sábado, 17 de maio de 2025

Maria Cristina Fernandes

 A turnê de Lula e a bola de cristal de Bannon

Maria Cristina Fernandes 

Valor Econômico, terça-feira, 13 de maio de 2025 


O ideólogo do trumpismo colocou Lula, Putin e Xi no mesmo balaio num momento em que o presidente brasileiro faz turnê por Rússia e China

 

Steve Bannon foi taxativo ao “Financial Times”: “Donald Trump vai se recandidatar e vai ganhar”. A capacidade preditiva do ideólogo do trumpismo escalou quando ele apostou, duas semanas antes do conclave, na escolha de Robert Prevost para papa. O recuo na guerra comercial só viria dois dias depois, mas Bannon, mesmo sem tratar dela, também pareceu premonitório.

A guerra comercial foi, até aqui, um dos fatores mais determinantes para que Trump tenha chegado aos 100 dias com a mais baixa popularidade dos últimos 80 anos. Não tende a ser visto internamente como o provocador de muito barulho por nada, mas como um presidente que, frente às evidências, foi capaz de recuar e devolver otimismo aos agentes econômicos.

Bannon colocou Xi Jiping, Vladimir Putin e Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo balaio: “Xi, Lula e Putin são uma aliança ruim. Eles não se cruzam com Trump. Eles não vão ajudar com a Ucrânia. Eles vão fazer o que estiver no interesse deles”. Não é uma visão exclusiva de Bannon. A ideia de que o Brasil seja visto como parte dessa aliança foi o que levou conselheiros deste governo a sugerir que o país voasse baixo para aproveitar oportunidades sem cutucar a onça com a vara curta.

A delegação que veio ao Brasil para discutir com o Ministério da Justiça o enquadramento de facções criminosas como o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho como terroristas é rugido de onça. O carimbo encurtaria caminho para sanções americanas.

Da segunda parte da turnê de Lula entre aliados que desgostam o ideólogo trumpista ainda não se tem o resultado final, visto que a assinatura de acordos acontecerá depois de reunião de Lula com Xi nesta terça. O encontro está sendo acompanhado por toda a imprensa mundial, particularmente a americana.

O “The New York Times” trouxe a declaração de um integrante da chancelaria chinesa sobre as pretensões de Trump junto na região: “O que os povos da América Latina e do Caribe estão buscando é independência e auto-determinação, não a chamada ‘nova doutrina Monroe’”.

O diplomata chinês não se limitou a definir o interesse chinês no encontro mas avançou sobre o que venha a ser o interesse região. Trata-se, porém, de um porta-voz indesejado. Junta-se a declarações da delegação brasileira de que a China, com os acordos desta terça, “vão rasgar o Brasil com estradas”. Compõe o pacote “cutucar a onça”.

Daquilo que foi anunciado nesta segunda, ainda não se identificam investimentos que venham a justificar o risco de tamanha exposição. Depois que, no fim de 2024, 163 operários chineses da BYD na Bahia foram resgatados em condições análogas à escravidão, os novos investimentos automotivos ainda terão que provar que se darão em outras bases. Também terá que se aguardar se o investimento em energia renovável não é desova da superprodução de equipamentos da China. Há um investimento do qual não se pode duvidar que venha a gerar empregos, o da empresa que vai chegar para competir como Ifood, ainda que não seja esse tipo de emprego que vai redimir a juventude nacional.

É a primeira parte da turnê, porém, que abre mais espaço para o carimbo que Bannon quer impor sobre o Brasil. O Palácio do Planalto busca envelopar a ida de Lula a Moscou como parte dos esforços do país pela paz na Ucrânia, a despeito de o presidente brasileiro ter assistido a uma parada em que Vladimir Putin exibiu, juntamente com tropas chinesas, todo seu poderio bélico. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, lá estava, mas o Itamaraty não soltou uma única nota sobre o encontro.

Na mensagem pública dirigida à delegação brasileira durante encontro no Kremlin, Putin não falou de Ucrânia. Na reunião, com 12 de cada lado, Lula incluiu, entre diplomatas e parlamentares, o CEO da Minerva. Valeu-se de explicação tão inusitada quanto a presença de um único empresário: “Temos na nossa delegação um proeminente empresário que se aproximou de mim no Brasil e perguntou: Você vai à Rússia? Gostaria de acompanhá-lo porque sou o principal exportador de carne para a Rússia. Tive o prazer de convidar o sr. Fernando Queiroz para se juntar à nossa delegação e gostaria de aproveitar esta oportunidade para apresentá-lo, presidente”.

É possível que, daqui a um mês, quando Lula for à França para mais um encontro com Macron, possa resgatar o discurso de que o investimento da diplomacia presidencial, na verdade, é pelo multilateralismo. Em seguida, porém, o Brasil sediará o encontro dos Brics, outro caroço de angu para a diplomacia americana.

A paz na Ucrânia ainda desafia Trump, mas o presidente americano embarca nesta terça para o Oriente Médio, onde pode vir a fechar um acordo que leve o Irã a recuar de seu programa nuclear. A hipótese, ainda incerta, de que venha a ser bem-sucedido, abre a possibilidade de um êxito que ecoaria na política doméstica e no mundo, a minimizar a hostilidade que tem despertado.

Bannon define o que está em curso como “a era Trump”, que ainda está muito longe de se acabar e terá pinceladas marcadamente populistas com mais deportação e enfrentamento de corporações. É esta era que a turnê de Lula parece desafiar. Resta a expectativa de que a bola de cristal de Bannon tenha se quebrado depois de Prevost.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Armadilha da renda média

 https://www.youtube.com/watch?v=HUU7vtgc9hA

Os economistas do Real

 https://www.youtube.com/watch?v=bA5ENK0_VrA&t=771s

Assistindo aos debates com os ex-presidentes do BCB. Não resta dúvida q foi aquela turma de excelência, todos da PUC, q conseguiu criar os alicerces do Real. Baixíssima contribuição da UNICAMP, da UFRJ, e tantas outras escolas heterodoxas. E estes caras se arvoram a tentar desconsiderar a preciosa contribuição destes brilhantes economistas e intelectuais. Faço questão de destacar todos, Pedro Malan, Persio Arida, Armínio Fraga, André Lara Resende, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Francisco Lafayette Lopes, e vamos em frente. Isso sim eram economistas de verdade. A engenharia da URV, a partir do PLANO LARIDA, é algo sensacional, dada a sua simplicidade. E lembremos que foi o PT a se posicionar contra, ao acusar o Real, de estelionato eleitoral. PATÉTICOS.

BCB 60 anos. Bate papo entre Gabriel Galípolo e Gustavo Loyola

https://www.youtube.com/watch?v=VmAfxWO68do

Gustavo Loyola, muito bom também. “Três dos dez maiores bancos brasileiros quebraram. Liquidamos mais de cem instituições financeiras. Sofremos vários processos. Mas quando a gente vê a trajetória do Plano Real, esse saneamento foi decisivo. Se tivesse havido uma crise bancária aberta, teríamos uma grande ameaça à estabilidade monetária”. No segundo episódio da série Conversas Presidenciais, Gustavo Loyola, presidente do BC em 1992 e em 1995, conta a Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco, os desafios que enfrentou, as boas e más lembranças, sua relação pessoal com o BC e a importância da instituição para sua carreira.

BCB 60 anos. Bate papo entre Gabriel Galípolo e Pedro Malan

 https://www.youtube.com/watch?v=0voVNXgSJwI 


Pedro Malan, sempre um lord, e extremamente preparado e equilibrado. “Lembro de uma conversa em março de 1994, a URV já lançada, em que o José Roberto Mendonça de Barros diz: ‘Vocês lançaram um foguete. Têm ideia de como e quando ele vai aterrissar?’ Foi uma aposta arriscada. O sucesso não estava garantido, qualquer que fosse o contexto”. No terceiro episódio da série Conversas Presidenciais, Pedro Malan, que assumiu a presidência do BC em agosto de 1993, fala a Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco, sobre o BC à sua época, os desafios da implementação do Real e como o Banco Central deve estar atento a um “mundo mais incerto e mais perigoso”.

BCB 60 anos. Gabriel GALÍPOLO e Gustavo Franco

 https://www.youtube.com/watch?v=Tcb952qwzSk

Sou fã de carteirinha deste grande economista, Gustavo Franco. Sempre muito espirituoso, foi presidente numa época crucial, a transição do regime cambial, então em sistema de bandas , e alargando. Grande bate-papo.

“Sei pelo meu passado de historiador do tamanho do caos, da doença, que é a hiperinflação. Em matéria de doenças sociais, a hiperinflação é das piores que tem. E tivemos talvez a mais longa”. No 5º episódio da série Conversas Presidenciais, Gustavo Franco, presidente do BC em 1995 e entre 1997 e 1999, fala a Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco, sobre os desafios econômicos que vivenciou e a experiência à frente do BC.

60 anos de BCB Gabriel Galípolo e Armínio Fraga

Ótimo bate-papo entre alípolo e Armínio Fraga. Foi um dos mais importantes presidentes do BCB, no esforço de criar um sistema de regras, um arcabouço institucional para a atuação da autoridade monetária. Enviarei outros.

“Hoje todo mundo tem um celular que funciona para receber dinheiro. Mas naquela época não existia. O uso de correspondentes permitiu que o número de postos bancários quadruplicasse. Foi sensacional.” No 6º episódio da série Conversas Presidenciais, Armínio Fraga, presidente do BC entre 1999 e 2003, relembra sua trajetória à frente da instituição, os desafios da economia à época e as conquistas que marcaram sua gestão.

https://www.youtube.com/watch?v=43XjFCvBWYE

Fabio Alves