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Leitura de sábado

 Leitura de Sábado: Guerra comercial de Trump engorda bolsos de Wall Street apesar dos riscos


Por Aline Bronzati, correspondente


Nova York, 18/07/2025 - Os banqueiros de Wall Street enxergam um horizonte mais desanuviado à frente para os negócios de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) e ofertas de ações, após a retomada das conversas para essas transações no segundo trimestre. E ainda que os riscos sigam presentes, a guerra comercial capitaneada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, garantiu receitas recordes nas mesas de operações do principal mercado financeiro do mundo, com investidores realocando os seus portfólios para lidar com o noticiário frenético de Washington.


O impulso ajudou os maiores bancos americanos a superar as projeções de mercado para os resultados do segundo trimestre. Juntos, JPMorgan Chase, Bank of America, Wells Fargo, Goldman Sachs, Morgan Stanley e Citi reportaram lucro líquido de cerca de US$ 39 bilhões no segundo trimestre. A cifra representa uma queda de 1% na comparação anual, quando o resultado do JPMorgan teve o impacto de US$ 7,9 bilhões com a venda de ações da Visa. Se excluído o ganho atípico, os lucros tiveram um salto de quase 24%.


"Neste momento, a economia e os mercados estão respondendo positivamente ao ambiente de políticas em evolução", disse o presidente do Goldman, David Solomon, ao falar a investidores e analistas, nesta semana.


O banco liderou o aumento nas receitas com trading no segundo trimestre, turbinado pela elevada volatilidade dos mercados por conta do vai e vem do tarifaço de Trump, anunciado no dia 2 de abril, que ficou conhecido como o 'Dia da Libertação'. De lá para cá, os investidores continuaram ajustando os seus portfólios por conta da nova política comercial americana.


"A mudança no sentimento, no ambiente, nas posições políticas e na geopolítica, apenas nos últimos três meses, foi significativa", avaliou o CEO do Goldman. As receitas do banco no segundo trimestre atingiram US$ 14,58 bilhões, US$ 1 bilhão maiores do que as próprias projeções de Wall Street. Somente os ganhos com trading saltaram 22%.


A mesma novela se repetiu nos balanços dos rivais JPMorgan, Bank of America, Citigroup e Morgan Stanley. Em geral, as receitas cresceram na casa dos dois dígitos entre abril e junho frente a um ano.



 Lucro dos grandes bancos dos EUA no segundo trimestre* 

   

 1tri25 

 2tri25 

 2tri24 


JPMorgan Chase

14,643

14,987

18,149


Bank of America

7,4

7,1

6,9


Wells Fargo

4,894

5,494

4,910


Goldman Sachs

4,738

 3,723

3,043


Morgan Stanley

4,315

3,539

3,076


Citigroup

4,108

4,019

3,217


Total:

40,098

38,862

39,295


Fonte: Resultados do período

* Em bilhões - US$



Outra área que começou a apontar resultados mais promissores no segundo trimestre foi a de banco de investimento, com a retomada das negociações a despeito das incertezas quanto ao rearranjo comercial global. No Goldman Sachs, as receitas cresceram 26% no comparativo anual. "Os mercados de capitais estão finalmente respirando aliviados, e para os grandes bancos de centros financeiros, isso significa uma recuperação significativa nas receitas", diz o líder de prática da Indústria Bancária da Moody's, Laurent Birade.


O primeiro semestre ainda foi marcado por uma queda no volume de negócios. Transações de fusões e aquisições se reduziram no período, o que fez os EUA perderem participação no mercado global, para 26,6%, mesma fatia da Ásia, segundo dados da consultoria Kroll. No Morgan Stanley, as receitas com banco de investimento tiveram queda de 5%, enquanto no Bank of America se reduziram em 9%.


Mas, olhando para frente, Birade, da Moody's, nota um "claro desbloqueio" dos pipelines de M&A e aberturas de capitais em meio a um cenário um pouco mais claro em termos das políticas do governo Trump. A verdadeira história para os grandes bancos na temporada de resultados do segundo trimestre é o ressurgimento de seus motores de banco de investimento, avalia.


"Acredito que se continuarmos no outono com o que vimos no último mês, deveremos ter um segundo semestre bastante forte a caminho de 2026", reforçou o presidente do Morgan Stanley, Ted Pick, ao falar a investidores e analistas, nesta semana.


Mas os riscos persistem. "Riscos significativos persistem, incluindo tarifas e incerteza comercial, piora nas condições geopolíticas, déficits fiscais e preços elevados de ativos", alertou o presidente do JPMorgan, Jamie Dimon, conhecido por suas previsões sempre um tanto catastróficas.


A CEO do Citigroup, Jane Fraser, projetou preços de bens subindo em algum momento durante o verão nos Estados Unidos em reflexo das tarifas do presidente Donald Trump. "Esperamos ver os preços dos bens começarem a subir durante o verão, à medida que as tarifas entram em vigor, e vimos pausas em capex (investimentos) e contratações na nossa base de clientes", alertou a única banqueira de Wall Street.


Nesta semana, os múltiplos relatos na imprensa americana quanto à demissão do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, agravaram a tensão entre os investidores. "Essa transição, combinada com as negociações comerciais, pode sim criar mais volatilidade, aumentando as preocupações sobre a independência do Fed e o potencial de interferência política em questões-chave da economia", diz o chefe da mesa de operações internacionais do Inter, Mauricio Garret.


O CEO do JPMorgan defendeu a importância da independência do Fed, ao falar a jornalistas sobre os resultados. "Brincando com o Fed, pode haver consequências adversas, exatamente o oposto do que se espera. É importante que eles sejam independentes", disse o maior banqueiro do mundo.


As grandes vozes de Wall Street também reforçaram a resiliência da economia americana, e também global, além de um melhor olhar do regulador para a estrutura de capital dos bancos. No fim do dia, pode liberar mais recursos para fazer negócios e para turbinar os lucros de Wall Street. Para Pick, do Morgan, houve avanços, mas ainda há mais trabalho a ser feito. "Espera-se que o afrouxamento regulatório libere capital", prevê o analista do Swissquote Bank, Ipek Ozkardeskaya.


Contato: aline.bronzati@estadao.com


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