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Eduardo Affonso

 Eduardo Affonso mais brilhante do que nunca.


O DISCURSO DOS GRANDES DITADORES

Quero ser tratado por Meritíssimo, Excelência, Vossa Senhoria. É meu ofício: governar, legislar, fazer cumprir as leis, em causa própria


Sim, quero ser imperador, cacique, líder supremo, dono do mundo, do  pedaço, da parte que — por voto, concurso ou apadrinhamento — me cabe  neste latifúndio.

Quero ser tratado por Meritíssimo, Excelência, Vossa Senhoria. É meu  ofício: governar, legislar, fazer cumprir as leis — em causa própria, e,  bem sabeis, a meu bel-prazer. Quero ajudar os meus — e que se danem  ucranianos, ianomâmis e aposentados, contribuintes, motoristas de  aplicativo e judeus. Prendei os que vandalizam palácios e ignorai os que  deixam ruir igrejas, arder museus. Quero que negros odeiem brancos,  pobres se insurjam contra ricos — e eu, rico e branco, fomentador de  antagonismos e mestre em demonizar o diálogo, seja reverenciado como um  deus.


Eu degusto lagosta à vossa custa, enquanto em 21,6 milhões de lares, em  “insegurança alimentar”, comeis o pão que o diabo amassou. Eu presenteio  lenços e gravatas de seda com o que retiro, compulsoriamente, do bolso  onde mal tendes o suficiente para vos agasalhar.


Com o suor do vosso rosto, bobinhas, eu pago maquiadores que me mantêm a  pele clara e imaculada para que eu possa defender vossa dignidade e  vossas necessidades com meu afronte e minha bolsa (três anos e meio de  Bolsa Família, uma pechincha) e denunciar o avanço da extrema direita  —em Paris.


Eu liberto réus confessos, anulo condenações justas, perdoo multas  bilionárias. Trabalhais oito horas por dia, seis dias por semana, 11  meses por ano para que pinguem o mínimo na vossa conta — eu tenho 60  dias de descanso remunerado, horário flexível, encho de penduricalhos  meu supersalário (os pagamentos acima do teto constitucional passaram de  R$ 10 bilhões em 2024) — e processo quem divulgar as remunerações  ilegais.


Eu gasto muito e mal; e vos empurro goela abaixo mais e mais impostos e  mordomias e má gestão. Visito ex-presidente presa por corrupção e mando  buscar, em jatinho da FAB (bancado por vós, que íeis andar de avião e  jamais decolastes), a ex-primeira-dama condenada à prisão por lavagem de  dinheiro. Apoio agressores e ditaduras, corruptos e tiranias — mas me  outorgo autoridade moral de defensor da paz, da ética e das minorias.


Acho que 513 deputados são pouco, que é pouco gastar mais de R$ 24  milhões por ano com cada um e voto por elevar esse número para 531.  Quero mais fundo eleitoral e mais emendas parlamentares e menos  transparência e mais privilégios. Com vossos recursos, eu pago meus  procedimentos estéticos, meus jantares superfaturados e asfalto as ruas  do meu condomínio de luxo.


Por isso, vos peço: lutai pela censura, pelo controle dos meios de  comunicação, por mais taxação; pela anistia aos que tentaram golpear a  democracia, pelos que a corroem por dentro simulando defendê-la. Afinal,  quem sois vós na fila do pão? Uma das 196 mulheres violentadas por dia.  Uma vítima de feminicídio a cada seis horas. Um dos 35.365 que sofreram  morte violenta em 2024. Um dos 3,9 milhões de pedintes esperando Godot  nos guichês do INSS. Um dos 59 milhões de incapazes de atender às próprias necessidades básicas de sobrevivência.


Não sois cidadãos: 213 milhões de pequenos tiranos é que sois. Segui,  pois, odiando-vos uns aos outros — e ignorando que todo poder emana de  vós, e em vosso nome deveria ser exercido.

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