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Leitura de sábado

 *Leitura de Sábado: Tarifaço leva empresas da B3 a subirem preços e buscarem novos mercados*


Por Gabriel Baldocchi*


São Paulo, 11/08/2025 - Passado o impacto inicial do anúncio das tarifas de 50% pelo governo Donald Trump ao Brasil, as empresas listadas na B3 com negócios nos Estados Unidos mergulharam mais a fundo nas implicações concretas do custo adicional e começam a mapear estratégias de resposta à nova política. Para a maior parte delas, a percepção é de que há espaço para redirecionar as exportações a outros mercados. Outras acreditam que haverá disposição dos clientes em absorver os produtos nos EUA a um preço maior, enquanto um grupo menor de companhias se mobiliza para readequar as linhas de produção.


O setor privado ainda trabalha com o governo e clientes do lado de lá para buscar uma negociação mais favorável junto aos americanos. O Executivo também prepara um conjunto de medidas de apoio às empresas mais afetadas.


A fabricante de armas Taurus se tornou um caso emblemático do tarifaço. A empresa confirmou ao Estadão/Broadcast na última semana que vai transferir uma linha de montagem do Brasil para os EUA, como forma de fazer frente às novas tarifas de 50%, que entraram em vigor no dia 06. O mercado americano representa pouco mais de 80% das receitas da Taurus. Como consequência, a ação da companhia cai mais de 30% neste ano.


Na outra ponta, a Embraer saiu como a maior aliviada por ver as aeronaves excluídas da tarifa extra, restando apenas a cobrança adicional de 10% anunciadas inicialmente pelo governo Trump. Ainda assim, a fabricante de aeronaves calcula um impacto de US$ 65 milhões pelo adicional em 2025 e também sinalizou novos investimentos na produção nos EUA.


A Minerva está no grupo que avalia um novo arranjo de produção. Em teleconferência com investidores na última semana, a direção da companhia disse ver em países mais alinhados ao atual governo dos EUA, como a Argentina, uma alternativa de fornecimento ao mercado americano.


Segundo a Minerva, a diversificação da empresa hoje permite redirecionar os volumes antes enviados aos Estados Unidos para Europa, China, Chile e Oriente Médio, enquanto as plantas da Argentina e do Paraguai poderiam atender mais os Estados Unidos. "Países que ideologicamente são mais alinhados com os Estados Unidos tendem a ter tarifas mais amenas, menores e, às vezes, até benefícios adicionais", afirmou o presidente da Minerva Foods, Fernando Queiroz, na teleconferência com analistas, na quinta-feira, 07 para comentar os resultados do segundo trimestre.


A empresa, portanto, não espera impacto do tarifaço. Como precaução adicional, a Minerva diz ter reforçado os estoques nos EUA em R$ 900 milhões antes da entrada em vigor da tarifa, o que deve ajudar a companhia a atravessar os próximos meses.


Para a fabricante de material de construção Dexco, dona das marcas Deca e Duratex, as vendas ao mercado americano devem ser redirecionadas a outros países. A empresa diz que cerca de 3% da produção de painéis de madeira MDP e MDF do grupo vai para os Estados Unidos. O país representa menos de 1% do total das receitas, calcula o grupo.


Da mesma forma, a Braskem também enxerga espaço para mudar o destino das exportações. A petroquímica calcula que o mercado americano representou 0,7% da receita da companhia no primeiro semestre e avaliou que os produtos mais relevantes exportados para lá ficaram de fora da tarifa de 50%. O restante, segundo a empresa, será redirecionado a outros destinos.


As gigantes de celulose brasileira também sinalizaram intenção de buscar maior diversificação diante das tarifas americanas e já tomaram medidas para mitigar os impactos. "Privilegiávamos os Estados Unidos pelo preço, mas com o tarifaço, redirecionamos exportações", afirmou o presidente da Klabin, Cristiano Teixeira, em teleconferência de resultado com investidores, na quarta-feira, 06, dia em que as tarifas entraram em vigor.


Pelos cálculos da empresa, as medidas anunciadas englobaram 2% das exportações totais da companhia. Somente em 2024, a companhia vendeu mais de R$ 11 bilhões ao mercado externo.


Vai pesar


A Suzano adotou o mesmo caminho da Minerva. Com estoques reforçados, espera atravessar o segundo semestre sem nenhuma nova surpresa. Aos investidores, o presidente da empresa, Beto Abreu, afirmou que a companhia não tem intenção de mudar sua política comercial de longo prazo por instabilidades políticas.


"Temos clientes como a Kimberly-Clark e a Procter & Gamble que compram com exclusividade da Suzano há anos", disse, reforçando que a empresa quer manter sua diversificação entre mercados como a China, Europa e Estados Unidos.


No setor de calçados, um dos principais itens afetados pelo tarifaço, as empresas com exposição aos Estados Unidos admitem  que vão sofrer impactos, embora lembrem que o peso do país é menor no total dos negócios.


Enquanto esperam os esforços do governo brasileiro para tentar reverter as medidas, as fabricantes Grendene e Azzas já se preparam para aumentar preços nos produtos direcionados ao mercado americano. Na Azzas, grupo que reúne Arezzo e marcas como Farm, os reajustes já chegam a 30% nos preços. O país representa menos de 8% das vendas do segmento de calçados e bolsas.


"Em 2026, se não houver algo exorbitante, fora do que já está sendo colocado hoje, prevemos manutenção, e vamos ver se o consumidor vai aceitar pagar US$ 159,00 em um scarpin da Schutz que antes custava US$ 129,00", afirmou Alexandre Birman, diretor presidente do grupo.


*Com colaboração de Elisa Calmom, Leandro Silveira, Danielle Fonseca, Talita Nascimento, Circe Bonatelli e Vinicius Novaes


Contato: gabriel.baldocchi@estadao.com


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