terça-feira, 4 de maio de 2021

MACRO MERCADOS DIÁRIO 03/05/21 - SEMANA DE CPI DA COVID E COPOM

Iniciamos maio com uma agenda doméstica centrada no que deve desenrolar na CPI do Covid e na decisão do Copom, na quarta-feira. Dúvidas surgem sobre como o relator da CPI deve se comportar. Na semana passada, na formação da mesa e nas discussões do cronograma, já se observavam algumas divergências entre os senadores que estarão nesta coordenação.

É uma semana também importante, pois teremos a reunião do Copom quando o Banco Central do Brasil deve deliberar sobre a política de juro para os próximos 45 dias. Muitos consideram inevitável mais uma elevada da taxa Selic em 0,75 ponto percentual, a 3,5%, e depois uma parada para ver como o mercado reage. O que parece perceptível é o forte movimento de valorização do real por estes dias, dada o carry trade entre juro doméstico e norte-americano, parado próximo à zero (0,25%). Na sexta-feira fechou em R$ 5,43, e não será surpresa se mantiver esta toada de queda do dólar, até pelo ingresso de recursos externos com os IPOs e o saldo cambial favorável pelo lado financeiro e também comercial, com as exportações agrícolas. Ou seja, é possível que nesta semana o dólar siga ladeira abaixo e o real se valorizando. Como dito acima, o único fator a “balançar” esta tendência de valorização do real é a total instabilidade política.

Nesta, destaquemos as manifestações pelo Brasil, no final de semana, “contra tudo e contra todos”, mas mais contra a necessidade de confinamento (dada a ameaça do vírus e a possibilidade das cepas mais agressivas).

Pessoas morrem como moscas na Índia e aqui no Brasil parte da população não se convence sobre a necessidade do isolamento social, do uso de máscaras, dos confinamentos, quando necessários, diante do atraso das vacinas, neste caso, sendo culpa apenas um ator, o governo. Enquanto as vacinas não estiverem chegando no ritmo desejável, a tendência será a pessoas terem que continuar com medidas preventivas e protetivas.

E será isso que a CPI da Covid-19 irá investigar. Um dos pontos mais importantes, aliás, será verificar porque o governo, intempestivamente, optou pelo tal “tratamento preventivo” com o “kit Covid 19” e não pelo protocolo global, batalhar pelas vacinas e manter o isolamento social e o uso de máscaras?

Mas o BC estará atento também ao comportamento da inflação. O IPCA-15 de abril deu uma boa cedida, enquanto que o IGP-M, contaminado pelas commodities em alta e o dólar valorizando até há algumas semanas atrás, foi a 1,51%. Veio acima do esperado (1,37%), mas em desaceleração na comparação com o resultado de fevereiro (+2,94%). Em 12 meses foi a 32,02%.

Este resultado do mês veio puxado pelo IPA (ainda que saindo de 3,56% para +1,84%), em especial nos preços dos produtos industriais (1,88%), com comportamento mais favorável da gasolina e do minério de ferro. Por sua vez, o IPC desacelerou de 0,98% para 0,44%, mostrando acomodação dos preços ao consumidor (assim como ocorreu no IPCA-15), mas atingiu 6,07% em 12 meses. O INCC também perdeu força (de 2,0% para 0,95%), respondendo a um comportamento dos preços de materiais, equipamentos e serviços (de 3,76% para 1,88%).

É possível que o fortalecimento do Real no curto prazo deva ajudar o índice nos próximos meses, sobretudo nos preços ao produtor (IPA).

Pela pesquisa Focus, do dia 23, observa-se a Selic a 5,5% ao fim deste ano, acima de 5,0% há quatro semanas, indo a 6,23% em 2022, 6,50% em 2023 e 6,50% em 2024. Já o IPCA previsto é de 5,01% para este ano, depois de 4,81% há quatro semanas, 3,60% no ano que vem, 3,25% em 2023, mesmo patamar para 2024. Por fim, o câmbio previsto para este ano é de R$ 5,50 (R$ 5,00 há quatro semanas), R$ 5,40 em 2022; R$ 5,17 em 2023; R$ 5,08 em 2024.

Nos EUA estejamos atentos aos PMI ao longo da semana e os indicadores de mercado de trabalho, com a oferta de empregos do setor privado e payroll. A partir destes, será possível ao Fed ter uma leitura mais clara sobre os próximos passos da sua política de juro.

Nos mercados nesta manhã de segunda-feira (dia 3), os Futuros Norte Americanos operavam da seguinte forma, S&P 500 (+0,29%); Dow Jones 30 (+0,31%); e Nasdaq (+0,16%). A US Tech operavam em alta de 0,18% e o S&P VIX (+5,68%). No mercado de commodities, o barril de petróleo WTI ( -0,16%), o barril de petróleo Brent (-0,19%). Nas commodities minerais, o minério de Ferro recuava 3,72%.

MACRO MERCADOS DIÁRIO 04/05/2021 - AMBIENTE É DE CAUTELA

Semana teve início com os mercados “meio de lado”, cautelosos sobre uma série de eventos em curso. Por aqui, a reunião do Copom e a CPI da Covid capitalizam as atenções, enquanto que nos EUA, o debate se desloca para os custos inflacionários dos pacotes anunciados pelo presidente Biden e os indicadores, em divulgação, alguns melhores do que outros.

Nesta segunda-feira (03), as bolsas de valores de NY operaram tímidas e o dólar perdeu um pouco de terreno, diante da divulgação do PMI Industrial de abril, dos Gerentes de Compra (MSI), aquém do esperado. Passou de 64,7 para 60,7 pontos, quando o mercado esperava expansão. Por outro lado, o PMI Industrial, IHS Markit, veio em suave expansão, passando de 59,1 para 60,5 pontos, mas abaixo das expectativas do mercado, que esperava 60,6. A interpretar estes dados a “limitação de oferta”, e não problemas de demanda.

Não há esta certeza. A economia norte-americana ainda mostra alguns aspectos vacilantes, diante dos riscos da pandemia e do fato dos mais pobres ainda não estarem totalmente incorporados. A economia norte-americana se recuperando mais rápido do que o esperado, pode desafiar o discurso mais dovish do presidente do Fed, Jerome Powell, de que a economia ainda levará algum tempo para se recuperar, revertendo a tendência de queda dos juros de 10 anos e do DXY.

Enquanto isso, os pacotes de estímulo, anunciados pelo governo, seguem em debate no Congresso. Lembrando, são US$ 1,3 trilhão de pacote emergencial, US$ 2,3 tri para a infraestrutura e US$ 1,8 tri para educação e as famílias. O problema é que Biden, para bancar estes pacotes, quer uma taxação pesada sobre os que ganham mais de US$ 1 milhão por ano, além das empresas, e isso não parece agradar as bancadas republicanas no Congresso. Estes se perguntam “se dariam um cheque em branco para um senhor de quase oitenta anos”.


No Brasil, a CPI da Covid, a reunião do Copom e, também, a proposta de reforma tributária são as novidades da semana.

Esta última, em parecer entregue na Comissão Mista, deve ser objeto de debates. Muitos a consideram uma “meia bomba”, fatiada em três ou quatro etapas. A primeira seria transformar o PIS Cofins em Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Numa proposta anterior, na PEC 45 do senador Baleia Rossi, a ideia seria criar o IVA a substituir o IPI, o PIS, o Cofins, o ICMS e o ISS, algo muito mais consistente e profundo. Claro que seria necessário um período de transição para os estados e municípios se adaptarem, mas este teria que estar no “cálculo político”. Estranhamente, esta PEC, uma solução no sentido de simplificar a carga de impostos, acabou pelo caminho, optando-se por algo totalmente inócuo à curto prazo.

Na CPI da Covid, nesta terça-feira tem início as oitivas dos depoimentos dos ministros da Saúde, desde o “início” da pandemia no Brasil, em março de 2020. Primeiro falará Luiz Henrique Mandetta, que deve vir com chumbo grosso (é só lerem o seu livro), depois Nelson Teich, o “breve”, pois ficou apenas um mês no cargo e na quarta-feira, o que diz “ele manda, nós obedecemos”, Eduardo Pazuello. Em seguida teremos o atual ministro Marcelo Queiroga e o presidente da Anvisa Antonio Barra Torres na quinta-feira.

Naturalmente, a situação do presidente não parece confortável. Mandetta deve falar sobre a briga dele com o presidente, na defesa do isolamento contra a necessidade da economia continuar rodando, também no embate da cloroquina, o mesmo motivo que fez o competente médico Nelson Teich não continuar no ministério.

Talvez a situação mais delicada deverá ser do ex-ministro Pazuello, na sua teimosa defesa pelo tratamento preventivo ou do “kit Covid”, já condenado pelo mundo, pela OMS, e vamos em frente. Nestes embates, não será possível esconder ou omitir nada. Tudo está nas redes sociais, tudo terá que ser esclarecido. Acreditamos, claro, que isso deve trazer muita instabilidade aos mercados. Não será possível uma guerra de versões. O que parece predominar hoje é que o presidente se guiou na contramão do bom senso e do equilíbrio. Os tratamentos contra a Covid 19 são poucos e limitados. Apenas o isolamento, o uso de máscaras e a higiene permanente, obstruem um vírus que se propaga pelo ar, pelo contato das pessoas. Contra isso, apenas o isolamento social e as quarentenas, quando necessárias.

Perdemos um ano pela total falta de coordenação e entrosamento entre os poderes da República. Não tivemos, ao longo deste período, um comitê de notáveis na adoção de medidas necessárias, não tivemos entrosamento entre entes subnacionais (estados e municípios) e o governo federal, não tivemos diálogo entre as esferas de poder. Deu no que deu. Como resultado, mais de 405 mil mortos até aqui.

Sobre a reunião do Copom, é maioria os que acreditam num ajuste de 0,75 ponto percentual nesta quarta-feira, a 3,5% ao ano, mas dúvida maior se concentra no comunicado a ser divulgado depois. Será que teremos um recado mais duro, mais hawkish, no linguajar do mercado, ou neutro? Um ponto aqui é saber se a “normalização virá parcial” ou não. Se retira ou mantém a palavra parcial. Muitos consideram ainda haver espaço para mais um ajuste de 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom de junho. A Focus acredita que a taxa Selic vai a 5,5% ao fim deste ano.

O fato é que a inflação continua elevada, contaminada pela valorização forte das commodities, mas observa-se que o câmbio vem se apreciando, o que tende a ser um fator de amortecimento para estas pressões inflacionárias. Ontem, o dólar chegou a cair a R$ 5,37, mas diante do terreno pantanoso na qual navegamos, cheio de instabilidade, acabou fechando em R$ 5,4188 (-0,24%). Dava para ter caído mais. Isso porque o Fed de Jerome Powell continua ainda apegado à sua “política acomodatícia”, enquanto por aqui seguem em curso as estratégias de ajuste da Selic. É neste carry trade que a liquidez externa ainda ingressando no nosso mercado, com o saldo cambial favorável. E ele se torna ainda mais favorável, quando se observa que a balança comercial vem desempenhando fortes superávits. Em abril, o saldo foi a US$ 10,34 bilhões, com as exportações registrando US$ 26,48 bilhões, melhor saldo no mês pela série histórica, só possível pela forte demanda por commodities, em especial, da China.

Por fim, um alento neste momento de incertezas absolutas, uma entrega de 100 milhões de vacinas da Pfizer devem estar chegando por estes dias. Ótima notícia diante do cenário de 2,4 mil mortes pela média móvel semanal, 405 mil acumuladas e para piorar, o caos indiano e o que isso deve trazer ao mundo nas próximas semanas. Nesta virada de semana, novos casos passaram de 100 mil por lá.

Na agenda semanal, nos EUA, temos como destaque os dados de mercado de trabalho referentes a abril. Na China, dados da Balança Comercial movimentarão os mercados; na Europa, dados macro da Zona do Euro e reunião do BC Inglês e da Turquia ditarão os rumos da política monetária.

Nos EUA, na 4ªfeira será divulgado o resultado do ADP (exp. 875 mil), que mostra a criação de vagas no setor privado do país; na 6ª feira o payroll (exp. 978 mil) e a taxa de desemprego (exp. 5,7%) serão divulgados. Os dados robustos são consequência do acelerado cronograma de vacinação, que permite a reabertura da economia e principalmente do setor de serviços, segmento que mais emprega.

Editorial do Estadão (17/02)

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