sexta-feira, 30 de julho de 2021

FECHANDO A SEMANA

Depois de sinalizações mais neutras do Fed e um PIB norte-americano, no segundo trimestre, mais fraco do que o esperado (6,5% na taxa anualizada) já começamos a fazer as contas para quanto pode ir o dólar nos próximos dias. 

Ontem, recuou 0,7%, negociado em torno de R$ 5,08, mas muitos acham haver espaço, ao longo de agosto, para cair abaixo disso de R$ 5,00. Não será surpresa se romper o "piso psicológico" de R$ 4,90. A contribuir para isso, a postura totalmente dovish do Fed, nada sinalizando por agora, dizendo que irá manter a mesma estragégia de afrouxamento monetário, enquanto não enxergar, concretamente, dados que desmintam isso no mercado de trabalho, na inflação e no crescimento. Este, por exemplo, veio mais fraco do que o esperado, na taxa anualizada a 6,5%, quando o mercado esperava acima de 7%. Aguardemos hoje o índice de preço e de gastos e renda dos americanos, importante parâmetro para o Fed, para podermos reunir novas informações e talvez sinalizar o que será decidido, muito provavelmente ao fim de agosto, início de setembro, depois de Jackson Holle. 

No Brasil, no entanto, o cenário político segue muito tóxico. Ontem, mais uma vez, na sua live de quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro voltou a disparar patardos contra a boa governança, falando de ameaça de fraude no sistema eleitoral brasileiro, não havendo adesão ao voto impresso, como sempre, sem apresentar provas de que este sistema eletrônico tenha sofrido alguma invasão de hackers, ou que alguma eleição tenha sido "fraudada". Voltou a atacar o STF, acusando a alta corte de disseminar fakenews, e que não garantia a eleição de 2022 se não havendo "voto impresso". Em resposta, o STF e o TSE, já trataram de dizer que não era verdade o que o Bolsonaro disse e que a alta corte não havia tirado a autonomia na gestão da pandemia.

A verdade é que Bolsonaro tenta agora encontrar justificativas para o desastre que se transformará sua candidatura à eleição de 2022, com muitas pesquisas prevendo que nem no segundo turno chegará. Suas várias declarações desastradas, seus rompantes totalmente incompatíveis com o rito de presidente da República, sua postura "negacionista" na pandemia, já lhe cobram um alto preço, com perda de apoio popular e viabilidade para 2022. Não há como negar. 

Na live de ontem Bolsonaro chegou ao paradoxismo de defender ainda o tratamento preventivo e a ivermetcina, depois de concluído em vários países que estes não eram eficazes, e apenas a vacinação em massa trariam alguma “chance” de “imunidade em massa” da população, tese esta refutada pelo presidente. Triste fim de um bufão. Vai faltar café aos camareiros do Planalto, ou este virá frio. 

Para tornar tudo ainda mais desastroso (ou desastrado), Bolsonaro segue recompondo seu governo com a “elite do Centrão”, já tendo tomado controle do “coração” deste governo, a Casa Civil, e agora pressionando por desmembrar mais ainda o ministério da Economia, com a criação do Planejamento. Claro nos parece que o interesse aqui é tomar de assalto o Orçamento da União, a "chave do cofre", todos sabemos com que objetivo. Paulo Guedes, no entanto, segue resistindo.

Na economia, a amenizar um pouco este “banzo político”, os dados do Caged vieram ainda mais fortes, com a criação de 309 mil vagas formais em junho, 41,1% maior do que em maio, com os setores de comércio e serviço como os mais ativos a gerar emprego. 

Acreditamos nesta tendência de reaquecimento do mercado de trabalho, mas terá que ser confirmada nesta sexta-feira com a PNAD Contínua do IBGE. O desemprego no Brasil têm batido recordes em 2021. Na última apuração se manteve em 14,9% da PEA, equivalendo a pouco mais de 14 milhões de desempregados. O mercado internacional também aguarda para amanhã a divulgação da taxa de desemprego na Europa, confirmando a tendência de queda registrada em maio, na retomada do pós-pandemia.

Para Paulo Guedes, a atual legislação trabalhista e os encargos "elevam o custo de geração de emprego" no país. Segundo ele, "temos um sistema de legislação trabalhista obsoleto e de destruição de empregos. Custa muito criar emprego no Brasil". Sem dúvida. Pesquisas indicam que para cada pessoa contratada por $ 100, mais $ 110 acabam sendo pagos como direitos e encargos diversos, custando portanto $ 210 a este empregador. Sim, novas mudanças na legislação trabalhista se fazem urgentes, e estas terão que vir como PEC, em reforma à anacrônica Constituição de 1988. 

No mercado, ontem o IBovespa voltou a se descolar das bolsas americanas, fechando em baixa, puxado pelas ações da Vale, depois da queda do minério de ferro e do lucro abaixo do projetado pelo mercado. A preocupação com a alta dos juros na reunião do Copom, semana que vem, também reduziu o apetite por ações e favoreceu a valorização do real, levando o dólar futuro a se aproximar de R$5,00.

No exterior, o dólar também caiu, após os dados do PIB americano mostrarem crescimento menor que o esperado no segundo trimestre. Apesar disso, os índices Dow Jones Industrial e S&P500 voltaram a bater recordes intradiários e fecharam em alta, com a visão de que a economia fraca reforçará a manutenção dos estímulos pelo Fed, mesmo com a alta da inflação, como deve indicar o Deflator do Consumo Pessoal, o PCE, a ser divulgado nesta sexta. O dólar fechou em queda ante o real nesta quinta-feira, recuando 0,7%, a R$ 5,0795, na mínima cotação desde 2 de julho, quando fechou a R$ 5,0523.

Já sobre a B3, o Ibovespa terminou o pregão em queda com uma nova bateria de balanços no radar. O índice recuou 0,48%, para 125.675 pontos. Nos EUA, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq 100 subiram 0,44%, 0,42% e 0,20%, respectivamente. O petróleo também subiu, após queda de estoques nos EUA e com apetite por risco. Brent para outubro avanço 1,67%, e o WTI para setembro, 1,70%.

Vamos conversando!

Bons negócios!

quinta-feira, 15 de julho de 2021

REFORMA TRIBUTÁRIA NO RADAR

Passou a reforma tributária na Câmara, mas é sensação que esta é ainda insuficiente para melhor organizar a estrutura tributária do País. Nos parece fraca, mais cheia de "remendos" para retirar recursos do setor financeiro, na ânsia de coletar recursos, em cima dos grandes patrimônios/fortunas do País.

No cerne desta segunda etapa, a alteração da alíquota do IRPF, elevando a isenção para R$ 2,5 mil, contra R$ 1,9 mil como era antes, e no IRPJ, a taxação reduzida de 25% para 12,5% até 2023 (ESTA REDUÇÃO FOI CONSIDERADA EXCESSIVA). Foi mantida também a alíquota adicional de 10% para as empresas com lucro acima de R$ 20 mil.

Em prosseguimento, o governo federal segue "costurando acordos" para tentar levar adiante estas medidas.

O desafio será enfrentar as críticas entre os "entes subnacionais", insatisfeitos com esta versão do relator Celso Sabino. Os estados da Federação calculam perdas entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões para os governadores e prefeitos, entre 77% e 90% de impacto da redução total da carga tributária com a queda do IRPJ.

Ou seja, a perda do PIS/COFINS e com o IRPJ não deve ser compartilhada pela União com os entes subnacionais.

Na leitura da União, o objetivo é cortar até R$ 30 bilhões em subsídios e torcer para a recuperação da economia e o aumento da arrecadação federal, o que pode compensar esta perda com o IRPJ. Segundo Guedes, a recuperação da arrecadação no primeiro semestre ficou R$ 100 bilhões acima do esperado. Ou seja, esta cobertura pela perda da redução pela metade do IRPJ deve vir pelo lado da retomada da economia.

Muitos alertam que a redução agressiva do IRPJ, de 25% para 12,5%, pode acabar levando ao aumento da CBS, proposta do novo tributo para a fusão do PIS e Cofins, listada na primeira fase (lembremos que esta proposta da primeira fase foi jogada para ser votada depois do recesso, em agosto).

Uma preocupação a mais é de que esta reforma fatiada (em três etapas) não permite avaliar o impacto das mudanças no todo.

Estudos preliminares sobre a segunda fase indicam perda de arrecadação em torno de R$ 115 bilhões, compensada com mais R$ 85 bilhões com os cortes dos subsídios , taxação de dividendos (20%) e fim da isenção do JCP.

A retirada dos benefícios tributários em 20 mil empresas dos setores de cosméticos, perfumaria, medicamentos, aeronaves, devem impactar as empresas de setores (fármacos, Embraer, laboratórios, redes de hospital) listados em bolsa de valores. Por outro lado, o retorno da isenção para os fundos imobiliários, devem turbinar os papéis do setor de shopping e construção.

Confira as principais mudanças apresentadas no texto preliminar:

1) Fundo Exclusivo: Fica mantido o come-cotas em novembro, com alíquota de 15%, incluindo a previsão da tributação sobre o estoque, que deverá ser pago até maio de 2022, com possibilidade de pagamento antecipado em fevereiro de 2022 com alíquota de 10%.

2) Dividendos: Permanece a alíquota de 20% descontada na fonte.

3) Empresas: A redução do IR passou de 5p.p. para 12,5p.p.. Hoje é de 15%, assim a previsão de IR final para 2022 é de 5% e para 2023 de 2,5%.

4) IR para Investimentos: O projeto inicial pretendia ter uma única alíquota de 15%. No novo texto, volta para a tabela regressiva, entre 22,5% a 15%, assim como é hoje.

5) Offshore: As previsões do texto original foram excluídas. Fica mantida a regra atual e o diferimento da tributação dos resultados auferidos por sociedades localizadas em países considerados “paraíso fiscal”.

6) FII: Na primeira proposta os dividendos seriam tributados em 15% e agora continuam isentos.

7) Holding Patrimonial: Foi retirada a obrigatoriedade do Lucro Real.


segunda-feira, 12 de julho de 2021

O que esperar para os próximos meses?

Chegamos à metade do ano e creio ser importante um balanço do que aconteceu neste período e o que esperar para os próximos seis meses, quiçá, ano que vem. 

No mercado, é notório que a bolsa de valores teve um desempenho bem razoável neste período. Foram seis meses no azul, quando o Ibovespa beirou os 130 mil, mas nos últimos dias cedeu diante do açodamento do clima político. O câmbio, que chegou a R$ 5,80 em meados de abril para maio, cedeu bastante diante da manutenção do juro pelo Fed, na tese de que a inflação era transitória, e do lado mais hawkish do banco central brasileiro, elevando o juro de forma mais intensa. 

Para os próximos meses achamos que o IPCA deve se manter pressionado até o final de 2022, ainda mais diante do cenário hídrico desfavorável. Achamos que os custos de energia elétrica ainda são um risco de curto prazo, diante da bandeira tarifária Vermelha 2 (mais cara) até novembro, com dezembro retornando para o patamar Vermelha 1 (ainda elevado). 

Prevemos o IPCA para o final de 2021 em torno de 6,0% a 6,5%, com riscos de vir ainda mais elevado devido ao cenário hídrico desafiador a ocasionar um reajuste do valor da bandeira atual. 

Por outro lado, somos mais otimistas diante do avanço do cronograma de vacinação e a intensificação da reabertura no Brasil. Já temos 30% da população adulta vacinada, mesmo com o número de óbitos chegando a 434 mil, já nos jogando em segundo lugar entre os países com mais óbitos, atrás apeans dos EUA.

Mesmo asism, acreditamos que a intensificação do processo de vacinação deve reforçar a retomada da economia no segundo semestre, principalmente do setor de serviços, o que pode refletir na queda do desemprego, 3,1% acima do nível pré-pandemia, e na elevação da demanda por bens e serviços, ou seja, mais pressão sobre o nível de preços. 

No cenário global, enquanto o doméstico segue pressionado, no exterior, a cena não parece colaborar no curto prazo para a redução desta pressão sobre o IPCA, dada a trajetória das commodities em alto nível:. 

A despeito de uma desaleceração da economia chinesa esperada para o segundo semestre, as principais economias desenvolvidas, somado aos problemas com o fornecimento de matérias-primas, devem sustentar os preços das principais commodities em patamares elevados. Nesse sentido, a pressão sobre preços ao produtor nos mercados globais devem permanecer, assim como no cenário observado no Brasil.  


sábado, 10 de julho de 2021

Tapa na cara

 anais do marketing político

EX DE BOLSONARO DIZ QUE ELE NÃO SE ELEGE NEM PARA SÍNDICO

Marqueteiro encarregado da campanha de 2018 diz que presidente terá votação mais inexpressiva de um candidato à reeleição na América Latina

CONSUELO DIEGUEZ

Revista Piaui, 09jul2021_16h33


O presidente Jair Bolsonaro não entregou nada do que prometeu na campanha. Depois que virou presidente, está fazendo essa gestão que estamos vendo, sem qualquer realização. Inaugurando caixa d’água, ponte pronta, e outras obras insignificantes. Foi incapaz de comprar uma vacina que foi oferecida a ele mil vezes, incapaz de tocar as reformas. Nem na área de segurança, que era uma de suas maiores promessas, algo foi feito.” A avaliação é de Marcos Carvalho, principal marqueteiro da campanha de Jair Bolsonaro para presidente, em 2018, marcada pelo uso das redes sociais. O candidato apelou para o elogio da ditadura, além do discurso racista e homofóbico.


Carvalho afastou-se de Bolsonaro logo após a eleição, antes mesmo de tomar posse como coordenador de comunicação do novo governo, após ser atacado pelo vereador Carlos Bolsonaro, o filho Zero Dois. Para o marqueteiro, a última perna que ainda mantinha Bolsonaro conectado às expectativas dos eleitores era seu discurso em defesa da honestidade na política. “As suspeitas de corrupção que estão vindo à tona na CPI colocam por terra a última razão para o grosso do seu eleitorado continuar acreditando nas promessas de campanha”, me disse Carvalho, durante uma conversa por telefone, na manhã de quinta-feira, dia 8.


Na campanha, Carvalho fez vários levantamentos para entender a cabeça do eleitor de Bolsonaro e o que ele esperava do novo presidente da República. Sua conclusão é de que a maioria de seus eleitores não era bolsonarista. Eram pessoas que, em algum momento de suas vidas, votaram em Fernando Henrique Cardoso, em Luiz Inácio Lula da Silva e até em Dilma Rousseff. Um eleitor que poderia ter votado em 2018 em João Amoêdo (Novo), Alckmin (PSDB) ou Ciro Gomes (PDT).


 “Quem o elegeu não foram os bolsonaristas. A grande maioria que votou em Bolsonaro poderia ter votado em outros candidatos no primeiro turno e só não o fez pelo sentimento antipetista. Pela sensação de que Bolsonaro era o único com condições de derrotar Lula e, depois, Fernando Haddad”, disse. O eleitor fiel de Bolsonaro, os bolsonaristas, na avaliação do marqueteiro, são os 15% que ele tinha e continua mantendo. “Essa é a base dele. Que ele já tinha antes mesmo de a campanha começar para valer”, afirma.


Carvalho detalhou por que, em sua avaliação, pessoas que votaram em Bolsonaro em 2018 não repetirão a dose em 2022. “Uma eleição é feita de atributos funcionais e emocionais. Primeiro você escolhe o seu candidato e depois os motivos pelos quais você escolheu votar nele. Eles votaram em atributos absolutamente emocionais. A candidatura de Bolsonaro não tinha uma proposta, só conceitos e valores. A maioria dos eleitores estava convencida de que ele era o caminho para tirar o PT”, explicou.


Na reeleição, avalia, esse atributo emocional desaparece porque o eleitor já conheceu o trabalho do presidente. E só voltaria a votar nele se ele apresentasse bons resultados. Na eleição de 2022, diz Carvalho, para esse eleitor comum, que nunca foi um bolsonarista, o atributo emocional desaparece. “Esse eleitor não repete o voto porque Bolsonaro não tem nenhum compromisso que precisa ser finalizado. Não tem uma obra a ser terminada. Não há nada a ser dado em continuidade”, explicou. O eleitor pode até continuar admirando o presidente, pode até pensar que o presidente tentou fazer algo – mas entende que, ao final, não conseguiu e se corrompeu. “Não existe no processo de reeleição um voto que priorize os atributos emocionais em detrimento dos atributos funcionais.”


Carvalho compara o comportamento do eleitor com o do consumidor diante de um novo produto. “O produto está sendo testado. Uma coisa é comprar algo que não se conhece. Outra coisa é saber se você quer ou não aquilo que você já testou. E se você não gostou do produto, você não compra mais”, disse. Na reeleição é assim. O eleitor não está mais testando o candidato porque ele já conhece o trabalho daquele em quem votou. Portanto, esse voto não tem mais conceitos ou valores envolvidos. “Na reeleição, nenhum componente emocional substitui a questão objetiva e funcional”, assegura.


Na opinião de Carvalho, outro elemento importante para garantir o voto é não só manter a coerência e a centralidade junto à sua base, mas ampliar o espectro de eleitores. Todas as vezes em que Bolsonaro tentou fazer isso, de acordo com Carvalho, ele se sentiu muito fragilizado, em razão das profundas reclamações de sua base. Como exemplo da dificuldade de Bolsonaro de ampliar seu universo de apoio, cita o discurso na sessão de abertura da reunião da ONU, este ano. “Pressionado pelo agronegócio mais moderno, que se sente ameaçado em razão do desastroso comportamento do governo em relação à questão ambiental, Bolsonaro tentou fazer um discurso garantindo a defesa do meio ambiente, assumindo, inclusive, alguns compromissos para melhorar o combate ao desmatamento”, ressaltou Carvalho. O resultado foi que, ao voltar para a sua base, ele sofreu um tremendo ataque de seus apoiadores nas redes sociais. “Ele apanhou tanto que, no dia seguinte, no cercadinho do Alvorada, em conversa com os bolsonaristas, retrocedeu em seu discurso na ONU.” 


O eleitor não bolsonarista passou a ver o presidente como alguém raivoso, sectário, que ataca o meio ambiente, é incapaz de lidar com a questão das vacinas para a Covid e de lidar com a pandemia. Além do mais, aproximou-se do Centrão e do toma-lá-dá-cá que dizia criticar nos adversários. Carvalho afirma que, na campanha, Bolsonaro angariou voluntários, eleitores não extremados e não bolsonaristas, que foram, segundo ele, os que realmente o elegeram. “Essas pessoas não estarão mais com ele em hipótese alguma. Ele não tem mais essa massa de eleitores”, afirmou, acrescentando. “Ele tem ruído na internet. Mas tire esse ruído e as pesquisas vão mostrar o seu verdadeiro tamanho.”


O que restou para Bolsonaro, garante Carvalho, foi o bolsonarista convicto, que sente que ganhou poder. “É o eleitor que ainda acredita no discurso de Bolsonaro e dos filhos, cheio de arrogância de que tomaram o poder. De que o Brasil os elegeu. Mas ele não foi eleito por esse público, e sim pelo eleitor normal, não extremado.” 


Carvalho depôs na CPMI das Fake News para explicar o envio de mensagens em massa pela campanha de Bolsonaro – e disse que sua empresa não participou do esquema. Agora, é taxativo sobre o futuro do ex-cliente. “Bolsonaro não irá para o segundo turno porque o bolsonarista, vendo que o eleitor circunstancial de 2018 nem sonha em repetir o seu voto em 2022, vai aplicar a teoria  dos jogos e debandar para o candidato que se mostrar mais viável, do meio para o final do primeiro turno.” Com isso, diz ele, Bolsonaro irá minguar. Não se elege nem para síndico e terá “a votação mais inexpressiva da história moderna para um candidato à reeleição na América Latina.”


Carvalho sequer acredita na terceira via, um candidato capaz de quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro. A disputa hoje, diz ele, é pelo voto do próprio Bolsonaro – e diz que essa é a maior ameaça à campanha do PT. Lula, em sua opinião, corre o risco de viver o mesmo problema de Bolsonaro. “Bolsonaro foi eleito na esteira da rejeição ao PT e a Lula. Hoje, Lula e sua candidatura se alimentam da mesma lógica. A estratégia da campanha de Lula tem que ser muito bem pensada, porque ele não pode se resumir ao antibolsonarismo”, afirma. E segue: “Quando olhamos todo o processo pós-democratização no Brasil, você não tem candidato de terceira via. Não adianta procurar candidato da terceira via. Esse espaço passa a existir em função do declínio de Bolsonaro. Essa terceira via seria, na verdade, apenas uma segunda força de oposição e não uma terceira, porque Bolsonaro certamente estará fora do jogo eleitoral”, acredita.


Pergunto a Carvalho se ele se arrepende de ter feito para o candidato a campanha que fez, ajudando a eleger um governante que hoje conduz o país a um quadro de desastre. Ele tergiversa. “Eu não vou falar sobre isso. Eu não quero fazer julgamento da pessoa física de Bolsonaro. Quero fazer uma análise política. Estou apenas analisando o novo ciclo eleitoral. Não é meu papel ficar atacando o presidente.” Mas, se não ataca, a crítica é ácida.  “Quem passou dois anos tentando sobreviver em meio a uma pandemia não vota em quem não comprou vacina.”  O próximo presidente do Brasil, diz ele, pode ser “de esquerda, de centro, de lado, de costas, de trás”, mas será, diz Carvalho, alguém que, no governo, teria respondido aos e-mails da Pfizer.


O ex de Bolsonaro também analisa a campanha de Lula.  “Lula se fortificou muito com base no enfrentamento ao bolsonarismo no Brasil. Não somente a Bolsonaro, mas à ideia de um governo excludente, preconceituoso, agressivo e sisudo”, disse. “Com isso, o carisma e a inteligência de Lula voltaram com muita força, conversando com a memória do brasileiro de ser governado por um líder que anda desarmado, literal e metaforicamente.” Mas conclui sua análise. “Ocorre que Bolsonaro irá minguar. Então, a campanha de Lula precisa trabalhar para sobreviver mesmo se não for necessário, e não será, salvar o Brasil de Bolsonaro.”


Carvalho admite que anda conversando com as pré-campanhas de possíveis candidatos. Possui dois ativos que ninguém tem. O primeiro é o sucesso eleitoral em 2018. O segundo é o fato de ele ter trabalhado para o sujeito que está concorrendo à reeleição – afinal, esteve do outro lado e conhece o jogo. 


O ministro das Comunicações, Fábio Faria, foi procurado pela piauí para comentar as declarações de Carvalho. Sua assessoria disse que ele não iria se manifestar.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Como fechou o mercado na semana passada

Na semana passada o mercado fechou em boa alta, mas cauteloso, diante dos acontecimentos na seara política. A CPI da Covid segue capitalizando as atenções, tivemos o super pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro e a abertura de inquérito, por parte da Procuradoria Geral da República. Serão estes fatos, aliás, a nortearem os mercados nesta semana.

Na agenda econômica estejamos atentos aos dados das vendas de varejo pela PMC do IBGE, o IPCA e o debate em torno das reformas. No exterior, atenção para a ata do Fomc, os PMIs e os vários balanços corporativos.

Na semana, os dados da CAGED vieram positivos, com geração de 281 mil vagas formais em maio, quinto mês seguido na geração líquida positiva de vagas e décimo mês positivo em 11 meses, consolidando uma tendência de recuperação iniciada em meados do ano passado. Por outro lado, pelo IBGE, a taxa de desemprego da PNAD Contínua se manteve elevada, em 14,7% da PEA na média dos três últimos meses, o maior nível registrado desde 2012, quando do início da pesquisa.

Estes dois levantamentos, CAGED e PNAD Contínua do IBGE, aliás, trazem diferenças, como o primeiro só mostrar pessoas com carteira assinada contratadas, conhecidas como “formais”, enquanto o segundo mostrar também pessoas da informalidade, que estão procurando emprego formal, ao contrário daquelas que “desistem”, em “desalento”.

Na bolsa de valores doméstica, sexta-feira (dia 02) foi de alta, com o Ibovespa avançando 1,56%, a 127.621 pontos, impulsionado pelos bons ventos de Wall Street, depois dos dados favoráveis do mercado de trabalho norte-americano. Destaquemos que esta alta de sexta-feira alta acabou zerando as perdas da semana.

Na geração de empregos urbanos dos Estados Unidos, pelo payroll de junho, foram 850 mil vagas geradas, 150 mil a mais do que o esperado. Já os ganhos salariais e as horas trabalhadas acabaram abaixo do projetado, com a taxa de desemprego a 5,9% da PEA, pelo aumento de pessoas procurando vagas. Estes dados acabaram importantes, ao reduzir a pressão sobre os receios com a inflação, permitindo a queda dos juros longos norte-americanos. O rendimento dos Treasuries de dez anos caiu de 1,48% ao ano na quinta-feira para 1,431% no fim da tarde de sexta, bem abaixo do 1,54% do fim da semana anterior. Decorrente disso, as bolsas de valores de NY fecharam em alta e o dólar recuou no exterior, com o índice DXY perdendo 0,38% no dia e reduzindo a alta na semana para 0,43%.

Já no Brasil, o dólar, depois da forte alta no dia anterior, abriu em queda na sexta-feira (dia 02), mas fechou o dia em suave avanço de 0,15%, a R$ 5,0569.



 

 

Editorial do Estadão (17/02)

LULA PROMETE O ATRASO: A razia bolsonarista demanda a eleição de um presidente disposto a trabalhar dobrado na reconstrução do País. A bem d...