segunda-feira, 9 de maio de 2016

SEMANA NO PAÍS

Continuamos tentando navegar num mar revolto, cercado de armadilhas. O impeachment avança, mas sempre sujeito a trancos e barrancos, a movimentos oportunistas de personagens diversos.

O último foi deste senhor, Waldir Maranhão, presidente interino da Câmara, o que causou certo transtorno depois de acolher o recurso da Advocacia Geral da União (AGU). Foi ignorado pelo Senado nem indo para análise do Supremo.

Aguardemos agora a votação no Senado a partir desta quarta-feira, podendo se prolongar até sexta-feira. Previsões indicam entre 50 e 55 votos a favor do impeachment, mais do que o divulgado pela imprensa, talvez em função deste ato desastrado de Waldir Maranhão. Dizem até que quem montou esta “peça” foi o próprio José Eduardo Cardoso, tramada neste último final de semana com a participação do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PC do B. Acabou rejeitada. E segue o jogo.

Sobre a reforma ministerial, uma novidade foi Temer dar uma revisada, depois de boatos de que não haveria grandes mudanças. Pela necessidade de compor forças políticas, as barganhas seriam de tal forma que a reforma acabaria menor. Falava-se no corte de apenas três ministérios, praticamente havendo a repetição dos muitos nomes do governo Dilma. Hoje, no entanto, veio o esclarecimento. Serão 23 ministérios, com corte de nove. Caso o afastamento de Dilma se confirme, Temer pode transferir para a Fazenda as questões da Reforma da Previdência, coordenada por Meirelles. O ministério do Trabalho ficará apenas com o emprego. Fusões devem ocorrer, com o Ministério dos Transportes ficando com Portos e Aviação, o da Educação com a Cultura, Desenvolvimento Social com Agrário e o das Comunicações com Ciência e Tecnologia.   
É possível que o BACEN se torne independente, mas deve perder o status de ministério, assim como a CGU, a Secretaria de Comunicação e o Gabinete da Presidência. Sobre a equipe econômica, há dificuldades, diante do ceticismo dos economistas em aceitar o desafio de estabilizar a economia, pelo tempo exíguo. Comenta-se também que o presidente do BACEN pode ser indicado mais tarde, já que Meirelles conhece Tombini e todos os diretores que compõem o Copom. Já estão certos, na equipe, Eliseu Padilha (Casa Civil), Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e o próprio Henrique Meirelles (Fazenda).

Na agenda da semana, nesta quarta-feira, a Pesquisa Mensal de Vendas do Varejo em março (PMC). Depois de um bom desempenho em fevereiro, devem recuar ainda mais em março, em torno de 0,5%. Pelo conceito restrito, cresceram 1,2% em fevereiro e pelo ampliado 1,8%. Na sexta-feira temos o IBC-Br de março, devendo mostrar outra contração, em torno de 0,5% na base mensal e 5,5% contra março de 2015. No exterior, nos EUA, o relatório de vendas no varejo de abril sai na sexta-feira, com expectativa de recuperação. No mesmo dia, o sentimento do consumidor da Universidade de Michigan, provavelmente subindo. Na Zona do Euro, sai a segunda estimativa do PIB do primeiro trimestre na sexta-feira. Na China, durante a semana, como destaque os dados de crédito de abril. É esperado um arrefecimento dos novos empréstimos para 815 bi de yuan, bem abaixo do 1,37 trilhão de yuans em março.

Cyro Andrade

Cyro Andrade, 9/5: Waldir Maranhão, "Cabeça de Carvão " e Flavio Dino mancomunaram-se com Cardozo AGU. Alguém diria: é do jogo. Pra mim, é apenas coisa de chicaneiro, incluído o Flavio Dino, à espera da oportunidade de dar seu golpezinho barato.Aliás, o que me surpreendeu favoravelmente na entrevista dele (retiro aqui o elogio que lhe fiz) foi ser filiado ao PCdoB e não babar na gravata. Mas, nessa questão, pertencer a este ou aquele partido é o de menos. Esse jogo que estão jogando é amoral por definição. Os aplausos que a chicana está merecendo no Planalto são amorais também. É lamentável o papel que essa gente, sem nenhum traço de pudor, tomou para si, como se fosse coisa normal, no modo de tratar a questão do impeachment, da qual é indissociável a absoluta incompetência da dona Dilma pra ocupar o cargo que lhe caiu no colo. Está nos faltando exatamente isso: um "novo normal". Quem sabe, um dia chegamos lá.

sábado, 7 de maio de 2016

REVERSÃO DE EXPECTATIVAS

Fechamos a semana com a definição da aprovação do parecer de impeachment na Comissão do Senado. Acabou em placar folgado, 15 a 5, sem surpresas, o mesmo previsto pela imprensa.
Agora vai a votação no plenário do Senado até os dias 11 ou 13 e tudo leva a crer que a presidente seja afastada por 180 dias. A partir daí, começa o “mandato tampão” do vice Michel Temer, havendo expectativas sobre um desfecho antes de setembro, desde que não haja recesso parlamentar. Lembremos, também, que neste ano teremos Olimpíadas em agosto e eleições municipais em outubro. Ou seja, corremos contra o tempo para tentar colocar a casa em ordem. Não será uma tarefa fácil.
A então presidente Dilma, no seu papel, prega a “quatro ventos” que o processo atual é golpe e que não irá facilitar para o início do mandato do vice Michel Temer. Realmente, diversos obstáculos vão sendo jogados no meio do caminho. Já se falou que a presidente não faria transição nenhuma com o vice. Depois do dia 1/5 anunciou medidas de reajuste no programa Bolsa Família (9%) e na tabela de Imposto de Renda (5%). Anunciou também um grande aporte de recursos para os planos de safra neste ano, recursos adicionais para o “Minha Casa, Minha Vida”, além de boatos de anuncio de novos aportes para alguns programas de crédito. Soma-se uma forte demanda dos servidores públicos em diversas categorias e aí estaria “armada a bomba” para a governabilidade de Michel Temer. De fato, Temer não terá vida fácil, ainda mais neste período temporário em que o parecer do impeachment será discutido no Senado. Cabe salientar, no entanto, que este será decisivo para o sucesso do seu curto mandato, se confirmado, limitado à dois anos e alguns meses.
Quando não faltava mais nada ainda terá que enviar, até o dia 22/5, uma meta fiscal revisada para este ano, já que a de R$ 24,5 bilhões já está totalmente superada. O ministro Barbosa chegou a cogitar uma banda fiscal, contando-se com a possibilidade da meta ser negativa em R$ 96,6 bilhões, mas tudo leva a crer que seja bem maior. No mercado, as expectativas são de que deve chegar a 3% do PIB ao final do ano, pois o desempenho da economia para este ano já parece dado, com o PIB recuando próximo a 4%. Estimativas indicam que o superávit primário precisará chegar a mais de 3% do PIB para estabilizar a dívida pública do País.
Para azedar ainda mais os ânimos, temos o contencioso dos estados com a União sobre o indexador da dívida. Segundo a “interpretação” de alguns governadores, pode ser corrigida por juro simples, algo fora de propósito, mas fruto de uma brecha na redação de um documento de renegociação das dívidas estaduais recentemente. A União, acertadamente, defende a taxa de juro composto (juro sobre juro). O STF deu um prazo de 60 dias para que haja algum acordo.
Para piorar, Temer assume com a formação de um ministério que, a não ser pelo chamado “núcleo duro”, em pouco difere do governo atual. A costura política complicada, desentendimentos com partidos da base de apoio, como o PSDB, num primeiro momento se negando a fazer parte, limitando-se apenas ao apoio informal, ou o PP, em batalha por ministérios estratégicos como da Saúde, bem refletem este quadro. No fim, a única coisa mais importante neste ministério acabará sendo mesmo a equipe econômica, até porque também não será possível uma reforma, uma corte mais, de 31 para 20 ou 22 ministérios. No mais otimista dos prognósticos, Temer assumirá com 26 ou 27, num esforço para compor politicamente o seu “governo”.
Everaldo Maciel, ex-secretaria da Receita, inclusive, acharia importante Temer (1) direcionar ações, tendo a consciência que este será um governo de transição, sendo mais pragmático na aglutinação de forças políticas; (2) atacar primeiro os problemas conjunturais, deixando para depois as reformas, havendo apoio político consolidado; (3) continuar dando apoio à Operação Lava-Jato, mesmo que isto lhe traga dissabores políticos; (4) dar apoio aos estados e municípios, engolfados numa crise de difícil solução e, por fim, (5) tentar ser o mais transparente possível na divulgação de medidas. Sobre estas, algumas já parecem consensuais.
Pelo lado das despesas, com cortes limitados e algum contingenciamento, comenta-se sobre a desindexação de benefícios previdenciários em relação ao salário mínimo, e no aumento da Desvinculação das Receitas da União (DRU), dando ao governo federal maior poder no uso de parte de receitas, em sua maioria, já carimbadas para determinadas áreas como Saúde e Educação, etc. Comenta-se também sobre a necessidade de avançar, mesmo com a crise política atual, numa mini-reforma da Previdência, com a elevação da idade mínima para homens e mulheres em 65 anos. Somando-se a outras medidas, como o “congelamento” dos servidores, a economia do País então chegaria, no máximo, a R$ 100 bilhões.
Pelo lado das receitas, o espaço de manobra é ainda mais limitado dadas as restrições sobre a criação de mais impostos num país em constante crise fiscal. Politicamente desgastante, retornar com a CPMF seria o mesmo que entregar o governo de volta aos atuais mandatários. Temer, no entanto, já deixou no ar a possibilidade deste debate retornar num momento mais adequado.
Outras alternativas seriam aumentar a Cide e o PIS COFINS da gasolina, além de acabar lentamente com as desonerações tributárias da folha de pagamento. Neste contexto, e pensando no retorno da CPMF, um imposto que onera mais as empresas e, por tabela, os consumidores, pela elevação de custos, o ganho de caixa chegaria ao fim a algo em torno de R$ 140 bilhões, isto contando com País voltando a crescer acima de 2%, turbinando então a arrecadação. Este, aliás, é um ponto. Pensar em reequilíbrio fiscal, apenas com a economia voltando a crescer e arrecadando mais. É um contrassenso se pensar em elevar a arrecadação do País com a PIB recuando mais de 4%.
Isto nos leva a acreditar que não será nada fácil este início de mandato do “novo governo” do vice Michel Temer. Terá que ceder nas barganhas políticas enfrentará uma série de armadilhas deixadas pelo governo atual, não conseguirá reverter a piora fiscal no curto prazo e a economia continuará em recessão no resto do ano. Soma-se a isto, terá que herdar uma série de esqueletos deixados, principalmente, nos bancos públicos.
Neste contexto, acompanhando Everardo Maciel, será importante Temer ser o mais realista e transparente possível, de forma a não gerar frustrações na sociedade. Será uma travessia difícil, cercada de esperanças, o que demandará do vice toda a habilidade possível para administrar bem as expectativas. Que assim seja.

Todos os principais think thak

PÓS-GRADUAÇÃO DE ECONOMIA USP

The Economist

Vargas Llosa

Artigo interessante sobre KEYNES

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Economia do BITCOIN

REBAIXAMENTO

Fomos rebaixados mais uma vez pela Fitch, o segundo em menos de cinco meses. Passamos de BB+ para BB com perspectiva negativa.  
Retornando a escrever no meu blog. Mais uma semana intensa. O afastamento de Eduardo Cunha parecia algo inevitável. Foi bom porque sua folha era bem extensa. Ao menos deixou o encaminhamento do afastamento da Dona Dilma. Presidiu com maestria aquela votação do dia 17/4, um verdadeiro circo. 

Editorial do Estadão (17/02)

LULA PROMETE O ATRASO: A razia bolsonarista demanda a eleição de um presidente disposto a trabalhar dobrado na reconstrução do País. A bem d...