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Henrique Meirelles

 Henrique Meirelles - Opinião - Brasil estará mais preparado para enfrentar a era Trump se fortalecer sua economia – Estadão 11/11


A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos provoca muita especulação sobre qual será o seu impacto na economia mundial e brasileira a partir de janeiro. É natural que isso aconteça diante de um fato dessa magnitude e do seu discurso eleitoral protecionista. Entendo a preocupação, mas acredito que, nessas situações, é mais produtivo se concentrar no que é preciso fazer para fortalecer a economia brasileira do que especular sobre um futuro fora do controle.


Costumo dizer que a economia brasileira aguenta alguns desaforos — sejam eles produzidos aqui ou em outros países. Isso se deve, principalmente, ao robusto volume de reservas internacionais, cuja maior parte foi construída quando eu era presidente do Banco Central e que está hoje em US$ 364 bilhões. As reservas foram uma ferramenta essencial para o Brasil superar mais rápido do que se esperava a crise financeira mundial de 2008, talvez a maior da história.


As reservas são uma salvaguarda. Sem elas, o Brasil ficou insolvente na década de 1980 por falta de dólares para honrar compromissos. Mas é importante pensar em outras medidas para o Brasil não só estar menos suscetível a problemas externos, como crescer mais. É fundamental que um programa para colocar as despesas do governo sob os limites do arcabouço fiscal seja realmente efetivo. Uma das maiores vulnerabilidades do Brasil, hoje, vem do crescimento do gasto público, que alimenta a elevação da dívida pública. Interromper essa trajetória reduz riscos para a economia e pode atrair investimentos externos.


O fato de o Banco Central ter elevado a Selic em 0,5 ponto percentual, em uma decisão unânime e necessária, sem ruídos externos, é positivo. O BC está fazendo seu trabalho para trazer a inflação à meta — e, desde o início do processo de sucessão em seu comando, sem críticas pesadas. Não fazer barulho desnecessário contribui para a estabilização da expectativa de inflação. O governo federal pode fazer a sua parte, ao levar a política fiscal para o campo mais restritivo.


Como já falei aqui, quando as políticas fiscal e monetária andam na mesma direção, o País ganha. Se isso acontecer, o Brasil poderá estar mais preparado para enfrentar o que quer que aconteça na economia mundial com a chegada de Donald Trump em 2025.


Conheci Trump em Nova York, no início dos anos 2000, quando era presidente do BankBoston. Seus projetos imobiliários eram ambiciosos, muitas vezes enfrentavam dificuldades financeiras, mas no fim eram bem-sucedidos. Conto o episódio em meu livro, Calma sob pressão.

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