FMI alerta para vulnerabilidade crescente do mercado global de câmbio
Victor Rezende De São Paulo
O aumento da incerteza macrofinanceira, a expansão das instituições financeiras não bancárias e os riscos operacionais crescentes fazem com que o mercado global de câmbio fique exposto a choques adversos. O alerta é feito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que defende uma agenda de resiliência para o mercado global de câmbio que combine supervisão mais rigorosa, infraestrutura mais robusta e cooperação internacional para preservar a estabilidade do sistema financeiro global.
Em seu relatório de estabilidade financeira divulgado nesta terça-feira, o FMI avalia que as mudanças estruturais no mercado de câmbio, como a maior participação de instituições financeiras não bancárias e o crescimento das operações com derivativos, trazem benefícios, "mas também podem aumentar a vulnerabilidade do mercado de câmbio a choques adversos", ainda que esse mercado seja o maior e mais líquido do mundo, com US$ 9,6 trilhões negociados diariamente.
"O uso crescente de derivativos de câmbio tem aumentado a liquidez e melhorado a gestão de riscos, ao permitir que as instituições protejam suas exposições cambiais e acessem financiamento em moeda estrangeira. No entanto, esse avanço também facilitou operações alavancadas e ampliou a interconectividade entre agentes financeiros", observa a instituição. E, em períodos de estresse, o FMI nota que chamadas de margem e processos forçados de desalavancagem "podem intensificar a volatilidade e pressionar a liquidez do mercado".
"Além disso, a opacidade dos mercados de derivativos de balcão ('tiver-the-counter", OTC), que dominam as operações de câmbio, dificulta o monitoramento de riscos por parte de reguladores e bancos centrais e pode mascarar o acúmulo de riscos sistêmicos", afirma o fundo.
O aumento da incerteza macrofinanceira pode pressionar as condições do mercado de câmbio e elevar, de maneira significativa, os custos de captação, reduzir a liquidez e ampliar a volatilidade. E, na avaliação do FMI, o impacto desses choques é mais acentuado nos mercados emergentes e nas moedas com alta participação de instituições financeiras não bancárias, redes concentradas de dealers e atividade mais intensa de hedge.
"Os efeitos dos choques são maiores para as moedas de mercados emergentes", diz o FMI. "Elas tendem a sofrer impactos mais fortes e persistentes após choques de incerteza, em todas as medidas de condições do mercado de câmbio. As bases entre as moedas (cross-currency bases) e os spreads de compra e venda (spreads bid-ask) se alargam, em média, mais do que o dobro dos valores estimados para as economias avançadas. Além disso, os efeitos sobre a volatilidade dos retornos cambiais excedentes também aumentam de forma significativa."
Há um apontamento, ainda, de que episódios de estresse nos mercados de câmbio podem se espalhar para outros ativos financeiros e apertar as condições financeiras, com eventuais riscos à estabilidade macrofinanceira, especialmente em países com grandes descasamentos cambiais e vulnerabilidades fiscais.
Entre as principais recomendações feitas pelo FMI, estão um aprimoramento da supervisão dos mercados, "com monitoramento dos riscos sistêmicos, testes de estresse e análises de cenários que capturem choques de liquidez e seus efeitos de transbordamento". Além disso, para o fundo, é necessário fechar lacunas de dados sobre o mercado de câmbio e melhorar a transparência, especialmente em relação a instituições financeiras não bancárias.
Há outros pontos levantados pela instituição, como garantir buffers de liquidez e capital que tenham apoio de mecanismos eficazes de proteção, como acesso à liquidez de bancos centrais com supervisão adequada, reservas internacionais suficientes e linhas de swap ampliadas entre bancos centrais. Além disso, o FMI diz ser necessário fortalecer a resiliência operacional de infraestruturas do mercado financeiro e reduzir os riscos de liquidação e ineficiências do mercado nas operações de câmbio OTC. 07/10/2025 10:01:04
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