terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Pedro Fernando Nery

 *A economia precisa de menos escândalos?*


Instabilidade política pode ser pior para o crescimento do que a própria corrupção


Pedro Fernando Nery


O fim do ano é um tempo de reflexões. Época do reencontro, da acareação. Pensamos nos erros e nos acertos. Porque há dias ruins, e há Dias Toffoli.


Recebi esse chiste no X. Há alguns meses fiz lá uma pergunta. Toffoli só foi mencionado em gracejos assim. A pergunta era “qual é o melhor ministro do STF?”. Houve mais de quinhentas respostas.


Lembraram ministros atuais ou que já saíram. Eloquentes ou discretos, progressistas ou conservadores. Mas ninguém votou em Toffoli.


Imediatamente pensei no tricolor que dizia que toda unanimidade é burra. Recordei dos políticos ostracizados que não aceitaram surfar no bolsonarismo nem implorar por validação da esquerda. Pensei em polarização e cancelamentos. Lembrei dos meus recreios no 2º ano do ensino médio. Pensei que “Sozinho como Toffoli” poderia ser uma expressão.


Se as cortes constitucionais foram pensadas para serem contramajoritárias, Toffoli é contraunanimitário. Há os que não gostam dele porque atrapalhou a ida de Lula ao enterro do irmão, porque anulou decisões da Lava Jato depois, porque tentou centralizar a investigação do INSS outro dia, porque decretou sigilo no caso Master agora.


E se Toffoli for quem está certo? Vamos fazer o exercício. Precisamos, afinal, de tantos escândalos? O Peru troca de presidente toda semana e não parece ir muito bem. Você me diz que o crescimento econômico precisa de boas instituições. Mas precisa de moralismo?


A Coreia está entre os piores em corrupção entre os ricos da OCDE, a Polônia entre os países da União Europeia e a China é a pior entre as grandes economias do mundo. São as histórias de crescimento econômico do século 21.


A impunidade é subestimada como ingrediente do crescimento, porque é difícil estabilidade econômica sem estabilidade política. Reza a lenda que com o fim da União Soviética a economia parou em alguns lugares porque não se sabia mais a quem subornar.


E se as empresas grandes atraem melhor capital humano que a média do setor público? A regulação será desenhada pelos cérebros “piores” e prejudicará o avanço natural da produtividade em emergentes com Estado grande. Qual a melhor forma do privado transmitir rapidamente a melhor informação ao público? Talvez seja por mecanismos de mercado, que são ilegais.


Para o regulador da corrupção, fica a difícil tarefa da calibragem. A corrupção endêmica é péssima, mas derrubar o único sistema de tomada de decisões da economia também é. Alguém precisa ter coragem para fazer um incêndio controlado.


Toffoli seria o meme do silent savior, o soldado que está apanhando enquanto as crianças dormem tranquilas na madrugada. Toffoli não é o herói que o Brasil queria, Toffoli é o herói que o Brasil merece.



https://www.estadao.com.br/economia/pedro-fernando-nery/economia-precisa-menos-escandalos/

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


NY -0,35%, US TECH -0,50%, US SEMIS -0,24%, UEM +0,10% ESPAÑA +0,1% VIX +4,41% +0,6PB. BUND 2,83%, T-NOTE 4,11%, SPREAD 2A-10A USA=+65,5PB O10A, ESP 3,25%, ITA 3,50%. EURIBOR 12M 2,26% (FUT.12M 2,39%). USD 1,177. JPY 183.7. OURO 4.371$. BRENT 61,8$. WTI 57,96$. BITCOIN +0,2% (87.413,1$). ETHER +0,4% (2.946,5$).


SESSÃO: Ontem realização de lucros em Nova Iorque (-0,3%) e Europa praticamente plana. Tudo isto numa sessão sem grandes referências macroeconómicas, com o foco concentrado no frente geoestratégico: (i) Continuam as negociações para um acordo de paz entre Rússia/Ucrânia, mas as cedências territoriais permanecem o ponto de discórdia. Além disso, ontem a Rússia denunciou um suposto atentado contra a residência de Putin por parte da Ucrânia e avisou que revê a sua posição negociadora. Neste contexto, parece complicado alcançar um acordo a curto prazo. (ii) Os EUA intensificam os ataques na Venezuela. Trump afirma ter intervindo um cais supostamente usado para narcotráfico, na primeira operação terrestre em Venezuela reconhecida pelos EUA. E (iii) a China realiza manobras militares perto de Taiwan. Tudo isto levou a algum refúgio em obrigações: T-Note -1,8pb até 4,11%, Bund -3,2pb até 2,83%, embora surpreendentemente o ouro caísse -4,4% até 4.332$, após atingir máximos na semana passada (+18% na semana, +31% no mês).


Hoje nova jornada de transição, sem grandes referências numa semana a meio gás. Principalmente porque amanhã (Passagem de Ano) a Europa fecha às 14h e na quinta-feira (Ano Novo) não há mercados. Provavelmente as Minutas da Fed (reunião de 10 de dezembro) de hoje (20:00h) serão o mais relevante, embora seja pouco provável que tragam novidades. Na última reunião, a Fed cortou -25pb até 3,50%/3,75%, reveriu em alta as previsões de crescimento e anunciou a compra de Letras do Tesouro para manter liquidez suficiente no sistema. Agora o foco está em saber quem será o sucessor de Powell a partir de maio. O anúncio pode ser a surpresa da semana. Kevin Hassett, Diretor do Conselho Económico da Casa Branca, continua o favorito nas sondagens, embora Waller ou Warsh também estejam na lista. Em qualquer caso, será alguém inclinado a continuar a baixar as taxas, pelo que estimamos 3 cortes de taxas em 2026 — sempre que o emprego se deteriore mais do que o antecipado — até níveis de 2,75%/3,00%.


Em conclusão, hoje nova jornada de transição, com lateralização na ordem de -0,2%/+0,2%, volumes reduzidos e alguma consolidação, com o olhar já posto em 2026.

Pedro Fernando Nery

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