*Rosa Riscala: Lula incentiva importação contra alta de alimentos*
… É intensa a agenda dos mercados nesta 6ªF, tanto lá fora, com payroll e uma fala de Powell nos EUA, como no Brasil, com o PIB/4Tri e a repercussão das medidas anunciadas pelo governo Lula para tentar reduzir os preços dos alimentos. Em NY, o relatório de emprego vale a aposta para o Fed, no momento em que crescem as expectativas de queda maior do juro. Uma mensagem mais cautelosa de Powell, no entanto, pode prevalecer. Ontem, o pessimismo de Lagarde/BCE com as incertezas das tarifas de Trump e tensões geopolíticas já mudou a percepção para o juro na zona do euro. Aqui, a economia deve confirmar crescimento de 3,5% em 2024. Mas a primeira reação dos investidores domésticos deve ser à isenção do imposto de importação para uma série de produtos, ainda sem cálculos da renúncia fiscal.
… Coube a Geraldo Alckmin anunciar, no início da noite, a decisão de zerar a alíquota do imposto de importação sobre diversos alimentos, como carne, café, açúcar e milho. A medida deverá passar pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) antes de entrar em vigor.
… O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços admitiu que é “difícil” explicitar o efeito matemático sobre cada item. Mas, segundo ele, não haverá prejuízo aos produtores locais e, sim, benefício aos consumidores.
… “Você reduzir o imposto de importação ajuda a reduzir os preços; você não está substituindo, está complementando”, explicou, citando como exemplos o óleo de palma e o azeite, que têm uma produção nacional muito pequena.
… A lista de produtos que passaram a ter isenção, com alíquota zero, inclui: carne (alíquota era de 10,8%); café (9%); açúcar (14%); milho (7,2%); azeite (9%); óleo de girassol (9%); sardinha (32%); biscoitos (16,2%) e massas alimentícias (14,4%).
… Além disso, Alckmin antecipou que o governo estuda estender ao Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (PRONAMP) os mesmos benefícios direcionados à Agricultura Familiar, priorizando a produção de alimentos da cesta básica no Plano Safra.
… Insumos importantes para a indústria também poderão ser subsidiados, segundo o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário).
… Outra iniciativa para frear a inflação dos alimentos será fortalecer os estoques reguladores pela Companhia Nacional de Abastecimento. Alckmin garantiu que a Conab terá os recursos necessários para, “no momento certo”, fazer estoques.
… Já o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que o governo vai dar ao Serviço de Inspeção Municipal (SIM) a responsabilidade pela inspeção de produtos de origem animal (leite e ovos), que concede o selo nacional. A exceção valerá por um ano.
… O governo pretende, ainda, estimular a publicidade sobre os melhores preços, em campanhas com os supermercados, além de acelerar a análise de questões fitossanitárias, abrindo a importação de países que não podem vender ao Brasil.
… Por fim, Alckmin fez um apelo aos governadores para que zerem o ICMS incidente sobre os produtos da cesta básica.
… As medidas foram precedidas por uma reunião de ministros com empresários do setor, ocorrida durante a tarde, mas a reação negativa do agronegócio já está sendo dada como certa, com a piora da relação do setor com o governo Lula.
… Há meses, o presidente fala em fazer alguma coisa para baixar os preços dos alimentos; a demanda ficou mais urgente com a queda da popularidade de seu governo. Zerar o imposto de importação estava na mesa desde sempre e acabou sendo a opção.
… O ministro Fernando Haddad não participou dos debates, enviou o secretário de Política Econômica da Fazenda, Guilherme Mello, para representá-lo. Foi Mello quem disse que as medidas ainda terão impacto fiscal calculado pelos ministérios responsáveis.
… Segundo ele, “a queda na arrecadação não deve ser grande, mas os consumidores sentirão a diferença”.
… Ouvido pelo Broadcast, o economista-chefe da Leme Consultores, José Ronaldo Souza Júnior, prevê impacto modesto das medidas que foram anunciadas. Para ele, o ajuste fiscal seria uma solução mais efetiva contra a inflação dos alimentos.
… No Valor, Sérgio Vale (MB Associados) faz a mesma avaliação, que o corte das alíquotas de importação terá impacto pouco relevante no preço dos alimentos. Já os estoques reguladores da Conab, considera uma medida “antiga” e um “retrocesso”.
… Para ele, as medidas devem aumentar o estresse na relação com o agronegócio. “Vai piorar mais do que ajudar.”
… No mercado, a iniciativa deve ser recebida como uma saída populista e de viés heterodoxo, ampliando as desconfianças de que o governo Lula tende a se tornar, cada vez mais, um risco para a saúde fiscal.
… Já nesta 5ªF, a expectativa com as medidas zerou a queda do dólar, enquanto os juros renovavam máximas (leia abaixo).
AÇO E ALUMÍNIO – Além de protagonizar o anúncio das medidas para tentar conter a alta dos alimentos, Alckmin também esteve à frente de reunião por videoconferência com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick.
… Em nota divulgada à noite, o MDIC disse acreditar que será possível chegar a um bom entendimento sobre a política tarifária de Trump. Houve convergência sobre os aspectos positivos da relação entre Brasil e EUA, e novas reuniões bilaterais ocorrerão nos próximos dias.
… Na conversa, o vice-presidente lembrou que os dois países têm uma balança comercial de cerca de US$ 80 bilhões, com um superávit de US$ 200 milhões para os americanos. Além disso, dos dez produtos que o Brasil mais importa dos EUA, em oito a tarifa é zero.
… A tarifa média ponderada efetivamente recolhida é de 2,73%, bem abaixo do que sugerem as tarifas nominais, destacou o MDIC.
… O contato de Alckmin aconteceu enquanto o Brasil busca negociar com os americanos uma forma de escapar da sobretaxa de 25% que os EUA querem cobrar do aço importado, com data prevista para entrar em vigor no dia 12 de abril.
MÉXICO E CANADÁ – Nesta 5ªF, Trump adiou as tarifas sobre a maioria dos produtos do México e do Canadá por um mês, até 2 de abril.
… O presidente americano elogiou sua colega mexicana Claudia Sheinbaum, afirmando que o relacionamento dos dois tem sido positivo e eles estão trabalhando juntos para impedir a entrada do fentanil e de estrangeiros ilegais nos Estados Unidos.
… Também o Canadá foi beneficiado após recuar na segunda imposição de tarifas sobre US$ 125 bilhões em produtos dos Estados Unidos, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, dizer que seu objetivo continua sendo “remover todas as tarifas”.
… Em entrevista no Salão Oval, Trump foi questionado se o mercado financeiro era o motivo do adiamento das tarifas e respondeu que não está “nem olhando para o mercado”. Já criando nova expectativa, disse que “2 de abril será um grande dia para os EUA”.
AGENDA FORTE – Enquanto o governo age contra os sinais de perda de tração da atividade, o PIB do IBGE (9h) deve apontar fôlego menor no 4Tri, de 0,4% na mediana do Broadcast, desacelerando contra o 3Tri (0,9%).
… O intervalo das estimativas na pesquisa vai de 0,2% a 0,8%, ou seja, mesmo no teto, viria abaixo do trimestre anterior. Para o acumulado de 2024, a estimativa é de crescimento de 3,5%. As projeções vão de 3,3% a 3,6%.
… O ritmo do crescimento econômico também poderá ser conferido pelos dados de fevereiro da Fenabrave.
… À tarde (15h), a balança comercial de fevereiro indica superávit de US$ 1,970 bilhão, menos de um terço dos US$ 6,527 bilhões registrados no mesmo mês de 2024. As estimativas vão de US$ 1,70 bilhão a US$ 4,730 bi.
… Guillen participa, em Lisboa, de dois painéis (13h15 e 13h30) em conferência organizada pelo Banco de Portugal. O ministro Haddad será entrevistado pelo podcast Flow no início da noite (19h).
LÁ FORA – O payroll (10h30) ainda deve vir forte em fevereiro, apontando a criação de 160 mil vagas de emprego, uma aceleração contra janeiro (143 mil). As estimativas vão de 115 mil a 200 mil postos de trabalho.
… A mediana das apostas aponta que o salário médio pago por hora deve avançar 0,3%, abaixo de janeiro (+0,5%). Já na comparação anual, deve mostrar aumento de 4,2%, contra variação de 4,1% na leitura anterior.
… Já a taxa de desemprego nos EUA deve permanecer em 4%, de acordo com as projeções dos analistas.
… Já com o payroll em mãos, Powell fala em evento, às 14h30. Outros três dirigentes do Fed têm discursos programados para hoje: Michelle Bowman (12h15), John Williams (12h45) e Adriana Kluger (14h20).
… Ainda nos EUA, saem os dados de petróleo da Baker Hughes (15h) e o crédito ao consumidor/janeiro (17h). Existe a expectativa de que Trump possa anunciar hoje uma mudança na política das criptomoedas.
… Na zona do euro, tem o PIB/4Tri (7h). Lagarde (BCE) discursa em conferência às 6h30.
CHINA HOJE – As exportações tiveram crescimento anualizado de 2,3% no bimestre de jan/fev, muito abaixo da previsão de 4,5%. As importações caíram 8,4% e contrariaram a previsão de alta de 1,8%.
… O superávit comercial de US$ 170,5 bilhões superou o esperado pelos analistas (US$ 141,9 bilhões).
PERDEU O APETITE – No início da tarde de ontem, a informação de que o governo se reuniria com entidades do setor de alimentos para definir medidas para baixar os preços e conter a inflação levantou a lebre do populismo.
… Descolada da nova onda de enfraquecimento lá fora, o dólar aqui terminou o pregão se protegendo na estabilidade, enquanto os contratos futuros dos juros recuperaram parte dos prêmios perdidos um dia antes.
… Ninguém caiu também no canto da sereia de Trump. Apesar de ele ter voltado atrás e suspendido a cobrança de tarifas sobre os produtos do Canadá e do México até 2 de abril, o mercado sabe que la garantia soy yo.
… No DI, a ponta longa subiu mais de 10pb, corrigindo parcialmente o alívio de 30pb na véspera. As máximas na curva coincidiram com a notícia de que o governo responderia nesta 5ªF à crise da pressão dos alimentos.
… Antecipando o risco de heterodoxia do governo para recuperar a popularidade, as taxas apararam parte dos exageros de otimismo do pregão anterior, mas continuaram todas abaixo de 15%.
… No fechamento, o DI para janeiro de 2026 subiu a 14,815% (de 14,785% um dia antes); Jan/27 avançou a 14,820% (de 14,765%); Jan/29, a 14,880% (14,750%); Jan/31, 14,990% (14,840%); e Jan/33, 14,970% (14,820%).
… O Tesouro não estressou o mercado, optando por atuar de forma mais moderada no leilão de prefixados.
… O risco de novos estímulos fiscais à economia brasileira, diante da queda de popularidade do presidente Lula nas pesquisas, foi consenso entre os economistas do mercado que se reuniram ontem com diretores do BC.
… Com Lula de olho na eleição de 2026, “todos estão muito preocupados com as ações que o governo pode tomar para tentar estimular a economia e evitar uma desaceleração”, relatou um participante ao Broadcast.
… Iniciativas como o novo consignado privado e um eventual impulso nos investimentos por meio de empresas estatais foram citadas como fonte de preocupação generalizada durante o encontro desta 5ªF, em São Paulo.
… No câmbio, o dólar à vista deu um pico até R$ 5,7808 quando estourou na imprensa a declaração do ministro Fávaro de que ontem se bateria o martelo sobre o pacote de enfrentamento à inflação dos alimentos.
… Até o final do pregão, a moeda norte-americana moderou o estresse e voltou para R$ 5,7597 (+0,06%), mas não conseguiu embarcar na queda externa. O índice DXY fechou em baixa de 0,23%, a 104,062 pontos.
… O euro se acomodou na estabilidade (+0,05%, a US$ 1,0793), depois de ter operado fortalecido mais cedo, quando Lagarde alertou para a política tarifária de Trump e as tensões geopolíticas, que isolam a Europa.
… A perspectiva de maiores investimentos da UE em defesa, após os EUA terem suspendido a ajuda militar à Ucrânia, pode impulsionar a inflação, segundo ela. O mercado especula agora sobre os próximos passos do BCE.
… Depois de o juro ter sido cortado ontem, de 2,75% para 2,50%, o ING acredita em pausa em abril e, mais para frente, corte para 2,25%. A Capital Economics aposta em 2% no ano, em vez do 1,5% imaginado anteriormente.
… A libra também fechou estável ontem (-0,02%), a US$ 1,2890, e o iene subiu para 147,83/US$. O peso mexicano (20,2978/US$) e o dólar canadense (1,4310/US$) avançaram com o adiamento das tarifas de Trump.
… Inseguros sobre a política protecionista e no suspense do payroll, os juros dos Treasuries fecharam cada um para um lado. O da Note-2 anos caiu a 3,969%, de 4,001% na véspera, e o de 10 anos subiu a 4,292%, de 4,279%.
… Foi feia a queda nas bolsas em NY, diante do jogo confuso de Trump. Além disso, pesou a notícia de que a chinesa Alibaba apresentou novo modelo de inteligência artificial com desempenho comparável ao DeepSeek.
… As ações da Marvell Technology despencaram 19,81%, após a empresa apresentar projeções consideradas decepcionantes, mesmo com aumento na receita no 4Tri. Os papéis da Nvidia levaram um tombo de 5,74%.
… O Nasdaq afundou 2,61% (18.069,26 pontos); S&P 500, -1,78% (5.738,51 pontos); e Dow Jones, -0,99% (42.579,08 pontos). As montadoras GM (-2,64%), Ford (-0,41%) e Stellantis (-1,01%) devolveram as altas.
… Vale (ON, +1,10%, a R$ 56,20) blindou o Ibov do pessimismo externo, diante da promessa de estímulos pela China, principal parceiro comercial do Brasil e grande comprador de minério de ferro da companhia doméstica.
… “Vale está barata e ainda deve entregar 10% de dividendos no ano”, disse o analista João Abdouni (Levante).
… O Banco do Povo chinês antecipou que cortará as taxas de juros e os compulsórios em momento apropriado, ainda neste ano, e que oferecerá empréstimos subsidiados para impulsionar os gastos dos consumidores.
… Em alta moderada de 0,25%, a 123.357,55 pontos, o Ibov falhou em ir mais longe, porque os bancos fecharam mistos e a Petrobras completou sequência de oito quedas (ON, -0,75%, a R$ 36,97; e PN, -1,04%, a R$ 34,26).
… Apesar de o petróleo ainda seguir abaixo de US$ 70, interrompeu ontem as perdas pesadas dos últimos dias e terminou em leve alta com os estímulos chineses no radar e a esperança de recuo de Trump nas tarifas.
… Referência da Petrobras, o Brent para maio chegou ao final do dia em +0,23%, cotado a US$ 69,46 por barril.
… No setor financeiro, Santander (unit, -0,90%; R$ 25,32) e BB (ON, -0,14%; R$ 27,73) operaram no lado negativo e Bradesco PN (+0,87%; R$ 11,55), Bradesco ON (+0,76%; R$ 10,62) e Itaú (+0,19%; R$ 32,46) subiram.
EM TEMPO… SANTANDER promoveu mudanças na alta cúpula, informa o Broadcast. A principal foi a exoneração de Carlos André, vice-presidente de Wealth Management do banco, aprovada pelo conselho…
… Luis Bittencourt, vice-presidente de Tecnologia e Operações, passará a outra empresa do conglomerado, não informada. No lugar dele, entra Gilberto Duarte de Abreu Filho, hoje vice de Corporate Banking…
… Para o posto hoje ocupado por Abreu Filho, foi promovido o atual diretor do banco André Juaçaba de Almeida. Estas duas últimas mudanças entrarão em vigor em 1º de abril.
ELETROBRAS confirmou a deslistagem das ações ON e PNB na Latibex a partir de ontem.
BRAVA ENERGIA informou que o Goldman Sachs alterou a sua posição referenciada em ações da companhia, passando a deter, de forma agregada, o equivalente a 5,03% do capital social.
SERENA ENERGIA fará 1ª emissão de debêntures no valor de R$ 120 milhões.
HYPERA confirmou que acionistas fizeram contatos preliminares com a Votorantim, na qualidade de acionista relevante, sobre uma possível articulação para a formação de um novo acordo de acionistas…
… No entanto, ainda segundo a companhia, não há, até este momento, “negociação em andamento sobre os termos de eventual acordo de acionistas, nem propostas sobre o tema”.
RUMO MALHA PAULISTA realizará a sua oitava emissão de debêntures simples no valor de R$ 1,8 bilhão.
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