Amilton Aquino
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"Não comentei em um post específico sobre a melhora da nota de risco do Brasil pela agência Moody’s no início de outubro, porque, assim como todo o mercado, fui surpreendido. Como justificar a melhora na nota do Brasil justamente quando o quadro fiscal se agrava e o governo continua resistindo a cortar gastos?
Desde então, diferentemente do que geralmente ocorre quando há uma elevação de rating de um país, o fluxo de investimentos estrangeiros no Brasil não apenas continuou negativo, mas se intensificou. Em outras palavras, o mercado (não só o brasileiro) não comprou a elevação da nota pela Moody’s. Além disso, o FMI piorou ainda mais suas projeções para a dívida brasileira; a inflação consolidou sua tendência de alta; as expectativas para a Selic pioraram (mesmo com a posse do novo diretor do Banco Central, indicado por Lula com o claro objetivo de forçar uma queda); e, ontem, o dólar atingiu R$ 5,87.
É muita coisa para apenas um mês, convenhamos. Com o cenário de piora consolidada, Haddad e Tebet entraram em campo para tentar acalmar o mercado com um suposto pacote de corte de gastos. Entretanto, as expectativas são baixas, com novas modificações no arcabouço fiscal, que já foi descumprido no primeiro ano de vigência. Paralelamente, o governo continua repetindo erros do passado, que levaram à maior crise da nossa história. Isso inclui maquiagens fiscais para manter a alta nos gastos, o que elevou nosso PIB em alguns décimos às custas de maior endividamento e de manobras parafiscais que já ultrapassam R$ 100 bilhões.
O lobby de Lula e Haddad na Moody’s, três dias antes da publicação do relatório, até que funcionou. Mas parece que esqueceram de combinar com a realidade. O relatório da Moody’s deixa claro que a melhora se deve, principalmente, aos efeitos de reformas realizadas nos governos anteriores, restando ao governo atual a aprovação da reforma tributária, que não foi concluída durante a gestão Bolsonaro por falta de vontade política. Além disso, a agência destacou o quadro fiscal como um fator crucial para a continuidade do crescimento econômico após o desastre no final do governo do PT.
Paradoxalmente, o Brasil se encontra em uma posição privilegiada no atual cenário global, o que ajuda a explicar a decisão da Moody’s. Com o enorme fluxo de capital estrangeiro — intensificado pelos bancos centrais durante a pandemia —, os investidores têm poucas opções atraentes. China, Rússia, Japão e Europa não são mais tão viáveis, e entre os grandes emergentes, sobraram Índia e Brasil. A Índia já tem um mercado saturado de investimentos, assim como o México, que está prestes a ultrapassar o Brasil em termos econômicos, mesmo com metade da nossa população. Ou seja, o Brasil deveria estar aproveitando uma vantagem significativa. O governo só precisa focar no equilíbrio das contas públicas, mas, até agora, parece mais inclinado a adiar o ajuste, como fez Dilma.
Por outro lado, se o governo demonstrar algum nível de responsabilidade fiscal, podemos viver uma nova onda de euforia. A esperança do mercado é que Lula retome o pragmatismo de seu primeiro mandato. A recente mudança na postura em relação ao governo Maduro é um sinal positivo, assim como as tratativas para compra de aviões norte-americanos para lidar com a crescente ameaça venezuelana, que conta com uma frota de caças russos.
Será que isso indica uma correção de rota, com o Brasil se afastando dos BRICS e se reaproximando do Ocidente? Veremos. Assim como no primeiro mandato, Lula teve a sorte de herdar um cenário externo favorável. Agora, a história se repete. Ele assumiu um país com o primeiro superávit desde a crise Dilma, com os juros americanos em queda. Basta um pouco de juízo, algo que tem faltado nos últimos anos."
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