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 NEWS - 10.11


LULA ACEITOU QUE MEDIDAS FISCAIS SEJAM ESTRUTURAIS, MAS PT QUER QUE ATINJAM 'ANDAR DE CIMA’ / O anúncio ainda pode levar alguns dias, porque dependerá não apenas de Lula, mas de conversas entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira. Essa seria a “fase 2" da elaboração do pacote, que ainda está por vir. Broadcast 9/11


Por Álvaro Gribel, do Estadão


Brasília, 09/11/2024 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já aceitou e entendeu que as medidas em discussão para cortar gastos são estruturais, e é justamente por isso que o processo vem se prolongando nas últimas duas semanas. Segundo interlocutores a par das negociações, as reuniões comandadas pelo presidente já somam mais de 20 horas de debates, envolvendo ministros, secretários, economistas, dirigentes partidários e até sindicalistas.


Lideranças do PT também já admitem que o cenário para a economia é binário, com um forte impacto no dólar, juros, e crescimento econômico em caso de frustração com o pacote. Mas entendem que é preciso uma saída honrosa para o partido, com medidas que atinjam também o “andar de cima”. Isso facilitará a comunicação das medidas, para que elas não recaiam apenas sobre os mais pobres e não sejam vistas como uma traição por parte do eleitorado petista.


O anúncio ainda pode levar alguns dias, porque dependerá não apenas de Lula, mas de conversas entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira. Essa seria a “fase 2" da elaboração do pacote, que ainda está por vir.


Pessoas a par das negociações dizem que ninguém sabe exatamente o que será decidido pelo presidente da República, mas garantem que ele está bem informado para definir o que sai e o que fica. Se a discussão envolvesse bloqueios e contingenciamentos, por exemplo, o anúncio já teria sido feito. Como são medidas estruturais, que envolvem muitos anos de governo à frente, Lula se sente no direito e dever de ouvir todos os lados para tomar a melhor decisão, a despeito da pressão do mercado financeiro.


O alinhamento entre Fazenda e Casa Civil já foi tornado público por Haddad, depois de quase dois anos de desentendimentos entre os chefes das duas pastas. Isso dá mais segurança a Lula.


O que está em discussão


O seguro-desemprego em alta, mesmo com o mercado de trabalho aquecido, é um argumento que já sensibiliza integrantes do PT. O mesmo ocorre em relação aos aposentados do INSS que recebem o mesmo valor do salário mínimo de quem tem direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), mas que não contribuiu para a Previdência.


A ideia em estudo pelo secretário Sérgio Firpo, de só conceder o salário mínimo ao BPC para quem fizer algum tipo de contribuição, é bem vista no PT, porque foca na arrecadação, e não na redução de gastos. Não ajuda a conter o aumento de despesas que forçará o teto de 2,5% do arcabouço, mas contribui para diminuir o déficit primário.


Outro ponto visto como crucial na estratégia de comunicação é conseguir explicar que o governo não está “reduzindo gastos sociais”, mas desacelerando o ritmo de alta. Nesse sentido, estabelecer o teto de 2,5% para o salário mínimo é uma medida palatável, porque dá ao partido o argumento de que a valorização está garantida ao trabalhador, mas de forma sustentável nos próximos anos.


 


Nova direção- Lauro Jardim – O Globo 10/11


Gustavo Guimarães, secretário-executivo do Ministério do Planejamento, tem articulado para ocupar uma das três vagas para a nova diretoria do Banco Central a partir de janeiro, sob a gestão de Gabriel Galípolo. O número 2 de Simone Tebet tem apostado em maximizar sua participação na revisão de gastos para se cacifar ao cargo. Guimarães interage ativamente com o mercado financeiro, tanto em agendas no ministério quanto nos eventos da XP, do BTG e do Itaú em São Paulo.


 


 


Transição verde está se mostrando muito mais custosa, diz Campos Neto / Para presidente do BC, transformação ecológica deve ser feita de maneira coordenada- Folha SP 10/11


Nathalia Garcia


O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou neste sábado (9) que a transição para uma economia verde está se mostrando muito mais custosa do que o previsto e que o custo desse processo tem sido subestimado.


Apesar do alerta, o chefe da autoridade monetária vê a transição energética como necessária e defende que ela seja feita de maneira coordenada. Para Campos Neto, as questões climáticas devem ser incorporadas ao mandato dos bancos centrais.


De acordo com o presidente do BC, após a pandemia, as pessoas passaram a exigir que o crescimento seja mais sustentável e inclusivo.


"Os eventos climáticos estão crescendo em ritmo alarmante e, se olharmos para as inundações, é quase exponencial agora. Portanto, a transição precisa ocorrer e precisa ser coordenada", disse.


"Há sinais claros de que subestimamos o custo da transição. Também ficou claro que o clima é nosso mandato. Quero dizer, olhem para as questões de preço e estabilidade financeira no Brasil. [...] Temos os setores de seguros, as questões de produtividade. A transição verde está se mostrando muito mais custosa", acrescentou.


Ele também ressaltou que teve de lidar com três problemas climáticos em um intervalo de um ano no Brasil, sem citar especificamente quais. Mais de 2,3 milhões de pessoas e 478 municípios foram afetados por enchentes no Rio Grande do Sul em maio.


As declarações de Campos Neto foram dadas em evento organizado pelo BIS (Banco de Compensações Internacionais, o banco central dos bancos centrais), na Suíça.


No debate, Campos Neto propôs uma reflexão sobre a mobilização de políticas macroprudenciais —usadas para assegurar a estabilidade do sistema financeiro— para tratar de questões climáticas, de forma a impulsionar a transição verde.


"Costumávamos trabalhar no Banco Central com o princípio da separação, que diz que, para a política monetária, usamos a taxa de juros, e, para a estabilidade financeira, usamos a política macroprudencial. Os efeitos são um sistema flutuante. Quando temos uma crise, essas coisas tendem a se cruzar em algum momento", disse.


"Se o clima é um desafio tão grande, [...] se a questão verde está realmente nos levando ao mesmo lugar, em algum momento, não deveríamos estar usando um pouco de [política] macroprudencial para regular isso?", complementou.


Nesse caso, o presidente do BC questionou se não deveria ser cobrado, por exemplo, um custo de capital mais elevado dos bancos que não têm investimentos verdes. Na sequência, disse se tratar de uma opinião controversa.


Inflação descola da meta; carne bovina pode subir 19% no ano / IPCA atinge 4,76% em 12 meses, acima do teto do alvo perseguido pelo BC, de 4,5%- Valor 9/11


Anaïs Fernandes / Lucianne Carneiro


Em outubro, pela primeira vez no ano, a inflação do Brasil acumulada em 12 meses superou com clareza o teto de tolerância da meta para 2024, de 4,5%. E, se depender do consenso dos analistas, esse movimento não deve se reverter totalmente até o fim do ano, obrigando o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, a escrever uma carta de justificativa ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, seu ex-chefe, para explicar por que o indicador de preços estourou o alvo perseguido pela autoridade monetária.


O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial do país, acelerou para 0,56% em outubro, de 0,44% em setembro, conforme divulgou ontem o IBGE, pressionado pela alta de alimentos e energia elétrica. A taxa ficou acima da mediana das projeções de instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, de 0,53%.


Em 12 meses, a inflação acelerou de 4,42% em setembro para 4,76% em outubro. A meta para a inflação neste ano é de 3%, com tolerância de até 4,5%. Foi a primeira vez que o IPCA em 12 meses ficou bem acima desse percentual. Em janeiro, ficou 4,51%. Nos meses de fevereiro e julho, a taxa havia atingido os 4,5% do teto.


Na pesquisa Focus, do Banco Central com agentes financeiros, a expectativa mediana atual é que o IPCA encerre 2024 em 4,59% — mas há quem projete números até mais próximos de 5%.


O IPCA de outubro reforçou o cenário desafiador para a inflação brasileira, segundo Alexandre Maluf, economista da XP. “A maioria das métricas monitoradas pelo Banco Central está acima da meta de 3%”, diz em relatório. Ontem, a XP elevou suas previsões para 4,9% em 2024, de 4,6%, e para 4,7% em 2025, de 4,1%. Agora, a projeção para o próximo ano também está acima do teto da banda de tolerância da meta de inflação, que é de 4,5%. A revisão para 2024 ocorre, sobretudo, após a escalada dos preços das proteínas, enquanto a elevação para 2025 é puxada também pela pressão em alimentos e por reajustes nas estimativas de combustíveis e energia elétrica.


Cinco das nove classes de despesas tiveram aceleração da alta de preços na passagem entre setembro e outubro. Foram observadas taxas maiores em alimentação e bebidas (de 0,50% para 1,06%); artigos de residência (de -0,19% para 0,43%); vestuário (de 0,18% para 0,37%); despesas pessoais (de -0,31% para 0,70%) e comunicação (de -0,05% para 0,52%).


Por outro lado, foram registradas taxas menores em habitação (de 1,80% para 1,49%); transportes (de 0,14% para -0,38%); saúde e cuidados pessoais (de 0,46% para 0,38%) e educação (de 0,05% para 0,04%).


Com bandeira tarifária vermelha patamar 2, o preço da energia elétrica subiu 4,74% em outubro e foi a principal influência para a alta do IPCA no mês, respondendo por 0,20 ponto percentual. A bandeira vermelha 2 implica acréscimo de R$ 7,87 a cada 100kwh consumidos.


Em setembro, vigorou a bandeira vermelha patamar 1, que representa adicional de R$ 4,463 a cada 100kwh consumidos, e, em novembro, está em vigor a bandeira verde, sem cobrança adicional, o que deve trazer algum alívio para a energia no IPCA deste mês, segundo economistas.


“Os principais itens que pressionaram o IPCA em outubro foram a energia elétrica e os alimentos, em particular as carnes”, diz André Almeida, gerente do IBGE responsável pelo índice.


Os preços de carnes subiram 5,81% em outubro e, em dois meses, já acumulam alta de 8,95%. A Warren Investimentos, por exemplo, espera um salto de 19% só nos preços da carne bovina neste ano.


Segundo Almeida, a alta do preço de carnes está associada às secas no país, ao menor abate e ao aumento das exportações.


“A energia elétrica exerceu pressão preponderante, por causa da bandeira vermelha, acionada pelo receio do nível dos reservatórios, associado à falta de chuvas. E os preços de alimentos e de carnes também subiram com as questões climáticas. De maneira geral, a estiagem e as temperaturas mais altas tiveram mais influência no IPCA de setembro e outubro”, diz Almeida.


Após um mês de setembro com promoções, o preço do cinema voltou a subir em outubro e também foi uma das pressões para a inflação. O item cinema, teatro e concertos subiu 7,54% no mês. “Em setembro, houve a campanha nacional da semana do cinema, com descontos”, lembra Almeida. “Agora, em outubro, foi observado o retorno desses preços.”


Esse e outros diversos vetores pressionaram a inflação de serviços em outubro, “que vinha até bem comportada nos últimos meses”, diz Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, em comentário a clientes.


Os preços dos serviços subiram 0,35% em outubro, de 0,15% em setembro, influenciados pela alta dos ingressos de cinema, bem como por alimentação fora de casa, seguro de veículos e outros, mas foram parcialmente compensados pela grande queda nas passagens aéreas, diz Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do Barclays.


Em 12 meses, a inflação de serviços desacelerou para 4,6% até outubro, de 4,8% até setembro, mas ainda está acima da média pré-pandemia de 4,2% (entre 2017 e 2019), segundo Secemski.


Além disso, ele destaca que a inflação em 12 meses dos serviços intensivos em mão-de-obra interrompeu três meses de melhoria, subindo levemente para 5,4% em outubro, de 5,3% em setembro.


Os serviços subjacentes (mais ligados ao ciclo econômico), por sua vez, não só vieram acima do mês anterior, como superaram as previsões, segundo Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners. “Poderíamos até dar uma ‘colher de chá’ com relação à aceleração entre um mês e outro porque em setembro tivemos o impacto do item ‘Cinema, teatro e concertos’ que puxou o grupo em 0,21 p.p. [ponto percentual] para baixo. Entretanto, o 0,75% apurado não só veio acima do 0,68% esperado como é o nível mais alto para esse grupo desde janeiro”, afirma o economista.


Barbosa, da AZ Quest, nota ainda que os serviços mais sensíveis à ociosidade subiram 0,48% em outubro, ante 0,35% em setembro, acelerando de 4,5% para 4,7% em 12 meses. Ele menciona também os serviços sensíveis à inércia, que passaram de deflação em setembro para alta de 0,72% em outubro, indo de 4,58% para 5,19% em 12 meses.


“É um cenário de economia aquecida. A gente entra no quarto trimestre, que já é de sazonalidade da inflação mais pressionada, com um quadro de atividade muito forte, de mercado de trabalho apertado e de reajustes salariais relativamente altos”, diz.


Para João Fernandes, economista da Quantitas, a inflação de serviços até veio “marginalmente melhor”, diz, em particular, porque os serviços intensivos em mão de obra, relacionados aos salários e sobre os quais a política monetária tem mais poder de ação, desaceleraram de uma alta anualizada de 9% na prévia da inflação de outubro (IPCA-15) para 8% no índice cheio.


“Não dá para dizer que está em nível bom. Mas o IPCA-15 foi muito alto. Continua alto, se comparado com o IPCA de setembro, agosto, julho”, afirma. Nesses últimos meses, a inflação anualizada de serviços intensivos em mão de obra estava em 6%, após chegar a 10% entre abril e maio, segundo o economista.


“Mesmo 6% ainda é alto. A nossa meta [de inflação para o ano] é 3%, o que seria condizente com serviços intensivos em trabalho rodando perto de 4%. Em 6%, é mais condizente com um IPCA em torno de 5%”, afirma. “Mas ter desacelerado de 10% para 6% estava sendo uma ótima notícia.”


A avaliação de que a inflação de curto prazo tem se deteriorado se relaciona, entre outras coisas, com o desempenho do núcleo de inflação (medida para suavizar itens voláteis) chamado “Ex3”, que é, segundo Maluf, da XP, o mais relacionado ao ciclo econômico. O economista destaca que o Ex3 tem se mantido acima de 4% desde julho, na média móvel de três meses anualizada e dessazonalizada.


No fim, “tudo corrobora para um momento pior da inflação”, diz Barbosa. “O momento pior da inflação tem levado a revisões altistas, tanto pela parte de alimentação, quanto, mais recentemente, pela parte de serviços, que deixou de contribuir positivamente.”


Após a divulgação de ontem, Barbosa revisou sua projeção para o IPCA em 2024 de 4,6% para 4,7% e elevou a perspectiva para 2025 de 3,6% para 3,8%.


O Barclays também elevou ontem sua projeção de IPCA para 4,6% em 2024, de 4,3%, e ajustou a previsão para 2025 de 3,9% para 4%, levando em conta a inércia adicional deste para o próximo ano.


A partir de 2025, haverá um alvo contínuo de 3%. O BC não vai mais perseguir a meta no ano calendário, ou seja, no período de janeiro a dezembro. Haverá descumprimento se a variação acumulada em 12 meses ficar acima do teto de 4,5% por seis meses seguidos.


 


ESTADÃO/EDITORIAIS: INFLAÇÃO MAIS ALTA E MAIS DISSEMINADA- 10/11


A apuração do IPCA de outubro, além de confirmar a tendência de estouro da meta inflacionária neste ano, mostrou que a escalada de preços está ocorrendo de forma mais intensa e disseminada do que o previsto. O alerta embutido na piora do comportamento dos preços é de que o ritmo de alta dos juros tende também a acelerar - como, aliás, ocorreu na recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). Se o governo não apresentar de imediato medidas capazes de contrabalançar expectativas, deverá se defrontar com uma política monetária ainda mais restritiva.


O mercado esperava avanço de 0,54% no IPCA de outubro, de acordo com a mediana das projeções coletadas pelo Broadcast, serviço de informações financeiras do Estadão. A alta de 0,56% no mês, como divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), levou a taxa a acumular 4,76% em 12 meses, 1,76 ponto porcentual (p.p.) acima do centro da meta de 3% fixada para este ano e 0,26 p.p. além do limite máximo tolerado, um cenário difícil de ser revertido nas poucas semanas que faltam para o fechamento do ano.


Foi o segundo estouro de 2024 no acumulado em 12 meses. O primeiro foi em janeiro, com 4,51%, mas houve em seguida uma série de quedas até maio, quando a taxa acumulada voltou a subir. Em nenhum mês do ano o acumulado do IPCA se manteve no centro da meta. É certo que muitos fatores que contribuem para o desempenho da inflação independem de motivos internos, como a geopolítica mundial, os efeitos climáticos e a oscilação de preços das commodities. Mas fatores domésticos têm peso significativo, e a disposição do governo em buscar e manter o equilíbrio das contas públicas talvez seja o mais importante deles.


Dito isso, o governo Lula da Silva está devendo ao País o convencimento de seu compromisso com o orçamento fiscal. Mas o adiamento injustificável do pacote de cortes de gastos diz justamente o contrário, assim como alguns sinais despropositados emitidos pelo governo. Chamou a atenção, por exemplo, notícia atribuída ao Ministério das Minas e Energia (MME) dois dias antes da divulgação do IPCA dando como certo que, em dezembro, a bandeira tarifária de energia elétrica será verde.


Talvez por coincidência o aumento no serviço de energia elétrica foi isoladamente o que mais pesou no IPCA. A alta foi de 4,74% em outubro, mês em que vigorou a bandeira vermelha patamar 2, o mais alto. Os sinais emitidos pelo MME davam conta que em dezembro o período de chuvas tornará desnecessária qualquer cobrança adicional. Todos os consumidores esperam que seja assim, de fato, mas isso não é tão óbvio. Desde que o sistema de bandeiras tarifárias foi iniciado, em 2015, por quatro vezes em dezembro ela permaneceu verde, sem cobrança; em outras quatro o adicional foi mais alto (vermelhas 1 e 2 e escassez hídrica), e uma vez, em 2019, a bandeira foi amarela em dezembro.


Diante de um cenário climático caótico, é difícil prever o que ocorrerá no fim deste ano. Ademais, a definição da bandeira tarifária cabe à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), com a análise de parâmetros hídricos específicos, e não ao MME, que vem travando uma briga de foice com o órgão regulador. A retirada do adicional em dezembro, se ocorrer, por certo trará alívio inflacionário, mas não pode vir à custa da segurança energética.


Intervenções desnecessárias como esta são constantes e aumentam a percepção de que no governo Lula há uma crença generalizada de que qualquer condição pode ser criada artificialmente para se chegar ao objetivo desejado. Se o governo quer aumentar o crédito e o consumo, que o Banco Central baixe os juros; se quer elevar gastos, que se retirem alguns itens do limite de despesas; se quer mais investimentos em serviços públicos, que se obrigue empresas privadas a fazê-los.


O comportamento dos preços está deixando claro que não é assim que a banda toca. Há um espalhamento inflacionário maior e as altas já alcançam 62% dos produtos pesquisados. Se não mudar rápido de rota e entregar o prometido pacote fiscal, o governo vai colher taxas de juros ainda mais elevadas.


 


Samuel Pessôa- A inflação volta a preocupar / Há sinais de que começa a haver pressões do mercado de trabalho no índice- Folha SP 10/11


Tudo sugere que a vida do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo (assume o cargo no início de 2015), não será fácil. Na sexta-feira (8), houve a divulgação da taxa de inflação de outubro.


O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE, fechou o mês em 0,56%. A inflação acumulada em 12 meses fechou em 4,8%, acima do teto da banda de 1,5 ponto percentual, para mais ou menos, em torno da meta de 3%.


Eleva-se o risco de que o ano feche com inflação acima de 5%.


Houve, nos últimos meses, forte choque de energia e alimentos. Em outubro, alimentos semielaborados, categoria que inclui as carnes, subiu 3,1%. Em 12 meses, o item apresentou inflação de 11,1%!


De fato, há sinais de que está ocorrendo repasse da desvalorização do câmbio do atacado para o varejo.


Segundo o FGV Ibre, o IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) de outubro fechou em 1,9%, acelerando com relação ao 0,7% observado em setembro. Nos 12 meses terminados em outubro, a inflação no atacado já roda a 5,9%.


Quando olhamos no atacado, o preço dos bens finais, somente em outubro, foi de 1,4%. Ou seja, os choques nas matérias-primas estão subindo na cadeia produtiva. No mercado se diz que o IPCA está "grávido" do IPA.


Mas nem tudo é choque na aceleração recente da inflação. Há sinais de que começa a haver pressões do mercado de trabalho no índice.


A inflação de serviços, para o índice que exclui passagens aéreas, rodou a 0,57% em outubro. Nos últimos 12 meses, serviços que excluem passagens aéreas registraram 5,1%.


Os serviços subjacentes, índice criado pelo BC que acompanha mais de perto o ciclo econômico, têm se elevado e fechou outubro a 5,3% na leitura acumulada em 12 meses, após um mínimo, em junho, de 4,4%.


Finalmente, o núcleo de médias aparadas (também construído para acompanhar de perto o ciclo econômico), para a leitura acumulada em 12 meses, após mínimo em maio, de 4,1%, fechou outubro a 4,5%.


Ou seja, apesar de choques estarem pressionando muito a inflação nos últimos dois meses, a dinâmica dos preços vai muito além deles. A inflação de serviços e os núcleos, que acompanham mais de perto o ciclo econômico, isto é, se elevam se houver pleno emprego e o contrário se houver ociosidade, são um avião que está decolando.


Quando os choques reverterem —choque sempre reverte—, é possível que descubramos, no primeiro semestre de 2025, que os serviços estão rodando a 6%, o que indicará, se nada for feito, inflação cheia em 2026 de 6%.


Reagindo a esses movimentos, o Banco Central acelerou o passo na elevação da taxa básica de juros. Decidiu aumentar a Selic em 0,5 ponto percentual —na reunião anterior, a elevação havia sido de 0,25 ponto—, de 10,75%, para 11,25%. Tudo sugere que o ciclo levará a taxa Selic para patamares acima de 12%.


Lula começou o terceiro mandato elevando muito o gasto público. O discurso de herança maldita na política fiscal, que teria sido deixada por Paulo Guedes, visão da qual sempre discordei, foi usado de pretexto para que se elevasse o gasto público em dois pontos percentuais do PIB.


Agora, no meio do mandato, ainda a dois anos da próxima eleição, Lula enfrenta uma economia a plena carga, que sofre choques de preços e com serviços decolando.


Chegar bem em 2026 ficou mais difícil.


 


Editorial – Folha SP - Risco de inflação com crescimento pífio pela frente / Mesmo após ruína produzida por Dilma, petista ainda alimenta ilusão de que pode ampliar gastos sem sofrer consequências- 10/11


A persistente alta da inflação, mesmo diante de juros escorchantes, é sinal claro de que a política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é insustentável e precisa de ajuste urgente.


É inescapável encarar um ajuste do Orçamento federal, esforço que vem sendo publicamente conduzido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, até agora sem sucesso devido à resistência de Lula e seu partido, que continuam presos ao populismo e à crença pueril de que o gasto público é o caminho da prosperidade —e da popularidade.


Espanta que a esta altura, em seu terceiro mandato no Planalto, o presidente da República, que viveu sob inflação alta e testemunhou o enorme dano que ela causa sobretudo aos mais pobres, ainda sustente tais ilusões. Nem mesmo a ruína social produzida pela correligionária Dilma Rousseff parece ter deixado lições.


Os repetidos adiamentos do prometido pacote de controle das despesas obrigatórias, sem o qual a regra fiscal criada pelo próprio governo petista não se sustentará, não autorizam otimismo. Enquanto o mandatário não se decide, a realidade vai se impondo e acabará decidindo por ele, não sem danos para o país.


A última leitura do IPCA, relativa a outubro, mostra alta da inflação acumulada em 12 meses para 4,76% —acima do intervalo de 1,5 ponto percentual ao redor da meta oficial de 3%. Na trajetória atual, o índice de preços pode fechar o ano acima de 5%.


As tendências econômicas são preocupantes. O dólar em alta eleva os preços de matérias-primas, inclusive alimentos, que subiram 6,65% nos 12 meses até outubro. Também se agrava a carestia de caráter mais persistente, como no setor de serviços, que em certas medições já sobe em taxa entre 5% e 6% ao ano.


Além de choques conjunturais, a pressão maior sobre os preços é umbilicalmente ligada ao excesso de gastos do governo, que impulsiona a demanda além da capacidade produtiva e fragiliza as contas do Tesouro Nacional.


A desconfiança quanto à trajetória da dívida pública desvaloriza o real e eleva os juros. Na quarta-feira (6) o Comitê de Política Monetária subiu a taxa Selic em 0,5 ponto percentual para 11,25% ao ano, e as projeções de mercado apontam para um pico superior a 13% nos próximos meses.


Não tardará para que o arrocho monetário forçado pela imprevidência do governo asfixie empresas e famílias. O pior cenário é novamente o país ser aprisionado na nefasta combinação de inflação e recessão.


A agenda petista até aqui se resumiu a elevar impostos —em alguns casos corretamente, como na cobrança sobre os mais ricos e o fechamento das brechas que levam a abusos de planejamento tributário por empresas.


Não é mais possível persistir apenas nesse rumo. Se Lula não aceitar um programa crível de controle de gastos, vislumbra-se deterioração econômica continuada no restante de sua gestão.


 


Lula deve ao país programa urgente de controle de gastos  Ao procrastinar apresentação de medidas sugeridas por Haddad, ele só contribui para semear mais incerteza - Editorial - O Globo 10/11


Passada uma semana de debates sobre o pacote de controle de gastos prometido pelo governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua a demonstrar resistência. Não faltam estudos e simulações feitas pelas equipes dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet. Lula já dispõe faz tempo de todas as informações necessárias para tomar decisões. Infelizmente, continua a procrastinar. Promoveu uma romaria de ministros ao Planalto, sabendo que ninguém abriria mão do próprio orçamento. Com isso, só contribui para semear ainda mais incerteza e corroer o que ainda resta da credibilidade de seu governo diante dos agentes econômicos.


Os ministros se esmeram no festival de lamúrias e populismo. Luiz Marinho, do Trabalho, ameaçou pedir demissão, buscou apoio das centrais sindicais e bateu pé contra mudanças sugeridas para seguro-desemprego e abono salarial. Outro a falar em deixar o governo foi Carlos Lupi, da Previdência. Wellington Dias, do Desenvolvimento Social, negou mudanças no Bolsa Família— que jamais foram cogitadas — e no Benefício de Prestação Continuada (BPC), voltado a deficientes e idosos de baixa renda. Os titulares da Saúde (Nísia Trindade) e da Educação (Camilo Santana) também se encarregaram de deixar claro que resistirão a cortes em suas pastas.


O que anima essa mobilização, além do espaço aberto por Lula, é o equívoco fundamental que amaldiçoa as gestões petistas: a confusão entre melhoria na qualidade do gasto público e malefícios aos pobres e desassistidos. Nenhuma das propostas sobre a mesa defende cortes descabidos na proteção a trabalhadores, nos sistemas de aposentadorias e pensões, em programas sociais ou nos investimentos em Saúde e Educação. A ideia é trazer um mínimo de racionalidade às despesas, para evitar desperdício. É o caso de gastos ineficazes (abono salarial), da duplicidade entre seguro-desemprego e FGTS, dos reajustes acima da inflação para o BPC ou do crescimento descontrolado das despesas obrigatórias (resultado da vinculação constitucional de gastos com Saúde e Educação).


É evidente que será impossível superar todos esses desafios simultaneamente, mas não passa de hipocrisia negar-se a encarar a necessidade de diminuir despesas empunhando a bandeira da defesa dos pobres. Nada pune tanto a população desassistida quanto o descontrole fiscal, que aumenta a incerteza, pressiona a inflação e força o Banco Central a aumentar os juros, inibindo investimentos, a geração de empregos e o crescimento da economia e da renda.


A História mostra que a conta da irresponsabilidade fiscal é sempre paga pelos mais pobres e pelos trabalhadores — lição que já deveria ter sido aprendida. Desde 2010, a produtividade no Brasil cresceu mísero 0,3% ao ano. Somente na década perdida dos anos 1980 o desempenho foi pior. De 2010 a 2023, a renda per capita se expandiu apenas 0,2% anual. É uma tragédia, algo que todos os ministros de Lula deveriam lembrar todo dia ao acordar. Nesse ritmo, o brasileiro só dobrará de padrão de vida daqui a 344 anos. Será que interessa mesmo aos mais pobres manter o desequilíbrio das contas públicas? Lula precisa parar de procrastinar. Ele deve ao país, com urgência, uma resposta à necessidade de controlar gastos.


 


A lição de Esparta – Alexandre Schwartsman – Estadão 10/11


Conta a lenda que, em determinado festival na Grécia Antiga, um velho procurava lugar para se sentar, sem que ninguém se dispusesse a ceder seu assento, até que, ao passar pela delegação espartana, todos se levantaram, devidamente aplaudidos pelos demais. O velho teria virado para os espectadores e bradado: “Todos os gregos sabem o que é certo; mas apenas os espartanos escolhem fazê-lo”.


Lembrei-me dela acompanhando o debate sobre o ajuste fiscal no País. Não é preciso ser gênio para entender qual o tamanho do ajuste necessário, ou mesmo para saber que medidas teriam maior chance de sucesso na empreitada, muito pelo contrário.


Dado o atual patamar da dívida, equivalente a cerca de 80% do PIB, uma conta simples, que considera tanto seu custo quanto o crescimento sustentável do PIB, indica que o setor público precisaria gerar uma “economia” (o superávit primário) da ordem de 2,5% do PIB. Tal valor impediria que a dívida crescesse sem limites, fenômeno que costuma levar a crises econômicas sérias.


Por outro lado, pelas estimativas da Instituição Fiscal Independente (órgão de pesquisa sobre as contas públicas ligado ao


Senado) o resultado do governo uma vez limpo de receitas e despesas não recorrentes, assim como dos ganhos de arrecadação provenientes de uma economia superaquecida, resultaria em déficit da ordem de 1% do PIB.


Teríamos, portanto, de sair de -1% do PIB para +2,5% do PIB, ajuste de 3,5% do PIB, ou perto de R$ 400 bilhões. Isso é, obviamente, inexequível num único ano, mas também ninguém em sã consciência sugere que seja feito em intervalo tão curto.


Caso seja um processo que se estenda por quatro ou cinco anos, mas amparado em medidas técnica e politicamente sólidas, já teria efeitos no sentido de dissipar os temores de insustentabilidade da dívida. Poderia, aliás, até reduzir seu custo, como ocorreu após a aprovação do teto de gastos em 2016, facilitando a tarefa.


Tudo indica, porém, que o conjunto de medidas em estudo (e debate interno) pelo governo é muito aquém do necessário. Estudo recente sobre as contas públicas de Gabriel Leal de Barros e Johann Soares sugere que a economia de gasto poderia chegar a 0,5% do PIB, mas só em 2034! Sugere também que reajustar o salário mínimo apenas pela inflação, sem ganhos reais, poderia ter efeito muito maior, mas se trata de área vetada pelo comando político, ainda mais em período que antecede eleições.


Todos sabem o que é necessário ser feito. O que nos falta são espartanos dispostos a fazer a coisa certa.


 


Haddad quer colocar seguro-desemprego na Black Friday, diz sindicato / Presidente da Força Sindical promete reação caso governo encaminhe propostas para 'fazer ajuste fiscal em cima dos trabalhadores'- Painel – Folha SP 9/11


Danielle Brant


Em assembleia que aprovou proposta patronal na última sexta-feira (8), metalúrgicos protestaram contra a revisão de gastos da equipe econômica por causa da possibilidade de mudanças no seguro-desemprego e afirmaram que o ministro Fernando Haddad (Fazenda) quer colocar o benefício na Black Friday.


As faixas foram estendidas durante reunião do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes.


Presidente da Força Sindical, Miguel Torres critica as articulações envolvendo o benefício e afirma que uma mudança do tipo não poderia acontecer em um governo Lula (PT). Uma das propostas em análise seria descontar das parcelas de seguro-desemprego o valor da multa sobre o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), paga pelo empregador ao funcionário demitido.


"Preocupa muito. Nós sabemos das dificuldades que nós temos no Congresso Nacional, porque é um Congresso muito conservador. Imagina o governo enviando uma PEC (proposta de emenda à Constituição) ou um projeto de lei complementar autorizando alguns cortes. Como vai voltar isso?", questiona.


As centrais sindicais enviaram uma carta nesta semana ao governo Lula pedindo uma conversa sobre as revisões estudadas, mas ainda não receberam resposta. "Não estou falando que não tem que ter correção, que não tenha que ter controle de gastos, mas nós estamos tirando daquele que mais precisa, do trabalhador desempregado."


Torres diz que, se a proposta for enviada com mudanças no seguro-desemprego, haverá reação dos trabalhadores. Segundo ele, uma mudança possível é regulamentar dispositivo da Constituição que diz que o financiamento do seguro-desemprego receberá uma contribuição adicional da empresa cujo índice de rotatividade da força de trabalho superar o índice médio da rotatividade do setor.


"Quem mais demite, quem mais faz rotatividade, tem que contribuir mais para o sistema de proteção social dos desempregados. Tem coisas que dá para fazer", argumenta.


 


Frente parlamentar alerta para impacto do fim do saque-aniversário na economia  / Grupo se articula para barrar proposta que governo quer enviar ao Congresso, sob argumento de que fere 'liberdade financeira e econômica' da população- Painel -Folha SP 10/11


Danielle Brant


A Frente Parlamentar Pelo Livre Mercado se articula para tentar barrar no Congresso a proposta que o ministro Luiz Marinho (Trabalho) quer enviar para acabar com o saque-aniversário do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), uma de suas metas à frente da pasta.


Nesta quarta-feira (13), a frente vai realizar, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, um evento com parlamentares e especialistas com o tema "O fim do saque-aniversário do FGTS: A diminuição da oferta de crédito e o impacto na vida dos brasileiros".


Integrante da frente, o deputado capitão Alberto Neto (PL-AM) afirma que a proposta poderá gerar sérios impactos para a economia. "Essa proposta cerceia a liberdade econômica dos brasileiros. O saque-aniversário e sua antecipação são grandes facilitadores da vida do brasileiro, além de representarem um instrumento fundamental de liberdade financeira para muitas famílias endividadas."


Rodrigo Marinho, diretor-executivo do Instituto Livre Mercado, diz que a extinção desse tipo de empréstimo forçaria cidadãos em situação vulnerável a recorrer a operações financeiras emergenciais com juros mais altos.


O fim do saque-aniversário é defendido pelo ministro do Trabalho desde antes da posse do presidente Lula (PT), mas a proposta de encaminhar a proposta ao Congresso vem sendo adiada diante da resistência no sistema financeiro e em ala do governo que teme que isso afete o mercado de crédito. Em 12 de setembro, Marinho prometeu que o texto seria enviado aos parlamentares ainda neste ano.


O saque-aniversário foi criado em 2019. Ele permite ao trabalhador sacar parte do FGTS a cada ano.


Por outro lado, o trabalhador fica impedido de sacar o valor integral da conta caso seja demitido (podendo acessar somente o valor referente à multa rescisória de 40% paga pela empresa). A adesão ao saque-aniversário é voluntária e o valor que pode ser liberado anualmente depende de quanto o trabalhador tem de saldo em sua conta do FGTS.


Nem para o PT Lula é de esquerda, diz ministro / Para Renan Filho (Transportes), pragmatismo do presidente explica domínio de capital privado na infraestrutura- Painel S.A- Folha SP 9/11


O ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL), quer fazer 35 leilões de rodovias até o fim do mandato do presidente Lula para destravar investimentos de R$ 190 bilhões, superando o ex-ministro Tarcísio de Freitas, hoje potencial nome da direita alinhado com o mercado para disputar as eleições residenciais de 2026. Para ele, no entanto, a predominância do capital privado no setor mostra que Lula é um pragmático e de centro, posição que precisa ser difundida caso ele seja candidato à reeleição.


O senhor já disse que já fez mais do que Tarcísio, ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, e que, pela primeira vez, o capital privado será maioria em rodovias e ferrovias. A comparação entre gestões, que também se percebe em outras pastas, é uma orientação de Lula, mirando 2026?


Não é uma polarização política, nem uma obrigatoriedade [imposta pelo Planalto]. O fato é que o presidente Lula é o maior líder de centro do país. Muito antes do centro vencer as eleições municipais, PP, União, PSD, Republicanos á estavam no governo. Agora, é importante colocar para as pessoas compararem, porque é muito fácil dizer que Bolsonaro é liberal. Nunca foi. E também não foi eficiente, não fez concessão, não atraiu capital privado. Com Lula, teremos o domínio do capital privado em rodovias e ferrovias, uma inversão histórica.


Então, o ponto é reforçar que Lula é de centro para afastar a imagem de que ele é de esquerda? Só na bolha [de Bolsonaro] ele é de esquerda. Nem a bolha do Lula acha isso. Porque, para o PT, o presidente não é de esquerda.


Por isso o ministro Fernando Haddad tem problemas com o PT? 


Ele tem alguns problemas com a extrema esquerda, mas também com a extrema direita. Se ele não tivesse [problemas] com os extremos, seria com o centro. E é melhor que seja com os extremos. Então, acho que o presidente acerta. No fundo, ele é um pragmático, faz na economia o que precisa ser feito.


Mas o governo resistiu a fazer o ajuste.


Ele está fazendo. E tem que rever despesas. Mas é importante dar uma olhadinha no andar de cima. Temos R$ 500 bilhões em incentivos fiscais.


Isso depende mais do Congresso. Como resolver?


Ao invés de tirar o benefício de um setor, cortar 10% de todo mundo. É o que proponho. Fiz isso quando fui governador [de Alagoas] e funcionou. O estado foi o que mais investiu com recursos próprios. Nossas rodovias [estaduais], superaram as de São Paulo em qualidade, por exemplo.


Essa ideia de cortes funcionaria para as emendas parlamentares?


Não, as emendas cresceram muito ao longo dos últimos anos porque o governo anterior infantilizou a presidência da República. Como não há vácuo de poder, ele foi ocupado e o orçamento migrou em parcela significativa para o parlamento. O presidente Lula tenta criar uma lógica. Dá para tirar de uma vez, garantindo governabilidade, a aprovação da reforma tributária, do arcabouço? Talvez não.


As emendas não ajudam o Dnit, por exemplo, na manutenção de rodovias federais?


O Dnit tem orçamento próprio e estimula doações de emendas. O problema é que uma obra de infraestrutura não tem a mesma potência eleitoral que uma escola no bairro, um posto de saúde, um calçamento de rua. Na discussão que o STF está fazendo, o que se debate é garantir uma parte das emendas de bancadas para obras estruturantes. Algo como 20% poderiam ser direcionados para isso e o Dnit é que tem a maior carteira de obras estruturantes.


Essa discussão será definida em conjunto com o corte de gastos?


É casada. Quando for votar o orçamento, eu espero que já esteja decidida essa questão das emendas de bancada.


Então, em vez de cortar, sua pasta pode ter mais recursos?


Se obrigarem as emendas de bancada a serem para obras de infraestrutura, a chance é grande.


De quanto será seu corte?


Entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão. Acho que ainda tem espaço para, de alguma maneira, recuperar.


 


Entrevista: 'Núcleo do governo tem que entender melhor as pessoas', diz Camilo Santana / Titular do MEC avalia que falta à gestão Lula encaixar melhor a comunicação, pede ‘reflexão’ ao PT diante dos recados da eleição municipal e diz que responsabilidade fiscal é necessária para entregar resultados- O Globo 10/11


Jeniffer Gularte


Único ministro do PT a eleger um aliado em capital, com Evandro Leitão (PT) em Fortaleza, Camilo Santana afirma que o governo precisa fazer uma reflexão profunda para entender quais são as prioridades das pessoas e verificar por que parte da população mais empobrecida, principal beneficiária de programas sociais, não está mais votando no PT.


Em entrevista ao GLOBO, o ministro da Educação pede que o partido faça uma avaliação com “humildade” do resultado eleitoral, diz que falta comunicação ao governo e defende que o Congresso aprove até o fim do ano o projeto que proíbe o uso de celular nas escolas.


Leia a entrevista completa:


O PL elegeu quatro prefeitos em capitais, dois deles no Nordeste (Maceió e Aracaju). O que explica esse avanço da direita numa região onde o PT costuma ser forte?


Não vejo isso. Existe essa polarização. Do ponto de vista nacional, o (ex-presidente Jair) Bolsonaro perdeu. O país foi muito mais para o centrão e para a centro-direita.


A maior parte da densidade eleitoral do PT hoje está concentrada no Nordeste. Como reconquistar a relevância em outras regiões?


É um momento importante para o PT fazer uma reflexão, principalmente no Sudeste, em São Paulo, que foi o berço do partido. E fazer uma avaliação com muita humildade, tranquilidade, para entender o que tem mudado no cenário político, na comunicação com as pessoas. Precisamos renovar os quadros. Digo isso não só do ponto de vista político, partidário e eleitoral, mas do ponto de vista do governo. O PT é o partido que mais criou programas sociais para olhar para os mais pobres, e parte dessa população não votou no PT. Então, precisamos entender a falta de comunicação. E não é falta de propaganda. É preciso compreender de que forma estamos nos relacionando com a população enquanto governo.


Se o governo prioriza os mais pobres com suas políticas, por que uma parte dessa população não vota no PT?


A gente precisa fazer pesquisas científicas, qualitativas, para entender um pouco o sentimento das pessoas. Quais são as prioridades delas? Tem que entender essa dinâmica. E não é só no Brasil, é no mundo inteiro. Tem eleição do (Donald) Trump nos Estados Unidos, do (Javier) Milei na Argentina... O governo precisa fazer uma reflexão para compreender essa dinâmica que está acontecendo e ver as estratégias que são importantes para dialogar melhor com a população, com a família e com o sentimento das pessoas. Considero que um dos temas que abala e atinge a grande maioria da população brasileira é a segurança. O Brasil não é um país produtor de droga, ela entra pelas fronteiras. As organizações criminosas tomaram conta de alguns espaços no país. Nenhum governador sozinho vai conseguir resolver esse problema.


O senhor defende uma virada no governo?


Não é questão de virada. O Lula é um grande estadista e o maior presidente da História desse país. Mas o núcleo central do governo precisa estar com todas as informações científicas, qualitativas, para que a gente possa entender melhor essa dinâmica e qual estratégia a gente precisa. Porque, às vezes, as pessoas não têm a compreensão.


O senhor foi o único ministro do PT que conseguiu eleger aliado em capital. O que falta para o partido reconquistar votos nas maiores cidades brasileiras?


Cada estado tem uma realidade diferente. No caso específico do Ceará, nós temos um projeto que tem trazido resultados importantes para o estado, com avanços importantes na educação, na economia e no crescimento do estado. As pessoas estão reconhecendo isso. Nas capitais, é um público que depende menos do Estado, das políticas públicas.


Qual deve ser o norte para a construção da aliança de Lula em 2026? Atrair o centro e a direita são prioridades?


Quanto mais a gente conseguir unir e agregar. Eu fui governador com apoio dos partidos de centro, PP, PSD, MDB e Republicanos. Agora mesmo, o Evandro (Leitão, prefeito eleito de Fortaleza) tem apoio do PP, PSD e Republicanos. Defendo que é importante o diálogo, construir consensos. Democracia é isso.


Há grupos do PT que defendem maior protagonismo do senhor para discutir os rumos do partido. Pretende assumir esse papel?


O meu estilo é de contribuir. Nada é pessoal, tudo é um projeto. E eu aceitei o convite do presidente para vir para cá, porque eu acredito que o caminho é por meio da educação. Nós não vamos conseguir resolver todos os problemas, mas você precisa priorizar aquilo que é mais importante. O que eu quero neste momento é contribuir com o governo do presidente Lula, que, para mim, é um grande líder, muito maior do que o próprio PT. Respeito muito a liderança da Gleisi (Hoffmann, presidente do PT) e vou contribuir onde for chamado. Mas sempre respeitando os espaços, a hierarquia e a grande liderança do presidente.


Tem uma ala do PT que defende que um nome do Nordeste assuma o comando do PT, mas Lula tem outro candidato. O que o senhor acha?


Acho que o partido não é do Nordeste, é do Brasil. E, repito: caberá a discussão, sob a liderança da nossa presidente (Gleisi). E sempre respeitando o nosso maior líder, que é o presidente Lula.


O governo está discutindo um pacote de corte de gastos. O que a Fazenda pediu ao senhor?


Quem fala de questões orçamentárias é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem feito um grande trabalho. Para um governo, responsabilidade fiscal é muito importante. Você não consegue fazer entrega se não tiver o país sob equilíbrio. E o presidente Lula tem compromisso com a educação.


O deputado federal Eunício Oliveira (MDB-CE) disse que o senhor seria a melhor opção para suceder Lula na Presidência. Concorda?


Isso é bondade dele. O meu candidato à eleição chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Tenho um mandato de oito anos (no Senado) e nenhum interesse de ser candidato. Meu único foco neste momento é trabalhar muito pela educação.


A Comissão de Educação da Câmara aprovou o projeto que proíbe celulares nas escolas. O MEC está de acordo com a íntegra do texto?


A minha posição pessoal é que precisamos restringir o uso, porque todos os estudos mostram prejuízo. Não é só na escola, mas na vida das pessoas. Vários países no mundo já fizeram isso. A ideia é essa, restringir totalmente aos alunos mais novos, no ensino fundamental um, e liberar para os mais velhos e do ensino médio com a orientação pedagógica do professor para a aula. Claro que tem as exceções, como problemas de saúde. Vai ser uma medida importante. Espero que o Congresso vote ainda neste ano.


A Polícia Federal está investigando vazamento de imagens do Enem. Isso pode prejudicar outros candidatos?


A informação que eu tenho é que isso aconteceu por volta das 16h. Depois que o aluno entra em sala de aula e está lá com os portões fechados, ele fica incomunicável. Então, ao meu ver, claro que não há nenhum prejuízo para os alunos que fizeram as provas. Cada vez mais precisamos ter mais rigor nisso.


 


ESTADÃO: LULA PLANEJA ENTREGAR MINISTÉRIO PARA SE APROXIMAR DA BASE EVANGÉLICA- 10/11


Brasília, 09/11/2024 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja convidar um representante da Frente Parlamentar Evangélica para o comando de um ministério, de preferência uma mulher. Interlocutores do petista afirmam que a ideia é resolver duas questões que atormentam o Palácio do Planalto: aproximar o governo dos evangélicos e, de quebra, fazer um aceno ao público feminino.


Na lista dos nomes avaliados no Planalto para ocupar a vaga no primeiro escalão estão a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e a deputada Benedita da Silva (PT-RJ). A petista já foi ministra de Assistência e Promoção Social de 2003 a 2004, no primeiro mandato de Lula. Agora, um dos ministérios na mira dos evangélicos é o do Desenvolvimento Social, que abriga o programa Bolsa Família e hoje está nas mãos do senador licenciado Wellington Dias (PT).


Apesar desta perspectiva, o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Silas Câmara (Republicanos-AM), disse não ter qualquer compromisso com o Planalto. “O que existe é um diálogo normal. Mas conversar só não adianta. O governo precisa mudar suas atitudes”, afirmou.


Para o deputado, resoluções sobre educação infantil e nota técnica sobre aborto legal, ainda que derrubadas, indicam haver áreas do governo “desconectadas” com o desejo manifestado por Lula de se aproximar dos evangélicos.


Câmara mencionou até mesmo a vitória de Donald Trump como um sinal de alerta para o Planalto, sob o argumento de que o conservadorismo está cada vez mais forte no mundo. “A eleição nos Estados Unidos demonstrou o que dá os políticos não respeitarem o sentimento da população”, disse.


REUNIÕES. Os ministros que têm feito reuniões frequentes com líderes evangélicos, a pedido do presidente, são o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, e o titular de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.


“Sou terrivelmente pacificador”, disse Messias ao Estadão, em um contraponto ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que, em 2019, disse desejar um perfil “terrivelmente evangélico” para o Supremo Tribunal Federal.


Messias foi criado em uma família batista e desde pequeno frequenta cultos. Agora, ele se tornou a principal “ponte” entre os evangélicos e o Planalto, conversando com representantes de várias denominações, do deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP) ao Bispo Rodovalho, da Sara Nossa Terra. “Tenho me esforçado para levar sempre uma mensagem de paz aos meus colegas e mostrar que nosso governo nunca se contrapôs aos valores cristãos”, observou.


‘LIVRAMENTO’. O ministro da AGU contou que estava numa reunião com Lula, mês passado, quando o presidente disse que teve um “livramento” por não sofrer nada mais grave ao cair no Palácio da Alvorada e bater a cabeça, no dia 19 de outubro. Na ocasião, o presidente levou cinco pontos e desmarcou uma viagem que faria à Rússia.


Quatro dias antes da queda, Lula recebeu orações no Planalto ao se encontrar com integrantes da bancada evangélica numa cerimônia para sancionar a lei que criou o Dia Nacional da Música Gospel. “O presidente falou para nós: ‘Ainda bem que oraram por mim’. Ele sentiu que a mão de Deus o livrou de coisa pior”, contou Messias.


Ex-integrante da tropa de choque bolsonarista, o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) foi o representante da Frente Parlamentar Evangélica que puxou as orações para Lula na cerimônia. Depois, nas palavras do próprio presidente, foi “triturado” nas redes sociais por apoiadores de Bolsonaro.


“Os parlamentares evangélicos sofrem um ataque do bolsonarismo, que sequestrou as nossas pautas”, reclamou Otoni. “Tem cara que já mandou a namorada fazer aborto, mas faz campanha dizendo que é aliado de Bolsonaro e que é a favor da vida. É esse candidato que sobe no nosso púlpito e rouba os nossos votos”.


Embora o deputado não cite nomes, o influencer Pablo Marçal (PRTB) preocupa o segmento por defender a agenda de costumes sem a intermediação das igrejas. Candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo, Marçal negocia sua filiação ao União Brasil e quer concorrer ao Planalto, em 2026. As conversas ainda estão no início, mas o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, já mandou recado à cúpula do partido de que não abrirá mão de sua candidatura à sucessão de Lula se Marçal entrar no seu partido.


A bancada evangélica reúne hoje 137 deputados e 19 senadores, a maioria deles ligada a Bolsonaro. Em 2022, Otoni chegou a dizer que receberia “vagabundos igual a Lula” à bala, caso eles aparecessem à sua porta porque este seria o método usado no Rio para lidar com “bandidos”. Dias antes, durante ato na CUT, o petista havia incentivado militantes a procurar deputados e suas famílias para pressionar pela votação de propostas de interesse dos trabalhadores. Otoni afirmou depois que se arrependia de ter atacado Lula.


MANIPULAÇÃO DA FÉ. Aliado de Bolsonaro, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) afirma que a investida do governo sobre os evangélicos não terá resultado. “Lula quer manipular a fé, mas nada do que ele fizer vai adiantar”, provocou Sóstenes.


Na avaliação do cientista político Vinícius do Valle, apesar das críticas de integrantes da bancada evangélica, existe uma ala que se sente desamparada por Bolsonaro e tenta se aproximar de Lula. “É uma ala que gostaria de estar no governo de forma discreta, sem sofrer o estigma de ser esquerdista. É a melhor posição em termos de estratégia eleitoral, como faz o Centrão”, disse.


(VERA ROSA)


 


 


PGR vai para cima de Bolsonaro: 'vem chumbo grosso' / Denúncia tornará mais pedregoso o caminho de ex-presidente para se livrar da inelegibilidade- Folha SP 9/11


Elio Gaspari


Nas próximas semanas, o procurador-geral Paulo Gonet deverá enviar ao Supremo Tribunal Federal a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pela sua atividade nas armações antidemocráticas que acabaram desembocando no 8 de janeiro.


Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal em dois outros inquéritos. Um trata das joias sauditas e o outro, da emissão de atestados falsos de vacinas contra a Covid.


A PGR concluiu seu trabalho há tempo, mas Gonet não queria enviar os documentos ao STF durante o processo eleitoral. Quem acompanha o caso informa: "Vem chumbo grosso".


A denúncia da PGR tornará mais pedregoso o caminho de Bolsonaro para se livrar da inelegibilidade.

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