domingo, 20 de julho de 2025

Leitura de sábado

 Leitura de Sábado: Guerra comercial de Trump engorda bolsos de Wall Street apesar dos riscos


Por Aline Bronzati, correspondente


Nova York, 18/07/2025 - Os banqueiros de Wall Street enxergam um horizonte mais desanuviado à frente para os negócios de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) e ofertas de ações, após a retomada das conversas para essas transações no segundo trimestre. E ainda que os riscos sigam presentes, a guerra comercial capitaneada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, garantiu receitas recordes nas mesas de operações do principal mercado financeiro do mundo, com investidores realocando os seus portfólios para lidar com o noticiário frenético de Washington.


O impulso ajudou os maiores bancos americanos a superar as projeções de mercado para os resultados do segundo trimestre. Juntos, JPMorgan Chase, Bank of America, Wells Fargo, Goldman Sachs, Morgan Stanley e Citi reportaram lucro líquido de cerca de US$ 39 bilhões no segundo trimestre. A cifra representa uma queda de 1% na comparação anual, quando o resultado do JPMorgan teve o impacto de US$ 7,9 bilhões com a venda de ações da Visa. Se excluído o ganho atípico, os lucros tiveram um salto de quase 24%.


"Neste momento, a economia e os mercados estão respondendo positivamente ao ambiente de políticas em evolução", disse o presidente do Goldman, David Solomon, ao falar a investidores e analistas, nesta semana.


O banco liderou o aumento nas receitas com trading no segundo trimestre, turbinado pela elevada volatilidade dos mercados por conta do vai e vem do tarifaço de Trump, anunciado no dia 2 de abril, que ficou conhecido como o 'Dia da Libertação'. De lá para cá, os investidores continuaram ajustando os seus portfólios por conta da nova política comercial americana.


"A mudança no sentimento, no ambiente, nas posições políticas e na geopolítica, apenas nos últimos três meses, foi significativa", avaliou o CEO do Goldman. As receitas do banco no segundo trimestre atingiram US$ 14,58 bilhões, US$ 1 bilhão maiores do que as próprias projeções de Wall Street. Somente os ganhos com trading saltaram 22%.


A mesma novela se repetiu nos balanços dos rivais JPMorgan, Bank of America, Citigroup e Morgan Stanley. Em geral, as receitas cresceram na casa dos dois dígitos entre abril e junho frente a um ano.



 Lucro dos grandes bancos dos EUA no segundo trimestre* 

   

 1tri25 

 2tri25 

 2tri24 


JPMorgan Chase

14,643

14,987

18,149


Bank of America

7,4

7,1

6,9


Wells Fargo

4,894

5,494

4,910


Goldman Sachs

4,738

 3,723

3,043


Morgan Stanley

4,315

3,539

3,076


Citigroup

4,108

4,019

3,217


Total:

40,098

38,862

39,295


Fonte: Resultados do período

* Em bilhões - US$



Outra área que começou a apontar resultados mais promissores no segundo trimestre foi a de banco de investimento, com a retomada das negociações a despeito das incertezas quanto ao rearranjo comercial global. No Goldman Sachs, as receitas cresceram 26% no comparativo anual. "Os mercados de capitais estão finalmente respirando aliviados, e para os grandes bancos de centros financeiros, isso significa uma recuperação significativa nas receitas", diz o líder de prática da Indústria Bancária da Moody's, Laurent Birade.


O primeiro semestre ainda foi marcado por uma queda no volume de negócios. Transações de fusões e aquisições se reduziram no período, o que fez os EUA perderem participação no mercado global, para 26,6%, mesma fatia da Ásia, segundo dados da consultoria Kroll. No Morgan Stanley, as receitas com banco de investimento tiveram queda de 5%, enquanto no Bank of America se reduziram em 9%.


Mas, olhando para frente, Birade, da Moody's, nota um "claro desbloqueio" dos pipelines de M&A e aberturas de capitais em meio a um cenário um pouco mais claro em termos das políticas do governo Trump. A verdadeira história para os grandes bancos na temporada de resultados do segundo trimestre é o ressurgimento de seus motores de banco de investimento, avalia.


"Acredito que se continuarmos no outono com o que vimos no último mês, deveremos ter um segundo semestre bastante forte a caminho de 2026", reforçou o presidente do Morgan Stanley, Ted Pick, ao falar a investidores e analistas, nesta semana.


Mas os riscos persistem. "Riscos significativos persistem, incluindo tarifas e incerteza comercial, piora nas condições geopolíticas, déficits fiscais e preços elevados de ativos", alertou o presidente do JPMorgan, Jamie Dimon, conhecido por suas previsões sempre um tanto catastróficas.


A CEO do Citigroup, Jane Fraser, projetou preços de bens subindo em algum momento durante o verão nos Estados Unidos em reflexo das tarifas do presidente Donald Trump. "Esperamos ver os preços dos bens começarem a subir durante o verão, à medida que as tarifas entram em vigor, e vimos pausas em capex (investimentos) e contratações na nossa base de clientes", alertou a única banqueira de Wall Street.


Nesta semana, os múltiplos relatos na imprensa americana quanto à demissão do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, agravaram a tensão entre os investidores. "Essa transição, combinada com as negociações comerciais, pode sim criar mais volatilidade, aumentando as preocupações sobre a independência do Fed e o potencial de interferência política em questões-chave da economia", diz o chefe da mesa de operações internacionais do Inter, Mauricio Garret.


O CEO do JPMorgan defendeu a importância da independência do Fed, ao falar a jornalistas sobre os resultados. "Brincando com o Fed, pode haver consequências adversas, exatamente o oposto do que se espera. É importante que eles sejam independentes", disse o maior banqueiro do mundo.


As grandes vozes de Wall Street também reforçaram a resiliência da economia americana, e também global, além de um melhor olhar do regulador para a estrutura de capital dos bancos. No fim do dia, pode liberar mais recursos para fazer negócios e para turbinar os lucros de Wall Street. Para Pick, do Morgan, houve avanços, mas ainda há mais trabalho a ser feito. "Espera-se que o afrouxamento regulatório libere capital", prevê o analista do Swissquote Bank, Ipek Ozkardeskaya.


Contato: aline.bronzati@estadao.com


Broadcast+

Incorporadoras em crise

 Especial: Renegociações e calotes de incorporadoras no mercado de capitais disparam


Por Circe Bonatelli * Colaboração de Cynthia Decloedt


São Paulo, 18/07/2025 - Há uma disparada nos casos de inadimplência e renegociação de dívidas de incorporadoras que acessaram o mercado de capitais nos últimos anos para tomada de empréstimos via emissões de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs). O quadro indica que as empresas estão enfrentando dificuldades crescentes para efetivar as vendas de imóveis após a elevação dos juros no País.


Os CRIs são instrumentos que cumprem um papel importante para apoiar o crescimento das empresas, especialmente quando elas não conseguem tomar o financiamento bancário tradicional. Eles respondem por 10% dos recursos destinados ao crédito imobiliário no País, o que representa uma montanha de R$ 240 bilhões. Por meio desses instrumentos, as incorporadoras recebem uma antecipação do dinheiro esperado com a comercialização de casas, apartamentos, lotes e quartos de hotéis, entre outros. O grande problema é quando as vendas não saem como planejado.


O estoque de CRIs em situação de "estresse" chegou a 191 casos em maio. Isso quer dizer que as incorporadoras descumpriram obrigações até a data de vencimento das dívidas e passaram a renegociar os termos com seus credores. O número é 89% maior do que no mesmo mês de 2024, quando havia 101 casos assim; e 247% acima de igual período de 2023, com 55 casos. Ao todo, os 191 CRIs ?estressados? correspondem a R$ 9,6 bilhões em dívidas considerando o valor de face no momento das emissões.


Os dados foram compilados para o Broadcast pela plataforma CR Data, do Clube dos FIIs, que monitora a base de dados públicos de CRIs no Brasil. O levantamento também aponta que houve crescimento em termos proporcionais. O estoque de CRIs "estressados" neste ano representa 4,6% de todas as séries em circulação, contra 2,8% em 2024 e 1,9% em 2023. A parcela de CRIs problemáticos não é desprezível. A título de comparação, a inadimplência da carteira de financiamento imobiliário dos bancos é bem menor, na faixa de 1%, e segue estável nos últimos trimestres, de acordo com o Banco Central.


  

 Quantidade de CRIs "estressados" em alta 

   

 2023 

 2024 

 2025 


CRIs em fluxo regular

2826

3519

4115


CRIs vencidos e não repactuados

55

101

191


Porcentual de vencidos e não repactuados

1,9%

2,8%

4,6%


Fonte: CR Data, plataforma de monitoramento de CRIs do Clube dos FIIs



Raiz dos problemas 


O sócio-diretor de investimentos alternativos do Clube dos FIIs, Felipe Ribeiro, aponta que o problema está concentrado nos fundos de investimento imobiliário "high yield", que miram retornos mais altos para os cotistas, mas para isso têm de lidar com riscos maiores. Muitos fundos desse tipo adquiriram CRIs em que as empresas estão pagando caro pelo dinheiro, com taxas anuais acima de IPCA + 10% a 15%, ou CDI + 4% a 5% (o equivalente a um juro nominal na ordem de 20% ao ano, um patamar pesado para financiar a produção).


"Todos os CRIs que deram pau de 2024 para 2025 são ?high yield?", apontou Ribeiro. "Quando a taxa de juro sobe no País, os empresários ficam mais apertados, as obras ficam mais caras, cai a velocidade de vendas e o fluxo de caixa seca. Os primeiros a abrir o bico são os ?high yield?".


O risco/retorno desses CRIs é maior porque as operações envolvem incorporadoras pequenas, com governança mais simples, mais endividadas e/ou com menor capacidade de obter capital de giro em caso de urgência, o que eleva o risco de uma eventual inadimplência. Em outros casos, o risco tem mais a ver com o empreendimento em si e as chances de as vendas falharem. Boa parte dos CRIs problemáticos vêm do setor de multipropriedades - em que o direito de uso de cada apartamento é vendido para vários proprietários, que se revezam na ocupação. Esses imóveis são um bem de mero lazer, e o comprador desiste do negócio na primeira dificuldade que surgir, ao contrário da aquisição da casa própria.


Dis

Análise Econômica

 *ANÁLISE ECONÔMICA/GALHARDO: INVESTIGAÇÃO SOBRE INFORMAÇÕES PRIVILEGIADAS NO CÂMBIO DARÁ EM NADA*


Por Francisco Carlos de Assis


 São Paulo, 20/07/2025 - Informações privilegiadas no mercado financeiro como as que, supostamente, ocorreram no mercado de cambial brasileiro horas antes e depois de Donald Trump elevar a 50% a tarifa sobre produtos importados do Brasil são mais comuns do que imaginam pessoas de fora do circuito financeiro, diz o professor de economia e chefe do Departamento Econômico da Análise Econômica, André Galhardo. Por isso ele diz acreditar que dará em nada a investigação pedida ontem (19) pela Advocacia-Geral da República (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que apure se houve ou não vazamento de informações prévias, por parte do deputado licenciado e auto exilado nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro.


 Galhardo, que concedia entrevista à TV Globo pouco antes do anúncio feito por Trump, no dia 9 de julho, ao ser questionado sobre o porquê do movimento do dólar disse apenas que não via fundamentos para a volatilidade do câmbio naquele momento. O problema, de acordo com o economista da Análise Econômica, é que mais uma vez a investigação, caso seja mesmo levada adiante, provavelmente dará em nada. Para ele, esse pedido de investigação agora está associado a um momento de elevada conturbação política pelo qual passa o Brasil neste momento.


“Não é incomum no Brasil as informações privilegiadas, eu não tenho provas, mas eu já vi em diversas outras ocasiões movimentos atípicos do mercado às vésperas de um anúncio importante que, teoricamente, ninguém sabia ou, e aparentemente, só alguns poucos sabiam de forma antecipada. O Brasil tem muito essa questão da influência. E aí as pessoas acabam sabendo antes, acabam espalhando a informação, que é o que é gravíssimo”, disse Galhardo.


 O economista apontou duas ocasiões recentes em que o mercado se antecipou a anúncios que nem a imprensa especializada sabia. Um deles foi a reação do mercado cambial ao anúncio da ampliação das faixas de salários, que passariam a contar com a isenção do Importo de Renda, juntamente com a divulgação dos cortes de gastos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O outro foi a queda sofrida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no banheiro da residência oficial da Presidência da República. "Em resumo, acho que esse episódio, o do Eduardo Bolsonaro, é mais um entre tantos que a gente teve, lamentavelmente. Então, assim, o que a AGU está pedindo para ser investigado é isso, né? Porque essas informações podem ter vindo dele, inclusive, né? Isso vira alguma coisa? Acho que não porque, como eu disse, sempre acontece e vai ser bem difícil provar algum tipo de irregularidade e alguém ser julgado como culpado”, afirmou Galhardo.


 O anúncio de que os Estados Unidos devem elevar a 50% a taxação de produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto foi feito no dia 9 de julho por meio de carta enviada por Donald Trump ao governo brasileiro na sua rede social, Truth Social. Mas horas antes do anúncio da sobretaxa, segundo disse ao Jornal Nacional, da TV Globo um dono de fundo de investimentos em Nova York, se observou um volume de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões em compra de dólares, num movimento que o mercado considerou atípico.


 Ainda, de acordo com o gestor, mais tarde ocorreu um movimento contrário, o que levantou à dedução de que algum investidor pode ter lucrado com o sobe e desce do preço do ativo com base em conhecimento prévio da sobretaxa.


 O pedido da AGU foi feito no âmbito do inquérito instaurado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e que apura a conduta de Eduardo Bolsonaro para estimular o governo norte-americano a coagir o judiciário brasileiro.

Amilton Aquino

 Cruzamos o Rubicão?


Depende de qual Rubicão estamos falando. O Rubicão macro, que poderia nos colocar no mesmo patamar de párias como Irã, Coreia do Norte e Venezuela, ainda não — pelo menos não totalmente. Mas, certamente, alguns rubicões foram cruzados nesta semana.


A começar pela decisão esdrúxula do imperador Alexandre de Moraes sobre o IOF, que não apenas “legalizou” a função arrecadatória de um imposto cujas diretrizes deveriam restringir-se à regulação, como também passou por cima da decisão do Congresso, que tentou corrigir a canetada do governo. Ou seja, a exemplo do que aconteceu na Venezuela, foi oficialmente inaugurado o regime “dois contra um”, no qual Executivo e Judiciário decidem tudo, enquanto o Congresso cumpre o papel protocolar de “instituição democrática” — assim como as eleições forjadas.


O segundo foi Lula, em entrevista à CNN Internacional, dobrando a aposta na crise com os EUA. Sim, ele teve a cara de pau de insinuar que nossas leis são mais rigorosas que as norte-americanas (conjecturando que Trump poderia ser preso no Brasil), além da pachorra de afirmar que o norte-americano “não tem nem 10% de sua experiência em negociações”! Pois é: um dos homens mais ricos do mundo, autor do best-seller A Arte da Negociação, não seria páreo para Lula — o cara que acha que consegue resolver os mais difíceis conflitos mundiais numa mesa de boteco. Haja autoestima!


O terceiro envolveu novamente Alexandre de Moraes, que, como tem feito desde que assumiu a função de macho alfa do STF para assuntos aleatórios, resolveu também dobrar a aposta contra Trump, ao decretar não apenas a busca e apreensão na casa de Bolsonaro, como também sua prisão domiciliar.


O quarto veio com Marcos Rubio, secretário de Trump, que reagiu imediatamente, afirmando que o governo norte-americano revogará os vistos não apenas de Alexandre de Moraes, mas também de outros ministros do STF e seus familiares.


O quinto foi Eduardo Bolsonaro, novamente fazendo chacota sobre o uso da força — agora com a marinha norte-americana contra o Brasil! O inconsequente que está demolindo a candidatura de Tarcísio, um dos poucos capazes hoje de distensionar o ambiente que sua família instigou, não aprendeu nada com o seu fatídico “basta um cabo e um soldado”.


Ou seja: são muitas linhas vermelhas cruzadas em apenas uma semana. Isso depois de o Brasil fazer o papel de bobo da corte na reunião esvaziada do BRICS, confrontando o gigante norte-americano, enquanto a Rússia (uma das principais interessadas na desdolarização) jogava toda a culpa em Lula, e a China (alvo principal de Trump na sua guerra de tarifas) fechava um acordo com seus arquirrivais — com uma taxação agora bem menor que a do Brasil!


Parabéns aos envolvidos!


A questão agora é saber quem serão os adultos na sala para esfriar os ânimos. Lula, ao que parece, está adorando tudo isso — principalmente depois das pesquisas que lhe deram um fôlego na campanha antecipada, principalmente entre a galera do centro. Vai triplicar a aposta e ficar sujeito a sanções dos EUA? A pequena recuperação de aprovação se sustentará quando a economia começar a desaquecer? E quanto aos  bolsonaros? Continuarão insistindo na estratégia suicida de sacrificar o país para escapar da cadeia?


Pois é. Por incrível que pareça, Lula animou a extrema esquerda, que andava meio decepcionada com ele. Muitos já estão na torcida por um rompimento diplomático, e alguns já apresentam soluções russas e chinesas para substituir serviços gratuitos norte-americanos, como o GPS, por exemplo.


Enfim, se depender dessa turma, mergulharemos de vez no grupo dos párias mundiais, atravessando de vez o rubicão. Mais “independentes” dos norte-americanos — direto para o colinho de Putin e Xi! Que tal?

sexta-feira, 18 de julho de 2025

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: E vai se criando um clima terrível*


Sem agenda econômica, a política domina, com muito ruído e muita fumaça


… A preliminar da confiança do consumidor americano em julho, da Universidade de Michigan, é o destaque entre os indicadores internacionais, nesta sexta, com as expectativas para a inflação em 2026 e daqui a cinco anos. Dados fortes da economia nos Estados Unidos dividiram as apostas para o Fed de setembro, entre o primeiro corte de 25pbs e a manutenção. Aqui, sem agenda econômica, a política domina, com muito ruído e muita fumaça. O mercado se preocupa com a nova frente de guerra do governo com o Congresso, mas gostou da solução para o IOF, que desafoga o Orçamento de 2026. Já na briga de Lula com Trump, está no modo espera, pra ver no que vai dar.


… A coisa esquentou ontem com uma entrevista de Lula à CNN internacional dizendo que Trump não é imperador do mundo. À noite, Trump publicou no Truth Social uma carta aberta a Bolsonaro, repetindo ameaças ao Brasil.


… Chamou de “terrível” o tratamento que Bolsonaro está recebendo da Justiça brasileira, dizendo que o “julgamento deveria terminar imediatamente”. Na carta, admitiu claramente a motivação política da tarifa punitiva.


… Escreveu Trump: “Manifestei veementemente minha desaprovação, tanto publicamente quanto por meio de nossa política de tarifas. É minha sincera esperança que o governo do Brasil mude de rumo. Observo de perto”.


… Embora não seja garantia de um desfecho favorável, pode facilitar as negociações à medida que aponta argumento sem racionalidade econômica para impor a tarifa de 50% aos produtos brasileiros, em 1º de agosto.


… Quando abriu a investigação pela Seção 301, imaginou-se que Trump quisesse fortalecer o caráter técnico da ação contra o Brasil. Mas, pelo que se viu na carta a Bolsonaro, a tentativa é de interferência no Judiciário.


… Assim, Trump e a família Bolsonaro (que pede “anistia ampla e geral”), dão de bandeja a defesa da soberania para Lula, que já vê a recuperação da sua popularidade e chances renovadas para a eleição presidencial de 2026.


… À noite, em pronunciamento na TV, Lula chamou de “chantagem inaceitável” o que Trump está fazendo, em forma de “ameaças às instituições brasileiras”. “Tentar interferir na Justiça é um grave atentado à soberania nacional.”


… Sem citar nomes, mas em referência óbvia ao clã Bolsonaro, ele disse que a sua indignação é maior pelo apoio de alguns políticos brasileiros a esses ataques. “São traidores da Pátria, que apostam no quanto pior, melhor”.


… Lula falou ainda da investigação que Trump mandou fazer do Pix. “O Pix é do Brasil e nós vamos defender.”


… O Pix apareceu no processo de investigação contra o Brasil pelo USTR por práticas comerciais “injustas” no sistema de pagamentos instantâneos. Junto com o Pix, a rua 25 de Março em São Paulo é acusada de pirataria.


… O Brasil ainda é acusado de enfraquecer o combate à corrupção em acordos de leniência com empresas corruptas, anular condenações por lavagem de dinheiro, censurar redes sociais e atrasar patentes de medicamentos.


… No Washington Post, Eduardo Bolsonaro está trabalhando em estreita colaboração com a Casa Branca para impor sanções a Alexandre de Moraes (STF), que preside o julgamento do pai, acusado de liderar tentativa de golpe.


PÔQUER E TRUCO – Ainda nesta quinta-feira, Lula voltou a falar da crise com Trump em mais duas ocasiões.


… Para estudantes em Goiânia, ele disse que “não é um gringo que vai dar ordem para este presidente da República”. E, recorrendo ao jogo de truco, explicou sua posição: “quando o cara truca, ou a gente corre ou grita 6”.


… Mais tarde, em Juazeiro (BA), disse que não é de briga, mas não é de fugir da briga, e previu que Bolsonaro, a quem chamou de “aquela coisa que governou o País”, “vai ver o sol nascer quadrado logo, logo”.


ALCKMIN – Em novos encontros com o setor produtivo, o vice-presidente e ministro do MDIC ouviu de representantes da indústria e do agro pedido de cautela e para que o Brasil esgote todas as possibilidades de negociação.


GOVERNO VS CONGRESSO – Reportagem da jornalista Vera Rosa (Estadão) apurou com aliados de Hugo Motta que o governo Lula não terá paz no Congresso a partir de agosto, quando parlamentares voltarem do recesso.


… A tensão entre os Poderes foi agravada após o presidente vetar o aumento do número de deputados e o ministro do STF, Alexandre de Moraes, decidir manter o decreto do governo que elevou alíquotas do IOF.


… O primeiro troco já veio com a aprovação do novo licenciamento ambiental no Brasil, às vésperas da COP-30, com a pauta-bomba que liberou R$ 30 bilhões do Fundo Social para o agronegócio e o atraso na PEC dos Precatórios.


… Antes de viajarem, nesta quinta, os deputados já trabalhavam numa lista de retaliações, que inclui um projeto para impedir que o governo mexa no IOF sem o aval do Legislativo – proposta da coalizão de frentes parlamentares.


… Outra investida provável é derrubar o veto presidencial ao projeto que elevou o número de deputados, de 513 para 531. “Nós temos de voltar do recesso buscando retaliar o governo”, disse o líder do PL, Sóstenes Cavalcante.


… Sem contar o palco que a oposição terá com a CPMI criada para investigar o desvio das aposentadorias do INSS. O governo conseguiu indicar o aliado Omar Aziz para presidir, mas o relator ainda será escolhido por Motta.


… O líder do governo, deputado José Guimarães (PT), disse que ele e a ministra Gleisi Hoffmann “lutaram” para que o presidente não vetasse o aumento dos deputados. Lula deve vetar também o licenciamento ambiental.


… A recuperação nas pesquisas, após uma bem-sucedida campanha nas redes sociais sobre a taxação do andar de cima e na esteira da tarifa de Trump, no entanto, incensou Lula que se movimenta com mais confiança.


HADDAD – Em entrevista ao Broadcast, questionado sobre as contas públicas, o ministro afirmou que a agenda da Fazenda “está dada”. “Não é razoável imaginar que será possível aprovar grandes reformas no ano eleitoral.”


… Dessa forma, o governo deve precisar mais muito pouco do Legislativo nessa última fase do governo Lula.


… Quanto ao projeto de isenção do Imposto de Renda, Haddad torce para Motta abraçar o projeto “como se fosse a reforma para chamar de sua”, apostando que o Congresso não se furtará a apoiar uma pauta tão popular.


AGENDA – O índice de confiança do consumidor americano será divulgado às 11h pela Universidade de Michigan, e a previsão é de leve melhora na prévia de julho, para 61,5 (Trading Economics), após 60,7 em maio.


… Mais cedo (9h30), saem as licenças de construção e construção de moradias iniciadas em junho.


… No final da noite de sábado (22h15), o Banco Central da China divulga decisão para as taxas de empréstimo.


BALANÇOS – Em Nova York, 3M (projeção de lucro por ação de US$ 2,01) e American Express divulgam resultados do segundo trimestre. Ontem à noite, Netflix caiu 1,84% no after hours, mesmo após lucro maior que o esperado.


… O lucro líquido foi de US$ 3,13 bilhões, ante US$ 2,15 bilhões no mesmo período de 2024 e acima da previsão da empresa de US$ 2,98 bilhões. O lucro por ação ficou em US$ 7,19 (acima do US$ 7,08 projetado pela Factset).


TARIFAS – Comissão Europeia considera nova rodada de medidas retaliatórias contra as amplas tarifas do presidente Trump, que imporiam restrições ao comércio de serviços e aquisições, informou o site Politico.


… Também o FT apurou que as medidas incluiriam uma lista de potenciais tarifas sobre serviços dos Estados Unidos, além de controles de exportação, não se concentrando apenas nas empresas americanas de tecnologia.


… Fontes sinalizaram que a UE poderia aceitar tarifas de 10%, mas quer reduzir taxas setoriais de 25% sobre carros e garantir isenção das futuras tarifas setoriais prometidas por Trump sobre farmacêuticos e semicondutores.


REUNIÃO COM BC – Os diretores de Política Monetária, Nilton David, e de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta, Izabela Correa, participam de duas reuniões trimestrais com economistas em São Paulo (9h30 e 11h).


OPERANDO EM SUSPENSE – A guerra dos 50% continua fervendo e o mercado doméstico segue muito vulnerável à volatilidade e às novidades do noticiário. Ontem, o pregão foi morno, mas esta crise é vivida um dia de cada vez.


… Até aqui, o dólar ainda não vem precificando um desfecho desfavorável na briga das tarifas, operando sob o “TACO trade”, de que Trump vai acabar voltando atrás. Mas a subida de tom de Lula traz o imponderável ao jogo.


… Fortalecido pela recuperação da popularidade, Lula capitaliza a seu favor os ruídos da disputa protecionista.


… A pesquisa Genial Quaest revelou ontem que o petista venceria todos os potenciais adversários de direita na corrida eleitoral de 2026. Em segundo turno, ele (41%) fica em empate técnico apenas com Tarcísio de Freitas (37%).


… Mas, descontando os riscos do quadro político, da taxação dos EUA e da derrota do Congresso na disputa de força do IOF, que compromete a pauta do governo, o dólar se afastou da faixa de R$ 5,60 batida na máxima da abertura.


… De R$ 5,6099 no auge da tensão, acomodou-se para fechar em leve baixa de 0,26%, cotado a R$ 5,5472. Operou na contramão da onda de alta da moeda americana lá fora, que repercutiu a chance de pausa do Fed em setembro.


… A alta do petróleo foi citada como driver para a melhora do real. Mas comenta-se também que o dólar pareceu exibir certo esgotamento para subir, justamente porque ainda existe muita espuma em torno do tarifaço.


… Sem estresse no câmbio, também a curva do DI corrigiu as altas recentes, valendo-se da deflação do IGP-10 em julho (-1,65%) maior que a esperada (-1,46%) e da folga nas contas públicas por causa do IOF.


… Apesar do risco de mais conflitos do governo com o Congresso, a decisão de Moraes desafogou o Orçamento e, indiretamente, ainda contribui para esfriar a atividade, potencializando a eficácia da política monetária.


… A Receita esclareceu que a cobrança do IOF não será retroativa e fontes da Fazenda disseram ao Valor que os contribuintes tributados em operações de risco sacado desde 23/5 serão restituídos.


… Devolvendo prêmio de risco, o DI para Jan/27 caiu a 14,345% (de 14,370%); Jan/29, a 13,620% (de 13,702%); Jan/31, a 13,790% (de 13,892%); e Jan/33, a 13,870% (de 13,982%). Só o curtinho (Jan/26) fechou estável (14,945%).


PROTOLOCO DE CAUTELA – Seguindo à risca o script do momento de incertezas deflagrado pela ofensiva de Trump contra o Brasil, as últimas semanas têm registrado retração dos investidores estrangeiros na B3.


… Mais R$ 1 bilhão em capital externo saiu na última 3ªF. Neste mês, as retiradas beiram R$ 3,5 bilhões.


… Em paralelo ao menor apetite gringo, o Ibovespa vem perdendo impulso. Como disse um profissional ao Broadcast, o índice à vista saiu do nível recorde de 141 mil pontos do início de julho para a faixa dos 135 mil.


… Está queimando bastante, como manda a cartilha, diante das atuais circunstâncias desafiadoras. Mas o Ibov vai se segurando do jeito que consegue, de olho nos desdobramentos ainda incertos sobre a política tarifária.


… Ontem, oscilou perto do zero a zero e fechou praticamente estável (+0,04%), aos 135.564,74 pontos. Na mínima, defendeu os 135 mil pontos (135.016). O giro não chegou a R$ 18 bilhões, em véspera de game de opções.


… Alvos do exercício, as blue chips fecharam majoritariamente em queda, com atuação antecipada dos vendidos. A Vale ignorou o avanço expressivo de 1,81% do minério e caiu 0,18%, cotada a R$ 54,30.


… Petrobras PN recuou 1,01% (R$ 31,47) e ON caiu 0,70% (R$ 34,15), apesar da força de 1,46% do Brent, a US$ 69,52. O petróleo parou de subir depois de três dias, com indicadores fortes nos EUA e tensões no Oriente Médio.


… Ataques de drones à infraestrutura petrolífera na região do Curdistão iraquiano entraram no radar do mercado.


… Imunes à recuperação do petróleo, as ações da Petrobras caíram o dia todo, com o mercado registrando avaliação negativa sobre um possível retorno da companhia ao mercado de varejo de combustíveis.


… O conselho de administração deve avaliar na próxima reunião se incluirá no Plano de Negócios 2026-2030 a volta da estatal ao setor de distribuição de combustíveis, por meio de projeto greenfield (construído do zero).


… Entre os bancos, só Itaú PN (+1,51%; R$ 35,72) e Santander unit (+1,81%, a R$ 28,20) engataram altas. Bradesco PN caiu 0,19%, a R$ 16,03; Bradesco ON terminou estável, a R$13,77; e BB ON perdeu 0,67%, a R$ 20,74.


… Já Pão de Açúcar (GPA) liderou as altas pelo segundo dia consecutivo e saltou 6,52%, a R$ 3,76, ainda reverberando a notícia de aumento da fatia da família Coelho Diniz na varejista, muito bem-recebida no mercado.


SETEMBRO VAI DANÇAR? – Uma reviravolta até bem pouco tempos atrás inesperada se desenrola neste momento nas apostas para o Fed, com as chances de corte do juro em setembro disputando de perto com manutenção.


… Segundo a plataforma do CME Group que monitora a curva futura, a precificação de relaxamento em setembro é majoritária (52,7%), mas já é seguida muito de perto (46%) pela probabilidade de a taxa ficar onde está.


… Dias atrás, a inflação do CPI de junho despertou os primeiros sinais de impacto da política tarifária. Ontem, dois indicadores fortes da economia americana levantaram a lebre de que o Fed pode demorar mais para agir.


… As vendas no varejo reverteram a queda de 0,9% em maio e aumentaram 0,6% em junho, superando consenso de +0,1%. Os pedidos de auxílio-desemprego contrariam previsão de alta para 232 mil e caíram 7 mil, a 221 mil.


… Diante das evidências do mercado de trabalho forte e da atividade aquecida, o Fed pode continuar sem pressa.


… Raphael Bostic (Fed/Atlanta) disse que pode ser difícil cortar os juros no curto prazo, porque ainda é cedo para saber se a economia conseguirá absorver o choque provocado pelo aumento das tarifas comerciais.


… Segundo ele, pode levar meses ou até trimestres para que os efeitos econômicos do protecionismo de Trump se tornem claros, o que deve exigir mais tempo para avaliar a influência na inflação e no crescimento.


… Diretora do Fed, Adriana Kugler afirmou ver muitas razões para acreditar que o impacto das tarifas no trimestre ainda está por vir, e defendeu uma postura restritiva para manter as expectativas de inflação ancoradas.


… Só Christopher Waller, que já apareceu entre os nomes cotados para suceder Powell no comando do Fed, continua se mostrando aberto à ideia de cortar os juros em 25 pontos-base na reunião do Fomc do fim do mês.


… Ele alega que as tarifas provocarão aumento apenas pontual na inflação e acredita que o crescimento do PIB dos EUA deve ser brando até o final do ano, abrindo espaço para o Fed dovish já agora no encontro de julho.


… Outra figura cogitada para o comando do Fed, o ex-diretor do BC norte-americano Kevin Warsh disse ontem que “a hesitação em cortar juros, para mim, é um sinal claro de fraqueza”. A declaração pode credenciá-lo ao cargo.


… Trump, em seu perfil na Truth Social, voltou a cobrar de Powell: “REDUZA A TAXA!!! Atrasado Demais.”


… Apesar das pressões renovadas por um corte, os juros dos Treasuries e o dólar subiram com a rodada de dados fortes nos EUA, que podem sabotar as chances de setembro para o início do ciclo de queda pelo Fed.


… O índice DXY fechou em alta de 0,35%, a 98,734 pontos, com o dólar levando a melhor contra o iene (148,58/US$). O euro recuou 0,33%, negociado a US$ 1,1600. Já a libra esterlina terminou o pregão estável, a US$ 1,3418.


… A taxa da Note de 2 anos subiu a 3,915%, de 3,889%, e a de 10 anos avançou para 4,459%, contra 4,453%.


… Ainda que o Fed possa cortar os juros mais tarde, as bolsas em NY operaram embaladas pelos sinais de economia resistente. O S&P 500 (+0,54%, 6.297,46 pontos) e o Nasdaq (+0,74%, 20.884,27 pontos) renovaram recordes.


… O índice Dow Jones registrou valorização de 0,52%, aos 44.485,10 pontos.


EM TEMPO… COSAN negou, em comunicado, ter fechado acordo para venda da fatia na empresa de lubrificantes Moove à VIBRA, que também desmentiu que tenha celebrado qualquer compromisso de compra.


EZTEC lançou três empreendimentos no segundo trimestre, somando um valor geral de vendas (VGV) de R$ 490 milhões, considerando apenas a participação da companhia nos projetos…


… Esse valor representa um crescimento de 160,2% no comparativo anual.


WEG firmou acordo para aquisição da parcela remanescente das ações da PPI-Multitask; valor da operação não foi divulgado; em setembro de 2019, a empresa havia adquirido 51% da PPI-Multitask.


REDE D’OR. Subsidiária Onco D’Or Oncologia criou joint venture com Next Oncology (NEXT) visando à realização de testes clínicos de fase 1 de potenciais agentes anticancerígenos…


… Segundo a companhia, parceria tem por objetivo o desenvolvimento de inovações no tratamento do câncer com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino.


LOCALIZA. Citi reduziu preço-alvo da ação de R$ 47 para R$ 43, mantendo recomendação de compra…


… Para o banco, empresa deve encontrar dificuldades, em meio ao arrefecimento da economia, em especial para renovar a sua frota de veículos.  


SANTOS BRASIL. Conselho de Administração elegeu Philippe Pierre Louis Lemonnier, vice-presidente de controle de performance do Grupo CMA CGM, como membro do colegiado…


… Decisão veio após a renúncia apresentada por Valdecyr Maciel Gomes, membro titular do conselho, e por Rodrigo Silva Marvão, membro suplente….


… O grupo controlador da CMA Terminals, CMA CGM, concluiu a compra do controle da Santos Brasil em 24 de abril, adquirindo 47,9% do capital social…


… Em maio, a CMA protocolou junto à CVM pedido de registro para realizar oferta pública de aquisição (OPA) abrangendo até a totalidade das ações ON da empresa portuária brasileira.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Editorial OESP

 Mais um Editorial perfeito do Estadão 


Farisaísmo no Supremo

Afetando garantismo, Toffoli volta a se apoiar em provas ilegais para livrar mais um condenado na Lava Jato – desta vez o decano dos delinquentes, o doleiro Youssef – e desmoraliza o Judiciário


Por Notas & Informações

17/07/2025 | 03h00


ESTADÃO


O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli fez o impensável até para quem eventualmente já havia se acostumado com seu fervor farisaico para arrancar a Operação Lava Jato dos anais da história nacional. Na terça-feira passada, o sr. Toffoli anulou todos os atos processuais praticados por integrantes da força-tarefa da Lava Jato e pelo então juiz Sergio Moro contra o notório doleiro Alberto Youssef. Já seria gravíssimo caso estivéssemos tratando apenas de um ministro do STF que orgulhosamente debocha do Brasil decente. Mas é pior: sozinho, o que é outro problema, o sr. Toffoli emporcalhou a história republicana do Supremo e, como se isso não bastasse, degradou ainda mais a confiança dos brasileiros no sistema de Justiça deste país.


A fundamentação de Toffoli para livrar a cara de Youssef, um criminoso confesso condenado a mais de 120 anos de prisão, foi a mesma empregada em outros processos envolvendo a nata da corrupção apanhada pela Lava Jato que, desgraçadamente, foram parar no seu gabinete: o tal “conluio” entre a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba (PR) e Moro. Para chegar a essa conclusão, Toffoli baseou-se nas investigações da Operação Spoofing, que apurou a captura ilegal de conversas entre procuradores da República por um aplicativo de mensagens.


“Sob objetivos aparentemente corretos e necessários, mas sem respeito à verdade factual, magistrado e procuradores de Curitiba desrespeitaram o devido processo legal, agiram com parcialidade e fora de sua esfera de competência” contra o doleiro, escreveu Toffoli em sua decisão. O ministro apegou-se a uma suspeita, fruto de um ato criminoso (o hackeamento de mensagens dos integrantes da Lava Jato), para jogar no lixo um robusto conjunto probatório fornecido às autoridades, pasme o leitor, pelo próprio condenado. Ao firmar seu acordo de colaboração premiada – acordo este, convém lembrar, homologado pelo próprio STF –, Youssef forneceu evidências materiais de que lavava dinheiro de empreiteiras contratadas pela Petrobras que era usado para pagar propina a próceres do PT, PP e MDB.


Se estamos no campo do rigor processual, para começar, Dias Toffoli deveria se declarar impedido de julgar quaisquer dos processos de revisão da Lava Jato. Afinal, ele foi identificado por outro criminoso confesso, Marcelo Odebrecht, como sendo “o amigo do amigo de meu pai”, uma referência, respectivamente, a Toffoli, a Lula da Silva e a Emílio Odebrecht. Ademais, não há pureza processual quando se ignora a origem ilegal do material usado por Toffoli para destruir a Operação Lava Jato e livrar todos os seus condenados, inclusive os que confessaram os crimes e devolveram o dinheiro roubado.


Sabe-se que o MPF e a Justiça Federal cometeram erros na condução da maior operação de combate à corrupção de que o País já teve notícia. Este jornal não cansou de apontá-los nesta mesma página. O que Dias Toffoli tem feito, porém, não é corrigir erros mantendo íntegras a defesa do melhor interesse público, a responsabilização daqueles que confessaram uma pletora de crimes em troca de benefícios penais e a credibilidade do STF. O sr. Toffoli está empenhado em escarnecer do próprio ideal de justiça e do dever do Estado em provê-la aos cidadãos.


Com uma caneta solitária e uma retórica para lá de falaciosa, o ministro Dias Toffoli transformou o STF, sob o beneplácito de seus pares, numa vergonhosa ermida para os que se beneficiam desse revisionismo no qual criminosos confessos se veem reabilitados à custa da desmoralização do sistema de Justiça. Ao se valer de provas que em qualquer circunstância deveriam ser consideradas nulas para reverter condenações que decorreram de extensas investigações policiais, foram homologadas por diversas instâncias e ratificadas pelo mesmo Supremo do qual ele faz parte, o sr. Toffoli incorre numa contradição inaceitável e corrosiva para o Poder Judiciário. O prejuízo para o País é imenso.

BDM Matinal Riscala

 Bom Dia Mercado.


Quinta Feira, 17 de Julho de 2.025.


*Brasília 40 graus*


Assim que saiu o veto de Lula ao projeto que aumentou o número de deputados, o Senado suspendeu a sessão que votava a PEC dos precatórios e a Câmara aprovou pauta-bomba.


… Inflação na Zona do Euro, vendas no varejo nos Estados Unidos e IGP-10 são destaques na agenda dos indicadores, nesta quinta-feira, nada que possa balançar mais os mercados do que as tarifas de Trump e sua implicância com o Brasil, e a pauta política, que pega fogo, incluindo a vitória do governo no decreto do IOF e uma inesperada intimação de Tarcísio pelo STF para explicar suposta participação na minuta do golpe. Lula, incensado pela recuperação nas pesquisas, deve fazer pronunciamento hoje à noite na TV para falar das investidas de Washington contra a soberania nacional, enquanto Alckmin, a diplomacia e empresários atingidos pelos 50% tentam uma difícil negociação.


… Nesta quarta-feira, Geraldo Alckmin e o embaixador Mauro Vieira, enviaram carta aos Estados Unidos manifestando “indignação” com a tarifa que inviabiliza a competividade dos produtos brasileiros. E cobraram respostas.


… Nas tratativas anteriores, ainda quando nossa taxa estava definida em 10%, o governo brasileiro mandou uma carta confidencial, propondo abrir negociações sobre as exportações aos americanos. Está até agora esperando.


… Dessa vez, não só pede uma resposta, como reagiu mostrando sua perplexidade diante da tarifa de 50%, decidida a partir de motivação política, embora Trump tenha acrescentado o debate técnico com a Seção 301.


… A investigação sobre as práticas comerciais do Brasil não só sinaliza que Trump dobrou sua aposta e não está muito interessado em conversar, como deve ser um processo arrastado e longo, que coloca o Brasil na mira.


… Especialistas explicam que, se as investigações tiverem desfecho negativo para o Brasil, os Estados Unidos poderão impor novas tarifas, que se somariam aos 50% previstos para entrar em vigor no dia 1º de agosto.


… Entre os alvos da investigação do USTR está o Pix, como uma possível prática desleal do País em relação a serviços de pagamentos eletrônicos. Na primeira reação, o governo foi às redes sociais com um discurso debochado.


… “Parece que nosso Pix vem causando um ciúme danado lá fora. Tem até carta reclamando da existência do nosso sistema seguro, sigiloso e sem taxas. Só que o Brasil é o quê? Soberano. O Pix é nosso, my friend!”


… A postagem diz, ainda, que o Brasil tem muito orgulho dos mais de 175 milhões de usuários do Pix, que já é o meio de pagamento mais utilizado pelos brasileiros. “Nada de mexer com o que tá funcionando, ok?”


… Reportagem na Folha revela que membros do governo Lula e aliados enxergam o lobby de empresas de bandeiras de cartão de crédito e de big techs por trás da pressão dos Estados Unidos sobre o Pix brasileiro.


… A rapidez com que o Pix foi adotado teve impacto sobre os cartões de plástico, como Visa e Mastercard, alterando significativamente a dinâmica do setor financeiro, dominado por empresas privadas norte-americanas.


… Além disso, o sucesso do Pix frustrou os planos das plataformas da Meta, como WhatsApp e Facebook, de terem o seu próprio sistema de pagamento, que perderam espaço após investimentos bilionários.


… “O Pix é eficiente, barato e seguro e não depende de empresas americanas. Outros países podem adotar o mesmo modelo e isso coloca em risco o soft power dos Estados Unidos”, diz Thays Murta (César Fiuza Advogados).


… Para Daniel Blanck (BB Law), especialista em direito bancário, os sistemas de pagamento são infraestrutura crítica. “Se mais países adotarem, os EUA perdem influência sobre a transação financeira, ligada ao dólar.”


… E o BC brasileiro já abriu o código fonte do Pix para países interessados, como Colômbia, Peru, Chile e México.


COMPRANDO BRIGA – Fortalecido pela decisão do STF, que julgou constitucional o decreto do governo que aumentou o IOF (exceção ao risco sacado), Lula vetou ontem à noite o projeto que elevou o número de deputados na Câmara.


… O presidente poderia ter deixado a lei para ser promulgada pelo Congresso, mas resolveu bancar essa briga, quando as relações com os parlamentares ensaiavam uma reconstrução, a partir da união pela soberania.


O TROCO – Assim que saiu o veto de Lula ao projeto que aumentou o número de deputados para 531, o plenário do Senado esvaziou e a sessão que votava a PEC dos precatórios foi suspensa. Já tinha passado em primeiro turno.


… A desculpa foi a falta de quórum para um destaque de supressão de texto, que exige 49 votos.


… Os parlamentares já não estavam muito contentes com a decisão do STF para o decreto do IOF, embora ela fosse esperada pela cúpula do Parlamento, já que Moraes havia dado sinalizações na audiência de conciliação.


… Hugo Motta nem quis comentar e Alcolumbre disse que a decisão foi mais pró-governo. Havia expectativa de que Alexandre Moraes isentasse também os planos VGBL, mas ele manteve o IOF nessas operações.


… Segundo o ministro do Supremo, “não houve desvio de finalidade” na incidência do IOF Seguros sobre Planos de Vida Geradora de Benefícios Livres (VGBL)”. Já o risco sacado foi considerado “excesso normativo”.


O TROCO, PARTE 2 – Enquanto o Senado interrompia a votação da PEC dos precatórios, a Câmara aprovava pauta-bomba que inclui um crédito subsidiado de até R$ 30 bilhões para o agronegócio, com verbas do pré-sal.


… A bancada ruralista passou o projeto com o placar de 346 contra 93. O texto agora vai ao Senado.


… A proposta inicialmente era voltada apenas ao pequeno produtor rural, mas foi reformada para autorizar o uso de até R$ 30 bilhões do Fundo Social para refinanciar dívidas gerais do agronegócio com juros subsidiados.


… O Fundo Social recebe royalties do petróleo e hoje complementa áreas como educação, saúde e habitação.


… A linha de R$ 30 bilhões tem limites individuais de R$ 10 milhões por produtor e R$ 50 milhões por cooperativa. O texto fixa juros de 3,5% para o Pronaf, de 5,5% para o Pronamp e de 7,5% para os demais.


… O prazo para pagamento é de dez anos, ou 15 anos em “casos extraordinários”, e três anos de carência.


DÁ PRA FECHAR AS CONTAS – Nos cálculos da Fazenda, sem o risco sacado, a arrecadação do IOF, antes prevista em R$ 12 bilhões em 2025 e R$ 31,2 bilhões em 2026, perderá R$ 450 milhões e R$ 3,5 bilhões, respectivamente.


… Para o ministro Haddad, a decisão de Moraes “é legítima” e a equipe econômica trabalhará agora para encontrar a receita necessária para cobrir essa perda. O Orçamento/2026 será enviado ao Congresso em 31/08.


… Haddad comentou que a trajetória “continua consistente do ponto de vista das contas públicas”, e citou a recente aprovação da venda do excedente de óleo do pré-sal. “Isso contribuirá no cumprimento da meta.”


… Na Folha, Simone Tebet disse que a PEC dos precatórios também ajudará a cumprir o Orçamento, sem necessidade de mudar a meta de 2026, com a proposta abrindo um espaço de R$ 12,4 bilhões no tetos de gastos.


… Mas esse dinheiro já tem destino, segundo a ministra, vai para o aumento das despesas que o governo terá com o salário-maternidade a trabalhadoras autônomas, um “meteoro” de R$ 12,1 bilhões após decisão do STF.


… O Supremo declarou inconstitucional a exigência de dez contribuições mensais, no mínimo, para que as mulheres possam ter direito ao salário-maternidade. Basta que tenham contribuído uma única vez ao INSS.


BENEFÍCIOS FISCAIS – A Fazenda desistiu de apresentar projeto próprio e vai apoiar texto da Câmara que propõe corte de 10% dos incentivos de modo gradual, segundo informou o líder do governo, José Guimarães.


IMPOSTO DE RENDA – Aprovado na Comissão Mista, o relator Arthur Lira mantém previsão de votar a isenção do IR até R$ 5 mil no plenário da Câmara em agosto, mas acha que “a tramitação não será muito fácil”.


TARCÍSIO NA BERLINDA – Pouco antes da decisão do IOF, Moraes anunciou, em plena audiência de réu na tentativa de golpe, que vai oficiar Tarcísio por suposta participação em reunião golpista no Palácio da Alvorada.


… O entrevero foi provocado pelo advogado de Filipe Martins, Jefrey Chiquini, que questionava o ex-ministro do GSI Gonçalves Dias como testemunha do general Mário Fernandes sobre sua atuação no 8 de janeiro de 2023.


… Segundo o site JOTA, o advogado queria saber se o general da reserva do Exército tinha tropas prontas para conter os “baderneiros”. Moraes corrigiu, “baderneiros não, golpistas já condenados, com imagens muito claras.”


… O advogado, então, rebateu perguntando sobre as imagens. “Aquelas que desapareceram ou as disponibilizadas de forma seletiva?”. Moraes quis saber se Chiquini estava acusando alguém de apagar as imagens.


… Na sequência, subiu o tom e disse que já estava “oficiando o governador Tarcísio sobre suas acusações”. Apontado como autor da minuta do golpe, Filipe Martins revelou que Tarcísio estava na apresentação do documento.


… O mercado reagiu mal, já que ainda conta com eventual candidatura de Tarcísio para disputar o Planalto em 2026.


DE BACIADA – Em entrevista ao Real America´s Voice, Trump disse que divulgará, em breve, uma tarifa única a cerca de 150 parceiros comerciais restantes, que irão variar de “10% a 15%”.


… Sobre os acordos com países maiores, descartou reavaliar a tarifa de 25% para o Japão, disse que a Índia está perto de fechar, que pode haver entendimento com a União Europeia e que ainda “é muito cedo” para o Canadá.


… Nesta quarta, o Canadá anunciou tarifa extra de 25% para o aço chinês visando proteger a indústria siderúrgica de “práticas desleais” e redução de 100% para 50% da tarifa de produtos siderúrgicos a países sem acordo.


AGENDA – As vendas no varejo dos Estados Unidos (9h30) são o principal indicador do dia, com estimativa de reação em junho, de 0,40%, após recuo de 0,9% em maio. No mesmo horário, saem pedidos de auxílio-desemprego.


… Agenda dos Fed boys: Adriana Kugler (11h), Lisa Cook (14h30), Mary Daly (14h45) e Christopher Waller (19h30).


… Na Zona do Euro, o dia começa com a inflação do CPI em junho, que ficou zerada em maio (1,9% na base anual).


BALANÇOS EM NY – Netflix é o destaque no calendário desta quarta, com previsão de lucro por ação de US$ 7,07. Sai após o fechamento do mercado, junto com Western Alliance. Antes da abertura: Pepsico e GE Aerospace.


JAPÃO HOJE – Em meio às preocupações com as tarifas mais altas dos EUA, as exportações caíram pelo segundo mês consecutivo em junho (-0,5% em relação ao mesmo período do ano anterior), após queda de 1,7% em maio.


IGP-10 – A FGV divulga o índice às 8h, com a mediana das previsões (pesquisa Broadcast) apontando para deflação de 1,46% em julho, mais acentuada que o recuo de junho (-0,97%). Estimativas vão de -0,52% a -1,82%.


… Mais cedo (5h), a Fipe informa a segunda quadrissemana do IPC em julho.


MAIS REUNIÕES – Alckmin terá hoje novos encontros com representantes da indústria: pela manhã, com Stefanini Group e a Associação da Indústria de Semicondutores. À tarde, com o presidente da Apex, Jorge Viana.


… Nesta quarta, Alckmin esteve com o presidente da Amcham Brasil, Abrão Neto, e admitiu que, apesar de o governo defender “negociação urgente”, não vê problema se for preciso prorrogar o prazo das tarifas.


CAMPO MINADO – A expectativa de mal-estar no Congresso após a vitória do governo no STF sobre o IOF entra hoje como desafio extra aos mercados domésticos, já desconfortáveis com a tarifa de 50% e o quadro eleitoral.


… Não houve estresse propriamente dito nos negócios domésticos ontem, mas nas entrelinhas deu para ler a cautela, com o dólar e o DI descolados do alívio externo e o Ibovespa subindo bem menos do que em Nova York.


… A decisão dos EUA investigar o Brasil por práticas comerciais “desleais” elevou a ofensiva protecionista a um patamar bem mais sério, na medida em que esvaziou o teor político e reduziu o poder de contestação pelo País.


… Correndo por fora, o investidor ainda ganhou preocupação adicional com a corrida ao Planalto em 2026.


… No primeiro revés político do dia para o mercado, mais uma pesquisa mostrou recuperação da popularidade de Lula após o episódio do tarifaço de Trump e a retórica mais agressiva do governo para taxar os super-ricos.


… Na sondagem Genial/Quaest, Lula agora é aprovado por 43% (de 40% no levantamento anterior) e reprovado por 53% (contra 57% antes). A distância entre as taxas de aprovação e desaprovação caiu de 17 para 10 pontos.


… À tarde, os negócios sentiram o “efeito Tarcísio”. Já queimado pela crise da taxação de Trump, o governador, como se viu, será oficiado por Moraes por denúncia de suposta participação em reunião sobre a trama golpista.


… Começa a ser colocada em xeque a viabilidade política de sua candidatura, que sempre foi a preferida do mercado e que é vista pela Faria Lima como a opção de maior compromisso com o rigor das contas públicas.


… O “inferno astral” atravessado por Tarcísio gerou ontem instabilidade momentânea no câmbio. Mais cedo, também o susto com as ameaças de Trump de demitir Powell havia colocado os mercados na defensiva.


… Na máxima do dia, o dólar flertou com R$ 5,60, cotado a R$ 5,5949. Apesar de ter zerado a pressão até o fechamento (+0,07%, a R$ 5,5619), falhou em acompanhar a queda da moeda americana em escala global.


… O que consola e evita uma depreciação maior do real é que o governo brasileiro segue firme na estratégia de não bater de frente com os EUA, preferindo esgotar as alternativas de diálogo e diplomacia antes de retaliar.


PERDEU O BONDE – Com o Brasil no alvo de Trump e o trade eleitoral doméstico no foco, também os contratos futuros dos juros ficaram de fora no pregão desta quarta-feira da trajetória de queda das taxas dos Treasuries.


… Os vencimentos médios e longos exibiram alta nos prêmios de risco e só a ponta curta pouco se mexeu, porque está engessada pela garantia do Copom de que a Selic vai passar uma longa temporada nos 15%.


… No fechamento, o DI para Jan/26 marcava 14,940% (de 14,939% no ajuste anterior); Jan/27, 14,370% (contra 14,355% na véspera); Jan/29, 13,700% (de 13,631%); Jan/31, 13,890% (13,811%); e Jan/33, 13,970% (13,889%).


… Quem também operou de olho na cena política foram as ações das estatais negociadas no Ibovespa.


… A avaliação de que Lula recupera musculatura para a disputa eleitoral de 2026 foi atribuída por operadores como argumento para a fraqueza de BB (ON, -0,10%, a R$ 20,88) e Eletrobras (ON, -0,33%; e PNB, -0,97%).


… Petrobras (ON, -0,86%, a R$ 34,39; e PN, -0,50%, a R$ 31,79) já caía mesmo com o petróleo em alta e piorou com a virada para o terreno negativo do barril, que completou a terceira sessão consecutiva de queda.


… O contrato do Brent para setembro recuou 0,28%, a US$ 68,52, de olho na queda menor do que a esperada dos estoques semanais da commodity nos EUA, no contexto de oferta mais saturada pela produção da Opep+.


… Foi por pouco que o Ibovespa escapou de engatar o oitavo pregão seguido no vermelho. Fechou em ligeira alta de 0,19%, a 135.510,99 pontos, com giro fraco (R$ 20,4 bi) para um dia de game de opções sobre o índice.


… Amanhã, tem exercício de opções sobre ações na bolsa, o que pode redobrar a volatilidade. Às vésperas da disputa especulativa, Vale se recuperou, subiu 0,91%, para R$ 54,40, em linha com a alta de 1% do minério.


… Entre as blue chips financeiras, só Itaú fechou no azul, em alta de 0,49%, a R$ 35,19). Bradesco ON cedeu 0,43%, para R$ 13,77; Bradesco PN caiu 0,25%, a R$ 16,06; e Santander unit recuou 0,35%, para R$ 27,70.


… Pão de Açúcar disparou 10,66%, a R$ 3,53, liderando os ganhos do Ibovespa, com a notícia de que a família Coelho Diniz continua a aumentar a posição no papel, o que o mercado vê como ponto positivo à governança.


CABEÇA A PRÊMIO – Reportagens em vários veículos de imprensa norte-americanos reforçaram ontem a perseguição de Trump a Powell, embora o republicano tenha negado publicamente que pretenda demiti-lo.


… “Não estamos planejando nada, porque isso perturbaria os mercados financeiros”, alegou.


… O desmentido veio horas após informação vazada à mídia de que, em jantar essa semana a portas fechadas com deputados republicanos, Trump teria apresentado rascunho do que seria a carta de demissão de Powell.


… Relatos sugeriram que o presidente americano estaria planejando se livrar dele em breve, já em agosto, na sequência da próxima reunião de política monetária, que acontece em menos de duas semanas (dias 29 e 30). 


… Decisões de Justiça indicam que um presidente não tem autoridade para demitir um chefe do Fed, a não ser por justa causa, enquanto Trump lança suspeitas de fraude sobre Powell em uma reforma na sede do BC.


… A oposição democrata reagiu. “Ninguém se deixe enganar pelo interesse repentino do presidente e dos  republicanos em reformas de edifícios. É pretexto claro para demitir Powell”, disse a senadora Elizabeth Warren.


… O prêmio Nobel de economia Paul Krugman afirmou que Trump dificilmente conseguirá remover Powell antes do fim do mandato, em maio de 2026, mas alertou que o sucessor poderá ser alguém com “lealdade servil”.


… Para Krugman, “o verdadeiro risco é justamente quem vem depois”. Cotado como favorito para suceder Powell, o diretor do Conselho Econômico Nacional americano, Kevin Hassett, criticou ontem a lentidão do Fed.


… Segundo ele, apesar da inflação americana sob controle, os juros dos Estados Unidos estão cerca de 2,5 pontos porcentuais acima da taxa básica na Europa. “O Fed precisa voltar à curva de onde os juros devem estar.”


… Divulgado ontem, o índice de preços ao produtor (PPI) ficou estável em junho, abaixo da estimativa de alta de 0,2%. Mas o CPI, que saiu um dia antes, revelou que o impacto das tarifas começa a aparecer na inflação.


… Pelos cálculos do Fed boy John Williams, a política protecionista do governo de Washington deve aumentar os preços em 1 ponto porcentual entre este segundo semestre e a primeira metade de 2026 nos Estados Unidos.


… Seu colega de Fed Raphael Bostic recomentou ontem esperar para fazer novos cortes de juros.


… Mas sensível aos ruídos sobre a demissão de Powell, que podem antecipar uma política dovish pelo Fed, o mercado aumentou a aposta de flexibilização da política monetária em setembro, de 55,6% para 66,1%.


… Como consequência, a aposta em manutenção do juro na ferramenta do CME caiu de 44,4% para 33,9%.


COMPROU O BOATO – Os juros dos Treasuries caíram, seja porque NY começa a acreditar que Powell está com os dias contados ou porque sabe que, mesmo se ele não sair agora, Trump vai emplacar um aliado em 2026.


… A taxa da Note de 2 anos recuou para 3,889%, contra 3,953% na véspera, e a de 10 anos foi a 4,453%, de 4,484%. A perspectiva de juros mais baixos também derrubou o dólar e firmou alta nas bolsas em NY.


… Todo dia agora tem recorde histórico no Nasdaq, que terminou com ganho de 0,25%, aos 20.730,49 pontos. O Dow Jones fechou em alta de 0,53%, aos 44.254,78 pontos, e o S&P 500 avançou 0,32%, para 6.263,70 pontos.


… Diante das pressões para o Fed se apressar a cortar os juros, o índice DXY do dólar caiu 0,22%, para os 98,392 pontos. O iene subiu a 147,87/US$, o euro avançou 0,34%, a US$ 1,1639, e a libra ganhou 0,25%, a US$ 1,3418.


EM TEMPO… SABESP fechou consórcio com francesa Engie para geração de energia solar no Rio Grande do Norte; objetivo é usar a autoprodução para tornar consumo energético de operações mais “limpo”…


… Acordo prevê a entrada da Sabesp em cinco centrais de geração fotovoltaica da Engie em Assú (RN), com capacidade instalada total projetada de 250 megawatts.


GAFISA. O conselho de administração aprovou aumento de ações em follow on, que pode passar a R$ 134,5 milhões.


GOL informou que subscrição de ações preferenciais no aumento de capital totalizou R$ 73 milhões.


INVEPAR, controladora do GRU Airport e da Linha Amarela (Lamsa), no Rio, chegou a um acordo com credores para ampliar novamente o prazo do acordo de suspensão da exigibilidade da dívida (standstill) por mais 30 dias…


… No início de julho, a companhia já havia anunciado a extensão por mais 15 dias.


RENOVA ENERGIA atribuiu valor de R$ 1,397 bilhão aos três Gigawatts de ativos eólicos que serão vendidos no âmbito da recuperação judicial homologado em 2024.

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...