Celso Ming: A espada de Trump sobre o Brasil
O dia 1º de agosto (mês do desgosto) está logo aí e, até lá, não há muito o que fazer para enfrentar a barbaridade do tarifaço do presidente Donald Trump.
Não há abertura para negociação comercial, até porque a questão de fundo não é comercial, é política. Nem mesmo a primeira carta do presidente Lula, enviada por ocasião do anúncio do tarifaço anterior, de 10%, mereceu resposta. Quem recebeu uma carta especial de Trump, com apoio e tudo mais, foi o ex-presidente Bolsonaro. A revogação dos vistos dos ministros do STF é outra demonstração de que o Brasil está sendo castigado para livrar a cara de Bolsonaro.
Há outras alegações para a pancada, todas políticas: de que o presidente Lula vem provocando o império com acenos ao inimigo Irã, ou que está empurrando os países membros do Brics a escantear o dólar como moeda para liquidação de contas entre eles.
Como Trump é dado a “recuetas”, há quem espere uma redução do tarifaço, fixado em 50% sobre todas as exportações do Brasil aos Estados Unidos. Mas é melhor não contar com isso. Mesmo o simples adiamento da entrada em vigor das novas alíquotas parece pouco provável, porque não resolve o problema principal, apenas mantém suspensa a espada de Dâmocles.
Um revide de qualquer natureza, já cogitado com base na Lei da Reciprocidade, é mais do que contraindicado. Pode atiçar novas vinganças, dado o telhado de vidro que tem o Brasil.
Uma das tentativas ensaiadas pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin, é coordenar as empresas importadoras de produtos brasileiros para pressionar o governo Trump, sob o argumento de que o tarifaço desarticula seus negócios e, além disso, produz inflação sobre a cesta básica dos Estados Unidos, na medida em que encarece o café, o suco de laranja, a carne e os pescados. Pode-se tentar por aí, mas parece difícil que funcione, dada a natureza política do problema.
Já deu para ver que as autoridades dos Estados Unidos inventarão quaisquer pretextos para continuar bombardeando a economia brasileira: pode ser pelo sucesso do Pix, por vendas de produtos pirateados na rua 25 de Março ou pela suposta falta de empenho do presidente Lula em desenvolver a produção de terras raras.
O governo Lula parece ter começado a aceitar o pior - que é a perda de 2% do PIB em receitas de exportação para os Estados Unidos. Já avisou que os setores mais prejudicados terão ajuda para compensar os estragos.
Mas há o que pode e deve ser feito aqui. Primeiramente, fortalecer a economia, especialmente na área fiscal, para reduzir a vulnerabilidade em relação à dívida pública, à inflação e ao alto custo do crédito provocado pelos juros elevados. Outra frente de trabalho deve ser o fechamento de novos acordos comerciais e a diversificação dos destinos das exportações, a fim de reduzir a dependência das receitas vindas dos Estados Unidos.
No mais, nada afastará definitivamente o mundaréu de incertezas. Trump já disse que distribui maldades “porque quer e porque pode”.
O Broadcast publica, em primeira mão, a coluna do jornalista Celso Ming, do jornal O Estado de S. Paulo
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