terça-feira, 11 de novembro de 2025

Debate

 Por estes dias, o Insper promoveu um encontro, capitaneado por André Lara Resende, para lançar o seu livro, Moeda e Ortodoxia, com a participação de Marcos Lisboa, Samuel Pessoa e Pedro Duarte. Foi um debate bem rico, que versou sobre os dilemas de uma taxa de juros muito elevada, e questionamentos sobre sua eficácia, e a situação fiscal que só piora. Vejamos o que foi discutido.


André Lara Resende. Interessante q ele é muito crítico a este arcabouço monetário hoje existente, por não achar razoável um juro real de 9,5%. Acha também q a questão fiscal é um falso problema, visto que como emitimos dívida em moeda nacional é só ir rolando, financiando, empurrando para frente. Tudo bem, Itália, Japão, EUA, fazem o mesmo. Só que lá as políticas públicas conseguem ter uma certa aderência ou credibilidade, ao contrário do Brasil. Me impressiona, portanto, a muito pouca consideração sobre a variável expectacional, visto que a piora da situação fiscal vai tornando a rolagem de dívida algo mais difícil, de menor qualidade, com a maior colocação de títulos com liquidez e prazos imediatos. É inevitável considerar que o perfil da dívida piora, com o aumento desta, de forma perigosa. André Lara não encara isso como problema.


Pedro Duarte. Sobre o panorama da teoria econômica nos anos 50, pode-se colocar alguns pontos de introdução e depois. Parte de Keynes, na sua TGEJM, de 1936, no debate sobre a “armadilha da liquidez”, com a moeda sendo elástica e a política monetária perdendo eficácia. Daí a necessidade de adoção de políticas fiscais a preencherem este vazio, tornando importante a adoção da teoria keynesiana. Na leitura dele, e dos outros também, Keynes montou um arcabouço teórico cercado de suposições, depois organizadas por Hisks e Hansen no famoso ISLM, nos anos 50, e depois daí tudo se transformou. Um desafio aqui é como criar a ponte entre o curto e o longo prazo, no debate sobre o papel da moeda, sua neutralidade no longo prazo e sua importância no curto prazo. Os clássicos não dividiam o papel da moeda no tempo, os keynesianos, sim.


Marcos Lisboa. Acha que estamos caindo então no debate da crise que a ciência econômica atravessa. Os únicos preceitos teóricos q se sustentam são os da microeconômicos, pois com menos variáveis e mais fáceis de serem testáveis empiricamente. A Macro se esgota pela dificuldade de criar modelos “entorno”. A MACRO Keynesiana não passou de um “sonho em noite de verão”, ainda que cercada de suposições. Ou seja, foi o ISLM q tentou dar a teoria keynesiana alguma elegância. Marcos Fernandes, um amigo, discorda. Diz ele, “não acho que macro tenha acabado não… modelos de metas de inflação, com câmbio flutuante, regras de juros que orientam o banco central sai extremamente úteis, tem funcionado bastante bem… por exemplo, acho que a Argentina tá faltando uma política monetária para complementar a política fiscal… isso pra mim vem de lá da macroeconomia tradicional…


Samuel Pessoa. A contribuição de Samuel foi mais marginal, visto ele não se considerar um macroeconomista monetário. Para ele, que o chama atenção, no início do livro, é o debate entre Eugênio Gudin e Roberto Simonsen, considerando o primeiro um grande pensador, meio que injustiçado. Disse Samuel que Gudin, acertadamente, foi o primeiro a pensar a produtividade, no debate público da nossa lúgubre ciência.


Minhas impressões. Interessante é ver como a nossa lúgubre ciência possui vazamentos, fragilidades retóricas, enfim. André Lara Resende argumenta que é impossível colocar a complexidade de uma sociedade "humana", tantas variáveis, dentro de um modelinho, enquanto Marcos Lisboa contra-argumenta q o debate hoje deve ser o de um modelo teórico que tenha formalização, ou seja, tenha evidência empírica, podendo ser testável.

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 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: Fim do encerramento do governo americano, Dia do Solteiro na China, bolsas abertas, mas obrigações fechadas devido ao Dia do Veterano nos EUA e ZEW Sentimento Económico na Alemanha (10 h) a melhorar um pouco (41,0 vs. 39,3). Há alguma confusão em relação à China retomar as exportar de terras raras aos EUA, mas restringir o seu acesso a empresas de defesa, mas parece mais uma forma estética de salvaguarda do que uma restrição efetiva. Por isso, terá escasso impacto negativo. A onda de alívio começou ontem com a perspetiva da reabertura do governo americano empurrar um pouco o mercado ainda hoje.


ONTEM, subida alegre, porque o governo americano irá reabrir e isso permitirá voltar a ter indicadores económicos para nos guiarmos (o que é fundamental para a Fed) e fará com que o consumo privado americano se normalize pouco a pouco, porque os funcionários e semelhantes voltarão a cobrar. Isso é o mais importante. Será votado amanhã, na Câmara de Representantes, e avançará, porque os republicanos têm maioria simples (220 vs. 218 necessários), que é suficiente neste caso (no Senado era necessária uma maioria reforçada e, por isso, os democratas poderiam bloqueá-lo).


Os resultados empresariais continuam a sair bons, apoiando o mercado: nos EUA 16,5% vs. +8,5% 3T 2025 que terminam de publicar estes dias (ca.90% já publicaram). Entre as destacáveis, faltam Cisco (amanhã após o fecho de Nova Iorque; EPS esperado 0,98 $; +7,7%) e, na quinta-feira, Applied Materials (2,107 $; -9,2%). 


A única macro de hoje cedo é fraca: Taxa de Desemprego no Reino Unido 5,0% vs. 4,9% esperado vs. 4,8% anterior, com ganhos pessoais médios a desacelerar (+4,8% vs. +5,0% esperado e anterior). Mas a libra quase não se ressente (0,8797/€ vs. 0,8793/€ ayer). O debilitamento no Reino Unido não é grave e está descontado.


NY +1,5% US tech +2,2% US semis +3% UEM +1,8% España +1,8% VIX 17,6% Bund 2,68% T-Note 4,12% Spread 2A-10A USA=+53pb B10A: ESP 3,18% PT 3,03% FRA 3,44% ITA 3,42% Euribor 12m 2,211% (fut.2,269%) USD 1,155 JPY 178,2 Ouro 4.128$ Brent 63,8$ WTI 59,8$ Bitcoin -1,1% (105.143$) Ether -1,5% (3.559$)


CONCLUSÃO: Melhor sessão europeia do que americana, portanto irá evoluir desde um pouco em alta até plana ou retrocesso milimétrico em Nova Iorque. Irá ressurgir um pouco de cautela pela incerteza derivada de como serão os indicadores americanos agora, que voltarão a publicar-se em uns dias, para saber se reforçam a expetativa de mais descidas de taxas de juros da Fed ou não. O contraste de opiniões dovish/suaves vs. hawkish/duros reativa-se com Musalem vs. Miran, mas sem consequências. O Dia do Solteiro na China passa quase despercebido desde há uns anos, embora antes da pandemia tivesse importância. Atualmente, já não. O ZEW alemão (10 h) irá melhorar um pouco, ajudando a sessão europeia… que tenderá a enfraquecer durante a tarde em Wall St., porque a ausência do mercado de obrigações irá reduzir um pouco a atividade na bolsa. Sessão de trâmite para a reabertura do governo americano, algo que o mercado irá querer comprovar se ocorre entre quinta e sexta-feira. HOJE, bem, mas com pouca vontade, poderíamos dizer. 


FIM

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 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: As dúvidas do mercado sobre o investimento em IA e a possibilidade que exista uma sobreavaliação marcou uma semana passada com quedas na bolsa (Nova Iorque -1,6%, semis -4,0%, Europa -1,7%). Para nós, a probabilidade de enfrentar uma bolha no setor é baixa. Os motivos:


(i) Consideramos questionáveis as avaliações das empresas que tem como único modelo de negócio a IA (OpenAI, Anthropic, Mistral…), mas não as do ecossistema que se desenvolve à volta da IA (Nvidia, ASML, Microsoft, Amazon…). São coisas diferentes. Aconteceu algo parecido em 2000: uma coisa era proporcionar acesso à Internet (Terra, operadoras de telefonia e redes…) e outra era o ecossistema de atividades na Internet (Google, Amazon, Netflix…). O valor do negócio estava nas segundas, não nas primeiras. Atualmente acontece algo parecido. Daí a confusão e as dúvidas. É o caso de OpenAI (desenvolve IA como única atividade), que para a sua hipotética OPV em 2026 passou de uma avaliação de 300.000 M$ (em março) para especular com outra de 1Bn$ apenas seis meses depois. Esta frivolidade com os resultados é o que introduz um receio lógico porque é difícil justificar com uma perspetiva de curto prazo. 


(ii) Essas avaliações têm pouco ou nada a ver com as das empresas que coexistem e criam o ecossistema de IA e que já hoje estão a monetizá-lo (e continuarão a fazê-lo no futuro). Não estão sujeitas a essa incerteza, nem a essas dúvidas: ASML, Nvidia, Microsoft, Amazon. Porquê? A situação de dívida e lucros não tem nada a ver com a de 2000. As empresas do ecossistema de IA geralmente não têm apenas dívida zero, mas têm caixa líquida positiva (enorme em muitos casos) e geram lucros elevados hoje (nada de promessas futuras), em vez de muita dívida e zero benefícios, como acontecia em 2000 com as empresas da Internet. Os ROEs 2026 (Rentabilidade/Recursos Própios) das principais representantes do ecossistema de IA mencionadas antes (ASML, Nvidia, Microsoft, Amazon) são, nessa ordem: 45%, 76%, 27% e 20%. Neste setor, os lucros crescem acima do duplo dígito (BNA26e >30%), igual às carteiras de pedidos e procura de clientes. Em suma, os resultados são convincentes por si só e os múltiplos de avaliação são altos, mas não excessivos (especialmente se ajustados por crescimento). Nada aponta para uma bolha.


(iii) Por último, um fator importante e que não devemos ignorar é alta volatilidade destas empresas. Se observarmos a evolução de 2023, 2024 e 2025(YTD), o setor de Semicondutores subiu +65%, +19% e +39%, respetivamente, mas nos três anos viveram-se períodos pontuais de quedas significativas (-17% em agosto-outubro de 2023 e -16% em fevereiro-abril de 2025). Contudo, o tempo demonstra que se os fundamentos acompanham os níveis de avaliação (como acreditamos que acontece atualmente), as quedas ficam em correções e terminam por recuperar a médio prazo. Neste setor, como em todos os restantes: investimos, não especulamos.


Esta semana, a atenção continuará focada na IA, embora esta manhã tenhamos notícias positivas do lado americano. Durante o fim de semana, foi dado o primeiro passo para a reabertura da Administração após um acordo no Senado pelo mínimo necessário (60 vs. 40) para o financiamento do governo até 30 de janeiro de 2026. Agora, será necessária a aprovação da Câmara de Representantes, em que apenas é necessária uma maioria simples (218 votos) que, em princípio, já teria devido aos republicamos terem 220 assentos. Se for ratificado, só falta a assinatura posterior por parte de Trump.


A reabertura da Administração, a priori, parece estar mais perto, o que daria lugar, entre outros, à nova publicação de indicadores macroeconómicos que ajudariam a dissipar dúvidas sobre a próxima descida das taxas de juro da Fed. Para esta semana, apenas teremos resultados empresariais e a sua temporada termina – à exceção de resultados de NVIDIA (19 de novembro) – com um balança positivo (EPS +16,5% vs. +8,5% esperado). Também teremos o Dia do Solteiro na China (evento online importante), embora acreditemos que o impacto será localizado no setor consumo e com um impacto limitado. 


NY +0,1% US tech -0,3% US semis -1,0% UEM -0,8% España -1,3% VIX 19,1% Bund 2,69% T-Note 4,14% Spread 2A-10A USA=+54pb B10A: ESP 3,20% PT 3,04% FRA 3,48% ITA 3,44% Euribor 12m 2,21% USD 1,156 JPY 178,1 Ouro 4.075$ Brent 64,1$ WTI 60,2$ Bitcoin +1,7% (106.327$) Ether +0,9% (3.612$)

BDM Matinal Riscala

 Bom dia


*Bom Dia Mercado*


Terça Feira, 11 de Novembro de 2.025.


*Fim do shutdown, ata do Copom e IPCA*


Lula deve sancionar hoje o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda


… Feriado do Dia do Veterano nos Estados Unidos fecha o mercado de Treasuries hoje, mas as bolsas em Wall Street funcionam normalmente e a tendência é de que sigam refletindo o entusiasmo com o fim próximo do shutdown. O projeto para reabertura do governo americano passou ontem à noite no Senado e deverá ser votado na Câmara nos próximos dias. A agenda lá fora é fraca, mas no Brasil é importante para os juros, com a ata do Copom (às 8h) e o IPCA de outubro (9h). No calendário dos balanços, BTG Pactual divulga os resultados antes da abertura. De volta à Brasília, o presidente Lula deve sancionar hoje o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda.


QUEDA FIRME – A esperança de que o BC alivie hoje a mensagem hawkish somou-se à melhora do ambiente externo com o fim do shutdown e apreciação do câmbio às projeções benignas para o IPCA para um pregão de queda firme dos juros, na véspera da ata do Copom.


… A queima dos prêmios de risco mostrou que o mercado não desistiu do primeiro corte da Selic em janeiro e vai buscar na ata sinais de que isso ainda pode acontecer. Há dois pontos importantes a serem observados pelos analistas no documento do BC.


… O primeiro deles diz respeito às explicações para as estimativas da inflação de 2026 (3,6%) e do 2Tri/2027 (3,3%), que passou a ser o horizonte relevante da política monetária. A principal dúvida é: o BC já incorporou o impacto da reforma do Imposto de Renda?


… Se a resposta for positiva, tende a retirar boa parte dos efeitos inflacionários nas projeções futuras, abrindo caminho para as chances de um início antecipado da flexibilização. Mas, se o BC ainda não incorporou o impacto, as projeções futuras do IPCA podem subir mais.


… Na avaliação dos economistas, esse fato pode significar a diferença entre cortar a Selic em janeiro ou em março.


… O Itaú admite que, juntamente com os demais detalhes da ata, o efeito da reforma do Imposto de Renda sobre as projeções de inflação do BC poderá levar a uma reavaliação do call atual do banco, que prevê o início do ciclo de quedas da Selic em janeiro.


… Outra pista, talvez mais assertiva, seria o comentário do BC sobre a leve redução nas estimativas do IPCA para o 2Tri/2027 no comunicado, de 3,4% para 3,3%, segundo observação de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa, à Agência Estado.


… “Qualquer reconhecimento pelo Copom de que a inflação projetada para o segundo trimestre de 2027, atual horizonte relevante para a política monetária, está ‘ao redor da meta’ pode ser suficiente para o mercado fazer uma leitura mais dovish da ata.”


IPCA – Após a ata do Copom, a divulgação do IPCA de outubro pode continuar ajustando as expectativas; a mediana de pesquisa Broadcast para o índice de inflação é de alta de 0,14%, uma boa desaceleração em relação a setembro (0,48%).


… As projeções para esta leitura, todas de alta, variam de 0,08% a 0,21% e para a inflação em 12 meses, a mediana indica desaceleração de 5,32% para 4,74%. O alívio nas contas de energia elétrica deve garantir a acomodação do IPCA na margem em outubro.


… As tarifas devem ter variação negativa em outubro, por conta da passagem da bandeira vermelha 2 para vermelha 1.


… Já a média dos núcleos de inflação deverá ganhar força na margem no IPCA de outubro, passando de 0,19% em setembro para 0,29%.


… Entre os principais preços na abertura do índice, a estimativa intermediária mostra avanço nos preços livres (-0,01% para 0,25%); alimentação no domicílio (-0,10% para 0,0%); bens industriais (0,06% para 0,17%); serviços (0,13% para 0,40%) e serviços subjacentes (0,03% para 0,33%).


… A expectativa é de recuo apenas para os preços administrados (de 1,87% para -0,20%).


… Para Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos, surpresas com a variação dos alimentos e bens industriais no indicador oficial de outubro podem favorecer as apostas de início do ciclo de flexibilização da Selic em janeiro.


… A semana ainda traz dados importantes da atividade, que podem confirmar a desaceleração e ajustar as apostas para os juros: amanhã, sai o volume de serviços e, na quinta-feira, as vendas no varejo em setembro. Na sexta, o IGP-10 também estará no radar do mercado.


MAIS AGENDA – Do lado da inflação, saem ainda hoje as primeiras prévias de novembro do IPC-Fipe (5h) e IGP-M (8h). O diretor de Organização do Banco Central, Renato Dias Gomes, participa de live sobre os 5 anos do Pix, às 13h45.


… Entre os balanços, além de BTG Pactual, o Banco Pan e a Porto Seguro soltam resultados antes da abertura. Já depois do fechamento, vêm B3, Boa Safra, Cury, CVC, EcoRodovias, Eneva, Gol, Jalles Machado, Taesa e Vamos. No Companhias abertas, os balanços de ontem à noite.


ENCONTRO NO CANADÁ – O chanceler Mauro Vieira espera encontrar-se hoje com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, às margens de uma reunião de ministros das Relações Exteriores do G7, no Canadá.


… A conversa dos dois ainda não foi oficializada entre as diplomacias, mas a expectativa do Itamaraty é que eles possam voltar a conversar para seguir com as tratativas em torno do tarifaço, que esfriaram após a reunião de Lula e Trump.


RIDES AGAIN – Principal ausência da COP, o presidente Trump postou na rede social um vídeo da Fox News com críticas à construção da avenida Liberdade, em Belém. “Devastaram a Floresta Amazônica para fazer uma estrada aos ambientalistas. Isso é um grande escândalo!”.


LULA – Após a abertura da COP30, volta hoje à Brasília para sancionar o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda.


… Segundo informou o senador Jaques Wagner, o presidente Lula também quer se reunir com o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco, antes de anunciar o advogado-geral da União, Jorge Messias, para ocupar a vaga de Barroso no STF.


LÁ FORA – O índice ZEW de expectativas econômicas em novembro da Alemanha (7h) é o único indicador hoje na agenda internacional.


PASSOU NO SENADO – Senadores americanos aprovaram nesta segunda-feira à noite, por 60 votos a 40, o projeto de lei para reabrir o governo dos Estados Unidos, que segue agora para a Câmara, onde deve ser votado ainda essa semana.


… Mais cedo, o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, havia dito que retomaria as sessões imediatamente após a conclusão dos trabalhos no Senado. Ele afirmou que dará aos deputados um aviso prévio de 36 horas para retornarem ao Capitólio.


… O líder democrata da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries, promete resistência, afirmando que seu partido não apoiará “uma promessa, uma esperança e uma oração de pessoas que vêm devastando a saúde do povo americano há anos”.


… Segundo ele, os democratas continuarão lutando para estender os subsídios da Lei de Assistência Médica Acessível.


… O acordo para encerrar o shutdown foi possível após os senadores republicanos se comprometerem a apoiar um projeto para o seguro saúde até dezembro, em substituição ao Obamacare e aos cortes no Medicaid aos americanos de baixa renda.


… Mas, em declaração nesta segunda, Trump disse que quer um sistema “onde pagamos diretamente às pessoas, não às empresas de saúde”.


À ESPERA DOS DADOS – A reabertura do governo é esperada para o final desta semana e as agências estatísticas dos Estados Unidos podem começar a publicar os dados econômicos atrasados dentro de alguns dias após o fim do shutdown.


… Dados sobre empregos e inflação de setembro devem ser publicados rapidamente, mas relatórios importantes de outubro e novembro podem não estar disponíveis antes da reunião de dezembro do Fomc, nos dias 9 e 10.


… Autoridades do Fed, incluindo o presidente Jerome Powell, economistas e investidores lamentaram repetidas vezes nas últimas semanas a falta de dados econômicos oficiais usados para tomar decisões. Muitos diziam estar “no escuro” ou “às cegas”.


… Para analistas, o relatório de empregos de setembro, que inclui o payroll, será o primeiro documento pós-paralisação que o público verá. Deve ser publicado três dias após a reabertura do governo, já que estava praticamente pronto antes do shutdown.


… Outros dados de setembro, incluindo vendas no varejo, dados da balança comercial e o índice de preços das despesas de consumo pessoal, também serão divulgados rapidamente, assim como dados oficiais sobre pedidos iniciais e contínuos de seguro-desemprego.


… Já os dados econômicos de outubro serão mais difíceis de produzir porque o fechamento impediu as agências de realizar, coletar e processar respostas de pesquisas e verificações de preços durante o mês. Isso pode levar a atrasos mais longos.


… O Morgan Stanley, por exemplo, espera os relatórios de emprego de outubro e novembro no dia 8 de dezembro, a tempo do próximo Fomc, mas acredita que os dados de vendas no varejo e de inflação de outubro só devem ser publicados às vésperas do Natal.


NÃO LARGA O OSSO – Logo agora que o shutdown pode se resolver, o Ibovespa não quis desperdiçar a chance de esticar os recordes. Bateu asas e voou pela primeira vez até a faixa dos 155 mil pontos, escrevendo novos topos.


… Sem parada, emplacou a 14ª valorização consecutiva, sendo a 11ª marca histórica de fechamento em sequência.


… O índice fechou em alta de 0,77%, aos 155.257,31 pontos, após alcançar novo pico intraday, de 155.601,15 pontos. O giro ficou em R$ 20,1 bilhões e tem sido bancado mais firmemente pelos estrangeiros. O Brasil voltou à moda.


… Em reportagem de Altamiro Silva Junior no Broadcast, fontes da equipe econômica avaliam que pelo menos três fatores comprovam o interesse renovado do capital externo pelo País, que tem aproveitado para faturar a liquidez:


… 1) o sucesso na emissão de títulos sustentáveis (green bonds) do Tesouro semana passada, com captação de US$ 2,25 bi a juros de 5,75%, equivalentes a países investment grade, e demanda sete vezes superior ao livro de ofertas.


… 2) o Ibovespa que não para de bater recordes é outra prova que confirma o apetite dos gringos pelo Brasil.


… E 3) o Credit Default Swap (CDS) de cinco anos, que mede a percepção de risco do País, acumula queda de 5,5% em um mês, a 146 pontos, depois de ter superado os 200 pontos entre abril e maio com o tarifaço imposto por Trump.


… “Há uma sensação agora de não querer perder a oportunidade com o Brasil. É o fear of missing out, mas precisamos ver se não pode ser uma euforia só de curto prazo”, alerta o executivo de um banco estrangeiro.


… O principal receio do mercado sempre é de como o governo vai endereçar os ruídos fiscais em 2026.


… Enquanto o ano eleitoral não chega, segue o baile na bolsa. Se não precipitar hoje uma correção, o Ibovespa já vai igualar a marca de 15 altas ininterruptas registrada mais de três décadas atrás, quando nascia o Plano Real.


… Vale ignorou ontem a apatia do minério (-0,07%) e subiu 0,66%, a R$ 65,21. Petrobras, que já tinha brilhado no pregão anterior, emplacou a sexta alta seguida: ON, +0,88%, a R$ 34,58; e PN, +0,56%, a R$ 32,36.


… Acompanhou o maior apetite por risco do petróleo com o possível fim da paralisação do governo Trump. O contrato do Brent para janeiro registrou valorização de 0,67%, negociado a US$ 64,06 por barril na ICE londrina.


… Os bancos também foram bem: Bradesco PN, +1,87%, a R$ 19,08; Bradesco ON, +1,56%, a R$ 16,24; Santander, +0,80%, a R$ 32,65; e Itaú, +0,67%, a R$ 40,44. Só BB ON caiu (-0,48%; R$ 22,78), temendo pelo balanço de amanhã.


A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE – Galípolo continua insensível à melhora da dinâmica da inflação, como se viu pelo tom superconservador do comunicado do Copom. Mas para o mercado o jogo só acaba quando termina.


… Até que a ata seja decifrada hoje, nada está perdido ainda e o corte da Selic em janeiro segue no páreo.


… No clima de que tudo pode dar certo, os juros futuros caíram de ponta a ponta ontem, com a apreciação do câmbio ajudando a compor o ambiente de otimismo já garantido pela confiança de solução política para o shutdown.


… O Broadcast destacou que o contrato de DI para janeiro de 2029 não encerrava abaixo dos 13% há um ano. Caiu a 12,955%, contra 13,068% no pregão anterior. O vencimento para janeiro de 2027 marcou 13,825% (de 13,874%).


… Janeiro de 2031 fechou na mínima do dia, a 13,250% (de 13,375%); e Jan/33 afundou a 13,430% (de 13,554%).


… Sem grandes novidades, o boletim Focus não trouxe alterações nas medianas das estimativas do mercado para o IPCA deste ano (4,55%, acima do teto da meta, de 4,50%), de 2026 (4,20%), de 2027 (3,8%) e de 2028 (3,50%).


… No câmbio, o dólar caiu pela quarta sessão seguida diante do real e passa agora pelo teste dos R$ 5,30. Terá força para furar este nível ou encontrará aí o piso? Ontem, fechou em baixa de 0,53%, a R$ 5,3073. No mês, recua 1,36%.


… O real esteve entre as cinco moedas com melhores desempenhos do dia. No acumulado do ano, já subiu 14,12%.


… Mas 2026 promete ser um ano difícil e desafiador. “Depois da impressionante valorização de 2025, é natural que perca fôlego em 2026 com os cortes de juros [pelo Copom] e as incertezas eleitorais”, projeta o Commerzbank.


… Lá fora, todo mundo continua ansioso para que o shutdown acabe de uma vez por todas e libere os indicadores que estão represados, para o mercado poder calibrar com maior precisão as apostas para o ciclo de cortes do Fed.


… Apesar do discurso cauteloso de Powell e de muitos de seus colegas, o mercado continua bastante confiante de que o juro ainda vai cair em dezembro: 63,5% de chance na ferramenta do CME, contra 36,5% de manutenção.


… Mary Daly defendeu ontem que a política monetária “está em um bom lugar” e que o nível atual “deve seguir restritivo para pressionarmos a inflação para baixo”. Alberto Musalem também ressaltou a pressão inflacionária.


… Mas Nova York quis é se esbaldar com a promessa de que a paralisação do governo está com os dias contados.


JÁ FOI LONGE DEMAIS – Diante dos esforços políticos para acabar com o mais longo shutdown da história, as bolsas americanas foram dominadas pelo apetite por risco e as ações de tecnologia esqueceram o risco da bolha da IA.


… O Nasdaq avançou 2,27%, a 23.527,17 pontos; o S&P 500 ganhou 1,54%, a 6.832,43 pontos; e o Dow Jones subiu 0,81%, para 47.368,63 pontos. As ações da Alphabet (+4,04%), Nvidia (+5,79%) e Meta (+1,62%) deslancharam.


… Esvaziado o estresse, a taxa da Note-2 anos subiu a 3,590% (de 3,556%) e de 10 anos, a 4,115% (de 4,091%).


… Só o câmbio operou morno, com o DXY de lado (-0,01%, aos 99,589 pontos), assim como o euro (-0,02%, a US$ 1,1565). A libra subiu 0,17%, a US$ 1,3183, à espera de indicadores na semana, e o iene caiu para 154,05 por dólar.


COMPANHIAS ABERTAS – SABESP teve lucro líquido reportado de R$ 2,159 bilhões no 3TRI, queda de 64,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Com ajustes, o lucro líquido somou R$ 1,284 bilhão, alta anual de 9,5%…


… A receita líquida de serviços de saneamento ajustada foi de R$ 5,468 bilhões, crescimento de 0,1% em base anual. O Ebitda totalizou R$ 3,069 bilhões, montante 70,6% menor do que o registrado um ano antes…


… Com ajustes, o Ebitda totalizou R$ 3,206 bilhões, alta de 14,7% em comparação em igual período de 2024.


NATURA registrou prejuízo líquido de R$ 1,926 bilhão no terceiro trimestre, montante 71,2% menor que os R$ 6,694 bilhões apurados no mesmo período de 2024…


… Ebitda recorrente somou R$ 577 milhões, queda de 33,7% na comparação anual.


AZZAS registrou lucro líquido recorrente de R$ 201,3 milhões no terceiro trimestre, alta anual de 22,9%. Ebitda ajustado recorrente somou R$ 476,7 milhões, em linha com um ano antes, quando alcançou R$ 476,8 milhões.


MBRF registrou lucro líquido de R$ 94 milhões no terceiro trimestre, queda anual de 62%; Ebitda consolidado ajustado somou R$ 3,503 bilhões, recuo de 8,6% em relação ao mesmo período de 2024.


BRASKEM e o governo de Alagoas celebraram termo de acordo relacionado ao evento geológico ocorrido no Estado, prevendo pagamento total de R$ 1,2 bilhão, dos quais R$ 139 milhões já haviam sido pagos.


… O ADR da Braskem saltou 4% no after market, na reação positiva dos estrangeiros ao acordo com Alagoas.


PETRORECÔNCAVO. Cobas aumentou participação na companhia para 5,02% do total de ações ordinárias, passando a deter 14.735.900 de papéis do tipo.


ITAÚSA registrou lucro líquido recorrente de R$ 4,120 bilhões no terceiro trimestre, alta anual de 6%. Retorno patrimonial recorrente (ROE) ficou em 18,5%, ante 18% no mesmo período de 2024…


… Endividamento líquido somou R$ 697 milhões, queda de 26% na comparação com o mesmo trimestre de 2024.


EVEN registrou lucro líquido consolidado de R$ 90 milhões no 3TRI, revertendo prejuízo de R$ 110 milhões reportado no mesmo período de 2024.


GRUPO SBF registrou lucro líquido de R$ 86 milhões no terceiro trimestre, queda anual de 35,7%; Ebitda somou R$ 242,6 milhões, recuo de 10,8% em relação ao mesmo período de 2024.


MOVIDA registrou lucro líquido de R$ 70 milhões no terceiro trimestre, queda de 10,5% na base anual. Ebitda somou R$ 1,478 bilhão, crescimento de 18,5% em relação ao mesmo período de 2024.


JSL registrou lucro líquido de R$ 18,1 milhões no 3TRI, queda de 58,7% na comparação anual; Ebitda somou R$ 518,9 milhões, alta de 15,3% em relação ao mesmo período de 2024.


SÃO MARTINHO registrou lucro líquido de R$ 176,4 milhões no segundo trimestre do ano safra 2025/26, queda de 5,9% contra um ano antes. Receita líquida recuou 11,3%, para R$ 1,7 bi, e Ebitda ajustado caiu 13,4%, a R$ 816,9 mi…


… O Conselho de administração aprovou a oitava emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, em série única, no valor total de R$ 500 milhões.


OI informou que vai adiar a publicação dos resultados referentes ao 3TRI, originalmente prevista para amanhã; empresa não divulgou a nova data…


… Ministério das Comunicações disse que vai avaliar decisão judicial sobre falência da companhia expedida ontem…


… Anatel ressaltou que serviços de utilidade pública prestados pela empresa serão mantidos a despeito do decreto de falência.


ZAMP. Conselho de Administração aprovou pedido de conversão do registro de companhia aberta na CVM de categoria A para B.


REDE D’OR vendeu a Maternidade Star, de São Paulo, para a Atlântica D’Or, joint-venture entre o grupo e a Bradesco Seguros, por R$ 223 milhões…


… Rede D’Or aprovou a 38ª emissão de debêntures simples, no valor de R$ 3,5 bilhões.


AZUL apresentou documentos no contexto do processo de Chapter 11 conduzido perante a Justiça dos EUA.

Diário de um economista de mercado

 Diário de um economista de mercado 30 anos de mercado - algumas lições São quase 30 anos de mercado, entre idas e vindas. Destes anos todos...