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Amilton Aquino

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"Este post é a continuação do de ontem. Acho que ficou clara a diferença entre democratas (que tendem mais ao globalismo) e republicanos (que tendem mais ao isolacionismo). Portanto, este post tem como objetivo esclarecer uma confusão que virou modinha entre uma parte da direita, rotulada hoje como “extrema” pela mídia. Curiosamente, o brasileiro Olavo de Carvalho é um dos teóricos dessa corrente, especialmente após seu famoso debate com o guru de Putin, Alexandre Dugin, em 2012.


O tema do debate foi “A Nova Ordem Mundial”, que acabou se transformando em um livro, hoje considerado quase “profético” pelos seguidores de Olavo. A tese central descrevia o futuro como um embate entre quatro grandes forças pela hegemonia mundial:


- Globalismo Ocidental, que visaria consolidar uma ordem mundial liberal e democrática, baseada no livre mercado, nos direitos individuais e em instituições globais, como a ONU e o FMI.


- Eurasianismo Russo, uma alternativa ao liberalismo ocidental, que vê a Rússia como a "Terceira Roma", uma força civilizatória distinta com o dever de proteger o "mundo eurasiano" da influência ocidental.


- China, que representa uma força que combina práticas econômicas de mercado com um governo centralizado e autoritário, buscando expandir sua influência global através de iniciativas como a Nova Rota da Seda.


- Islamismo Radical, que visa estabelecer um califado mundial, liderado pelo Irã, e expandir a influência do Islã político globalmente, com uma implementação gradual da Sharia, a lei islâmica que se sobrepõe às legislações ocidentais.


Já neste debate, Olavo mencionava momentos de aproximação, especialmente entre a Russia e a China, contra os globalistas ocidentais. Na prática, hoje vemos uma aliança tripla, incluindo também o islamismo radical, consolidada nos BRICS.


Ou seja, em pouco mais de uma década, o cenário evoluiu significativamente, a ponto de alguns teóricos considerarem já estar em curso uma terceira guerra mundial indireta entre as democracias ocidentais e o eixo autoritário, nas guerras da Ucrânia e no Oriente Médio. 


Aqui começa a confusão que pretendo esclarecer com minha humilde contribuição. Embora Olavo estivesse nitidamente ao lado dos “globalistas” nesse embate em sua defesa dos EUA como baluarte da defesa das democracias liberais contra o autoritarismo das demais forças, com o tempo, ele passou a adotar uma visão mais crítica aos globalistas, absorvendo parcialmente a perspectiva de Dugin. Isso explica a curiosa defesa de Putin por uma ala dos seus seguidores atuais.


Ora, o que está em jogo é a ordem internacional do pós-guerra. Embora falha, essa ordem possibilitou as décadas mais pacíficas da história recente. Os BRICS, por sua vez, procuram criar meios de contornar as legislações internacionais e os mecanismos de sanções comerciais dessa ordem pós-guerra, a única alternativa pacífica para tentar punir países autoritários por desvios dos acordos internacionais sem recorrer ao embate de fato.


Quando Lula critica a ONU, por exemplo, o faz pelos motivos errados. Ele não visa torná-la mais “democrática”, mas sim desbalancear a influência das democracias ocidentais no Conselho de Segurança, ampliando o poder da China e da Rússia.


A crise da ONU reflete, portanto, em escala reduzida, a crise das democracias liberais, corroídas pelo “multiculturalismo” woke que na sua complacência irresponsável com os "diferentes" permitiu a inclusão gradativa de ditaduras no órgão, até que estas se tornassem maioria. Isso explica o porquê de Israel acumular no órgão mais condenações do que todas as ditaduras do mundo juntas.


Temos aqui o clássico caso de “jogar a água suja com o bebê dentro”. Sim, a ONU precisa de reformas, mas não para dar mais voz a regimes autoritários, e sim para reafirmar sua essência de congregar nações em busca da paz — uma busca que deve ter como pressuposto básico o respeito às fronteiras estabelecidas e reconhecidas desde o pós-guerra. 


Mais do que nunca, as democracias devem se unir, não se afastar. Faz sentido a cobrança dos republicanos para que os europeus aumentem sua participação na defesa da Europa e do restante do mundo. Mas não faz sentido desmontar a União Europeia com saídas do bloco como fez o Reino Unido, apenas para evitar a burocracia de Bruxelas.


A realidade aos poucos vai se impondo.  Seria saudável que a esquerda fizesse uma autocrítica sobre sua responsabilidade na polarização do Ocidente, especialmente por sua complacência com autoritários que ameaçam a liberdade que gozam, existente nas democracias ocidentais, principal alvo de suas críticas. E como a esquerda domina as universidades — que formam nossa elite, inclusive a econômica —, cabe a ela a responsabilidade pela confusão ideológica que virou o debate político. É a esquerda que deveria estar apontando as questões que levanto aqui, não eu, um cidadão comum. A esquerda é, portanto, uma das grandes responsáveis pela fraqueza do ocidente que anima os autoritários de plantão. Ainda dá tempo para uma correção de rota, mas isso exige humildade, algo desconhecido  pelos nossos luminares esquerdistas."

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