Leitura de Domingo:Payroll valida 'esperar para ver' de Powell e atenua aposta de corte de juro
Por Aline Bronzati, correspondente
Nova York, 03/07/2025 - O mercado de trabalho americano provou estar mais forte na Primavera do que as expectativas de Wall Street, o que obrigou os investidores a atenuarem suas apostas em queda de juros, em um sinal de que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, estava certo em 'esperar para ver'. O debate sobre um possível corte em julho saiu de cena, enquanto a redução total esperada para as taxas neste ano também ficou mais amena.
Os Estados Unidos criaram 147 mil empregos em junho, em termos líquidos, bem acima da mediana das expectativas, de 110 mil vagas. Por sua vez, o índice de desemprego no país caiu a 4,1% contra 4,2% em maio.
Wall Street demonstrou ceticismo com o payroll de junho sob influência dos temores quanto aos impactos das políticas do presidente dos EUA, Donald Trump, incluindo questões imigratórias e comerciais, fora as pressões do republicano em cima de Powell. Sinais de fraqueza apareceram, em especial no governo federal e na iniciativa privada, além da perda do ímpeto nos salários, mas a forte contratação nos governos estaduais e locais, especialmente na área educacional, ajudou a impulsionar a criação de vagas no mês passado.
"Isso ainda dá ao Fed o luxo de esperar para ver o que acontece com a inflação. Continuamos a esperar que os EUA flexibilizem sua política em dezembro deste ano", diz o economista do CIBC Economics, Ali Jaffery.
O payroll de junho causou uma reviravolta nos cenários traçados por Wall Street. As expectativas de que o Fed poderia voltar a cortar as taxas de juros já em julho caíram por terra. Por sua vez, as apostas de um movimento em setembro seguem majoritárias, mas também perderam força. Tombaram de 95,1% registrado antes do dado para 68,3%, conforme levantamento da plataforma americana CME Group.
Nos últimos dias, uma conjunção de fatores contribuiu para que o mercado passasse a precificar maiores chances de um corte de juros nos EUA já em julho. Além do diretor do Fed Christopher Waller e a vice-presidente de Supervisão do Conselho do BC, Michelle Bowman, terem sinalizado que poderiam votar a favor de uma flexibilização na reunião deste mês, a pressão de Trump sob Powell só aumentou. Para a TS Lombard, ficou claro que o "sinal é falso".
"Achamos que o Federal Reserve poderia considerar cortar mais cedo, mas provavelmente não cortará antes de sua reunião de setembro", diz o diretor de Investimentos de Renda Fixa Global da BlackRock, Rick Rieder, mencionando, o desejo declarado da autoridade de esperar para ver qual será a transmissão da pressão tarifária de curto prazo para a inflação.
Ao falar ao lado de outros banqueiros centrais essa semana, Powell foi bastante claro. Disse que poderia cortar as taxas "em algum momento", e não fechou as portas para julho, alegando que a decisão "dependeria dos dados". Para Powell, no entanto, enquanto a economia dos EUA estiver sólida, como reforçou o payroll de junho, o ideal é manter uma abordagem de "esperar para ver".
Wall Street entendeu o recado e também calibrou suas expectativas para o ano. A redução acumulada de 50 pontos-base voltou a ser a sua aposta principal com 43,8% das probabilidades, de 33,4% antes dos dados, segundo a CME Group. Já a aposta de um corte total de 75 pontos-base ficou em segundo plano.
Bancos como o Bank of America, o Morgan Stanley e o BNP Paribas já não previam cortes de juros este ano, mesmo antes do payroll. Diferentes casas, como a Jefferies, seguem apostando em setembro, enquanto outros como o Barclays descartam algum movimento do Fed antes de dezembro.
"Continuamos a ver o Fed em compasso de espera, aguardando que os dados de inflação e gastos mostrem os efeitos das tarifas", diz o economista-chefe do Morgan Stanley, Michael T Gapen, em nota a clientes. De acordo com ele, o mercado de trabalho americano passa por ajustes, mas de forma gradual e equilibrada, o que não força o Fed a fazer cortes antecipados.
"Há espaço para esperar antes de mexer na política monetária", confirmou o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, em discurso na Alemanha. Na visão do dirigente, o nível de incerteza atual não é propício para mudanças significativas na política monetária americana.
Tanto o dirigente do Fed quanto economistas ponderam que, ainda que o mercado de trabalho nos EUA continue "saudável", há sinais de desaceleração. "A implicação geral não é de força econômica sustentada", avalia o economista-chefe do Santander para os EUA, Stephen Stanley.
Para o americano Jefferies, as mudanças políticas de Trump podem impactar mais o mercado de trabalho à frente, o que justificaria um corte de juros em setembro, mas ainda é cedo para estimar a escala de tal interrupção. Até mesmo porque há impulsos compensatórios de impostos mais baixos por conta do projeto orçamentário do republicano e redução do ônus regulatório no futuro, pondera.
Contato: aline.bronzati@estadao.com
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