segunda-feira, 30 de novembro de 2020

NOTAS DO ALENTEJO: ELEIÇÃO MUNICIPAL


Definido o quadro eleitoral dos municípios, depois da eleição de domingo, algumas conclusões devem ser feitas. 

  • esta eleição municipal foi um "duro" aviso ao presidente Jair Bolsonaro e seus assessores. Conquistaram espaço mais os partidos de centro, como o DEM, PSDB, MDB e PP. Candidatos mais experientes e ligados ao centro, superaram os candidatos de esquerda, muitos, meio aventureiros, outros, bem inexperientes. Bolsonaro foi um dos derrotados, assim como as esquerdas e o PT, em particular, personalizado por Lula da Silva; 
  • Bolsonaro, nas sua paranóia, parece-nos ser um capítulo à parte. Sim, porque ele não aceita ninguém q o contrarie e diga certas verdades. E parte do problema está nesta arrogância, neste papo furado de "ungido". Parte disto, talvez, devido a este picaresco "gabinete do ódio", coordenado pelo filho Carlos Bolsonaro. Nossa opinião é de que isto é um desastre em termos de estratégia política, assessoria de comunicação ou relação com a sociedade. Se não fosse a distribuição bolsas emergenciais, pela pandemia, ele já estaria "enterrado politicamente". Parte da classe média, os mais lúcidos, que gostam do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro e da Lava Jato, não o apoiam mais; 
  • Temos dúvidas, inclusive, depois do resultado desta eleição, se o atual presidente Bolsonaro tem viabilidade eleitoral para 2022. Tudo bem, cada eleição é uma história. Mas esta, nos parece, foi um claro aviso de que o extremismo já não cabe mais na cena política nacional. O eleitorado, lentamente, vem migrando para o centro. Este extremismos, tanto de esquerda, como de direita, está colocado de lado. 
  • Basta observamos o resultado das urnas. Os partidos de centro direita (MDB, 10,9 milhões; PSDB, 10,3 milhões; PSD, 10,6 milhões e DEM, 8,3 milhões), alguns mais fisiológicos, outros nem tanto, mais programáticos, conseguiram cerca de 40 milhões e tantos votos (de 70 milhões). A esquerda, mais personalista, como por exemplo do PT, foi "varrida do mapa". O PT, com a derrota de Marília Arraes, no Recife, e João Coser, em Vitória, registrou seu pior resultado nas eleições municipais, desde sua fundação. Pela primeira vez, não elegeu nenhum prefeito em capitais.
  • Destaque nesta "caminhada para o centro", no eixo Rio São Paulo, para Eduardo Paes e Bruno Covas. Foram vitórias "folgadas", contra, respectivamente, Marcelo Crivella e Guilherme Boullos. Destes dois derrotados, o mais impactado foi Crivella, numa resposta à demagogia e charlatanismo. Não creio que este cidadão possa voltar ao jogo eleitoral majoritário no futuro. Sua caminhada como prefeito da cidade do RJ foi um claro demonstrativo da sua derrrota contundente ontem. Foi despachado com 64,07% contra 35,93%;  
  • Em São Paulo, a derrota do Psol foi também um demonstrativo de que o discurso voluntarista, sem propostas concretas, parece fadado a ir ficando para trás (69,2% para Covas contra 30,8%). Na verdade, chamou atenção, na sua campanha, a baixa assertividade, "meio sem bandeiras de luta", dado o elevado nível imposto pelo líder Bruno Covas. A falta de um flanco de fragilidade, acabou por ser o impeditivo para que Boullos "paz e amor", avançasse. Sem ter o que criticar acabou presa fácil; 
  • O número de abstenções foi um sinalizador de desilusão do eleitorado em relação à cena política do País. Foram 29,5% que não votaram, contra 70,5% que votaram. Foram 12,7%, que anularam seus votos, contra 87,3% que votaram num candidato. Juntando tudo, os que não votaram, anularam ou votaram em branco, chegamos a 38,4%. Muita gente ! Isso reflete uma completa desilusão com a cena política do País. 
  • Concluindo, esta eleição muncipal pode ser encarada como um "aperitivo" para 2022. Algumas lições. 
    1. Houve um "caminhar" do eleitorado para o centro, em busca do equilíbrio e do bom senso, mesmo havendo alguma simbiose com  partidos do Centrão. O eleitorado preferiu o meio do caminho, a assertividade. Se cansou da "polarização" e do radicalismo. Tanto a esquerda, mais fisiológica, como direita, mais reacionária, terá que repensar sua forma de atuação para 2022;
    2. Pelo menos, por enquanto, a esquerda não tem muitos candidatos para 2022, só Ciro Gomes. Sem dúvida, levou uma "surra" nesta eleição municipal. Seu discurso desgastado, cheio de clichês e de "resgate ao social", como se gasto público tudo justificasse, assim como sua carga de alianças entre PT, PSol, PC do B, e outras agremiações satélites, cobra seu preço;
    3. O Bolsonarismo também teve elevada rejeição e desgaste nesta eleição. A sociedade mostra não aceitar mais as leituras do capitão, e do seu filho Carluxo, sobre a cena política atual, os costumes, a sociedade como um todo. Achamos que terão que rever, em muito, sua atuação, menos raivosa e reativa, mais propositiva. Mas não será tão simples;  
    4. Grandes vitoriosos foram o Eduardo Paes, indo para o terceiro mandato no RJ, e Bruno Covas, resgatando o legado do avô Mario Covas. Segundo a crônica, é a predominância dos "políticos raiz".  
    5. Para o mercado, a busca de uma "terceira via", de uma agenda mais propositiva, mais assertiva, mais concensual, é visto como algo promissor. Achamos que Paulo Guedes deve tentar continuando a aprovação da agenda de reformas estruturais, como a reforma tributária e a administrativa do Estado. 











 




segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Nacional desenvolvimentismo ou a agenda de reformas?

Este debate acadêmico sobre o "nacional desenvolvimentismo", ou "neo-desenvolvimentismo", dos campineiros (Beluzzo e Bresser) e economistas da UFRJ, nos remete sim aos descaminhos das políticas PÚBLICAS, ao populismo demagógico e à busca de saídas "rápidas" para as crises que nos acometem, de tempos em tempos, pelas mais variadas razões.

Muitos, nestas correntes, acham que o principal motivador para os nossos problemas é a chamado câmbio real "fora do lugar", o que nos tira competitividade e capacidade de "penetrar" em certos mercados. Na leitura deles, basta uma forte puxada na taxa, uma desvalorização nominal cambial mesmo, para nos tornarmos mais competititivos.

Seria este, então, o caminho mais rápido para o aumento "artificial" da competitividade externa, sem passar pelo penoso politicamente e longo processo de ajustes necessários, com ganhos de produtividade, pelo aumento da eficiência no setor produtivo e redução do Custo Brasil.

Isso nos leva a acreditar que a superação dos nossos gargalos e ignorâncias na área econômica, deve passa, em primeiro lugar, por colocar a agenda de reformas na mesa.
Só com a reforma tributária, melhorando o ambiente de negócios, a reforma do Estado, acabando com a fábrica de privilégios, e uma reforma da Previdência mais profunda, atacando as distorções do setor público e no meio militar, será possível evoluir.
Uma ref política definitiva e uma nova constituinte, contra esta CF 88 demagógica e irreal, também cairiam bem.
Em suma, é só fazer o que deve ser feito.

É só fazer o "dever de casa".



Como a desvalorização do real empobrece o País, por Fabio Pina e André Saccanato

 



Quase todos conhecem o lado positivo da desvalorização cambial. As empresas, a agricultura e os produtos nacionais ficam mais competitivos lá fora, porque os preços em reais ficam excepcionalmente mais baratos em dólar. Em que pese a inflação brasileira ser maior do que a americana, esta diferença não é suficiente para reverter todo o efeito da valorização nominal do dólar frente ao real de quase 200% desde 2007, por exemplo.

Entretanto, também há um lado sombrio deste processo. Isso é facilmente perceptível naquela famosa frase: “Antes, quando ia para os Estados Unidos, conseguia comprar coisas muito baratas e, hoje, não vale mais a pena”. Você pode responder: “Mas isso atinge apenas quem pode viajar, classe média alta e classe alta”. Não é bem assim. Como os importados sofrem aumento de preços para todos nas prateleiras, o consumo de produtos nacionais cresce, e estes também têm a mesma variação no preço e atingem, indiscriminadamente, todas as classes, mesmo muitas vezes não sendo produtos importados.

Isso também ocorre com as empresas nacionais, mas que têm insumos (matérias-primas, partes, peças e/ou serviços) importados e são obrigadas a aumentar o preço dos produtos finais. Como os salários nominais não têm relação com o câmbio, as pessoas ficam mais pobres.

Há um jeito de se identificar, em números, o quanto estamos mais pobres com a desvalorização? Sim! Uma forma é analisar o comportamento de produtos que tenham preços fixados em dólar no exterior e um histórico de lançamentos. Talvez um dos melhores e mais conhecidos exemplos seja o iPhone, da Apple. O primeiro modelo foi lançado em junho de 2007 e custava U$ 499, com 4GB, e U$ 599, com 8GB. Naquele mês, o valor do dólar em reais fechou em R$ 1,93, o que faria com que o aparelho de 4GB custasse R$ 963,62, e o de 8GB, R$ 1.156,73.

Apesar de o câmbio ter fechado, em setembro de 2020, em R$ 5,40, a conta não é tão simples; isso porque a inflação nos preços no Brasil é maior do que nos Estados Unidos, e a diferença deve ser descontada. Fazendo as contas, é possível mensurar o preço atualizado deste mesmo celular: tirando os efeitos do diferencial de inflação, os preços chegariam a R$ 1.550,12 pelo primeiro aparelho e R$ 1.860,76 pelo segundo, ou seja, a desvalorização do câmbio pressionou um aumento de preços de 60,86% no período.

Os números mostram o empobrecimento relativo do brasileiro por causa do câmbio. Se partirmos do princípio de que o salário foi reajustado no período por um índice que apenas cobriu a inflação, um brasileiro médio empobreceu mais de 37% em relação aos produtos importados – ou terá que gastar 60% a mais na sua aquisição.

O câmbio de equilíbrio não se constrói artificialmente por ações do Banco Central (BC) no mercado cambial ou por decreto: é apenas reflexo das condições macroeconômicas de momento, se o fluxo de moedas for livre, como é hoje no Brasil. Neste caso, o equilíbrio é sempre atingido de uma forma automática diante das expectativas de quem traz e de quem leva dólares do País. De qualquer forma, é importante ressaltar que tanto a valorização como a desvalorização cambial trazem benefícios e custos para a economia, mas as mudanças muito drásticas provocam problemas sérios de planejamento de produção, o que dá respaldo para entradas pontuais do BC no mercado. Em um ambiente estável, desvalorizações e valorizações são fatos normais. Em um mercado nervoso e sem perspectiva, são fatores que envenenam o crescimento de longo prazo.

Para reduzir a volatilidade exagerada que cria muitas incertezas, e também para que se evite um ciclo longo e continuado de valorização e desvalorização cambial (com seus efeitos deletérios), o governo tem apenas um caminho que não lance mão de medidas exóticas, como controle cambial ou ancoragem da moeda ao dólar: o ajuste fiscal e a melhoria das regras para investimentos nos setores de infraestrutura que podem aumentar o fluxo de recursos estrangeiros, contribuindo para que o valor do dólar se estabilize em patamares compatíveis com o novo cenário.

É imperioso recuperar a confiança do investidor estrangeiro no Brasil e aumentar o crescimento potencial da economia nacional, atraindo mais recursos para investimentos diretos e na Bolsa. Esse parece ser o momento ideal para isto, dada a elevada liquidez de recursos no mundo, resultado de políticas monetárias expansionistas como resposta à crise de covid-19. O momento para reformas e ajustes é agora, e não se deve perder a chance.

*Fábio Pina e André Sacconato são consultores econômicos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

RUMOS DO DEBATE

 Me causa um profundo desconforto os rumos que o debate econômico vem tomando no Brasil nos dias de hoje. Muitos se aproveitam por desferir pesados petardos sobre o ministro Paulo Guedes, não considerando suas dificuldades políticas em transitar num ambiente pantanoso e cercado de maledicências. Isso porque sabemos como o capitão atrapalha nas suas variadas intervenções retóricas, o que gera ruídos e certa má vontade da mídia. Soma-se a isso os inconfenssáveis interesses dos congressistas, nem sempre mto claros sobre a boa governança do País. 

Para esclarecer, não me considero nem um liberal ortodoxo, um cara que defende o mercado totalmente desregulado, sem intervenção do Estado, como também não acho necessária esta defesa tola por um "keynesianismo irresponsável", que se espalha pelas universidades públicas e tem como "mantra" elevar, de forma ilimitada, os gastos públicos, a estimular a demanda, mas não se atenta para a reversão de expectativas.

Na opinião destes, basta aumentar os gastos públicos, via multiplicador fiscal, para estimular o consumo, a produção e os investimentos, mover a "roda da economia", com tudo se resolvendo pelo aumento da arrecadação federal a posteriori (a compensar este avanço dos gastos). Simples assim. O problema é que as coisas, nem sempre, acontecem de forma tão automática. Por este raciocínio de manual, por exemplo, no primeiro governo Dilma as ações de política econômica do ministro Mantega, liberando meio trilhão de crédito pelo BNDES, aos bancos públicos e privados, teriam impulsionado a economia, nos idos dos ano de 2014 a 2016, o que teria resolvido o incremento abrupto do crédito publico.  sem deixar de elevar a dívida pública à quase 70% do PIB.

Ou seja, pelo ambiente deteriorado de então, não tivemos o multiplicador keynesiano a estimular a demanda, aumentando a arrecadação. A atividade e o consumo não reagiram na devida intensidade, o que resultou na forte elevação do déficit primário e da dívida pública. Caímos então no nó expectacional e nos desatinos da má gestão pública, citados acima.

Pelo lado do front liberal não há como negar a importância do redimensionamento no tamanho e no papel do Estado. Por outro lado, é de se considerar os extremismos e isso eu acho haver em ambos os lados do espectro ideológico. Achar que o mercado resolve tudo, sem o Estado na vida econômica, para mim, é um erro de avaliação, assim como achar que ele deve atuar ativamente, de forma excessiva, nas políticas públicas. 

Na verdade, a saída, o segredo, é achar o "timing" exato, o equilíbrio, o "meio termo", nem demais, nem de menos.

Inclusive, acho de uma desonestidade intelectual à toda prova, muitos já começarem a "rotular" quem pensa desta forma como sendo um neoliberal...

Afinal, de onde nasceu esta denominação? Ao fim da década de 80, início da de 90, quando vários economistas de Washington DC se reuniram para diagnosticar a crise da dívida que assolou os países em desenvolvimento nos anos 80, no que ficou conhecido como "década perdida".

Daí várias decisões passaram a fazer parte dos pré-requisitos a uma gestão pública razoável ou tolerável. Dentre estas, podemos incluir a criação de um arcabouço de regras para os regimes monetário e fiscal, o sistema de metas de inflação, a adoção de câmbio flutuante, a independência do Bacen, a abertura das contas de capital e comercial, privatizações de estatais improdutivas ou "cabides de emprego", concessões de infraestrutura obsoleta e PPP na mesma toada, reformas estruturais, como a tributária, a da Previdência e a do Estado, só para ficarmos nas mais urgentes. Deu-se a este conjunto de medidas "saneadoras" o Consenso de Washington, até hoje em discussões infindáveis.

Este consenso, portanto, deveria ser a conclusão na decisão de medidas sensatas de política econômica. O que todos os governos deveriam fazer.

Por isso, achar estes debates estéreis e improdutivo. Me parece com o único propósito de demarcar território, marcar posição, algo totalmente infantil. Vaidade intelectual, manjam?

Ambas as correntes precisam pisar em solo firme e pararem de delirar.

O que é crucial é que as despesas e as receitas públicas precisam caber no Orçamento.

Fim de papo. Apenas isso. Simples assim. O resto é magia.



Editorial do Estadão (17/02)

LULA PROMETE O ATRASO: A razia bolsonarista demanda a eleição de um presidente disposto a trabalhar dobrado na reconstrução do País. A bem d...