quarta-feira, 8 de outubro de 2025

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: MP do IOF em risco*


A votação na Câmara e no Senado ficou para hoje, com risco de perder a validade se não for votada até meia-noite, depois de ter sido quase derrotada na Comissão Especial


… Sem sinais de acordo para pôr fim ao shutdown do governo americano, que entra no seu oitavo dia, investidores começam a assumir posições defensivas, pressionando o dólar e os Treasuries, enquanto as bolsas em Wall Street interrompem os recordes. O cenário externo é ainda abalado pela crise política na França e incertezas no Japão, que afetam o câmbio global. Na agenda em Nova York, sai a ata do Fed, enquanto aqui o dia começa com uma nova pesquisa Quaest e a expectativa com a MP do IOF. A votação na Câmara e no Senado ficou para hoje, com risco de perder a validade se não for votada até meia-noite, depois de ter sido quase derrotada na Comissão Especial.


MP DO IOF – O plano era votar ontem à noite no plenário da Câmara e hoje no Senado, mas deputados aprovaram urgência para a PEC que trata da aposentadoria de agentes de saúde, que passou com mais de 400 votos em dois turnos, e a MP 1.303 ficou para hoje.


… No final da tarde, o governo passou sufoco na Comissão Mista, onde a MP do IOF foi aprovada por 13 votos a 12, apesar das concessões feitas pelo relator, deputado Carlos Zarattini (PT), que desidratou o texto, sob pressão das bancadas.


… Foi mantida a isenção das LCAs e LCIs, cuja tributação em 5% renderia R$ 2,6 bilhões em 2026, e retirado o aumento da tributação das bets, de 12% para 18%, com receita estimada de R$ 1,7 bilhão – segundo cálculos preliminares.


… Outra mudança alterou a tributação dos JCP, fixando a alíquota em 18%. O governo pretendia aumentar a taxa de 15% para 20%.


… O novo relatório reduz a arrecadação prevista de R$ 20,87 bilhões em 2026, já contabilizada no Orçamento, para cerca de R$ 17 bilhões, em uma estimativa ainda preliminar, segundo admitiu o ministro Fernando Haddad.


… Ao comentar a aprovação por só um voto de diferença na Comissão Especial, o deputado Carlos Zarattini disse que houve “quebra de acordo” na votação, o que teria impedido uma “votação expressiva”, como ele esperava.


… “Dialogamos muito com a Frente Parlamentar do Agronegócio, atendemos a praticamente todos os pleitos e eles não corresponderam.”


… Segundo o Broadcast Agro, o governo buscou uma articulação final para evitar que o texto fosse derrubado na Comissão Especial, e já admite que não terá o apoio da FPA, a maior e mais influente do Congresso, na votação do plenário.


… A FPA manteve posição contrária à MP, alegando viés arrecadatório da medida, mas optou por não encaminhar orientação de voto aos parlamentares. Zarattini promete trabalhar para que o texto não seja ainda mais desidratado hoje na votação do plenário.


AGENTES DE SAÚDE – Não há ainda estimativa precisa do impacto fiscal da PEC aprovada ontem à noite, já que… não foram solicitados dados oficiais da Previdência. Segundo o relator, deputado Antonio Brito (PSD), calcula-se R$ 1 bilhão/ano, ou R$ 5,5 bilhões até 2030.


… A Confederação Nacional de Municípios, no entanto, calcula um impacto de R$ 21,2 bilhões nos regimes de prefeituras. O texto agora vai ao Senado.


ÔNIBUS DE GRAÇA – Além da desidratação da MP 1.303, e até do risco de a Medida não ser aprovada hoje, a percepção de que o governo Lula tende a se aventurar em propostas populares, à medida que se aproxima o ano eleitoral, amplifica os receios fiscais no mercado.


… Nesse sentido, a gratuidade das passagens de ônibus surge como o melhor exemplo.


… Embora técnicos da área econômica tenham descartado a medida no curto prazo, o ministro Hadad admitiu que a Fazenda está mapeando o sistema de transporte público a pedido do presidente Lula. As declarações foram ao programa Bom Dia, Ministro, da EBC, nesta terça.


… “Estamos fazendo uma radiografia do setor para verificar quais são as chances de melhorar isso, que tem apelo social muito forte.”


A REFORMA DO IR – Escolhido para relatar no Senado o projeto de reforma do Imposto de Renda, Renan Calheiros (MDB) vai tentar desgastar o deputado Arthur Lira (PP), relator do texto na Câmara e seu arquirrival na política em Alagoas.


… Lira conseguiu um grande feito aprovando a proposta por unanimidade, com o voto de 493 deputados e nenhum contra. Renan quer botar sua digital nessa história e já prometeu fazer mudanças no projeto, mas não mudanças que obriguem o texto a voltar à Câmara.


… A ideia é usar as emendas “de redação” e “supressivas”, que servem apenas para ajustes no texto ou que visam excluir partes do projeto.


… Segundo apurou o Valor, um dos focos de Renan será a emenda que exclui da base de cálculo da tributação mínima do Imposto de Renda as taxas judiciais que os cartórios arrecadam e repassam aos tribunais de Justiça, que Lira diz ter incluído a contragosto.


… “O que tiver que ser emendado, será emendado. O que tiver que ser suprimido, será suprimido. O nosso esforço, no entanto, é para que a matéria não volte à Câmara dos Deputados”, disse o senador, que promete votação rápida, em cerca de 30 dias.


… Renan disse que, na Câmara, a matéria serviu como “instrumento de chantagem” e de pressão contra o governo e até sobre a pauta do poder Legislativo, com deputados utilizando a reforma do IR para conseguir a aprovação da PEC da Blindagem e o avanço do PL da Anistia.


… Sobre o calendário de tramitação, o senador disse que pretende fazer pelo menos quatro audiências públicas na CAE para debater o projeto. Renan disse que as audiências serão definidas já nesta quarta-feira, assim como quem vai participar delas.


BRASIL X EUA – Novos trechos do diálogo entre Trump e Lula, no telefonema de segunda-feira, revelam que o presidente dos Estados Unidos admitiu que os americanos estão sendo afetados pela elevação do preço do café por conta do tarifaço ao Brasil.


… Segundo interlocutores presentes, partiu de Trump a iniciativa de citar a questão do grão no mercado interno, mesmo sem o presidente Lula fazer qualquer tipo de referência à bebida, como exemplo negativo da contenda comercial entre os dois países.


… Desde que a tarifa de 50% entrou em vigor, em agosto, a alta total dos preços nos Estados Unidos foi de 0,4% e a do café, de 3,6%, após recuo de 17,5% do volume do produto brasileiro vendido aos Estados Unidos em relação a agosto de 2024.


… Lula, de seu lado, afirmou estar disposto a tratar de questões comerciais “sem impor restrições” a temas específicos.


… Entre os assuntos que poderão ser abordados nas negociações está a regulação das grandes empresas de tecnologia (big techs) e a possibilidade de uma parceria entre Brasil e Estados Unidos no setor de minerais críticos e terras raras.


MARCO RUBIO – Uma segunda leitura sobre a escolha do secretário de Estado americano para negociar com o Brasil está sendo feita por fontes do Itamaraty e integrantes do governo, que veem o lado positivo na indicação de Rubio, segundo Bela Megale (Globo).


… Um canal direto com ele permitirá enfrentar as questões já de saída; além disso, participando das negociações, Rubio não vai trabalhar para minar as tratativas. Outra avaliação é que o secretário não terá autonomia, já que o canal com o Brasil foi aberto por Trump.


EDUARDO – No Estadão, interlocutores de Tarcísio admitem que Eduardo Bolsonaro tem se tornado o “maior cabo eleitoral de Lula e só faz gol contra”, sendo um dos responsáveis pela recuperação da popularidade do presidente nos últimos meses.


… Hoje, a Genial/Quaest publica logo cedo, às 7h, a pesquisa sobre a avaliação do governo Lula, que já deve repercutir na abertura dos negócios, neste momento em que a popularidade do governo preocupa a Faria Lima.


MAIS AGENDA – Saem ainda hoje a primeira prévia de outubro do IPC-S (8h), a produção de veículos da Anfavea em setembro (10h), além dos dados do BC sobre o fluxo cambial semanal, às 14h30, enquanto o fiscal volta a estressar o câmbio.


… Lula sanciona a lei da Tarifa Social de Energia em cerimônia no Palácio do Planalto a partir das 15h.


… Pela manhã, às 10h, o presidente participa da Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente (CNIJMA), em Luziânia (GO).


LÁ FORA – Sem indicadores, diante da paralisação da máquina nos Estados Unidos, o investidor se guia hoje pela ata do Fed, às 15h, e pelos comentários dos integrantes do BC americano para projetar os cortes dos juros este ano.


… Dois dirigentes do Fed com direito a voto falam hoje: Alberto Musalem (10h20) e Michael Barr (10h30 e 18h45). Já Neel Kashkari, que não vota este ano, discursa às 16h15. Ontem, ele apontou sinais de estagflação (abaixo).


… Às 11h30, os estoques de petróleo do DoE têm previsão de alta semanal de 700 mil barris. Com mensagem pré-gravada, Lagarde participa de evento às 13h. As bolsas da China e da Coreia do Sul seguem fechadas para feriado.


SHUTDOWN – Em estratégia de pressão para forçar os senadores democratas a reabrirem seu governo, o presidente Trump fez circular na Casa Branca um memorando no qual diz que não há garantia de pagamento retroativo aos trabalhadores federais durante a paralisação.


… Os cerca de 750 mil funcionários públicos federais têm sido ressarcidos retroativamente em episódios anteriores de shutdown. Mesmo na paralisação de 2019, na primeira gestão Trump, que durou 35 dias, eles receberam os seus salários.


… Agora, no entanto, o memorando do Escritório de Gestão e Orçamento afirma que o pagamento retroativo deve ser fornecido pelo Congresso.


… Trump pretende anunciar em “quatro ou cinco dias” quais programas e funcionários serão cortados permanentemente.


PONTO FRACO – Tema sempre sensível ao mercado, o risco fiscal doméstico não poupou ontem os negócios de uma onda de estresse, que levou o Ibovespa a queimar mais de 2 mil pontos, disparou o DI e pressionou o dólar a R$ 5,35.


… A desidratação da MP alternativa ao aumento do IOF, depois das concessões do relator Carlos Zarattini ao agronegócio, ao setor imobiliário e às bets, ampliou os riscos potenciais de desequilíbrio das contas públicas.


… Também a confirmação pelo governo de que a gratuidade do transporte público está mesmo nos planos não pegou bem, na medida em que a medida de viés eleitoreiro acrescenta mais uma armadilha fiscal ao cenário.


… Primeiro, o Ibovespa perdeu os 143 mil pontos, depois entregou os 142 mil e, na mínima do dia, em 141.035,06 pontos, foi por pouco que não furou mais uma linha de pontuação. Fechou em queda de 1,57%, a 141.356,43 pontos.


… O giro mais forte, de R$ 24,4 bilhões, em um dia negativo sugere a atuação mais expressiva dos vendedores.


… Às voltas com as negociações na Câmara sobre um aumento das alíquotas de CSLL a instituições financeiras e eventual taxação maior aos Juros sobre Capital Próprio (JCP), os papéis dos bancos caíram em bloco na bolsa.


… Itaú, -1,59% (R$ 37,17); Bradesco PN, -1,65% (R$ 16,72); Santander, -2,06% (R$ 28,00); e BB, -0,93% (R$ 21,21).


… Um dia depois de ter encostado em R$ 60,00, Vale realizou lucros, perdeu 1,41% e fechou na mínima de R$ 58,75. MRV liderou as perdas do dia, com tombo de 12,12% (R$ 6,31), após anúncio de queda de 8,9% nas vendas do 3Tri.


… As ações da Petrobras subiram, mas não tiveram fôlego suficiente para fazer a diferença na bolsa. O papel PN registrou alta moderada de 0,36%, cotado a R$ 30,83, e o ON limitou a alta a 0,12%, negociado a R$ 32,92.


… Lá fora, o petróleo também operou travado, com o Brent praticamente estável (+0,03%), valendo US$ 65,45.


… No câmbio, deu para notar que a alta firme de 0,75% do dólar, para R$ 5,3506, não reproduziu apenas a pressão global, mas respondeu ainda à tensão interna, já que o real figurou na lista das moedas com pior desempenho do dia.


… O investidor não gostou nada de reprecificar no radar o risco de populismo fiscal e de menor arrecadação.


À FLOR DA PELE – A vulnerabilidade das contas públicas também induziu a curva do DI a elevar a guarda, especialmente nos contratos de longo prazo, que melhor refletem a percepção de risco fiscal pelos estrangeiros.


… No fechamento, o contrato de juro para Jan/31 saltou a 13,680% (de 13,565% na véspera); Jan/33 disparou para 13,790% (contra 13,670% no pregão anterior); Jan/29 foi a 13,460% (de 13,363%); e Jan/27, a 14,130% (de 14,081%).


… O vencimento mais curtinho, para Jan/26, ficou estável, em 14,898%. O mercado está amplamente convencido de que um o Copom não fará um corte antecipado da Selic, como tem ficado muito claro na comunicação dura do BC.  


… A XP informou ter adiado a expectativa de início do ciclo de relaxamento monetário de janeiro para março, diante das medidas de estímulo fiscal, que podem aquecer a demanda e a inflação, e elevar o déficit em conta corrente.


… Com o fiscal no foco, o DI operou na contramão da queda das taxas dos Treasuries, que já mostram desconforto com o impasse do shutdown. O juro da Note-2 anos caiu a 3,573% (de 3,597%) e o de 10 anos, a 4,129% (de 4,164%).


… O investidor começa a vender risco e comprar proteção, no movimento potencializado ainda pela turbulência política na França, com a renúncia do primeiro-ministro Sébastien Lecornu, defensor de cortes em gastos públicos.


… Também o Japão enfrenta o risco de expansionismo fiscal depois da eleição da nova líder do governista Partido Liberal Democrata, Sanae Takaichi. Se serve de consolo, não é só o Brasil que convive com os desafios fiscais…


… O iene caiu para 151,96 por dólar e o euro recuou 0,52%, para US$ 1,1651, levando o índice DXY a subir 0,47%, a 98,578 pontos. Isolado, Macron enfrenta pressões para convocar novas eleições legislativas ou renunciar ao cargo.


… Depois de aceitar a demissão de Lecornu, Macron deu ao seu aliado um prazo de 48 horas, que termina hoje, para o primeiro-ministro francês demissionário buscar negociações com as forças políticas para estabilizar a França.


… Nos Estados Unidos, Stephen Miran, indicado de Trump ao Fed, continua botando pressão para uma política monetária cada vez mais dovish e não vê o tarifaço como um fator determinante para o crescimento da inflação.


… De seu lado, Neel Kashkari defende que as decisões de juros continuem sendo baseadas em dados, não em questões políticas, e alerta sobre uma “explosão” da inflação se o Fed reduzir drasticamente as taxas.


… Segundo ele, os indicadores estão enviando “alguns sinais” de estagflação, com emprego fraco e preços elevados.


… Para Kashkari, é importante avaliar se a inflação americana será afetada por tarifas, o que ainda considera cedo para saber, e se o nível permanecerá por volta de 3%, persistentemente acima da meta do Fed, de 2% ao ano.


… Nas bolsas em Nova York, o shutdown que se prolonga começa a preocupar os investidores e quebrou ontem a sequência de seis pregões em alta do índice S&P 500, que encerrou em queda de 0,38%, aos 6.714,59 pontos.


… O Nasdaq caiu 0,67%, aos 22.788,36 pontos, depois de ter superado mais cedo a marca inédita dos 23 mil pontos. O Dow Jones recuou 0,20%, a 46.602,98 pontos, sem sinal de acordo entre os senadores democratas e republicanos.


COMPANHIAS ABERTAS – PETRORECÔNCAVO registrou produção média de óleo e gás de 26 mil boed em setembro, queda de 1,8% ante o mês de agosto.


ASSAÍ. BlackRock atingiu participação agregada de 5,033% na companhia, passando a deter 65.695.267 de ações ON e 485.120 ADRs.


KLABIN realizou a liquidação antecipada integral de contrato de empréstimo sindicalizado, com vencimento original em 2028…


… Valor pago foi de aproximadamente US$ 120 milhões, o que implicou na quitação total da obrigação contratual.


TIM estabeleceu parceria com a IHS Brasil para construção/operação de torres de comunicação; objetivo é construir até 3 mil unidades do modelo Make, com implantação inicial mínima de 500 torres de comunicação ou sites.


DESKTOP confirmou que teve conversas preliminares com a Claro sobre potencial transação. Segundo a empresa, ainda não foram definidas as condições de eventual acordo, como preço e estrutura da operação.


AMBIPAR prepara pedido de recuperação judicial para a próxima semana, em tribunal do Rio. (fontes da Bloomberg)

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal


SESSÃO: Os futuros têm aguentado planos após Nova Iorque corrigir (finalmente!) um pouco ontem (-0,4%), depois de 7 sessões consecutivas de subidas. A sessão de hoje poderá ser de estabilização, mas com fundo em alta porque já começam a ser publicados resultados 3T americanos provavelmente decentes ou bons (EPS esperado +8,8%), e domina a perceção sobre a permanência de taxas de juros baixas após a descida de taxas de juros na NZ.


O ouro rompe 4.000 $/onça... como estimávamos, mas antes do que esperávamos (2026). Tem correlação inversa com o USD, é usado como cobertura de inflação e atua como refúgio quando a geoestratégia se complica, portanto só pode subir. A Fed de Nova Iorque publicou ontem as perspetivas de inflação a subirem até +3,4% desde +3,2% a 12 meses e até +3,0% desde +2,9% a 5 anos, embora estáveis em +3,0% a 3 anos. Isso deve ter sido o gatilho para a aceleração do ouro. NZ baixou taxas de juros em -50 p.b. em vez de -25 p.b. esperados. O yen continua a depreciar-se (177/€; 152,5/$). Pressão sobre Macron para que se demita e convoque eleições em FRA. A UE sobe o imposto alfandegário ao aço para 50% desde 25% e reduz -50% na quota de importações autorizadas (contingentes). Produção Industrial na Alemanha mais fraca do que o esperado, publicada às 7 h (-4,3% vs. -1,0% esperado vs. +1,3% anterior). O governo dos EUA continua parcialmente encerrado, sem parecer reabrir, porque Trump quer prolongar a situação para aproveitar para despedir funcionários e fechar agências federais, o que implicaria abrir outra frente legal para determinar se o Presidente tem autoridade legal para o fazer. 


TAXAS DE JUROS. 

NZ baixa -50 p.b. vs. -25 p.b. esperados, até 2,50%: coloca a reativação económica à frente da redução da inflação, que foi +2,7% em junho (NZ apenas publica dado trimestral) porque o seu PIB contrai-se ca.-1% (-1,1% 2T’25 -1,1% 1T’25 -0,6% 4T’24 0,0% 3T’24). O RBNZ (b.c.) afirma que continuará a baixar taxas de juros. Embora esteja geograficamente nas antípodas, este gesto tão dovish/suave reforçará o sentimento de que as taxas de juros continuam a mover-se em baixa, influenciando um pouco nesse sentido sobre as expetativas em relação à Fed. Não há relaçã direta, mas influenciará um pouco.


DIVISAS. O USD recupera um pouco (1,162/€), mas o yen continua a afundar-se (quase 177/€) ao descontar-se que Takaichi (nova PM in pectore) pressionará o BoJ para que não volte a subir taxas de juros (agora 0,50%; próxima reunião BoJ 30 de outubro) e priorizará a reativação do PIB mediante expansão fiscal (isto é, taxas de juros baixas + dívida pública = yen e obrigações a sofrerem).


EMPRESAS. 

Tesla caiu ontem -4,5% após apresentar versões mais acessíveis por 5.500 $/5.000 $ do Model 3 (36.990 $) e do Model Y (39.990 $). Contudo, custam mais do que as antigas porque em setembro foi retirada a subvenção de 7.500 $, portanto não serão um estímulo para a procura.

BMW realiza profit warning e cai -3% em pré-abertura. Margem EBIT em automóveis 5%/6% vs. 5%/7% anterior, ROCE automóveis 8%/10% vs. 9%/13% e BAI "ligeiramente inferior a 2024" vs. "em linha" anterior.

AÇO. A UE reduz quotas atuais de importação em -50% e sobe imposto alfandegário até 50% desde 25% para proteger a indústria europeia do aço, num contexto de sobrecapacidade global. Quer evitar que, após o imposto alfandegário de 50% aplicado pelos EUA, o aço barato da China ou da Índia se dirija para a Europa. Bom para ArcelorMittal e Acerinox.

Constellation Brands (bebidas alcoólicas, EUA) bateu expetativas (EPS 3T 3,63 $ vs. 3,38 $ esperados) no fecho de segunda-feira em Nova Iorque, portanto subiu ontem, terça-feira, +1% e introduz uma leve sensação positiva sobre os primeiros resultados a serem publicados.


CONCLUSÃO: Mercado estável, mas com vontade de subir um pouco, o que poderá conseguir com base na sensação de taxas de juros em baixa após a descida do RBNZ e o recorde do ouro. Poderão mover o mercado em positivo: uma possível convocatória de eleições na França e/ou reabertura do governo dos EUA, mas ambos são improváveis porque nem Trump nem Macron ganhariam. Estamos à espera do fluxo de resultados 3T americanos, que ganhará um pouco de ritmo amanhã (Delta, Pepsi…), mas principalmente na próxima semana (quase todos os grandes bancos). Enquanto esperamos, uma subida milimétrica parece o desenvolvimento mais provável.


NY -0,4% US tech -0,6% US semis -2,1% UEM -0,3% España -0,2% VIX 17,2% Bund 2,71% T-Note 4,12% Spread 2A-10A USA=+56pb B10A: ESP 3,26% PT 3,11% FRA 3,57% ITA 3,56% Euribor 12m 2,220% (fut.2,270%) USD 1,162 JPY 177,0 Ouro 4.029$ Brent 66,0$ WTI 62,3$ Bitcoin -2,4% (121.349$) Ether -5,4% (4.439$) 


FIM

Paulo Roberto de Almeida

 Escrever é uma mania, que se aprende na leitura precoce


        Comecei tarde. Só fui alfabetizado na idade “tardia” de sete anos, porque em casa não havia livros ou revistas, nem jornais. Meus avós, imigrantes perfeitamente (se ouso dizer) analfabetos da Itália do sul e do norte de Portugal, assim permaneceram toda a vida: trabalhavam em fazendas. Meus pais nunca terminaram o primário, pela necessidade de começar a trabalhar. Eu também comecei a trabalhar cedo, ainda antes de aprender a ler: recolhendo restos de metais nos fundos de uma fábrica de peças de bakelite, que despejava o lixo industrial nos fundos, num terreno baldio; eu e muitas outras crianças e jovens recolhíamos pequenas peças de metal, no meio da lixaria, guardávamos em latas usadas de leite condensado, e depois levávamos para nossos pais vender na reciclagem. Era uma forma de completar o miserável orçamento doméstico, indispensável para assegurar o arroz e feijão, o pedaço de gelo, trazido por um vendedor de carrocinha, coberto de serragem, que servia de “geladeira” num armário de madeira.

        Tive a sorte, a grandíssima sorte, de morar perto de uma biblioteca infantil municipal: a Biblioteca Anne Frank, no bairro do Itaim-Bibi, em São Paulo, e que antes se chamava Chácara Itaim: ruas de terra, muitos terrenos baldios, alguns transformados em campinhos de futebol improvisado, com duas pedras, ou latas de tinta, sinalizando o gol em casa extremo. 

        Comecei a frequentar a biblioteca antes de aprender a ler: joguinho de palitos, damas, filmes da Atlântida (Oscarito e Grande Otelo), ou os estrangeiros: Tarzan, Zorro, Hopalong Cassidy, Roy Rogers, Gordo e Magro, Charlie Chaplin, Buster Keaton, o outro Zorro (o do Tonto), as chanchadas nacionais e os mais elaborados de Cinecittà: Maciste, Hércules, aquelas paródias da mitologia grega, uma delícia.

        Finalmente aprendi a ler, primeiro as revistinhas da época (Bolão e Azeitona, Capitão Kid, logo em seguida Pato Donald e Mickey, publicados pela Abril). Quando aprendi a ler de verdade, comecei direto com Monteiro Lobato, e acho que isso mudou completamente a minha vida: em lugar de ficar jogando bola, ou brincando de taco com os outros meninos na rua, eu ficava na biblioteca até fechar; mais ainda, podia levar os livros para casa, para ler na cama até minha mãe apagar a luz, nunca muito tarde, para economizar, pois éramos de verdade muito pobres, de uma pobreza especial: minha mãe lavava roupa para fora, num tanque sob o sol, meu pai era por vezes operário, outras vezes entregador de café torrado e moido. Fui uma vez com ele à torrefação: o forte cheiro de café sendo torrado me deu um enjoo tão forte, que nunca tomei café, até a idade adulta.

        A frequência assídua na biblioteca não me impedia de trabalhar: pegar bolas de tênis no Clube Pinheiros, ou empacotar as compras em sacos de papel no supermercado Peg-Pag do começo da Marechal Floriano com a São Gabriel, só por gorgetas. Olhava cobiçoso os milk-shakes ou sorvetes de taça na esquina, mas nunca comprei com os meus tostões: tudo era entregue à minha mãe, para ajudar nas despesas da casa.

        Continuei lendo, intensamente, e a partir do meio do primário comecei a escrever, primeiro os trabalhos da escola, depois os resumos dos livros que lia. Tudo se perdeu, só sobrevivendo textos esparsos da fase ginasial. O grande impulso em meu futuro quase intelectual foi dado no Ginásio Estadual Vocacional Oswaldo Aranha, no Brooklin, um verdadeiro divisor de águas em minha vida. Tudo o que sou hoje, devo ao GEVOA, entre 1962 e 1965. 

        Minha primeira resenha “séria” já foi no colegial, com 15 ou 16 anos, um livro de Erich Fromm, publicada no boletim mimeografado do Colégio Estadual Ministro Costa Manso, ainda no Itaim. Trabalhando de dia, estudando à noite. Continuei lendo e escrevendo. Nunca mais parei. Hoje estou no trabalho de número 5080, com cerca de 1500 publicados, em todas as categorias. Milhares de páginas, manuscritas, datilografadas, digitadas, ou entrevistas gravadas, filmadas. Tudo agora para inserir em meu novo site pralmeida.net. Espero ter forças para fazê-lo. Não consigo parar de escrever.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 7/10/2025

A portuga por Tom Cardoso

 Minha mãe foi casada cinco vezes.


Um jornalista. Um economista. Um baterista do Raul Seixas. Um físico nuclear. Um artista plástico.


Na casa do marido economista, conheci a Conceição Tavares.


Uma vez por semana, ela chegava, sentava no sofá, acendia um cigarro, pegava o copo de uísque e começava a falar. Pelos cotovelos.


Pra mim, aquela portuga falava chinês. Boiava total.


No verão de 1990 eu tinha 17 anos e ainda cursava a oitava série.


Se tinha dificuldades com o bê ao quadrado menos quatro acê, imagina para entender o economês da época.


Uma cena e uma frase naquele sofá nunca saíram da minha cabeça.


A Conceição Tavares com o dedo na cara de uma loira dentuça, gritando:


 – Você vai é fuder com os pobres!!

 – Você vai é fuder com os pobres!!


 E um tiozinho de óculos, tentando evitar que a portuga batesse na dentuça.


Muitos anos depois, me dei conta que a dentuça era ninguém menos que a então Ministra Zélia Cardoso de Mello, responsável pelo pacote econômico batizado de Plano Collor - que, entre outras barbaridades, determinou o bloqueio das cadernetas de poupança.


O tiozinho: João Manuel Cardoso de Mello, primo da ministra da Fazenda e cunhado do meu padrasto.


Passaram-se 35 anos. 


Fui entrevistar a portuga do sofá para o Valor, no apartamento dela. 


E com quem ela falava, por telefone, aos berros? 


Fernando Haddad. 


“Ô Bonitão, os brasileiros estão morrendo de fome!!! . Déficit zero de cu é rola! ”


Parece história de pescador, mas não é. Desde que comecei na profissão, com 17 anos, presencio momentos assim. 


Foi pra mim, num encontro com um amigi em comum, Marcelo Yuka, que Mariele contou pela primeira vez que estava sendo ameaçado de morte por Carlos Bolsonaro, seu colega de câmera.


Deve ser sorte. Ou azar.


Maria da Conceição Tavares é personagem do meu livro “Vida de Gado - 30 anos pastando no jornalismo”, separado por verbetes de entrevistas que fiz e tentei fazer.


Quem quiser comprar diretamente com o autor é só dar um alô.

terça-feira, 7 de outubro de 2025

FMI Instabilidade cambial

 FMI alerta para vulnerabilidade crescente do mercado global de câmbio


Victor Rezende De São Paulo


 


O aumento da incerteza macrofinanceira, a expansão das instituições financeiras não bancárias e os riscos operacionais crescentes fazem com que o mercado global de câmbio fique exposto a choques adversos. O alerta é feito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que defende uma agenda de resiliência para o mercado global de câmbio que combine supervisão mais rigorosa, infraestrutura mais robusta e cooperação internacional para preservar a estabilidade do sistema financeiro global.


Em seu relatório de estabilidade financeira divulgado nesta terça-feira, o FMI avalia que as mudanças estruturais no mercado de câmbio, como a maior participação de instituições financeiras não bancárias e o crescimento das operações com derivativos, trazem benefícios, "mas também podem aumentar a vulnerabilidade do mercado de câmbio a choques adversos", ainda que esse mercado seja o maior e mais líquido do mundo, com US$ 9,6 trilhões negociados diariamente.


"O uso crescente de derivativos de câmbio tem aumentado a liquidez e melhorado a gestão de riscos, ao permitir que as instituições protejam suas exposições cambiais e acessem financiamento em moeda estrangeira. No entanto, esse avanço também facilitou operações alavancadas e ampliou a interconectividade entre agentes financeiros", observa a instituição. E, em períodos de estresse, o FMI nota que chamadas de margem e processos forçados de desalavancagem "podem intensificar a volatilidade e pressionar a liquidez do mercado".


"Além disso, a opacidade dos mercados de derivativos de balcão ('tiver-the-counter", OTC), que dominam as operações de câmbio, dificulta o monitoramento de riscos por parte de reguladores e bancos centrais e pode mascarar o acúmulo de riscos sistêmicos", afirma o fundo.


O aumento da incerteza macrofinanceira pode pressionar as condições do mercado de câmbio e elevar, de maneira significativa, os custos de captação, reduzir a liquidez e ampliar a volatilidade. E, na avaliação do FMI, o impacto desses choques é mais acentuado nos mercados emergentes e nas moedas com alta participação de instituições financeiras não bancárias, redes concentradas de dealers e atividade mais intensa de hedge.


"Os efeitos dos choques são maiores para as moedas de mercados emergentes", diz o FMI. "Elas tendem a sofrer impactos mais fortes e persistentes após choques de incerteza, em todas as medidas de condições do mercado de câmbio. As bases entre as moedas (cross-currency bases) e os spreads de compra e venda (spreads bid-ask) se alargam, em média, mais do que o dobro dos valores estimados para as economias avançadas. Além disso, os efeitos sobre a volatilidade dos retornos cambiais excedentes também aumentam de forma significativa."


Há um apontamento, ainda, de que episódios de estresse nos mercados de câmbio podem se espalhar para outros ativos financeiros e apertar as condições financeiras, com eventuais riscos à estabilidade macrofinanceira, especialmente em países com grandes descasamentos cambiais e vulnerabilidades fiscais.


Entre as principais recomendações feitas pelo FMI, estão um aprimoramento da supervisão dos mercados, "com monitoramento dos riscos sistêmicos, testes de estresse e análises de cenários que capturem choques de liquidez e seus efeitos de transbordamento". Além disso, para o fundo, é necessário fechar lacunas de dados sobre o mercado de câmbio e melhorar a transparência, especialmente em relação a instituições financeiras não bancárias.


Há outros pontos levantados pela instituição, como garantir buffers de liquidez e capital que tenham apoio de mecanismos eficazes de proteção, como acesso à liquidez de bancos centrais com supervisão adequada, reservas internacionais suficientes e linhas de swap ampliadas entre bancos centrais. Além disso, o FMI diz ser necessário fortalecer a resiliência operacional de infraestruturas do mercado financeiro e reduzir os riscos de liquidação e ineficiências do mercado nas operações de câmbio OTC. 07/10/2025 10:01:04

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: O governo dos EUA continua parcialmente encerrado e não parece que irá reabrir brevemente. O recém-nomeado PM francês demite-se, mas para o mercado não faz diferença e as bolsas continuam a subir. Europa um pouco frágil, mas só como reação contrária de descanso depois de ter subido também na sexta-feira pelo 6.º dia consecutivo. AMD anima (ainda mais) a tecnologia e Naturgy coloca3,5% que tinha em autocarteira (desconto de quase 4%). Pelo menos os futuros vêm mais fracos hoje, retrocedendo ca.-0,1%/-0,2%, portanto seria bom que descansasse um pouco numa semana sem graça por falta de referências.


GEOPOLÍTICA. 

FRA: O seu novo PM (Lecornu) demite-se, nomeado há apenas 1 mês por Macron. Isto volta a trazer a possibilidade de eleições parlamentares, visto que é o terceiro a demitir-se desde que Macron convocou, imprudentemente, eleições antecipadas em julho de 2024, para perder (venceu a Nova Frente Popular)… e nada mais, nada menos do que o 7.º PM com Macron, que é Presidente desde 2017. A bolsa francesa caiu ontem -1,4%, que não é muito, porque as suas obrigações aguentaram bem (O10A 3,58%, que é a mesma que a italiana).


EMPRESAS. 

AMD subiu ca.+20% (embora na sessão tenha chegado a subir quase +35%) ao fechar um acordo com OpenAI (Altman; Microsoft) para proporcionar-lhe chips por 100.000 M$ em 4 anos, que inclui a opção desta última para comprar até 10% de AMD em várias secções, em função do cumprimento futuro de uma série de marcos de negócio, o mais “barato” dos quais será a 0,01 $/ação vs. 203,71 $ fecho ontem. AMD já tem produzido chips para OpenAI (o MI450 e outros).


NATURGY colocou 3,5% do seu capital que tinha em autocarteira a 25,90 €/ação, um desconto de 3,9% sobre o fecho de ontem (26,94 €/ação). O seu free-float sobe desde 15% até 18,5%, que é o objetivo aparente desta colocação. Esta empresa é quase uma obrigação pela estabilidade do seu negócio e porque a sua rentabilidade por dividendo é de 6,3%, o que inclui um prémio de risco corporativo de ca. 300 p.b. (6,3% - 3,3% de yield da O10A ESP).


CONCLUSÃO: Hoje não sai macro relevante, mas falam 4 conselheiros da Fed: às 15 h, Bostic, 15:05h Bowman, 15:45h Miran (o mais “perigoso”) e, às 16:30 h, Kashkari. Isto poderá dar algum jogo a uma sessão carente de referências, na qual encaixaria perfeitamente um descanso passageiro. Com os eventos geopolíticos que já se tinham materializado (FRA, JPN), estamos à espera de uma reabertura do governo dos EUA, que tardará a chegar… sem que quase não afete o mercado. O desenvolvimento mais provável para hoje é aplanamento aborrecido e obrigações quase fixadas em intervalos muito fechados.


NY +0,4% US tech +0,8% US semis +2,9% UEM -0,4% España -0,2% VIX 16,4% Bund 2,72% T-Note 4,15% Spread 2A-10A USA=+56pb B10A: ESP 3,26% PT 3,12% FRA 3,58% ITA 3,58% Euribor 12m 2,226% (fut.2,270%) USD 1,169 JPY 176,0 Ouro 3.964$ Brent 65,7$ WTI 61,9$ Bitcoin +0,6% (124.283$) Ether +3,7% (4.694$) 


FIM

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: A química está dando resultados*


O dia tem entrevista de Haddad, divulgação do IGP-DI e falas de quatro dirigentes do Fed


… Sem dados nos Estados Unidos, com o shutdown ainda sem uma solução, os investidores em Nova York acompanham hoje as falas de quatro dirigentes do Fed no final da manhã, além de mais um discurso de Lagarde (BCE). Aqui, o dia começa com uma entrevista de Haddad no programa Bom Dia, Ministro e a divulgação do IGP-DI, que deve acelerar em setembro. No Congresso, o desafio do governo é votar a Medida Provisória do IOF, que representa R$ 20 bilhões em arrecadação e já está no Orçamento deste ano. Perde a validade amanhã. Mas o que continua rendendo no noticiário é a conversa entre Lula e Trump, que renovou a expectativa de um acordo comercial e revisão de tarifas.


BEST FRIENDS – Sem que ninguém soubesse que haveria um telefonema, Lula e Trump conversaram por meia hora na manhã desta segunda-feira, e concordaram em se encontrar pessoalmente, em uma agenda que deve ter data e local divulgados em breve.


… O Planalto divulgou trechos importantes da conversa, como o pedido de Lula ao presidente Trump para zerar a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e rever as punições a autoridades e ministros do STF, como Alexandre de Moraes, atingido pela Lei Magnitsky.


… Trump também falou sobre o contato, indo à sua rede social para dizer que teve uma conversa “muito boa” com o presidente brasileiro sobre economia e o comércio entre os dois países, e que deve se encontrar com Lula “em um futuro não tão distante”.


… Pouco depois, questionado pelos jornalistas da Casa Branca, Trump elogiou Lula, dizendo que ele é uma “ótima pessoa”, que os dois países vão “começar a fazer negócios” e que, “em algum momento, Lula virá aos Estados Unidos e eu irei ao Brasil”.


… Em entrevista à TV Mirante, afiliada da Rede Globo no Maranhão, Lula disse ter ficado “bastante surpreso com a cordialidade de Trump”.


… “Eu falei para ele: olha, presidente, eu não sei quais são as informações que o senhor tem sobre o Brasil, mas é importante que a gente converse olho no olho para a gente mostrar o que está acontecendo. Eu acho que as coisas ficaram mais claras e que ele entendeu.”


… Lula contou até mesmo que os dois trocaram telefones pessoais para que possam falar sem intermediários. “Se eu tiver que tratar com Trump e ele comigo, a gente pega o telefone, liga um para o outro e coloca o assunto na mesa.”


… Lula revelou ainda que a situação de Jair Bolsonaro não foi discutida nem por ele e nem pelo presidente Trump.


… Trump designou o secretário de Estado americano, Marco Rubio, para dar sequência às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin, com o ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.


… A escolha de Rubio foi recebida com preocupação por algumas pessoas, já que o secretário agiu para punir o Brasil em articulação com Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, que mal disfarçaram a dor de cotovelo com mais essa aproximação entre Trump e Lula.


… Eduardo disse que a escolha de Rubio foi “um golaço”, que ele “não cairá no papo de independência de um Judiciário aparelhado”, mas o STF tem outra opinião. Ministros da Corte ouvidos pelo Valor acreditam que Eduardo ficou “ainda mais isolado”.


… Representantes do setor privado consultados pelo jornal exibiram um otimismo cauteloso, avaliando que, para que o tarifaço possa ir à mesa, será necessário incluir os secretários de Comércio, Howard Lutnick, ou do Tesouro, Scott Bessent.


… O Itamaraty concorda que Rubio é visto como um político “linha dura” em relação aos regimes de esquerda da América Latina, mais alinhado aos bolsonaristas, mas os diplomatas acreditam que ele seguirá as instruções que receber do presidente Trump.


… No mercado, o novo contato entre Trump e Lula – explorado politicamente pelo Planalto – foi recebido sem entusiasmo, do mesmo modo que todas as notícias que favorecem as chances de reeleição. A Faria Lima ainda torce pela alternância de poder em 2026.


MP DO IOF – Na véspera de caducar a Medida Provisória apresentada com alternativas ao aumento do IOF, o ministro Haddad reuniu-se ontem à noite com o presidente da Câmara, Hugo Motta, na tentativa de garantir que ela seja aprovada hoje.


… Após vários adiamentos, a votação da MP 1.303 na comissão mista está marcada para esta terça-feira e a esperança do relator, o deputado Carlos Zarattini (PT), é que o texto seja também levado ao plenário, deixando o último dia para a votação no Senado.


… Zarattini já fez as concessões que representam as maiores resistências da bancada ruralista e do setor imobiliário, isentando as LCAs e LCIs. Se a MP não for votada nas duas Casas até amanhã, quarta-feira, perde a validade.


… Ao Valor, Hugo Motta sinalizou uma tendência pela alteração do texto, que enfrenta resistência no Centrão e na oposição.


IR NO SENADO – Já o projeto que isenta do Imposto de Renda os contribuintes que ganham até R$ 5 mil mensais, aprovado por unanimidade na Câmara, começa a avançar no Senado. Alcolumbre deve indicar hoje o calendário e quem será o relator.


… O presidente do Senado deve se reunir com o senador Renan Calheiros (MDB), principal cotado para assumir a relatoria do projeto.


… Haddad disse que vê “grande simpatia” do presidente do Senado pelo projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda. Em entrevista à TV Record, nesta segunda-feira, o ministro disse ter “certeza de que os senadores vão fazer exatamente o que os deputados fizeram”.


REFORMA ADMINISTRATIVA – O coordenador do grupo de reforma administrativa na Câmara e relator da proposta, deputado federal Pedro Paulo (PSD), reconheceu a necessidade de um longo debate sobre o tema, mas considera possível a aprovação ainda este ano.


… A sugestão dele é acoplar o projeto em uma Proposta de Emenda Constitucional já em tramitação. Segundo ele, existem cerca de 30 PECs em temas correlatos à reforma administrativa, que poderiam ser usados nesta estratégia para acelerar a aprovação do tema.


… Ao falar sobre a reforma administrativa em um evento no Rio, Pedro Paulo comentou que a Câmara “está muito machucada” e os deputados estão à flor da pele. “O deputado não quer colocar a digital em nenhum projeto sem a percepção plena de que aquilo é bom.”


FUFUCA – No movimento de desembarque dos partidos do Centrão do governo Lula, o ministro Esporte, André Fufuca (PP), recebeu um ultimato do seu partido para sair até esta terça-feira. Mas, pelo visto, a vontade é ficar e desobedecer a Ciro Nogueira.


… Ao lado do presidente no Maranhão, Fufuca disse que é uma “honra” estar no governo, que cometeu um erro em 2022 ao apoiar Bolsonaro, mas que, em 2026, estará ao lado de Lula. “Eu falo em alto e bom som: eu tô com Lula.”


SHUTDOWN – Em nova votação ontem à noite, o Senado dos Estados Unidos rejeitou mais uma proposta que encerraria a paralisação do governo americano, mesmo após Trump ter dito que “as negociações com os democratas sobre os planos de saúde estão em andamento”.


… Os democratas estão exigindo que o Congresso estenda os benefícios de saúde, enquanto os republicanos tentam esgotá-los com a votação diária do projeto de lei aprovado pela Câmara que reabriria o governo temporariamente, principalmente nos níveis de gastos atuais.


… Mais cedo, Trump publicou na Truth Social que estava disposto a trabalhar em “políticas de saúde fracassadas”, mas disse que os democratas deveriam permitir que o governo retome as atividades e encerre o shutdown. “Deveriam abrir nosso governo esta noite!”


… O líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, disse que, se Trump finalmente estiver pronto para trabalhar com os democratas “estaremos à mesa.”


TARIFAS – Em outra postagem em sua rede social, Trump confirmou que, a partir de 1º de novembro, todos os caminhões médios e pesados provenientes de outros países que entrarem nos Estados Unidos serão taxados à alíquota de 25%.


AGENDA – No escuro em relação aos indicadores por causa do shutdown, o mercado confere as participações em eventos de dois Fed boys que votam este ano: Michelle Bowman (11h05) e Stephen Miran (11h45 e 17h05).


… Ainda hoje, falam Raphael Bostic (11h) e Neel Kashkari (12h30), estes sem direito a voto pelo sistema de rodízio.


… À tarde (16h), o Fed divulga o crédito ao consumidor em agosto. Na França, Christine Lagarde discursa em evento às 13h10, um dia depois de ter reafirmado que o BC não tem compromisso prévio com uma trajetória de juros.


… Segundo ela, as decisões de política monetária continuam dependentes de dados e serão definidas a cada reunião. Lagarde acredita que o processo de desinflação terminou e que a taxa deve permanecer em torno de 2%.


… Na Ásia, as bolsas da China, Coreia do Sul e Hong Kong seguem fechadas para feriados.


AQUI – Haddad participa às 8h do programa “Bom dia, Ministro”, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).


… No mesmo horário, a FGV divulga o IGP-DI, que deve acelerar de 0,20% em agosto para 0,42% em setembro. O intervalo das estimativas para esta leitura varia de 0,33% a 0,65% no Projeções Broadcast.


… A alta dos preços agropecuários no atacado deve sustentar o ganho de fôlego do dado de inflação.


CONQUISTANDO CORAÇÕES – Rolou de novo a química entre Trump e Lula no telefonema, sem maior entusiasmo, no entanto, no mercado. O câmbio foi o que melhor reagiu. Mesmo assim, o dólar não conseguiu furar R$ 5,30.


… Na mínima intraday, parou em R$ 5,3087, indicando que tem aí um suporte à espera de novos gatilhos para ser quebrado. A moeda americana terminou o dia em queda moderada de 0,49%, a R$ 5,3107, desafiando a alta externa.


… No mesmo dia em que Lula explicou a Trump que o Brasil está em desvantagem na balança comercial, a pasta do Desenvolvimento informou que o déficit com os americanos no acumulado do ano praticamente quadruplicou.


… O valor passou de US$ 1,32 bilhões no período de janeiro a setembro do ano passado para US$ 5,1 bilhões. Considerando só setembro, o saldo negativo também aumentou, de US$ 573 mi em 2024 para US$ 1,77 bi agora.


… Ontem, além da aproximação diplomática entre a Casa Branca e o Planalto, o petróleo mais caro favoreceu o real. Ainda o carry trade, como sempre, vem garantindo o fôlego da moeda brasileira, com o BC que não tem pegado leve.


… “É hora de cerrar os dentes”, defendeu Galípolo ontem, quando questionado por Arminio Fraga, em evento, se o BC não deveria alongar o horizonte de convergência da inflação para não agravar o risco de dominância fiscal.


… Arminio sugeriu “dosimetria” na política monetária, enquanto Galípolo argumentou que, desde o início do ciclo, o Copom vem sendo gradual na definição da taxa Selic e que o ajuste do juro está agora em sua fase mais importante.


… Mantendo o discurso conservador, o presidente do BC afirmou que, com base no levantamento Focus, o IPCA não vai convergir à meta até 2028 e que o Copom não pode se desviar da busca pelo alvo central de 3% para a inflação.


… Horas depois, na entrevista à Record, Haddad disse que “alguns reputam, até exageradamente, pelo nível da taxa de juros”, que a inflação está em queda e que, talvez ainda este ano, o IPCA fique dentro da banda de 4,5%.


… Atualmente, o índice oficial acumula alta de 5,13% nos 12 meses encerrados em agosto. Na próxima quinta-feira, sai o IPCA de setembro. No Focus, a estimativa para o indicador este ano teve ajuste marginal, de 4,81% para 4,80%.


… As projeções para os próximos três anos ficaram inalteradas. A mediana das apostas prevê alta de 4,28% para o IPCA em 2026; de 3,9% em 2027; e de 3,7% para 2028, estourando, em todos os prazos, o target central de 3%.


… Diante da comunicação hawkish do BC e dos ruídos fiscais domésticos (reflexos da isenção do IR sobre o consumo e a inflação, além do projeto para zerar as tarifas dos ônibus urbanos), a curva do DI devolveu pouco prêmio ontem.


… O contrato de juro para Jan/26 ficou estável, em 14,898%; Jan/27 caiu a 14,105% (de 14,124% no ajuste anterior); Jan/29 recuou para 13,370% (de 13,425%); Jan/31, a 13,565% (de 13,615%); e Jan/33, a 13,670% (de 13,700%).


… Apesar das quedas tímidas, os juros futuros conseguiram operar descolados da alta da taxa dos Treasuries.


MON DIEU! – Lá fora, os retornos dos títulos do Tesouro americano subiram, de olho no salto dos yields dos bônus franceses, após a renúncia inesperada do primeiro ministro, Sébastien Lecornu, há menos de um mês no cargo.


… Nos últimos dois anos, a França já teve cinco primeiros-ministros, para dar a dimensão da crise política.


… A saída de Lecornu aumenta as chances de dissolução do Parlamento e consequente convocação de novas eleições. Líderes da oposição pedem que Macron renuncie, aprofundando ainda mais o colapso do governo.


… Em meio às turbulências, o juro da T-note de 2 anos subiu a 3,597%, de 3,575% no pregão de sexta-feira; a taxa de 10 anos avançou para 4,164%, de 4,120%; e o rendimento do T-bond de 30 anos aumentou para 4,756%, de 4,712%.


… No câmbio, o euro caiu 0,25%, para US$ 1,1716. A libra esterlina fechou praticamente estável (+0,03%), a US$ 1,3484. Quem levou uma surra ontem foi o iene, que afundou mais de 1,80%, negociado a 150,32 por dólar.


… O tombo da moeda japonesa levou o índice DXY a registrar uma valorização de 0,39%, para 98,108 pontos.


… O iene sentiu a vitória de Sanae Takaichi como líder do partido governista e sua provável indicação como primeira-ministra, apesar de ela ser defensora do expansionismo fiscal, o que pode pressionar o BoJ a subir os juros.


… Nos Estados Unidos, em discurso de tom mais duro, o Fed boy Jeffrey Schmid, que vota este ano, disse que a política monetária está “levemente restritiva” e que “este é o ponto certo em que devemos estar”.


… Em sua avaliação, o mercado de trabalho americano está esfriando, mas permanece saudável, enquanto a inflação continua muito alta e alimenta preocupações de que os aumentos de preços estejam se tornando generalizados.


… O alerta e o sexto dia de shutdown foram ignorados em Nova York pelo S&P 500 (+0,36%, a 6.740,28 pontos) e pelo Nasdaq (+0,71%, aos 22.941,67 pontos), que voltaram a renovar recordes com a onda da Inteligência Artificial.


… Destaque para a AMD, que disparou 23,71%, após anunciar parceria com a OpenAI para fornecimento de chips.


… O Dow Jones destoou das máximas históricas dos demais índices, mas caiu pouco, só 0,14%, a 46.694,97 pontos.


ACOMODADO – Descansando da sequência de recordes recentes que o levaram ao topo dos 146,5 mil pontos, o Ibovespa continua realizando lucro. Recuou 0,41% e entregou os 144 mil pontos (143.608), com giro de R$ 16,6 bi.


… Apesar da conversa amistosa entre Trump e Lula, o índice à vista perdeu força com a queda em bloco do setor financeiro e de Petrobras, mas limitou o ajuste negativo graças à forte alta de 1,71% da Vale, cotada a R$ 59,59.


… O papel está próximo de romper os R$ 60, marca vista pela última vez em janeiro do ano passado, segundo anotou o Broadcast. A ação ganhou impulso com o anúncio de que a mineradora irá recomprar debêntures participativas.


… Na contramão do petróleo, Petrobras PN recuou 0,90%, para R$ 30,72, e ON perdeu 0,57%, a R$ 32,88.


… O Brent para dezembro subiu 1,45%, a US$ 65,47, já que o aumento de produção decidido pela Opep+ no fim de semana, de 137 mil barris por dia a partir de novembro, ficou menor do que se especulava (até 500 mil barris).


… No setor financeiro, Bradesco reduziu as perdas, depois de ter caído quase 2% mais cedo. ON fechou em baixa de 0,82%, a R$ 14,59, e PN recuou 0,58% (R$ 17,00). Itaú devolveu 1,15% e terminou na mínima do dia, a R$ 37,77.


… Santander unit registrou desvalorização de 0,83%, para R$ 28,59, e BB ON perdeu 0,79%, a R$ 21,41.


… GPA subiu 2,08% com notícia de que a família Coelho Diniz conquistou espaço. Elegeu três representantes no conselho de administração, mais um membro independente e tem alinhamento com outro membro independente.


COMPANHIAS ABERTAS – PETROBRAS assinou cinco contratos de serviços, totalizando R$ 9,6 bilhões, para construção de unidades do Projeto Refino Boaventura…


… Objetivo é integrar o Complexo de Energias Boaventura, em Itaboraí (RJ), e a Refinaria Duque de Caxias.


JBS. Comunicou que a JBS N.V realizará leilão amanhã (quarta-feira) para vender BDRs oriundos das frações de ações da JBS remanescentes da incorporação de ações realizada no âmbito da dupla listagem, concluída em junho.


TELEFÔNICA aportou R$ 17 milhões e concluiu a reorganização societária na Vivae Educação Digital, companhia detida em conjunto com a Ânima Holding.


TAESA. BlackRock aumentou a participação acionária na companhia para 5,004%, passando a deter 22.158.456 de papéis preferenciais…


… Gestora não foi citada como detentora de participação relevante na companhia no formulário de referência mais recente, de 5 de setembro…


… Adicionalmente, BlackRock detém 2.369.743 de instrumentos financeiros derivativos referenciados em ações preferenciais com liquidação financeira.


VINCI COMPASS anunciou acordo para adquirir 50,1% da Verde Asset por R$ 46,8 mi, mais uma parte em ações…


… Depois de cinco anos, a empresa poderá adquirir a fatia restante por R$ 127,4 milhões, a depender do atingimento de determinadas condições (“earnout”).

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...