terça-feira, 8 de julho de 2025

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: Trump volta a escalar tensões comerciais*


Na agenda dos indicadores, o IBGE divulga hoje (9h) as vendas do varejo em maio


… A aversão ao risco volta a tomar conta dos mercados globais com a nova escalada das tensões comerciais, após Trump impor tarifas aos primeiros países que não negociaram acordos com os Estados Unidos, a começar pelo Japão (25%), avisando que, se houver retaliação, dobrará a aposta. As tarifas vigoram a partir de 1º de agosto, data definida como deadline para os demais parceiros. Nesta segunda-feira, 14 países receberam cartas com “ofertas finais”. Especulações de um acordo próximo com a União Europeia impulsionava o euro na abertura dos negócios. Trump também ameaça com uma taxa adicional de 10% aos governos que apoiarem as políticas “antiamericanas” dos Brics, o que pode atingir o Brasil, e ainda provocou criticando a “perseguição política” a Bolsonaro na sua rede social.


… Lula, que dava entrevista no encerramento da Cúpula do grupo no Rio, não entrou na pilha, dizendo que preferia não comentar o post. Mas não deixou de dizer que “esse País tem lei e que Trump deveria dar palpite na sua vida, e não na nossa”.


… No Globo, a atitude de Trump levou o bolsonarismo a apostar em sanções contra Alexandre Moraes (STF) “ainda nesta semana”. Já na Folha, Eduardo Bolsonaro disse que Trump “não joga palavras ao vento e que os próximos dias podem ter novidade”.


… A tarifa de 25% será aplicada sobre todos os produtos do Japão e da Coreia do Sul. Foram taxados ainda ontem: Laos e Mianmar (40%), Tailândia e Camboja (36%), Sérvia e Bangladesh (35%), Indonésia (32%), Bósnia (30%), Tunísia e Cazaquistão (25%) e Vietnã (20%).


… As tarifas para esses parceiros, especialmente para o Japão, poderão ser ajustadas, para cima ou para baixo, dependendo da abertura que o país der ao mercado americano. Para isso, as negociações deverão ser concluídas até o final do mês.


… Na cartas, o presidente adverte para barreiras tarifárias ou regulatórias que prejudicam os exportadores americanos, além de ameaçar contra retaliações: “se aumentarem as tarifas, o valor que escolherem será somado ao valor que cobramos”.


… O prazo para implementação das tarifas recíprocas foi estendido de 9 de julho para 1º de agosto em ordem executiva de Trump.


… Com relação à China, após o acordo preliminar sobre a questão das terras raras, a suspensão tarifária permanece em vigor até 12/8.


… A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse no briefing da tarde que o telefone de Trump “toca sem parar” com autoridades de diversos países “implorando” por um acordo. Bessent acredita que novos acordos serão anunciados nas próximas 48 horas.


… Especulações de que os Estados Unidos ofereceram um acordo à União Europeia que manteria a tarifa básica de 10% sobre os produtos do bloco, com algumas exceções a setores sensíveis, como aeronaves e bebidas alcoólicas, impulsionam o euro no fim do dia.


… Um acordo nesses termos permitiria às montadoras que produzem carros nos Estados Unidos importar mais carros da União Europeia com tarifas abaixo de 2%, removendo a taxa de 10% em vigor durante a trégua dos 90 dias.


AMEAÇA AOS BRICS – Trump acabou roubando a cena no último dia da Cúpula dos Brics, no Rio, após ameaçar na sua Truth Social com a tarifa adicional de 10% para “qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do grupo; não haverá exceções”.


… No encontro, apesar de os países integrantes do bloco sinalizarem sérias preocupações com as medidas protecionistas e unilaterais de comércio, em referência à guerra tarifária dos Estados Unidos, todos tiveram o cuidado de não citar Trump nominalmente.


… Representantes dos governos da China, Rússia e África do Sul responderam à ameaça, mas todos pegaram leve.


… Em nota, os chineses disseram que Pequim “sempre se opôs a guerras tarifárias e comerciais, e ao uso de tarifas como ferramentas de coerção e pressão”, acrescentando que o Brics “não está contra nenhum país”.


… Também o Kremlin afirmou que o Brics apenas atua em torno dos seus próprios interesses, compartilhando uma “visão comum” de cooperação global, mas “não está, e nunca estará, direcionado contra países terceiros”.


… Já a África do Sul disse que o país ainda pretende negociar tarifas com Trump, esclareceu que não possui uma postura antiamericana e que as conversas sobre um acordo comercial com os Estados Unidos seguem “construtivas e frutíferas”.


… O Brasil, anfitrião da Cúpula, parece ter tido a reação mais assertiva, com Lula dizendo que não acha uma “coisa responsável e séria o presidente de um país como os Estados Unidos ficar ameaçando o mundo pela internet”.


… “Não queremos um imperador; países são soberanos. Se ele quer taxar, os países poderão taxar também pela reciprocidade. As pessoas têm que aprender que respeito é bom, que a gente gosta de dar e receber. Precisam entender o respeito da palavra soberania.”


… Também o embaixador Celso Amorim falou um tom acima, dizendo que as tarifas “têm de ser negociadas, não impostas”, obedecendo às regras da OMC. Depois, sugeriu que a ameaça poderia ser bravata: “Muitas advertências feitas por Trump não prosperaram.”


BRASIL NO ALVO – Um tema que deixa Trump furioso, a adoção de uma moeda alternativa em transações internacionais, foi tratado por Lula na Cúpula, quando disse que “o mundo precisa achar um jeito de fazer a relação comercial sem passar pelo dólar”.


… “Quando for com os Estados Unidos, ela passa pelo dólar, mas quando for com a Argentina, não precisa passar, quando for com a China, não precisa passar, quando for com a Índia, não precisa passar. Quando for com a Europa, discute-se em euro.”


… Lula ainda disse que “ninguém determinou que o dólar é a moeda padrão”. “Em que fórum foi determinado isso?”


… Em entrevista ao Broadcast, o chefe de títulos soberanos da AL da Fitch Ratings, Todd Martinez, disse que o “Brasil é certamente um dos países dos Brics que pode ser atingido pela ameaça de Trump, por estar ideologicamente alinhado com o seu governo”.


NOBEL DA PAZ – Em visita a Washington para tratar de um cessar-fogo com o Hamas, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que escreveu ao Comitê Nobel da Paz para indicar Trump ao prêmio por ter acabado com o programa nuclear iraniano.


… Em coletiva antes de um jantar oferecido a Bibi na Casa Branca, Trump afirmou que o Hamas procurou um encontro e um acordo para o cessar-fogo entre Israel e a Faixa de Gaza, dizendo que as negociações “estão tendo um bom progresso”.


… Em relação à guerra na Ucrânia, Trump voltou a dizer que está “infeliz” com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e que os Estados Unidos enviarão mais armas para o governo de Zelensky, pois “eles têm o direito de se defender”.


MAIS AGENDA – O IBGE divulga hoje (9h) as vendas do varejo em maio, com a mediana das estimativas apontando para uma expansão de 0,20% no conceito restrito (pesquisa Broadcast), após ter registrado queda de 0,40% em abril.


… Na comparação com maio de 2024, porém, a mediana indica alta de 2,5%, desacelerando em relação a base anual em abril (4,8%).


… Economistas atribuem a reação na margem à distorção do ajuste sazonal da série, mas também aos dados antecedentes positivos para o mês, em especial, o segmento de produtos farmacêuticos, com um crescimento estimado de quase 3%.


… Já o varejo ampliado deve crescer 1%, após queda de 1,9% em abril, com venda de veículos e materiais de construção puxando a alta.


… Antes (8h), a FGV divulga a primeira quadrissemana de julho do IPC-S.


… Às 12h, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, participa de almoço da Frente Parlamentar Mista do Empreendedorismo e do Instituto Unidos Brasil e, às 14h, o ministro Fernando Haddad deve participar de audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara.


NOVA EMISSÃO – Na Reuters, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que o Brasil deve voltar ao mercado externo de dívida ainda este ano “depois das emissões bem-sucedidas” no primeiro semestre.


… Segundo Ceron, há possibilidade de emissão dos chamados bônus sustentáveis.


NA POLÍTICA – No Senado, Davi Alcolumbre pautou para hoje projeto para legalização dos cassinos no Brasil.


… Já o presidente da Câmara, Hugo Motta, destravou as emendas de comissão e distribui R$ 11 milhões extras por deputado, segundo a Folha apurou. Cada parlamentar poderá apadrinhar o valor adicional, além dos R$ 37 milhões das emendas individuais.


… Ainda na Folha, Lula decide não sancionar o projeto que aumentou o número de deputados de 513 para 531.


… Segundo a colunista Mônica Bergamo, o presidente ainda estuda se irá vetar ou deixar para promulgação do presidente do Congresso.


EÓLICAS OFFSHORE – Ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse ao Roda Viva, ontem à noite, que o governo deve publicar nesta semana MP que será uma alternativa aos vetos do presidente ao marco legal das eólicas offshore, derrubados pelo Congresso.


… Segundo o ministro, o governo entende que os trechos vetados por Lula buscam impedir que as contas de luz fiquem mais caras, com o objetivo de proteger a classe baixa e a classe média dos impactos do marco legal da proposta.


VAMOS CONVERSAR – Sobre o impasse do IOF, Costa disse que o governo deverá reabrir nos próximos dias o diálogo com os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre. “Eu acho que é plenamente possível repactuar a relação.”


… A audiência de conciliação entre governo e Congresso foi marcada por Alexandre de Moraes (STF) para o dia 15 de julho.


LÁ FORA – A agenda é mais fraca, com os resultados da balança comercial na Alemanha e França de madrugada e, nos Estados Unidos, expectativas de inflação do consumidor em junho (12h), crédito ao consumidor de maio (16h) e estoques de petróleo da API (17h30).


… No final da noite (22h30), saem os índices de inflação ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) de junho na China.


OS CAPRICHOS DE TRUMP – A escalada protecionista de um contra todos e a extensão por três semanas do deadline para os parceiros comerciais negociarem acordos (prolongando a agonia) sacodiram o mundo.


… À medida que o presidente americano postava na rede social as cartas com as tarifas, os mercados pioravam.


… Aqui, o câmbio ampliou a pressão no pregão estendido, com o contrato do dólar futuro para agosto acelerando 1,22%, a R$ 5,5210, depois de já ter subido 0,98% nas negociações à vista, cotado a R$ 5,4778.


… Também as ameaças diretas de Trump aos Brics trouxeram cautela redobrada para o real, que na semana passada havia vivido uma onda importante de apreciação, conquistando espaços que não via há quase um ano.  


… Trump melou ontem a chance de continuidade do alívio do dólar, embora esta guerra tarifária seja tão cheia de reviravoltas, que não é impossível que o investidor absorva a tensão e volte a focar na Selic e no Fed.


… Sem efeito nos negócios ontem, a balança comercial brasileira registrou superávit comercial de US$ 1,301 bilhão na primeira semana de julho, com exportações de US$ 5,930 bilhões e importações de US$ 4,629 bilhões.


… No ano, o superávit acumulado é de US$ 31,393 bilhões. Semana passada, o Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio cortou a projeção do saldo comercial de 2025 de US$ 70,2 bilhões para US$ 50,4 bilhões.


… Com o trator de Trump passando por cima do Japão, o iene derreteu a 146,96/US$. Também as moedas europeias se deram mal, enquanto o BCE alertava que as políticas comerciais elevam os riscos à estabilidade financeira.


… O euro caiu 0,51%, a US$ 1,1725, e a libra perdeu 0,27%, a US$ 1,3613, abrindo caminho de alta ao DXY (+0,30%; 97,48 pontos). Mas analistas do BBH dizem que a tendência de baixa do dólar permanece, que a reação foi pontual.


… Se já era improvável a chance de o Fed começar a cortar o juro ainda este mês, agora com o impulso tarifário exibido por Trump nas cartas à lista de países é que esta probabilidade se tornou ainda mais isolada (menos de 5%).


… Na ferramenta do CME, a chance de flexibilização em setembro caiu de leve (de 68,1% para 64,7%), mas ainda é forte. O Goldman Sachs, que só esperava a retomada dos cortes em dezembro, antecipou sua aposta para setembro.


… O banco ficou mais dovish depois que, recentemente, o PCE indicou repasse menor das tarifas sobre os preços.


SEM SAÍDA – A curva do DI não teve ontem para onde correr, com o dólar mais caro e os juros dos Treasuries também pressionados pela ofensiva de Trump, muito disposto a continuar levando a guerra comercial longe demais.


… Sob todo o estresse, a segunda deflação seguida do IGP-DI em junho (-1,80%) não aliviou nem os juros curtos, mas reportagem do Broadcast aponta que o indicador pode ser um bom prognóstico para o IPCA, que sai quinta-feira.


… Segundo a matéria, a pressão de baixa vinda dos IGPs, somada ao movimento de valorização cambial e aos efeitos da Selic a 15% (maior nível desde 2006), deve seguir contribuindo para novas surpresas de inflação mais moderada.


… O BC vai vencendo a batalha das expectativas do mercado: no Focus, a mediana das previsões para o IPCA do ano teve a sexta baixa consecutiva, de 5,20% para 5,18%. Há um mês, o consenso de analistas estava em 5,44%.


… Embora a inflação siga rodando 0,68 ponto porcentual acima do teto da meta, de 4,50%, é um alívio ver as projeções caindo toda semana. A dúvida é se a convicção do Copom de Selic estável por muito tempo será abalada.


… No fechamento, o DI para Jan/26 subia para 14,925% (contra 14,921% no ajuste anterior); Jan/27 avançava para 14,220% (de 14,174%); Jan/29, a 13,340% (de 13,226%); Jan/31, a 13,430% (13,300%); e Jan/33, 13,480% (13,358%).


… De olho no potencial impacto sobre a inflação da rodada de tarifas de Trump, as taxas dos Treasuries avançaram. O juro da Note-2 anos foi a 3,896%, de 3,883% antes do feriado de 4 de Julho, e o de 10 anos, a 4,386%, de 4,346%.


… Risk-off foi a palavra de ordem ontem nas bolsas globais. O índice Dow Jones fechou em queda de 0,94%, aos 44.406,36 pontos; o S&P 500 perdeu 0,79%, aos 6.229,98 pontos; e o Nasdaq caiu 0,92%, aos 20.412,52 pontos.


… As ações da Tesla derreterem quase 7% com a novidade de Musk, agora com planos de lançar um novo partido político nos EUA, depois da ruptura com Trump por causa da forte oposição ao projeto de lei fiscal (Big Beautiful Bill).


… Investidores torciam para que Musk se mantivesse afastado da política, depois da passagem pelo Departamento de Eficiência Governamental (Doge), e que ele se dedicasse integralmente à montadora de veículos elétricos.


ESTRAGA-PRAZER – Trump acabou ontem com a festa do Ibovespa, que vinha de dois pregões seguidos de recordes, mas caiu 1,26% e perdeu os 140 mil pontos, negociado no fechamento a 139.489,70 pontos, com giro de R$ 17 bi.


… O estrago foi generalizado e apenas 13 ações do índice à vista da bolsa doméstica escaparam de cair. Não foi o caso das blue chips das commodities. Alinhada à queda de 0,68% do minério, Vale ON recuou 1,47%, para R$ 54,39.


… Usiminas PNA (-1,79%), CSN Mineração (-1,72%) e CSN (-1,10%) também sentiram o baque das tarifas.


… Petrobras ON caiu 0,68% (R$ 34,91) e a PN recuou 0,19% (R$ 32,06), descoladas do petróleo, que subiu mesmo com o aumento da produção da Opep acima do esperado e a perspectiva de nova oferta extra para setembro.


… Na próxima reunião do cartel, no dia 3 de agosto, fontes da Reuters antecipam que pode ser aprovada uma elevação adicional de 550 mil barris por dia, contra os 548 mil barris por dia já acertados durante o final de semana.


… O contrato do petróleo Brent para setembro avançou 1,87% ontem, para US$ 69,58 na ICE londrina.


… Entre os bancos, ninguém se salvou ontem no Ibovespa. Itaú perdeu 1,33%, a R$ 37,23; Bradesco PN caiu 0,96%, a R$ 16,51; Bradesco ON recuou 1,17%, a R$ 14,24; Santander unit, -1,33%, a R$ 28,93; e BB ON, -1,65%, a R$ 22,06.


EM TEMPO… CARREFOUR anunciou a troca de comando da operação brasileira, que está em processo de deslistagem da bolsa, apurou o Brazil Journal…


… O atual CEO, Stéphane Maquaire, deixará o cargo na semana que vem, e será substituído pelo atual COO, o argentino Pablo Lorenzo, que será também o CEO da América Latina.


OI protocolou uma petição junto à Corte de Falências do Distrito Sul de Nova York para rescindir o reconhecimento da recuperação judicial nos Estados Unidos e extinguir os processos de Chapter 15 em andamento…


… O Chapter 15 trata de casos de empresas internacionais com dificuldades de solvência.


HYPERA comunicou novo acordo de acionistas envolvendo João Alves de Queiroz Filho, fundador da companhia, Alvaro Stainfeld Link, a holding mexicana Maiorem e a Votorantim, que compõe o novo bloco de controle…


… Acordo regula o exercício de direitos políticos e patrimoniais desses acionistas e estabelece que o novo bloco de controle passa a deter 53% do capital social da Hypera.


KLABIN realizou a liquidação antecipada parcial de contrato de empréstimo sindicalizado, no valor de US$ 150 milhões; prazo para a quitação do débito estava previsto para se encerrar em 2028.

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: O mais relevante desta semana é que não há nada verdadeiramente relevante a sair, nem ao nível macroeconómico, nem ao nível corporativo. Portanto, resta esperar e refletir. Estas são datas sazonalmente delicadas, pois a atividade e o volume de negociação começam a diminuir. Isto verifica-se sobretudo no final de julho, mas começa a notar-se já a partir de meados do mês, ou seja, já na próxima semana.


Começamos esta segunda-feira com uma Produção Industrial na Alemanha melhor do que o esperado: +1,2% m/m vs -1,6% em abril. Os preços das casas no Reino Unido sobem de forma razoável e estabilizam: repetem +2,5% (junho). A OPEP+ vai aumentar a produção em +548.000 b/d a partir de 1 de agosto, acima dos aumentos de maio, junho e julho (+411.000 b/d). Por isso, o Brent recua -0,4% e o WTI -1,1%. O Plano Fiscal de Trump foi aprovado, pois é altamente improvável que a Câmara dos Representantes o rejeite na votação final de retorno. São mais 3,4 mil milhões de dólares em 10 anos, sobre os 36,2 mil milhões de dívida atualmente (cerca de 120% do PIB). No entanto, como será ao longo de 10 anos, pressupõe-se que o PIB aumente cerca de +20% face a cerca de +10% da dívida, pelo que não é motivo de preocupação neste momento.


Hoje saem alguns dados na UEM: (i)9h30: Confiança do Investidor Sentix (+1,1 esperado vs +0,2); 10h00: Vendas a Retalho (+1,2% esperado vs +2,3%). Tudo isto contribui para um fundo de mercado com tom construtivo, mas não o movimenta de forma significativa.


Identificamos 2 referências a ter em conta: (i) O "catch-up" de Wall St face à Europa: na semana passada, NY +1,2% vs -0,3% Europa (bolsas) e em junho +5% vs -1,2%. Maio foi um bom mês para as bolsas em ambos os casos, mas melhor para NY (+6,2%) do que para a Europa (+4%). Faz sentido que este "catch-up" continue, tendo em conta a diferente evolução dos lucros empresariais para 2025: +9,3% EUA vs +0,5% UEM vs -0,7% UE. (ii) A nova confusão sobre a data de comunicação e/ou aplicação das tarifas americanas. Agora, parece que, em vez de serem todas esclarecidas a 9 de julho, algumas são adiadas para 1 de agosto. A comunicação, pois a aplicação parece que será em todos os casos a 1 de agosto. Parece que o 1 de agosto se aplica não só à China (o único já conhecido), mas também aos países com os quais não se tenha chegado a acordo negociado, ou seja, àqueles que receberem uma tarifa imposta mais elevada.


CONCLUSÃO: Sessão de prováveis recuos (NY -0,5% e Europa -0,2%?) devido à extensão da incerteza no front comercial (tudo muda e volta a mudar, adia-se e volta a adiar-se) e, sobretudo, às datas delicadas em que entramos devido à redução dos volumes com a chegada do verão. A pressão da elevada liquidez é o principal suporte do mercado, mas o teste de realidade chega agora. Assim aconteceu em 2024 e 2023. Em 2024, Wall St. caiu -6% entre 31 de julho e 5 de agosto (-13% nos semicondutores) e a recuperação deu-se em apenas 15 dias, mas em 2023 caiu -5% (semis -10%) entre 31 de julho e 18 de agosto e só recuperou em dezembro. Se algo semelhante acontecer este ano, aproveitaríamos para comprar tecnologia (semis, cibersegurança, 7 Magníficas, defesa) e Índia a preços mais atrativos.


NY fechado. ES50 -1% IBEX -1,5% VIX 17,8% Bund 2,56% T-Note 4,33% Spread 2A-10A EUA = +47pb O10A: ESP 3,21% PT 3,04% FRA 3,27% ITA 3,47% Euribor 12m 2,063% (fut.2,042%) USD 1,177 JPY 170,6 Ouro 3.312$ Brent 68,0$ WTI 66,3$ Bitcoin +0,4% (109.137$) Ether +1% (2.572$).


FIM

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: Prazo final de acordo tarifário pode ser estendido*


Na agenda dos indicadores, saem na semana a ata do Fed, dados da China e, no Brasil, o IPCA de junho, vendas no varejo, volume de serviços e, hoje, o IGP-DI


… Vence nesta quarta-feira o deadline aos países que ainda não fecharam acordos comerciais com os Estados Unidos – ou quase todos. A chance de o prazo ser estendido é grande. Bessent indicou que quem não chegar a um acordo agora terá a opção de extensão de três semanas para negociar. Trump já assinou (e vai mandar hoje) 12 ou 15 cartas aos parceiros que ainda não fizeram propostas, com sugestões de tarifas no estilo “pegar ou largar”. Ele também espera fechar acordo de cessar-fogo em Gaza nesta semana e retomar as negociações nucleares com o Irã. Aqui, a crise entre Congresso e governo entrou em stand-by, após Moraes suspender os atos sobre IOF e marcar audiência de conciliação para dia 15. Na agenda dos indicadores, saem a ata do Fed, dados da China e, no Brasil, o IPCA de junho, vendas no varejo, volume de serviços e, hoje, o IGP-DI, com forte deflação.


… O Ibovespa funciona normalmente no feriado de 9 de Julho em SP, mas desde já o noticiário das tarifas domina o cenário dos negócios.


… Ainda na semana passada, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que esperava uma “chuva” de acordos antes do prazo final para as negociações, com o possível retorno das tarifas “recíprocas” estabelecidas no Liberation Day, em 2 de abril.


… Mas, até agora, a Casa Branca anunciou só dois acordos comerciais: com o Reino Unido, que ainda tem pendências a serem resolvidas, e com o Vietnã. Especulações apontam que a Índia deve ser o próximo país a anunciar um acerto.


… Com os países e regiões mais relevantes, entretanto, ainda não há sinais de avanço firme. Na União Europeia, há relatos de que o bloco talvez aceite a taxa recíproca atual de 10%. Com o Japão, as conversas prosseguiram no fim de semana, ainda inconclusivas.


… Em relação à China, após o acerto sobre a questão das terras raras, o prazo final tem uma data diferente: 12 de agosto.


… Em entrevistas a dois programas no domingo, Bessent sinalizou que as cartas que Trump está prestes a enviar aos parceiros comerciais esta semana não são a palavra final sobre as tarifas imediatas dos países.


… As tarifas entrarão em vigor em 1º de agosto, então ainda há tempo para aqueles que não estão próximos de um acordo apresentarem propostas, disse ele. Mas ainda acredita em “grandes anúncios nos próximos dias”.


… A estratégia das negociações, disse ele, é aplicar pressão máxima para destravá-las.


… Segundo ele, o foco atual da política tarifária está concentrado em 18 nações que representam 95% do déficit comercial americano. Já cerca de 100 países menores, “que nunca nos procuraram”, devem receber uma taxa de tarifa fixa.


… No domingo, Trump disse que mandará hoje, amanhã e quarta-feira 12 cartas, “talvez 15”, impondo condições tarifárias, com o objetivo de pressionar esses países a firmarem acordos comerciais até quarta-feira, dia 9. Ele não disse para quais países enviará as cartas.


… Segundo a Folha, os governos do Brasil e dos Estados Unidos buscam fechar um acordo comercial antes do prazo final. Na sexta-feira, as delegações dos dois países se reuniram por videoconferência para tentar um entendimento. Novas reuniões estão previstas.


GAZA – A bordo do Force One, Trump também disse no domingo aos jornalistas que um acordo sobre Gaza está próximo. “Eu acho que há boas chances de chegarmos a um acordo com o Hamas durante esta semana, relativo a vários dos reféns israelenses.”


… O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, viajou a Washington para tratar de um cessar-fogo no território palestino. Antes de embarcar, ele disse que há 20 reféns vivos e 30 mortos. O acordo de uma trégua seria por 60 dias.


IRÃ –Trump pretende aproveitar a visita de Netanyahu para também tratar de acordo permanente com o Irã, voltando a afirmar que os ataques dos Estados Unidos às instalações nucleares iranianas “obliteraram total e completamente” o programa nuclear do país.


OPEP – Ainda no sábado, o cartel decidiu aumentar a produção de petróleo em 548 mil barris por dia (bpd) em agosto, acelerando o ritmo em relação aos aumentos mensais de produção feitos em maio, junho e julho, da ordem de 411 mil bpd, e de 138 mil bpd em abril.


… Os aumentos em série da oferta (e agora em maior proporção) revertem a estratégia de restrição que vinha sendo adotada desde 2022, com vários países da Opep e de seus aliados querendo recuperar fatia de mercado.


… Ainda segundo a Reuters, a ofensiva responde a tensões internas na Opep+: Cazaquistão e Iraque vêm produzindo acima das cotas, o que irritou os demais membros, que seguiam cumprindo os cortes à risca.


… Oficialmente, em nota, a entidade afirma que a novo aumento na produção responde a uma “perspectiva econômica global estável e fundamentos de mercado saudáveis, refletidos nos baixos estoques de petróleo”.


… Oito países produzirão mais em agosto: Arábia, Rússia, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã, Iraque, Argélia e Cazaquistão. Antecipando que a oferta subiria em 411 mil bpd, o Brent caiu 0,73% na sexta-feira, a US$ 68,30.


… Mas como o aumento veio maior do que o esperado, o barril ampliava a queda na abertura dos negócios, ontem à noite (-1%).


BRICS – Com um comunicado enxuto, a área financeira do grupo, que reuniu no sábado no Rio, sugeriu mudanças de cotas e em relação à escolha do comando para o FMI e o Bird, mostrando insatisfação com o acordo de cavalheiros entre Estados Unidos e Europa.


… O grupo criticou ainda o tarifaço do presidente Trump e medidas que possam distorcer o comércio internacional.


… O bloco assegurou também apoio às negociações tributárias que ocorrem no âmbito da ONU, englobando a taxação para os super ricos, e, às vésperas da COP30, apelou por mais apoio financeiro a medidas de mitigação climática lideradas por economias desenvolvidas.


… Na reunião de Finanças, Fernando Haddad defendeu o multilateralismo e a globalização baseada no desenvolvimento social.


… “Nenhum país isoladamente, por mais poderoso, pode dar resposta efetiva ao aquecimento global ou atender as aspirações da maior parte da humanidade por uma vida digna. Criar ilhas excludentes de prosperidade é moralmente inaceitável.”


… As declarações vieram numa aparente crítica aos Estados Unidos e às tarifas contra produtos importados de outros países.


… Haddad ainda destacou o compromisso do Brasil com a previsibilidade em tempos de incerteza global, afirmando que “em parceria com o Brics, almejamos consolidar-nos como um porto seguro em um mundo cada vez mais instável”.


… A cúpula dos Brics prossegue hoje no Rio de Janeiro.


ALCKMIN – Em participação no Fórum Empresarial do Brics, o vice disse que Alexandre de Moraes (STF) teve “sabedoria” ao suspender os decretos relacionados ao IOF, mas defendeu que os decretos são atribuição do Executivo. “Vamos aguardar. Estamos otimistas.”


… Moraes é o relator de ações que tramitam no Supremo envolvendo o IOF, que aumentou o nível de tensão entre Executivo e Legislativo nas últimas semanas. Uma audiência de conciliação foi marcada para 15 de julho, no plenário de audiências da Corte, em Brasília.


… Também o presidente da Câmara, Hugo Motta, elogiou a decisão de Moraes em um post no X, dizendo que “evita o aumento do IOF”.


MAIS AGENDA – A ata do Fed, na quarta-feira (9), pode trazer a inclinação de membros mais dovish para iniciar os cortes de juro mais cedo, em linha com a pressão de Trump sobre Powell. Mas, dificilmente, o Fomc de julho voltará a ser uma opção.


… Além das incertezas sobre os efeitos das tarifas na atividade e na inflação, o aumento do núcleo do índice PCE e o payroll forte na quinta-feira, com a taxa de desemprego recuando de 4,2% para 4,1%, esvaziaram as apostas para este mês.


… Na China, estão previstos para amanhã à noite os índices de inflação de junho, com o CPI e o PPI. Na sexta-feira, à meia-noite, saem os dados de exportações e importações, com a balança comercial chinesa de junho.


… Aqui, o IPCA de junho é o destaque da semana, na quarta-feira (9h), com expectativa de ficar próximo de zero, em mais um sinal de desaceleração na margem, mas ainda distante do centro da meta de 3% ao ano e do teto de tolerância de 4,5%.


… Hoje, o IGP-DI de junho (8h) tem previsão de queda de 1,60% (mediana do Broadcast), após deflação de 0,85% registrada em maio, com o recuo dos preços industriais. Em 12 meses, o índice deve desacelerar de 6,27% em maio para 4,05%.


… A semana também reserva a divulgação das vendas no varejo em maio, amanhã, e do volume de serviços, na sexta-feira, enquanto o Copom promete manter os “juros elevados por um período bastante longo”.


… Ainda nesta segunda-feira, o BC divulga o Boletim Focus (8h25) e a Anfavea, a produção e vendas de veículos em junho (11h).


LDO – O relatório preliminar da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026, enviado pelo governo ao Congresso em abril, deve ser votado na Comissão Mista de Orçamento nesta quarta-feira (9), afirmou ao Valor o presidente da CMO, senador Efraim Filho.


… O objetivo é deliberar a legislação antes do envio do texto da Lei Orçamentária Anual (LOA) pelo Planalto, até o fim de agosto.


ALÍVIO COM PRAZO DE VALIDADE – Têm circulado avaliações sobre o câmbio de que o dólar ainda pode ficar mais barato e, quem sabe, chegar aos R$ 5,00, tendo como drivers o carry trade e a onda de queda global.


… O real segue surfando na promessa de Selic em 15% por pelo menos mais seis meses e na fraqueza da moeda americana em escala global, com os cortes do Fed no terceiro trimestre e a guerra tarifária que não acaba.


… Nos últimos dias, muitas casas têm ajustado em baixa a perspectiva para o dólar no curto prazo. A má notícia é que analistas ouvidos pelo Broadcast duvidam que o dólar resista perto das cotações atuais até o fim do ano.


… O maior desafio no meio do caminho são os ruídos fiscais domésticos, na crise agora mediada pelo STF.


… Na sexta-feira, diante do real fortalecido, foi a vez de o Santander diminuir a expectativa para o IPCA deste ano, de 5,4% para 5,1%, e do ano que vem, de 4,8% para 4,5%. Apesar disso, ajustou para cima a aposta da Selic.


… A projeção para o final do ano pulou de 14,75% para 15,00%, compatível com o recado do Copom.  


… Segundo o banco, a atividade econômica segue heterogênea, o crédito apresenta sinais de deterioração e o risco inflacionário continua presente. “Projetamos Selic estável até o início/26, com cortes a partir de janeiro”.


… Pesquisa da Febraban ouviu 21 bancos e revelou que a maioria (62%) acredita que o BC começará a cortar a Selic no primeiro trimestre de 2026, quando a inflação no horizonte relevante deve se aproximar da meta (3%).


… Na sexta-feira, um dia depois de ter revisitado as mínimas em quase um ano e voltado à faixa de R$ 5,40, o dólar entrou em bom ponto de compra e testou alguma correção de lucro, cotado a R$ 5,4242 (+0,36%).


… O ajuste aconteceu em meio à liquidez baixa aqui, roubada pelo feriado do Independence Day em Nova York.


… A revisão para baixo da expectativa do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio para o superávit da balança comercial neste ano, de US$ 70,2 bilhões para US$ 50,4 bilhões, não chegou a fazer preço no câmbio.


… A demanda mundial vem se enfraquecendo, o que vem afetando preço das commodities, acredita a pasta, embora pondere que a economia brasileira continua crescendo, demandando insumos e bens de capital importados.


… Em junho, o saldo da balança comercial veio positivo em US$ 5,889 bilhões, abaixo da mediana das apostas do mercado, de US$ 6,20 bilhões. No acumulado do ano, o superávit comercial está em US$ 30,092 bilhões.


… Sincronizados ao dólar, a curva do DI foi para o final de semana com viés de alta, sem a referência dos Treasuries.


… No fechamento, o juro para Jan/26 foi à máxima do dia, de 14,925% , contra 14,915% no ajuste anterior); Jan/27, a 14,185% (de 14,134%); Jan/29, a 13,230% (de 13,188%); Jan/31, a 13,290% (13,264%); e Jan/33, 13,340% (13,326%).


BIS – Repetindo as façanhas do pregão anterior, lá foi o Ibov para um novo “recorde duplo”, como definiu o Valor.


… Pelo segundo dia consecutivo, o índice à vista da bolsa doméstica emplacou nova máxima intraday (141.563,85 pontos) e renovou a marca histórica de fechamento dos negócios, aos 141.263,56 pontos, em alta de 0,24%.


… Menos da metade de um dia normal, o giro foi de apenas R$ 9 bilhões, com Nova York fechada para o feriado.


… Vale fechou em +0,29% (na máxima de R$ 55,20), sem o mesmo fôlego do minério (+2,45%). De olho na queda do petróleo, Petrobras PN caiu de leve: -0,12% (R$ 32,12). Mas o papel ON escapou em leve alta de 0,11% (R$ 35,15).


… Entre os bancos, Itaú (+0,05%, a R$ 37,73) e Bradesco ON (-0,07%, a R$ 14,41) fecharam estáveis. Já Bradesco PN caiu 0,48%, a R$ 16,67, e Santander unit perdeu 0,31%, a R$ 29,32. BB ON ganhou 0,58%, cotada a R$ 22,43.


FÔLEGO CURTO – Apesar do 4 de Julho, o mercado cambial operou normalmente nos Estados Unidos e, no day after do embalo do dólar com o payroll forte, o índice DXY já voltou à sua rotina de queda: -0,19%, a 96,997 pontos.


… Não há muita firmeza de que Trump obterá acordos satisfatórios para as tarifas antes do deadline de quarta-feira.


… O euro, que desde que o ano começou acumula rali de 14%, subiu 0,17% no último pregão (US$ 1,1776). A libra esterlina, envolvida em turbulências fiscais, caiu a US$ 1,3653. O iene subiu a 144,52/US$, antecipando BoJ hawkish.


… Semana passada, um conselheiro do BC japonês disse que o país deve estar pronto para mudar de marcha, abandonar a pausa no ciclo de alta e subir os juros se as negociações comerciais com os Estados Unidos progredirem.


EM TEMPO… PRIO. Produção de petróleo atingiu 88,2 mil barris de óleo equivalente por dia (boepd) em junho, recuo de 0,5% em relação a maio, segundo dados preliminares.


JBS informou que o primeiro carregamento de carne bovina ao Vietnã, com 27 toneladas processadas na unidade da Friboi de Mozarlândia (GO), foi feito no sábado, poucos dias após habilitação para exportar ao país. MAGAZINE LUIZA esclareceu, em comunicado, que a informação na imprensa, atribuída a um de seus diretores em um evento do BNDES, de que a empresa irá faturar cerca de R$ 70 bilhões em 2025, é “meramente uma referência”.


… Segundo a empresa, a projeção é baseada no faturamento esperado pelo consenso dos analistas e não deve ser interpretada como promessa de desempenho futuro, guidance ou posicionamento oficial da companhia.


ALPARGATAS. BlackRock reduziu participação na empresa de 5,22% para 4,99%, passando a deter 17.157.043 de ações PN.


CYRELA reduziu participação acionária na Cury de 20,26% para 19,56%.


JHSF concluiu a venda de participações minoritárias no Catarina Fashion Outlet – Expansão 3, no Shopping Ponta Negra e no Shopping Bela Vista para o fundo de investimento imobiliário XP Malls por R$ 273,035 milhões…


… Com a conclusão da transação, a JHSF passou a deter 60,01% do Catarina Fashion Outlet, 18% do Shopping Ponta Negra e 11,70% do Shopping Bela Vista…


… A participação do grupo no Shopping Bela Vista deverá ser reduzida a 1,00% após a conclusão da venda de 10,70% para os atuais sócios daquele empreendimento.


ENERGISA aprovou a distribuição de R$ 492,3 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,2332 por ação, com pagamento em 24/7.


CORREIOS. O presidente, Fabiano Silva, pediu demissão, pressionado pelo desempenho financeiro ruim e pelo Centrão. O Estadão apurou que o cargo é alvo de cobiça de Davi Alcolumbre, que tenta emplacar um aliado.

domingo, 6 de julho de 2025

Leitura de domingo 2

 Leitura de Domingo/Fazenda: Estado tem participação de R$ 567 bilhões no Plano Safra 2025/26


Por Isadora Duarte


Brasília, 04/07/2025 - Em meio às críticas de menor aporte do governo com verba do Tesouro no Plano Safra 2025/26 e que a política de crédito concentra sobretudo recursos livres, o governo federal considera que há participação do Estado em R$ 567 bilhões do montante de R$ 594,44 bilhões ofertados em financiamentos agropecuários para pequenos, médios e grandes produtores. O cálculo é do subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Gilson Bittencourt, e considera subsídios diretos ou indiretos do Estado ao crédito rural. "Do total de R$ 594,4 bilhões, não há subsídio em apenas em R$ 27,1 bilhões de recursos livres a taxas livres (recursos próprios dos agentes financeiros). Ou seja, em R$ 567 bilhões dos R$ 594,4 bilhões tem mão do Estado", afirmou Bittencourt em conversa com jornalistas.


O entendimento da Fazenda é de que mesmo nos recursos não controlados a taxas livres há participação do Estado. Na análise de Bittencourt, em R$ 567 bilhões ofertados para financiamentos da safra existe participação do Estado, ou por subvenção, ou pelo Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), ou pelo direcionamento de parte dos Fundos Constitucionais, ou pelo direcionamento obrigatório de recursos ao crédito rural ou com renúncia fiscal de impostos sobre títulos agrícolas. "Mesmo que a taxa seja livre, o Estado brasileiro está subsidiando esses valores. Portanto, em somente R$ 27,1 bilhões não há a mão do Estado", ponderou.


O cálculo considera a oferta de R$ 300,01 bilhões em recursos direcionados a taxas livres e R$ 267,331 bilhões em recursos com taxas controladas. Os recursos controlados são compostos por recursos equalizados (aqueles com subvenção do Tesouro para equalização das taxas de juros) e não equalizados - Fundos Constitucionais, Funcafé, recursos obrigatórios dos depósitos à vista e recursos em dólar com taxas prefixadas.


O cômputo geral de recurso com participação do Estado pelo governo inclui R$ 328,70 bilhões de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). "No caso da LCA, esse dinheiro só existe para o Plano Safra porque o Estado brasileiro abriu mão do imposto de renda do contribuinte para aplicá-lo na agricultura. Portanto, há subvenção pública", defendeu o subsecretário. "Se existe um direcionamento de 60% dos recursos captados por LCAs para o crédito rural, de 70% dos recursos mantidos na poupança rural é porque houve decisão de Estado, independentemente de governo", acrescentou.


A tese da Fazenda contrasta com o entendimento de representantes do agronegócio que não concordam com a inclusão de R$ 188,5 bilhões de Cédulas de Produto Rural (CPRs) originadas de recursos com direcionamento obrigatório no montante geral do Plano Safra 2025/26. Entidades do setor produtivo e a bancada parlamentar da agropecuária classificaram os cálculos apresentados pelo governo como "maquiagem", o que é refutado por Bittencourt.


Esse é o segundo ano consecutivo que o governo inclui as CPRs no cálculo geral do Plano Safra. O subsecretário esclarece que a inclusão refere-se apenas a CPRs emitidas por produtores rurais e adquiridas por instituições financeiras com recursos do direcionamento obrigatório de recursos oriundos da poupança rural e das LCAs. "Não estamos computando no Plano Safra CPR de produtor com agroindústria, com trading. Estamos computando apenas as CPRs que o banco compra com dinheiro do direcionamento", observou.


Segundo Bittencourt, as CPRs não eram incorporadas até então porque não eram recursos representativos, peso que aumentou a partir de 2021. "Essa não é uma posição somente do governo Lula. No governo Bolsonaro, era a mesma coisa. O que muda é que em 2011, o estoque de LCAs era de R$ 27 bilhões, com 30% de direcionamento obrigatório para crédito rural, o que já era computado no Plano Safra, e hoje o estoque é de R$ 560 bilhões, com 70% de direcionamento", apontou. "O tema de incluir a CPR dentro do Plano Safra, não é porque estamos aumentando o Plano Safra, mas pelo entendimento de que dispensa de tributos pelo governo, com gasto tributário na isenção do imposto de renda sobre o título. Sem a mão do Estado, abrindo mão dessa taxação igual dos fundos, ou do direcionamento, não  teria esse recurso", justificou Bittencourt.


O subsecretário rejeita as alegações de entidades do agronegócio de que os números do Plano Safra 2025/26 estão superdimensionadas. "É um cenário muito realista a partir do que foi aplicado na safra 2024/25 e das projeções do Banco Central de captação de recursos por fontes obrigatórias", pontuou o subsecretário.


Em relação ao funding de recursos computado para o Plano Safra 2025/26, Bittencourt lembrou que há pressão sobre os recursos disponíveis em virtude do travamento de valores com renegociações e do carregamento do saldo de empréstimos. A oferta de crédito rural ficou 19,9% inferior ao anunciado na temporada passada, somando R$ 381,57 bilhões, porém, com o cálculo das CPRs atinge um aumento de 1,7%, para os R$ 594,44 bilhões. Essa redução no crédito rural está relacionada também com o menor volume de recursos disponíveis de fontes com direcionamento obrigatório.


Para a safra 2025/26, o cenário projetado pela Secretaria de Política Econômica com base em estimativas do Banco Central, prevê recursos de R$ 7,19 bilhões provenientes do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) ante aplicação de R$ 6,51 bilhões na temporada passada. Recursos provenientes de fundos constitucionais devem somar R$ 38,31 bilhões, ante R$ 40,49 bilhões aplicados na safra passada. Já os valores de recursos livres e equalizados do BNDES devem alcançar R$ 52,17 bilhões, acima dos R$ 36,20 bilhões aplicados no ciclo anterior.


Em recursos obrigatórios, a composição do funding Plano Safra 2025/26 conta com R$ 49,70 bilhões de recursos obrigatórios captados do depósito à vista ante R$ 51,85 bilhões do ciclo 2024/25. Outros R$ 128,70 bilhões devem ser provenientes de LCAs direcionadas ao crédito rural, frente aos R$ 111 bilhões da safra passada. Os recursos provenientes da poupança rural estão previstos em R$ 64,30 bilhões frente aos R$ 69,79 bilhões da temporada anterior. Em recursos próprios dos agentes financeiros (livres e equalizados), foram projetados R$ 40,70 bilhões, inferior aos R$ 68,49 bilhões da safra anterior.


Ao todo, o Plano Safra 2025/26 vai oferecer R$ 157,2 bilhões em recursos equalizados para pequenos, médios e grandes produtores e R$ 110,1 bilhões em recursos controlados e não equalizados para agricultura empresarial e familiar. Serão R$ 267,33 bilhões de recursos controlados, 0,8% mais que em 2024/25, R$ 300,01 em recursos direcionados a taxas livres, aumento de 6,4% entre as safras, e R$ 27,1 bilhões em recursos livres a taxas livres, queda de 27,7%.


Contato: isadora.duarte@estadao.com


Broadcast+

Leitura de domingo

 Leitura de Domingo:Payroll valida 'esperar para ver' de Powell e atenua aposta de corte de juro


Por Aline Bronzati, correspondente


Nova York, 03/07/2025 - O mercado de trabalho americano provou estar mais forte na Primavera do que as expectativas de Wall Street, o que obrigou os investidores a atenuarem suas apostas em queda de juros, em um sinal de que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, estava certo em 'esperar para ver'. O debate sobre um possível corte em julho saiu de cena, enquanto a redução total esperada para as taxas neste ano também ficou mais amena.


Os Estados Unidos criaram 147 mil empregos em junho, em termos líquidos, bem acima da mediana das expectativas, de 110 mil vagas. Por sua vez, o índice de desemprego no país caiu a 4,1% contra 4,2% em maio.


Wall Street demonstrou ceticismo com o payroll de junho sob influência dos temores quanto aos impactos das políticas do presidente dos EUA, Donald Trump, incluindo questões imigratórias e comerciais, fora as pressões do republicano em cima de Powell. Sinais de fraqueza apareceram, em especial no governo federal e na iniciativa privada, além da perda do ímpeto nos salários, mas a forte contratação nos governos estaduais e locais, especialmente na área educacional, ajudou a impulsionar a criação de vagas no mês passado.


"Isso ainda dá ao Fed o luxo de esperar para ver o que acontece com a inflação. Continuamos a esperar que os EUA flexibilizem sua política em dezembro deste ano", diz o economista do CIBC Economics, Ali Jaffery.


O payroll de junho causou uma reviravolta nos cenários traçados por Wall Street. As expectativas de que o Fed poderia voltar a cortar as taxas de juros já em julho caíram por terra. Por sua vez, as apostas de um movimento em setembro seguem majoritárias, mas também perderam força. Tombaram de 95,1% registrado antes do dado para 68,3%, conforme levantamento da plataforma americana CME Group.


Nos últimos dias, uma conjunção de fatores contribuiu para que o mercado passasse a precificar maiores chances de um corte de juros nos EUA já em julho. Além do diretor do Fed Christopher Waller e a vice-presidente de Supervisão do Conselho do BC, Michelle Bowman, terem sinalizado que poderiam votar a favor de uma flexibilização na reunião deste mês, a pressão de Trump sob Powell só aumentou. Para a TS Lombard, ficou claro que o "sinal é falso".


"Achamos que o Federal Reserve poderia considerar cortar mais cedo, mas provavelmente não cortará antes de sua reunião de setembro", diz o diretor de Investimentos de Renda Fixa Global da BlackRock, Rick Rieder, mencionando, o desejo declarado da autoridade de esperar para ver qual será a transmissão da pressão tarifária de curto prazo para a inflação.


Ao falar ao lado de outros banqueiros centrais essa semana, Powell foi bastante claro.  Disse que poderia cortar as taxas "em algum momento", e não fechou as portas para julho, alegando que a decisão "dependeria dos dados". Para Powell, no entanto, enquanto a economia dos EUA estiver sólida, como reforçou o payroll de junho, o ideal é manter uma abordagem de "esperar para ver".


Wall Street entendeu o recado e também calibrou suas expectativas para o ano. A redução acumulada de 50 pontos-base voltou a ser a sua aposta principal com 43,8% das probabilidades, de 33,4% antes dos dados, segundo a CME Group. Já a aposta de um corte total de 75 pontos-base ficou em segundo plano.


Bancos como o Bank of America, o Morgan Stanley e o BNP Paribas já não previam cortes de juros este ano, mesmo antes do payroll. Diferentes casas, como a Jefferies, seguem apostando em setembro, enquanto outros como o Barclays descartam algum movimento do Fed antes de dezembro.


"Continuamos a ver o Fed em compasso de espera, aguardando que os dados de inflação e gastos mostrem os efeitos das tarifas", diz o economista-chefe do Morgan Stanley, Michael T Gapen, em nota a clientes. De acordo com ele, o mercado de trabalho americano passa por ajustes, mas de forma gradual e equilibrada, o que não força o Fed a fazer cortes antecipados.


"Há espaço para esperar antes de mexer na política monetária", confirmou o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, em discurso na Alemanha. Na visão do dirigente, o nível de incerteza atual não é propício para mudanças significativas na política monetária americana.


Tanto o dirigente do Fed quanto economistas ponderam que, ainda que o mercado de trabalho nos EUA continue "saudável", há sinais de desaceleração. "A implicação geral não é de força econômica sustentada", avalia o economista-chefe do Santander para os EUA, Stephen Stanley.


Para o americano Jefferies, as mudanças políticas de Trump podem impactar mais o mercado de trabalho à frente, o que justificaria um corte de juros em setembro, mas ainda é cedo para estimar a escala de tal interrupção. Até mesmo porque há impulsos compensatórios de impostos mais baixos por conta do projeto orçamentário do republicano e redução do ônus regulatório no futuro, pondera.


Contato: aline.bronzati@estadao.com


Broadcast+

sábado, 5 de julho de 2025

O grande erro

 Os artigos do Fernando Schuler são sempre revigorantes, principalmente para aqueles que ainda tem algum apreço pela liberde.


O grande erro

A reinvenção do delito de opinião, nos últimos anos, fez mal ao país

Por Fernando Schüler


"Muito já se escreveu a respeito daquela frase da ministra Cármen Lúcia sobre os “213 milhões de pequenos tiranos”. Acho que entendo o que ela quis dizer. Algo na linha: ninguém é bem dono de sua liberdade, então temos que regular. Está o.k., a liberdade de expressão é sempre regulada. Mesmo nos Estados Unidos, pátria da Primeira Emenda, há uma regra: ficam de fora discursos que geram um perigo “claro e imediato”. O que se protege são ideias, opiniões, ainda que bizarras ou “tirânicas”. E é aí que mora o problema. Se os cidadãos são de fato tiranos, então precisamos mesmo de um imenso Leviatã para dar conta da confusão. Agora com uma penca de big techs como tentáculos, fazendo o trabalho duro da censura, sob pena de responsabilização. Depois de anos amaldiçoando os algoritmos, quem sabe finalmente descobrimos que era exatamente de algoritmos que precisávamos. E com delegação oficial para fazer a censura. Censura do bem, a favor, e não contra a nossa liberdade. Discordo da ministra. Seus tiranos são apenas cidadãos que ganharam o poder da palavra com a tecnologia. Algo que gera barulho, irrita e é feito de boa e má educação, verdade e mentira, e desacordo sobre o que isso significa. Coisas do mundo da democracia, e não da tirania. A democracia é feita de ruído, ao contrário da tirania, feita de silêncio.


Grandes democracias vêm regulando seu espaço digital. A Alemanha fez seu NetzDG; a França, recentemente, fez sua regulação. Os americanos, lá em 1791, aprovaram o Bill of Rights. Todas, sem exceção, aprovaram suas leis no Parlamento. O Brasil fez isso, em 2014, com o Marco Civil da Internet. É essa a nossa lei. E não há nenhuma “omissão legislativa” em não alterar uma lei. A ideia de que uma lei qualquer pode ser derrubada em nome de considerações abstratas sobre a liberdade, a dignidade humana ou a fragilidade dos cidadãos diante da tecnologia significa, na prática, uma inversão do pacto republicano. Significa a ocupação pelo Judiciário de uma esfera de poder que pertence ao Legislativo. Não por um capricho, mas porque a sociedade é diversa. E é no Legislativo que essa diversidade tem sua expressão. O que assistimos nesse julgamento, no STF, foi a estranha imagem de uma diversidade de visões normativas entre pessoas que representam a si mesmas. Agentes de Estado que estão lá para fazer cumprir as leis, mas que, ao cabo, produzem um ordenamento normativo inteiramente original e distinto daquele aprovado pelo Congresso, regulando nossas liberdades e direitos. Muita gente já se acostumou com isso no Brasil. E quem sabe aí esteja o nosso problema.


Na prática, o que fizemos foi trocar um modelo previsível e garantista da liberdade de expressão por um regime complexo e essencialmente aberto à interpretação. Se alguém acha que foram as big techs que perderam alguma coisa, se engana. Quem perde são os cidadãos, que têm seus direitos relativizados. As pessoas descobrirão isso quando tiverem postagens derrubadas e as redes mergulharem em uma guerra de notificações. A pergunta central: que critérios serão usados pelas empresas para efetivarem seu trabalho de censura? Em especial, que critérios serão utilizados nos temas “democráticos”, que dizem respeito a opinião, seja no campo político, seja no comportamental? No debate no STF, chamou a atenção o que vou denominar “argumento da metralhadora”. Seu autor foi o ministro Dias Toffoli, comparando o direito à expressão com a venda de uma metralhadora. O argumento tem um gosto retórico. Alerta-se a sociedade sobre crimes perfeitamente tipificados, como a venda de uma arma proibida, para logo a seguir incluir variações indefinidas sobre “delitos de opinião” no pacote. Coisa parecida se deu com atentados a escolas, indução ao suicídio, pornografia infantil e outras bizarrices. Por óbvio, o problema não é esse. Se a pauta em questão girasse em torno desses temas, incluindo-se também os crimes de racismo, tráfico ou pedofilia, não haveria nenhuma divergência sobre a necessidade de regras duras de proteção. O ponto é: não foi sobre nada disso a censura praticada em larga escala no Brasil dos últimos anos. Foi sobre a opinião política. Sobre quem questionou o resultado de urnas eleitorais, fez críticas duras ao STF, manifestou preferência irrelevante por uma ditadura ou mesmo expôs sua visão sobre a própria liberdade de expressão. Não é preciso voltar a essa história constrangedora. Se as plataformas resolverem usar como critério de “cuidado” nosso histórico recente de decisões sobre censura (e é razoável que o façam), suspeito que estamos em maus lençóis.


O que o STF fez foi realizar uma ampla leitura de época em seu julgamento. Diria que uma leitura lastreada pela “cultura do medo”, na qual navegamos, e não apenas no Brasil, na última década e meia. Pesquisa com 23 milhões de chamadas em 47 grandes veículos de imprensa americanos mostrou como temas associados a “medo”, “raiva” ou “nojo” ganharam forte tração a partir da virada para os anos 2010. O mundo não se tornou mais hostil e perigoso a partir da última década. O que mudou foi a percepção das pessoas. Algo que deriva da mecânica das redes sociais, que tendem a premiar o pânico em torno de qualquer coisa (com sabidas consequências para a saúde mental coletiva). A cultura do medo não é propriamente uma novidade. O filósofo Frank Furedi lançou How Fear Works ainda nos anos 1990, mostrando como, nos anos do pós-guerra, fomos gradativamente migrando de um amplo consenso moral, confiança nas instituições e no progresso para uma cultura marcada pela ideia de que “somos frágeis, os cidadãos incapazes de lidar com a própria democracia, as instituições pouco confiáveis, o futuro incerto e assustador”. Não é por acaso que a obra-prima do norueguês Edvard Munch, O Grito, é muitas vezes usada como uma imagem de nossa época. O desenho de um homem sem identidade, envolto em uma onda de medo, em um mundo que também parece se desmanchar. Munch conta que concebeu a obra em uma tarde qualquer, em Oslo, na década de 1890, quando teve a súbita inspiração, em meio a um momento de “melancolia e ansiedade”. No julgamento das redes, no STF, o que assistimos foi uma versão sintética desse fenômeno: a urgência em regular. A lógica impressionista do risco e das citações dramáticas. O povo de tiranos, o oceano de mentiras, a incivilidade, a metralhadora, o eleitor ordinário diante da “desordem informacional”. Não tanto o medo, mas a sua politização. A ideia sombria, bem posta por Furedi, de que “nossa segurança, em uma medida incerta, depende do fato de que devemos abrir mão de nossas liberdades”.


De fato, há imensos riscos na internet. O ministro Barroso, presidente do STF, está certo quando diz que “não importa se alguém é liberal, conservador ou progressista: não pode haver pornografia infantil, terrorismo, venda de armas ou instigação ao suicídio nas redes”. Fosse esse o foco, no país, daríamos um enorme passo adiante na regulação da internet. Passar desse universo à censura política, de visões de mundo, de comportamento ou cultura é de fato um grande erro. A reinvenção do delito de opinião e da censura prévia, nos últimos anos, fez muito mal ao país. Nós não teremos uma democracia liberal, no Brasil, se continuarmos insistindo nisso."


Fernando Schüler é cientista político e professor do Insper


Publicado em VEJA de 4 de julho de 2025, edição nº 2951

Eduardo Affonso

 Eduardo Affonso mais brilhante do que nunca.


O DISCURSO DOS GRANDES DITADORES

Quero ser tratado por Meritíssimo, Excelência, Vossa Senhoria. É meu ofício: governar, legislar, fazer cumprir as leis, em causa própria


Sim, quero ser imperador, cacique, líder supremo, dono do mundo, do  pedaço, da parte que — por voto, concurso ou apadrinhamento — me cabe  neste latifúndio.

Quero ser tratado por Meritíssimo, Excelência, Vossa Senhoria. É meu  ofício: governar, legislar, fazer cumprir as leis — em causa própria, e,  bem sabeis, a meu bel-prazer. Quero ajudar os meus — e que se danem  ucranianos, ianomâmis e aposentados, contribuintes, motoristas de  aplicativo e judeus. Prendei os que vandalizam palácios e ignorai os que  deixam ruir igrejas, arder museus. Quero que negros odeiem brancos,  pobres se insurjam contra ricos — e eu, rico e branco, fomentador de  antagonismos e mestre em demonizar o diálogo, seja reverenciado como um  deus.


Eu degusto lagosta à vossa custa, enquanto em 21,6 milhões de lares, em  “insegurança alimentar”, comeis o pão que o diabo amassou. Eu presenteio  lenços e gravatas de seda com o que retiro, compulsoriamente, do bolso  onde mal tendes o suficiente para vos agasalhar.


Com o suor do vosso rosto, bobinhas, eu pago maquiadores que me mantêm a  pele clara e imaculada para que eu possa defender vossa dignidade e  vossas necessidades com meu afronte e minha bolsa (três anos e meio de  Bolsa Família, uma pechincha) e denunciar o avanço da extrema direita  —em Paris.


Eu liberto réus confessos, anulo condenações justas, perdoo multas  bilionárias. Trabalhais oito horas por dia, seis dias por semana, 11  meses por ano para que pinguem o mínimo na vossa conta — eu tenho 60  dias de descanso remunerado, horário flexível, encho de penduricalhos  meu supersalário (os pagamentos acima do teto constitucional passaram de  R$ 10 bilhões em 2024) — e processo quem divulgar as remunerações  ilegais.


Eu gasto muito e mal; e vos empurro goela abaixo mais e mais impostos e  mordomias e má gestão. Visito ex-presidente presa por corrupção e mando  buscar, em jatinho da FAB (bancado por vós, que íeis andar de avião e  jamais decolastes), a ex-primeira-dama condenada à prisão por lavagem de  dinheiro. Apoio agressores e ditaduras, corruptos e tiranias — mas me  outorgo autoridade moral de defensor da paz, da ética e das minorias.


Acho que 513 deputados são pouco, que é pouco gastar mais de R$ 24  milhões por ano com cada um e voto por elevar esse número para 531.  Quero mais fundo eleitoral e mais emendas parlamentares e menos  transparência e mais privilégios. Com vossos recursos, eu pago meus  procedimentos estéticos, meus jantares superfaturados e asfalto as ruas  do meu condomínio de luxo.


Por isso, vos peço: lutai pela censura, pelo controle dos meios de  comunicação, por mais taxação; pela anistia aos que tentaram golpear a  democracia, pelos que a corroem por dentro simulando defendê-la. Afinal,  quem sois vós na fila do pão? Uma das 196 mulheres violentadas por dia.  Uma vítima de feminicídio a cada seis horas. Um dos 35.365 que sofreram  morte violenta em 2024. Um dos 3,9 milhões de pedintes esperando Godot  nos guichês do INSS. Um dos 59 milhões de incapazes de atender às próprias necessidades básicas de sobrevivência.


Não sois cidadãos: 213 milhões de pequenos tiranos é que sois. Segui,  pois, odiando-vos uns aos outros — e ignorando que todo poder emana de  vós, e em vosso nome deveria ser exercido.

Fabio Alves