanto pior, melhor". Não tem jeito. Será nesta "disputa" que o País  transitará até 2022. Se é que sobrará algo. A eleição, aliás, parece que já começou. Bolsonaro segue no seu ritmo, gerando fatos, "fale mal, mas fale de mim", mas correndo o risco de inviabilizar seu governo no restante do mandato que lhe resta ou sua reeleição. 

* Sobre a tomada de poder dos políticos do Centrão, tanto por Rodrigo Pacheco (MDB) no Senado, como Artur Lira (PP) na Câmara, se serve de consolo, logo em seguida o governo Bolsonaro enviou uma pauta de reformas, ao ver, bem razoável, colocando as reformas como prioridades, como a Administrativa e a Tributária, sem esquecer de tantas outras, como os marcos regulatórios do gás e da cabotagem, e também as pautas mais polêmicas, de costume, como porte de armas e escola sem partido. 

* Uma boa notícia foi a aprovação da autonomia do Banco Central, Algumas decisões polêmicas, como a vinculação ainda com o CMN, mas como pontos marcantes a definição dos mandatos fixos para os diretores, não coincidindo com o mandato presidencial. Objetivo aqui foi retirar a sintonia entre os mandatos do Executivo e dos diretores do banco. Estes ingressam no segundo ano do governo e saem no segundo ano do mandato seguinte, sob outro governo (ou o mesmo); 

* Lembremos que nos primeiros dois anos iniciais, Jair Bolsonaro pouco se empenhou em levar adiante sua agenda de reformas, diante dos constantes embates com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Pelo menos esta é a impressão que se tem. Neste contexto, cabem algumas considerações. Na batalha da Previdência foi muito mais esforço dos ministros envolvidos, como o da Economia, Paulo Guedes, e o da Justiça, Sergio Moro. Recordemos o "massacre" de ambos os ministros nas comissões temáticas, bombardeados pela oposição, sem apoio dos deputados ou senadores da base envolvidos. 

* A reforma da Previdência, acabou aprovada numa "meia bomba", sem envolver diretamente os maiores causadores para o desequilíbrio, militares e servidores públicos em geral. Foi a possível diante das circunstâncias, não por culpa do ministro envolvido, mas sim pelo baixo empenho da base parlamentar do governo. Claro que Rodrigo Maia também deu sua contribuição, muitas vezes, trancando as pautas. Por outro lado, chamava atenção sempre o fraco empenho do presidente em aprovar as pautas colocadas pelos ministros. 

* E como o governo deve se movimentar ? Qual sua composição de forças para atravessar estes dois anos restantes? Já são recorrentes os comentários que o Bolsonaro deve começar a desmembrar o ministério, criando o Planejamento, recriando a Cultura, o Esporte e a Pesca, abrindo espaço para a turma do Centrão. Estes parecem não querer "sobras", mas ministérios com grandes fatias de recursos, como a Integração Regional, Educação, Saúde. Nestes ministérios as fatias de recursos são maiores. O Centrão está de olho nos mais "apetitosos", claro. O da Agricultura é cogitado, com a ministra Tereza Cristina deslocada para o Itamaraty e o Chanceler Ernesto Araújo indo para a embaixada de Portugal. Pelo menos é isso que circula. O Centrão também não quer saber de Cultura, Esportes ou Pesca, como chegou a cogitar Jair Bolsonaro, atualmente com status de secretarias. 

* Na economia, o auxílio emergencial deve ser anunciado nos próximos dias, fora do teto de gastos. A equipe econômica cogita um crédito extra, com o pagamento de três parcelas de R$ 200, com despesas sob o mesmo mecanismo adotado em 2020 para fazer frente ao combate à pandemia. 




sábado, 13 de fevereiro de 2021

DEBATE ECONÔMICO INTERROMPIDO

Muito se debate na comunidade de economistas. Com razão, boa parte da crise política que vivemos teve origem também nos impasses gerados pelas políticas públicas erradas no final do primeiro ciclo dilmista, entre 2013 e 2014. 

Foi o momento em que a heterodoxia (o que quer que isso signifique) teve mais ascendência sobre a "presidenta", sendo obra a explosão na oferta de crédito concedido, o que jogou a dívida bruta nas alturas naquela ocasião. O desafio então era tirar a economia brasileira daquela armadilha de país de renda média com baixo crescimento, movido apenas pelo perene estímulo ao consumo. Se este não se transformasse em investimentos, cairíamos no buraco do sobre-endividamento e da recessão, o que acabou ocorrendo naquele período. Foi o começo do fim do governo Dilma. Se havia alguma governabilidade antes, esta se perdeu a partir dos anos seguidos de recessão ((2014 a 2016). 

Nosso intuito neste artigo é tentar delimitar o debate em torno das correntes econômicas hoje existentes, defendendo que o que deve prevalecer, assim como a boa formação acadêmica, também a excelência técnica e o conhecimento nos meandros das Finanças Públicas brasileiras. Quadros qualificados existem, ou oriundos do Tesouro, ou de outras áreas. Estes sim deveriam ter o lugar de destaque nos ministérios das áreas, quadros qualificados do serviço público. 

Na verdade, no Brasil o debate econômico parece meio interrompido. Estas duas correntes, dos heterodoxos e dos ortodoxos, pouco se comunicam, pouco dialogam. É uma constante batalha de egos e espaços, travada entre economistas heterodoxos, ou keynesiano, em sua maioria, das universidades públicas, e ortodoxos, "liberais" ou neo-clássicos, grupos de universidades privadas como INSPER, PUC e FGV do Rio de Janeiro. Estes últimos, mais à favor do livre mercado, da "mão invisível" de Adam Smith, são predominantes no mundo, no que chamamos de "mainstream". Os heterodoxos, defensores de um papel mais ativo do Estado, são predominantes no Brasil, meio que na contramão do mundo.

Citando nomes, entre os heterodoxos, poderiamos destacar o ex-ministro Nelson Barbosa, Bresser Pereira da FGVESP, Beluzzo da UNICAMP, José Luis Oreiro, da UNB, outros economistas da UNICAMP e da UFRJ, Paulo Gala, um economista misto de profisisonal de mercado e da academia, dentre tantos. No outro espectro, Samuel Pessoa da FGV, o ex-presidente do Bacen Ilan Goldfajn, um dos formuladores do Plano Real, Gustavo Franco, grande parte dos economistas da PUC e da EPGE da FGV do Rio de Janeiro, Marcos Lisboa, um dos expoentes deste grupo, presidente do INSPER, etc. O ministro Paulo Guedes também, até por ser formado na Universidade de Chicago, deve ser incluído neste segundo grupo.  

Para os economistas da PUC, Pedro Ferreira e Frageli, entre os heterodoxos o nível de preços é determinado pela oferta, enquanto que o nível de atividade pela demanda; para os economistas ortodoxos, ou do "mainstream", o oposto acontece. Isso nos leva a acreditar que a produtividade dos fatores de produção tem um papel essencial na melhor alocação de recursos e na eficiência dos processos produtivos, para estes ortodoxos. Segundo eles, "se o nível de preço - e consequentemente a inflação - fosse um problema exclusivamente de oferta, a simples redução da taxa de juros estimularia investimentos que gerariam expansão desta produção, que por sua vez, provocaria a queda dos preços." 

O problema maior desta leitura é que o aumento de investimento somente gera elevação da oferta no futuro, mas no curto prazo constitue aumento de demanda. Soma-se a isso, a mesma queda de juros, destinada a estimular o investimento, também impulsiona o consumo. Quando a economia opera perto do pleno emprego, juros mais baixos eleva a demanda, pois não há capacidade produtiva ociosa para a oferta crescer, o que resulta em mais inflação. 

Historicamente, os ortodoxos ou (neo) clássicos são expoentes  do pensamento econômico mais liberal. Têm como expoentes David Ricardo, Alfred Marshall, Alfred Walras, Adam Smilh e sua "mão invisível". Para este, se todos se empenharem ao máximo para obter resultados, a coletividade acabará se beneficiando. A economia tende a operar no longo prazo sempre no equilíbrio e pleno emprego de recursos. O problema é que, muitas vezes, no curto prazo choques exógenos adversos não previstos acontecem e inibem a iniciativa dos agentes privados. Estes, em movimento defensivo, tendem a se retrair, na expectativa de uma reversão a longo do tempo. É aí que entra o "keynesianismo".

Surgido entre os anos 30 para 40, como resposta a esta prostração dos agentes econômicos, diante da retração da demanda, do emprego e da renda, Keynes apregoava o aumento das despesas fiscais para impulsionar, via "multiplicador fiscal", os investimentos, muitas vezes em grandes projetos, o que voltava a gerar renda e emprego e girar a “roda da economia”. John Maynard Keynes, através da obra Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936), começa a pensar num papel mais ativo para o Estado e, a partir daí, em políticas anti-cíclicas, evitar momentos de "flutuação da demanda efetiva". 

Muitos argumentam, inclusive, que já havia alguns traços de "keynesianismo" nas politicas do nacional socialismo alemão, o que deu origem ao nazismo de Adolf Hitler, a partir dos anos 30. Várias obras públicas, abrindo espaço para novos investimentos privados, nas chamadas "externalidades positivas", aconteceram na Alemanha pós-República do Weimar nos anos 30. 

A partir dos anos 70, no entanto, com os choques de petróleo, estas políticas acabam meio de lado, pois tivemos o que os economistas negavam então, desemprego com inflação, no conhecida "estagflação". Os keynesianos não conseguem responder a este fenômeno. Sim, porque para eles, o fenômeno do estímulo econômico acontece pelo lado da demanda.  

Na visão dos ortodoxos, "o baixo crescimento brasileiro é um fenômeno do lado da oferta, ligado à baixa eficiência econômica. Mesmo controlando por diferenças de intensidade de capital físico e de qualidade da mão de obra, o produto por trabalhador brasileiro permanece muito menor que o dos países líderes, algo entre 50 a 60% abaixo". O desafio passa a ser, então, tornar o País mais eficiente, menos trabalhadores, mais produção e produtividade. 

Para eles, "se o grosso de nosso atraso não está no capital, aumentar a taxa de investimento ajuda, mas não resolverá o problema. Um economista com inclinações heterodoxas discordaria. Para os mais radicais, o lado da oferta é irrelevante, pois o crescimento de longo prazo se daria por uma sequência de estímulos à demanda de curto prazo. O importante seria aguçar continuamente o "espírito animal" dos empresários e investidores".

Há pouca ou nenhuma evidência de que o mundo funcione assim. Isso não impede que se insista em políticas de expansão da demanda - via maiores gastos públicos ou redução, em qualquer cenário, da taxa de juros - como estratégia de crescimento.

Concluem então "que quando se vai pelo lado da oferta, as teorias heterodoxas logo aparecem para propor afetar preços relativos para incentivar a produção local e a inovação, seja via proteção tarifária e substituição de importações, créditos subsidiados, ou incentivos fiscais. No entanto, não há estudos consistentes que mostrem que essas políticas funcionem no longo prazo". 

Nos dias atuais, com a pandemia, os keynesianos voltaram à moda. Isso também aconteceu na crise de 2008 o que nos leva a concluir que, sim, parece consenso hoje que o Estado deve intervir em crises, mas o desafio é saber em que intensidade. Além disso, esta intervenção pode ou deve acontecer no limite. Deve ser temporária. 

Diante da alternativa ao aumento necessário de despesas públicas, para atender ao grande número de infecções e suprir recursos às infraestruturas de saúde adicionais, começa a surgir, aqui e acolá, a necessidade de taxar grandes fortunas, sempre uma solução aventada por um certo vício pelos que "acham pecado enriquecimento excessivo em país cheio de contrastes e pobreza". Se esquecem estes, no entanto, de reconhecer que muitas das desigualdades no País acontecem também pela baixa qualidade dos serviços públicos prestados, por "agentes públicos" que realizam desvios recorrentes, muitos em empresas públicas. Sobre isso, o silêncio. 

Portanto, o PAPEL CRUCIAL do Estado deve ser gerar condições favoráveis, externalidades positivas, para que o setor privado deslanche. Como diria o assessor do Clinton, "é a economia estúpido". É ela sim a gerar oportunidades de renda e emprego à sociedade, lutando-se por um serviço de saúde de primeiro mundo. Não faz sentido o ESTADO atuar como atua no Brasil, a sustentar castas de privilegiados no serviço público, muitos, "amigos do rei", com subsídios fiscais. Como resultado, temos a baixa produtividade agregada e o lento crescimento no Brasil nas últimas décadas. 

Achamos, portanto, que não há apenas uma teoria "certa". Passando o teste da lógica interna, há teorias capazes de explicar um número grande de fenômenos econômicos e que não foram - até o momento - derrubadas por evidência empírica robusta. A ampla dominância das teorias ortodoxas na academia econômica global talvez se explique por seus resultados, não por fatores ideológicos, como querem alguns. A insistência de parte da heterodoxia em teorias e políticas com baixa aderência aos dados, mas fortes cores ideológicas, explicam em parte sua perda de popularidade mundo a fora. São tantas distorções, que se torna difícil defender. 

Vamos conversando.  


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

E AGORA ?

Fim de papo. Definidas as eleições no Congresso, muitos acham que agora começa de fato o governo de Jair Messias Bolsonaro. A pauta de prioridades, a serem votadas nos parece bem extensa (ver ao fim), mas muitos consideram pendências, pois este governo teve dois anos para fazer passar estas decisões e não passou. Muitos vão argumentar que foi o Congresso de Rodrigo Maia a engavetar muitas destas medidas. Será mesmo? Claro que havia uma "guerra suja" no Congresso pela aprovação de muitas das medidas a serem discutidas e aprovadas, mas observando a agenda pesada no Congresso, tanto na Câmara como no Senado, não dá para achar que apenas um personagem foi responsável pelo atraso ou não avanço destas medidas. Mais parece que o governo não construiu uma articulação responsável e competente para fazer com que estas medidas avançassem no legislativo. Surge então a proposição de que muitas destas ficaram pelo caminho, pelo pouco empenho do presidente em fazê-las avançar. As reformas tributária e administrativa não saíram do lugar, o mesmo acontecendo com a decisão por tornar o banco central independente, o marco do gás, da cabotagem, as privatizações, etc, etc. É opinião crescente etnre os formadores de que a renovação das mesas diretoras no Congresso não foi um passo no sentido de avançar na pauta de reformas. Tratou-se, na verdade. de um movimento defensivo para se evitar o risco do "impeachment". Ou seja, a maior dificuldade na aprovação das reformas se encontra no Executivo. Nestas eleições do Congresso, Arthur Lira, do PP, foi eleito para a Câmara, com 302 votos, contra 149 de Baleia Rossi do MDB; no Senado, Rodrigo Pacheco, do DEM, conseguiu fácil a vitória, com 57, de 78, votos, contra 21 de Simone Tebet, do MDB, candidata que mais fez frente. E agora? Como configura o cenário de governabilidade do presidente Bolsonaro. Quais blocos ele deve colocar na rua? Esta é a pergunta que todos se fazem, mas toda cautela é pouca.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

DEBATES INTERMINÁVEIS

Continuamos açodados. Somos um país dividido ao meio e brigando entre extremos. É complicado o uso de uma régua para medirmos estas divergências, totalmente descalibradas.

 Será que não acharemos nunca a "medida certa dos fatos"? É por aí que vivemos um pandemonio de versões e opiniões contrárias. 

Um dos debates mais infindáveis é o entre economistas heterodoxos, ou keynesiano, e mais "liberais", ou neo-clássicos no Brasil. Estes últimos, mais à favor do livre mercado, os primeiros, defensores do papel mais ativo do Estado numa economia de mercado.

Historicamente, o "keynesianismo" surge nos anos 30 para 40, pela necessidade do aumento das despesas fiscais, a impulsionar, via multiplicador fiscal, os investimentos públicos, muitas vezes em grandes obras, gerar emprego e renda, para as pessoas consumirem a fazerem a “roda da economia” girar outra vez. Em poucas palavras, atuaria nas duas pontas, mexer com a carga de impostos, elevando-a ou reduizindo-a, e com as despesas, mas elevando-as, para gerar aumento de consumo agregado, ou demanda (efetiva). Foi John Maynard Keynes, na publicação da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936), que começou a pensar o sistema capitalista, como sendo este o mais eficiente e justo possível. O Estado, a partir daí, passava a desempenhar um papel mais ativo, com políticas anti-cíclicas em momentos de flutuação de demanda. 

Não cabia ao Estado se sobrepor ao setor privado, mas estimulá-lo nas decisões cruciais de investimento. Políticas macro-estratégicas teriam que ser pensadas, mas sem os excessos do setor público. Pelo sucesso das políticas públicas anti-cíclicas dos anos 30, pós depressão, a ingerência do setor público passou a ser um norteador, a ponto de uma lei anacrônica ser criada na época, em 1946, a Lei do Emprego, na qual o setor público tudo faria para preservá-lo, como se fosse este seu papel. Não há como negar, no entanto, que os anos 50 e 60 na Europa e no mundo livre, foram permeados de prosperidade, no que muitos denominaram de "anos dourados". 

Muitos argumentam, inclusive, que já havia alguns traços de "keynesianismo" nas politicas do nacional socialismo alemão, o que deu origem ao nazismo de Adolf Hitler, a partir dos anos 30. Várias obras públicas, abrindo espaço para novos investimentos privados, nas chamadas "externalidades positivas", ocorreram na Alemanha dos anos 30. 

Nos anos 70, no entanto, com os choques de petróleo, estas políticas acabam meio de lado, pois tivemos o que os economistas negavam então, desemprego com inflação, no conhecida "estagflação". Os keynesianos não conseguem responder a este fenômeno. 

Em paralelo, haviam os que defendiam o mercado como soberano na alocação eficiente de recursos. Parece-me claro, sim, que o setor privado, pelo viés do lucro, da iniciativa privada, do interesse próprio, do individualismo, tende a ser mais eficiente na busca de resultados favoráveis. 

No entanto, desregulamentar totalmente determinados mercados tende a ser desastroso para os que pensam desta forma. Lembremos da crise do subprime quando esta desregulamentação do mercado financeiro tomou curso o que resultou numa brital securização das operações de financiamento imobiliário. Por isso, o debate sobre o meio do caminho, uma alternativa intermediária. 

Deixando q o mercado decida, perde-se quando um fenômeno como o desta pandemia acontece. O que fazer? 

A ação do governo passa a ser a primeira decisão, o que precisa ser feito é atuação ativa do Estado suprindo carências de quem é acometido de um vírus mortal como este. 

O grande passivo social existente, deriva de décadas de passividade e permissividade no trato dos problemas econômicos que acabam por se espalhar pelo social. A carga fiscal absurda do País, em torno de 36% do PIB com zero retorno, foi criada para sustentar um sistema de gastos públicos ineficiente e perdulário, fruto da Constituição Federal de 1988. Fruto também de um sistema de castas no serviço público, na qual não se pode mexer nos privilégios dos servidores públicos, numa máquina inchada e "alienada", em q todos se acham no direito, mas ninguém parece disposto a abrir mão de algo. 

Nos dias atuais, com a pandemia os keynesianos voltou a moda, sendo apregoado por todos. Isso também aconteceu na crise de 2008 o que nos leva a concluir que, sim, existe um toldo debate sobre se o Estado deve intervir em crises e como. Claro que deve intervir sempre! Como alternativa ao aumento necessário de despesas públicas para atender ao grande número de infecções e pela necessidade de infraestruturas de saúde adicionais, já se começa a pensar na alternativa de taxar grandes fortunas, sempre uma solução aventada por um certo vício pelos que enriqueceram em país tão cheio de contrastes e pobres. 

Se esquecem estes, no entanto, de reconhecer que muitas das desigualdades no País acontecem também pela baixa qualidade dos serviços públicos prestados, por "aspones" que ganham mais de 40 mil reais por mês, pelos inúmeros desvios recorrentes, muitos em empresas públicas. Sobre isso, o silêncio. 

Muitas das categorias de servidores públicos, os militares, por exemplo, são também uma tremenda fábrica de desigualdades. Sobre os militares, é tabu falar algo, até porque o capitão foi meio que um lobista no Congresso em torno deste estamento público. 

O problema é que a economia precisa estar azeitada e o setor público atuar, onde o setor privado não tiver interesse, em políticas inclusivas aos pobres, mas temporárias, gerando oportunidades, via treinamento, para que eles saiam da sua condição de fragilidade econômica e social. 

O ESTADO precisa criar mecanismos de controle ao setor privado e a atuação das  esferas de governo, mas não deve obstruir quem queira empreender, quem queira se lançar ao risco. 

Portanto, o PAPEL CRUCIAL do Estado é gerar condições favoráveis para q o  privado deslanche. Como diria o assessor do Clinton, "é a economia estúpido". É ela sim a gerar oportunidades de renda e emprego à sociedade, lutando por um serviço de saúde de primeiro mundo. Não faz sentido o ESTADO atuar como atua no Brasil, a sustentar castas de privilegiados, muitos, amigos do rei, com subsídios fiscais. Estes precisam passar por conselhos fiscais para aprovados. 

Enfim, eu acho mto temerário falar de liberalismo ou de keynesianismo num país tóxico como o  Brasil. São tantas distorções que se torna uma piada qualquer consideração em favor ou contra algo. 

Já foram feitos levantamentos, e chegou-se à conclusão que são bilhões, trilhões recebidos de governantes, para um carro com carga fiscal de quase metade do seu preço final. 

O sistema fiscal brasileiro é tão distópico que a carga de impostos acaba por ser uma indecência. Nada compensa nada nesta terra. 

E ficamos acompanhando estreitamente um governo inépto, não que outros não o tenham sido. Mas Jair Bolsonaro usou e abusou de bons ministros nomeados. Mas depois os descartou. Mesmo assim, chegou até aqui. Será que conseguirá terminar o mandato?? 

São tantas decisões desastradas, tantas bobagens ditas, que não dá para dizer....aaahhh é a imprensa a culpada ! NÃO! Para nosso desassossego, não é APENAS a imprensa, e o presidente também!

 

Editorial do Estadão (17/02)

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