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Nós, Quem? Contra eles, Quem?

 Um excelente texto de Celso Ming No Estadão. 


Nós, quem? Contra eles, quem? - Celso Ming


O Estado de S. Paulo


"Muito antes da Inconfidência Mineira e da Derrama, sabe-se no Brasil, que há um limite para a extorsão tributária. Chega o momento em que o contribuinte não aguenta mais, mesmo quando as autoridades se esforçam para difundir a versão de que são os mais ricos que rejeitam a carga tributária e a empurram sobre os mais pobres. E quando a sociedade não aguenta mais, as consequências políticas ficam inevitáveis"

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Houve um tempo em que o presidente Lula anunciava que governava para o interesse de todos os brasileiros, inclusive dos que votaram contra ele.


Hoje, vai sendo imposto o mantra do “nós contra eles”, sem que fique claro quem sejam esses “nós” e quem sejam esses “eles”. Nós, os pobres? Nós, os proletários? Nós, os do Partido? Nós, os democratas? Contra quem? Contra a direita? Contra a Faria Lima? Contra os mandachuva de sempre? Seja o que – e quem – for, é o discurso da polarização, que pretende antecipar o debate eleitoral.


No momento, serve para defender o renitente aumento de impostos, em detrimento de um mínimo de objetividade: como é que o aumento do IOF, que deveria servir apenas para fins regulatórios – e não arrecadatórios –, beneficiaria o “andar de baixo” e não os lobbies favorecidos pelo Congresso, se atinge em cheio as pequenas e médias empresas, os microempreendedores individuais (MEIs) e o comércio que pratica o crédito denominado “risco sacado”?


Na falta de um inimigo claro, as velhas esquerdas que se agrupam ao lado do governo Lula ainda tentam se apegar à estratégia da diversidade, de parca densidade sociológica e ideológica, da defesa dos direitos das minorias (negros, mulheres, população LGBT+), ainda que resvalem para discursos extremistas, que pregam mais o ódio ao outro do que o combate às discriminações vigentes. Poderiam refugiar-se na defesa dos valores da social-democracia. Mas têm, em relação a ela, um entendimento confuso e inconsequente, quando se aliam a governos autoritários, como os da Venezuela, de Cuba, da Rússia e do Irã.


Como a questão central desse discurso não é de lógica aristotélica, cabe perguntar se, ainda assim, consegue colar na sociedade e no jogo político.


Quando perde votos e capacidade de mobilização, o governo apega-se a dois falsos diagnósticos: o de que é preciso melhorar a sua comunicação, e aí nomeia outro marqueteiro; e o de que é o de que falta diálogo com as bases – e se põe a fazer sermões, sem dar ouvidos ao outro lado.


Apesar das fartas políticas populistas e distributivas, a popularidade do governo Lula desliza ladeira abaixo. A percepção geral é de que a política econômica se aprofunda para o campo disfuncional. Novos rombos somam-se aos anteriores. A dívida pública vai crescendo, se aproxima dos 80% do PIB. Para pagar os lesados pelas fraudes do INSS, que até agora não haviam sido coibidas, o governo decidiu que vai aumentar a dívida e, assim, descarregar a conta sobre o contribuinte.


Muito antes da Inconfidência Mineira e da Derrama, sabese no Brasil, que há um limite para a extorsão tributária. Chega o momento em que o contribuinte não aguenta mais, mesmo quando as autoridades se esforçam para difundir a versão de que são os mais ricos que rejeitam a carga tributária e a empurram sobre os mais pobres. E quando a sociedade não aguenta mais, as consequências políticas ficam inevitáveis

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