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Decisão do Fed x Trump

 *O canto da sereia do corte de juros*


A semana foi marcada pelo otimismo dos investidores globais, especialmente em função do aumento na probabilidade de cortes de juros nos EUA já na reunião de setembro. O principal fundamento para esse posicionamento foi a divulgação do índice de inflação ao consumidor, levemente abaixo das expectativas. O mercado de juros passou a precificar praticamente como certo um corte em setembro, mesmo após a divulgação de dados de inflação ao produtor significativamente acima do esperado.


O FED possui dois mandatos principais: (i) a estabilidade de preços, com a meta de manter a inflação abaixo de 2% no longo prazo, e (ii) a saúde do mercado de trabalho, sem uma meta numérica específica. Nesse contexto, um corte de juros em setembro poderia ser justificado pela expressiva revisão negativa na abertura de postos de trabalho, ao mesmo tempo em que a inflação ao consumidor mostra trajetória gradual de convergência à meta, ainda que permaneça acima dela.


Nesse cenário, a inflação ao produtor acima do esperado divulgada nesta semana ganha ainda mais relevância. Como indicador antecedente da inflação ao consumidor, dada a capacidade de repasse de custos pelas empresas para manter margens. O dado acima do esperado veio especialmente do setor de serviços, enquanto o segmento de bens tende a ser pressionado nas próximas divulgações pelo efeito das tarifas. Caso a pressão persista, dois cenários se tornam prováveis: (i) repasse de custos ao consumidor, pressionando os índices de inflação, ou (ii) absorção dos custos pelas empresas, com impacto negativo sobre suas margens.


No campo geopolítico, houve avanço nas conversas entre Trump e Putin no Alasca sobre a guerra da Ucrânia. O resultado pareceu positivo para a possibilidade de encerramento do conflito, ficando a decisão final sob responsabilidade da Ucrânia em aceitar ou não o acordo proposto pela Rússia. A divulgação ocorreu após o fechamento do mercado na sexta-feira, e seus efeitos devem ser refletidos na próxima semana, embora parte do movimento já estivesse precificado pelos agentes.


A expectativa de cortes de juros beneficiou especialmente empresas mais sensíveis ao ciclo econômico, com menor geração de caixa e maior alavancagem. Assim, o Russell 2000 subiu 3,1%, enquanto o S&P 500 avançou 0,9%. O Dow Jones teve alta de 1,7%, e o Nasdaq, mais atrelado às empresas de tecnologia, avançou apenas 0,4%.


Na curva de juros, a ponta curta recuou, com a taxa do título de 2 anos caindo 0,2 p.p., cotada a 3,8%. Já a ponta longa subiu, refletindo tanto a alta da inflação ao produtor quanto os dados fiscais piores que o esperado, o que elevou a taxa do título de 10 anos em 0,9 p.p., para 4,3%, levando à queda de 1,0% nos preços dos Treasuries de longo prazo. O dólar recuou 0,4% globalmente.


Os ativos globais também se beneficiaram da perspectiva de afrouxamento monetário, com o DAX subindo 0,8%, o Nikkei 2,6% e os mercados emergentes 1,0%. Na China, o adiamento de 90 dias nas tarifas comerciais com os EUA impulsionou ganhos de 2,6% nas ações tradicionais e 3,7% nas de tecnologia. O ouro caiu 1,8% e o petróleo recuou 0,8%.


*À espera do estrangeiro*


No Brasil, o destaque foi o IPCA abaixo do esperado, reforçando a tendência de desinflação. O dado reflete arrefecimento dos preços, especialmente em função da queda global das commodities e da apreciação cambial. Apesar disso, a inflação ainda se mantém acima do teto da meta, exigindo manutenção de uma política monetária restritiva por período prolongado. Parte do mercado, no entanto, passou a considerar cortes antes do previsto.


No campo fiscal, o governo anunciou um pacote de apoio aos produtores afetados pelas tarifas. A proposta, ainda pendente de aprovação, prevê cerca de R$ 30 bilhões, dos quais R$ 9,5 bilhões ficariam fora do arcabouço fiscal. Embora o valor seja relativamente pequeno diante do orçamento federal, o precedente de exclusões pode trazer riscos à credibilidade do regime fiscal. Caso o pacote seja utilizado como estímulo à atividade, o Banco Central pode enfrentar maior dificuldade na convergência da inflação.


O mercado local reagiu de forma moderada. O Ibovespa subiu 0,3% e o dólar caiu 0,4%. As taxas dos títulos públicos com vencimento em 2030 recuaram: -1,1% na taxa prefixada (13,3%) e -0,8% no papel indexado ao IPCA (IPCA+7,6%).


Em nossa visão, o Brasil se beneficiou ao longo do ano de forte fluxo estrangeiro em busca de ativos emergentes, aliado a valuations depreciados, o que justificou parte relevante da valorização observada até aqui. Entretanto, sem entrada consistente de novos fluxos, vemos dificuldade na sustentação desse movimento, especialmente diante das fragilidades fiscais. Optamos, portanto, por um posicionamento mais defensivo, reduzindo exposição a prefixados longos e aguardando um momento de maior assimetria para retomar posições mais relevantes.


Qualquer necessidade estou à disposição.

Um abraço, Breno - Rubik Capital

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