*ANÁLISE ECONÔMICA/GALHARDO: INVESTIGAÇÃO SOBRE INFORMAÇÕES PRIVILEGIADAS NO CÂMBIO DARÁ EM NADA*
Por Francisco Carlos de Assis
São Paulo, 20/07/2025 - Informações privilegiadas no mercado financeiro como as que, supostamente, ocorreram no mercado de cambial brasileiro horas antes e depois de Donald Trump elevar a 50% a tarifa sobre produtos importados do Brasil são mais comuns do que imaginam pessoas de fora do circuito financeiro, diz o professor de economia e chefe do Departamento Econômico da Análise Econômica, André Galhardo. Por isso ele diz acreditar que dará em nada a investigação pedida ontem (19) pela Advocacia-Geral da República (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que apure se houve ou não vazamento de informações prévias, por parte do deputado licenciado e auto exilado nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro.
Galhardo, que concedia entrevista à TV Globo pouco antes do anúncio feito por Trump, no dia 9 de julho, ao ser questionado sobre o porquê do movimento do dólar disse apenas que não via fundamentos para a volatilidade do câmbio naquele momento. O problema, de acordo com o economista da Análise Econômica, é que mais uma vez a investigação, caso seja mesmo levada adiante, provavelmente dará em nada. Para ele, esse pedido de investigação agora está associado a um momento de elevada conturbação política pelo qual passa o Brasil neste momento.
“Não é incomum no Brasil as informações privilegiadas, eu não tenho provas, mas eu já vi em diversas outras ocasiões movimentos atípicos do mercado às vésperas de um anúncio importante que, teoricamente, ninguém sabia ou, e aparentemente, só alguns poucos sabiam de forma antecipada. O Brasil tem muito essa questão da influência. E aí as pessoas acabam sabendo antes, acabam espalhando a informação, que é o que é gravíssimo”, disse Galhardo.
O economista apontou duas ocasiões recentes em que o mercado se antecipou a anúncios que nem a imprensa especializada sabia. Um deles foi a reação do mercado cambial ao anúncio da ampliação das faixas de salários, que passariam a contar com a isenção do Importo de Renda, juntamente com a divulgação dos cortes de gastos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O outro foi a queda sofrida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no banheiro da residência oficial da Presidência da República. "Em resumo, acho que esse episódio, o do Eduardo Bolsonaro, é mais um entre tantos que a gente teve, lamentavelmente. Então, assim, o que a AGU está pedindo para ser investigado é isso, né? Porque essas informações podem ter vindo dele, inclusive, né? Isso vira alguma coisa? Acho que não porque, como eu disse, sempre acontece e vai ser bem difícil provar algum tipo de irregularidade e alguém ser julgado como culpado”, afirmou Galhardo.
O anúncio de que os Estados Unidos devem elevar a 50% a taxação de produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto foi feito no dia 9 de julho por meio de carta enviada por Donald Trump ao governo brasileiro na sua rede social, Truth Social. Mas horas antes do anúncio da sobretaxa, segundo disse ao Jornal Nacional, da TV Globo um dono de fundo de investimentos em Nova York, se observou um volume de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões em compra de dólares, num movimento que o mercado considerou atípico.
Ainda, de acordo com o gestor, mais tarde ocorreu um movimento contrário, o que levantou à dedução de que algum investidor pode ter lucrado com o sobe e desce do preço do ativo com base em conhecimento prévio da sobretaxa.
O pedido da AGU foi feito no âmbito do inquérito instaurado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e que apura a conduta de Eduardo Bolsonaro para estimular o governo norte-americano a coagir o judiciário brasileiro.
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