De vez em quando, reencontro alguém que me pergunta por que não escrevo mais nas redes sociais. A verdade é que não parei de publicar — a pessoa é que migrou do Facebook para o Instagram. Portanto, esclareço: este é meu primeiro texto no Instagram.
Confesso que nunca gostei muito desta rede, pois ela consolida algo que já existia no Facebook, mas em menor grau: a superficialidade, a preponderância da imagem sobre a reflexão, o mundo das aparências, a disputa desenfreada por views (e, em alguns casos, pela monetização desses views — usando até mesmo crianças como isca). Esse foi, inclusive, o tema abordado pelo influenciador Felca nesta semana, e sobre o qual resolvi dar alguns pitacos.
Antes de tudo, preciso esclarecer: em meio à nossa odiosa polarização política, sou aquilo que alguns chamam pejorativamente de “isentão”. Portanto, não esperem de mim adesão cega a interpretações da esquerda ou da direita.
Dito isso, que conexão o tema da “adultização” tem com a política?
Bem, tudo que envolve a opinião pública passa, inevitavelmente, pela política. Não por acaso, a repercussão do vídeo do Felca não apenas motivou a apresentação de um projeto de lei para proibir crianças de terem contas em redes sociais, como já vem sendo usada pela esquerda para reforçar sua agenda de controle sobre as plataformas digitais.
E aqui, como sempre, tudo é relativizado para se ajustar às narrativas políticas do momento. Ora, as denúncias feitas pelo Felca não são nenhuma novidade. Há anos a direita chama atenção para abusos contra a infância e a adolescência, muitas vezes minimizados pela esquerda — como a presença de crianças em contextos de sexualização em paradas LGBT, o episódio do Queer Museu, o caso de outro museu em SP onde crianças foram estimuladas a tocar um homem nu, além de entrevistas polêmicas em que a p3d0filia foi relativizada por “especialistas” que buscavam suavizar a culpa de abusadores sob a justificativa de “distúrbios”.
Para quem não viu o vídeo do Felca: ele mostra diversos casos em que crianças e adolescentes são usados como isca para atrair adultos. Em apenas cinco minutos, o influenciador criou uma conta fake no Instagram e o algoritmo passou a entregar conteúdo focado na “sensualização de crianças”. Nos comentários, uma enxurrada de adultos compartilhando links para sites “especializados”.
E chegamos, então, aos tons de cinza que marcam a disputa entre liberdade de expressão e regulação, entre direita e esquerda. É óbvio que as big techs fazem vistas grossas a esse tipo de abuso. Na era da inteligência artificial, bastariam alguns ajustes nos algoritmos para que esse problema (e outros, como anúncios fraudulentos de falsificações de grandes marcas) fosse drasticamente reduzido. Mas por que não o fazem? Certamente porque isso rende muito dinheiro.
Portanto, as redes devem, sim, ser cobradas por ajustes em seus algoritmos para combater crimes há muito tipificados em lei. O que a esquerda tem tentado, nos últimos anos, é aproveitar os exageros bolsonaristas para pressionar as big techs a aplicar uma autocensura em conteúdos políticos — justamente no ambiente em que a direita conseguiu maior engajamento. Mas esse é outro assunto. O fato é que tentar criar um “Ministério da Verdade” que só pune um dos lados também é um abuso, cada vez mais evidente, inclusive para a imprensa que, durante certo tempo, fez vistas grossas à escalada autoritária do STF.
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