Amilton Aquino

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"Não comentei muito sobre as eleições norte-americanas por puro tédio. De fato, como ocorre no Brasil e em grande parte do Ocidente, a política está polarizada, reduzindo as chances de que a centro-esquerda e a centro-direita democrática consigam construir consensos para enfrentar os desafios atuais. Mas por que essa polarização?


A raiz do problema está no descolamento entre a cultura “woke” de esquerda, que domina a mídia e grande parte da burocracia estatal, e a “maioria silenciosa” – o cidadão comum, cada vez mais incomodado com a hipocrisia de uma elite que vive num mundo paralelo. Nesse universo, essas figuras arrotam virtudes e posam de pacifistas, mas, na prática, fomentam ódio e ressentimento por todas as democracias liberais, algo que ficou muito evidente na defesa do Hamas e no antissemitismo descarado em universidades norte-americanas.


Até mesmo parte da esquerda reconhece esse diagnóstico. Vladimir Safatle, por exemplo, uma das referências da esquerda sul-americana, tem criticado - muito antes da derrota de Boulos - não só o excesso de identitarismo “woke”, mas também o fato da esquerda ter se tornado mainstream, o status quo, acomodando-se ao poder e perdendo seu caráter revolucionário. Ironicamente, figuras como Trump, Milei e Bukele são hoje percebidas como mais “revolucionárias” e “anti-sistema” do que a estrela da cultura woke, Kamala Harris, esta sim, mainstream, aclamada pela mídia.


Contudo, os benefícios de uma possível vitória de Trump param por aí. A postura isolacionista defendida pelos republicanos é, no final, prejudicial para o mundo. De fato, se os EUA parassem de gastar trilhões anualmente com a segurança global, certamente os cidadãos norte-americanos estariam em muito melhor situação econômica. Os EUA são autossuficientes em quase tudo. É um dos poucos países do mundo que pode se isolar sem maiores consequências. E, num mundo em constante ebulição, com um ódio generalizado contra os “imperialistas” norte-americanos (o único império da humanidade que desde que conquistou a hegemonia, nunca anexou um quilômetro de qualquer nação), é perfeitamente compreensível esta visão isolacionista dos republicanos.


Porém, para o mundo – especialmente para a Europa, Japão, Taiwan, Coreia do Sul e Filipinas, que dependem do “escudo” norte-americano – o lema “America First” de Trump pode ser catastrófico, já que pode favorecer as ditaduras do bloco autoritário dos BRICs, que se fortalece a cada ano. A proposta de Trump para a Ucrânia, por exemplo, consolidaria a ocupação russa, criando uma zona de contenção entre o que restar da Ucrânia e os territórios ocupados, sob controle de exércitos europeus. Isso basicamente romperia com os tratados internacionais do pós-guerra, que proíbem anexações territoriais.


Os defensores de Trump que também apoiam a Ucrânia esperam que ele mude sua postura no poder. Outros dizem que, por ser um negociador nato, ele pode conseguir acordos vantajosos. A ver.


De fato, Trump tem, em seu histórico, os Acordos de Abraão, que levaram alguns países árabes a reconhecerem a existência de Israel – o primeiro passo para uma paz duradoura no Oriente Médio. O reconhecimento da Arábia Saudita, o principal país muçulmano do mundo, estava próximo, até que o pogrom de 7 de outubro levou ao cancelamento do encontro que selaria o acordo.


Por outro lado, Biden, que iniciou seu governo prometendo a paz, com uma retirada desastrosa e humilhante do Afeganistão, na prática, encorajou Putin e os terroristas muçulmanos a desafiarem o poder norte-americano.


Enfim, tais eventos mostram que, nem sempre, as boas intenções levam a soluções eficazes. Curiosamente, Trump, que a mídia muitas vezes retrata como “nazi-fascista” e que iniciou seu primeiro mandato com a polêmica e desnecessária mudança da embaixada dos EUA para Jerusalém, foi quem mais conseguiu construir pontes entre árabes e judeus desde Clinton. Resta ver o que o futuro nos reserva."

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