domingo, 18 de abril de 2021

MACRO MERCADOS DIÁRIO: BALANÇO SEMANAL 16/04/21 - INSTABILIDADE DOMÉSTICA E CRESCIMENTO FORTE LÁ FORA

Mais uma semana intensa. No Brasil, alguns temas nortearam os mercados: crise política permanente, impasse no Orçamento e pandemia; nos EUA, a economia segue mostrando bom dinamismo, mesmo com algum risco inflacionário no “meio do caminho”. O presidente do Fed, Jerome Powell, meio que “apostando”, acha que a inflação só deve preocupar mesmo entre meados de 2022 e 2024. Isso nos parece uma leitura por demais otimista. Na Europa, também há novidades, com a economia esboçando reação, depois de superado o problema da oferta de vacinas.

Retornando ao Brasil, o desenrolar do Orçamento de 2021 segue complicado. A equipe econômica quer o veto total das emendas “elaboradas” no Congresso, quase R$ 31 bilhões, e uma insustentável redução das despesas obrigatórias. O problema é que estas não podem ser “cortados”, para acomodar as emendas. Pela “lei do teto”, a cada despesa criada, algo tem que ser readequado ou cortado. A idéia do Congresso era ir “administrando” estas despesas obrigatórias e mantendo as emendas. O problema é o TCU aceitar esta "contabilidade criativa". Na leitura da equipe econômica, neste caso, estaríamos incorrendo em crime de responsabilidade, já que pela ”lei do teto”, despesas obrigatórias são prioritárias, não podem ser mexidas e muito menos remanejadas para entrar emenda de deputado.

No meio destas duas visões antagônicas o presidente terá que se posicionar. Se cair no “colo” do Centrão, corre o risco de incorrer em crime de responsabilidade, se optar pela tese do Paulo Guedes, corre o risco de perder o apoio do Centrão e se expor a diversos pedidos de impeachment, por enquanto, engavetados pelo presidente do Congresso Arthur Lira. É uma verdadeira “escolha de sofia” (para quem viu o filme).

Em paralelo a isso, acreditem, foi apresentado no Congresso o PLDO de 2022. O Orçamento deste ano ainda não foi sancionado, mas já começamos a discutir, por imposição de prazo (até o dia 15), a proposta para 2022. Nem orçamos este ano e já temos que pensar no próximo! Sobre este PLDO 22, enviado à CAE, a meta fiscal é de déficit de R$ 170,4 bilhões, 1,9% do PIB, crescimento de 2,5%, inflação de 3,5% e salário mínimo, passando de R$ 1.100 a R$ 1.147 (+4,3%).

No Congresso, o presidente da casa, Arthur Lira, tentando “quebrar o clima”, disse acreditar num bom desfecho para este imbróglio do Orçamento, “descartando rupturas”. Reafirmou também seu otimismo com a agenda de reformas, a ser retomada nos próximos dias.

Nesta semana que se inicia, como grande novidade termina o prazo (dia 22) para o presidente sancionar o Orçamento. A quem deve agradar ou ceder? Por sobrevivência, deve ficar no meio do caminho, com veto parcial das emendas. Esta é a nossa leitura. 

No STF, a agenda também foi pesada. Os “doutos” ministros “trabalharam bastante” para deliberar sobre a anulação dos processos contra o ex-presisente Lula da Silva, virando este “ficha limpa”. Isso se justificou por “injunções territoriais”, anulando todo o processo da Lava Jato com placar de 8 a 3.

O processo está lá, todas as provas documentadas, não faltam acusações, muita delação premiada, três desembargadores do RTF da 4ª região já deliberaram, mas Lula acabou com a sua “pena anulada”, porque estes processos tramitavam na “zona” errada, numa comarca errada do Judiciário.

Ou seja, ele deixou de ser réu por injunções administrativas! Os processos tinham que tramitar em Brasília e não Curitiba! Agora estes vão para a capital federal e, naturalmente, pelo fato de Lula ser idoso, acabarão em prescrição. Nesta semana o STF deve avaliar se mantém, ou não, a suspeição contra o ministro Sergio Moro.

Na economia, uma boa notícia foi o bom ritmo de crescimento do setor de Serviços em fevereiro. Por outro lado, olhando pelo retrovisor (mais uma vez) verificamos que toda a instabilidade, desencontros e atraso nas vacinas, deve "cobrar seu preço", impactando no ritmo de retomada do setor,não se sustentando entre março e abril. 

Temos o primeiro trimestre perdido, muito fraco, o segundo, “vacilante e arrático”, pelas tantas crises políticas e desencontros, e, com otimismo, alguma retomada no segundo semestre, desde que a população adulta seja vacinada. A torcida é para que isso aconteça até setembro.

Sobre a pandemia, neste sábado (dia 17) “andamos meio de lado”, diante de um ligeiro aumento na média de óbitos (2.906) e queda na média de novos casos (65.012). Daqui para frente, os números são para valer, ou seja, não há mais o “fator feriado”. Portanto, hoje e nos próximos dias teremos um retrado mais claro sobre o que está acontecendo. Neste dia 17, em 24 horas, foram 2,9 mil óbitos, mais de 372 mil mortos no acumulado e 67,6 mil novos casos.

Falando da Política Monetária do BACEN, nesta semana Roberto Campos Neto reforçou mais uma vez um ajuste na taxa Selic, se 0,75 ponto percentual ou 1,0 p.p., para a próxima reunião do Copom, dia 05/05. Depois teremos uma “parada técnica para observar a paisagem”, ver como evolui o cenário da pandemia e da economia real. Sobre esta, parece haver a expectativa de que a vacinação, ainda baixa, em torno de 12% do total, consiga englobar toda a população adulta até setembro. A partir daí, a economia deve começar a “decolar”, o que nos levaria a um segundo semestre de retomada, bem melhor do que o primeiro, já perdido.

Nos EUA, Jerome Powell voltou a mostrar otimismo em relação ao início do ciclo de aperto monetário, afirmando estar num “ponto de inflexão”, ainda distante do pleno emprego. Para ele, o início do ciclo de elevação de juro deve acontecer entre 2022 e 2024, “antes pouco provável”. Na sua leitura, o Fed ainda tem condições para tolerar uma inflação anualizada acima de 2% por alguns meses, reforçando achar esta “temporária”. Em paralelo, saíram os dados do Livro Bege, mais otimistas, sinalizando “um ritmo moderado entre fevereiro e abril deste ano”.

Nos indicadores, as vendas de varejo nos EUA vieram robustas, crescendo 9,8% em março contra fevereiro, contra estimativa de 6,1%, e o seguro desemprego recuou a 576 mil, contra previsão de 710 mil, o que reforça esta retomada, ainda mais com quase US$ 5 trilhões em estímulos fiscais e uma política monetária “acomodatícia”. O risco aqui é uma inflação excessiva de ativos e a formação de bolhas, a estourarem a qualquer movimento em falso do Fed.

Como resultado, o dólar perdeu espaço entre os emergentes, e um considerável fluxo de recursos segue para estes mercados, com destaque para aqueles com maior liquidez e oportunidade, como o Brasil.

Nosso mercado segue muito interessante para os investidores estrangeiros, mas o ambiente político institucional e o “empacamento fiscal”, são uma barreira. Com a queda do dólar no mercado global, o real deu mais uma respirada nesta semana, a terceira seguida, com o dólar recuando a R$ 5,5848 (-1,6%). No ano, a perda do real ainda é elevada (-7,6%), mas vai se desacelerando.

Nos EUA, a curva de juro vai perdendo inclinação neste cenário, tendo fechado sexta-feira passada em 1,57%, depois de recuar a 1,53% no meio da tarde, bem abaixo do registrado em março (1,73%). Já no Brasil, a curva de juro perdeu um pouco da inclinação, devolvendo prêmios, sobretudo os mais longos. No mercado, as projeções de taxa Selic seguem se formando, variando entre 4,75% e 6,00%. Já o dólar varia entre 5,0% e 5,75%, com esta consultoria trabalhando com 6,0%.

Na bolsa de valores, na sexta-feira chegou a mais de 121 mil pontos ao longo do dia, se firmar neste patamar e fechar o dia a 121.113, avançando 0,34%, mesmo com as incertezas permanentes no front fiscal. Na semana a valorização foi de 2,9%, a terceira seguida, com quinto ganho diário seguido, na sua mais longa série positiva desde 23/27 de novembro de 2020. No mês, a alta é de 3,84% e no ano 1,76%. O giro financeiro foi a R$ 35,3 bilhões.

A corroborar para este bom fechamento, o que disse Arthur Lira para o mercado, a eocnomia norte-americana em bom ritmo e os indicadores chineses favoráveis, mas um pouco aquém do esperado.

Na China, o PIB/1TRI veio crescente em 18,3% na comparação com o 1TRI/2020 (previsão de 19,2%), ligeiramente abaixo das expectativas. O número acabou fortemente afetado por uma base fraca pelo auge da pandemia em 2020; as vendas no varejo dispararam 34,2% em março, na base anual, contra março de 2021, superando as expectativas de crescimento de 28%; e a produção industrial cresceu 14,1% em março. 

O cenário para o país ainda é de um crescimento bem saudável, em “velocidade de cruzeiro”. Isso nos ajuda a explicar, ou entender, o “super ciclo de commodities em curso”.

Editorial do Estadão (17/02)

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