*TRUMP MANTÉM MERCADOS NO MODO “BARATA VOA”*
*Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
Quinta-feira, 6 de Março de 2025.
… A disposição dos líderes europeus de ampliar os gastos para reforçar as defesas militares, a partir da percepção de que não devem mais contar com os EUA como aliado da OTAN, eleva as expectativas para o BCE. O consenso para a reunião desta 5ªF (10h15) é de um novo corte do juro na zona do euro (de 2,75% para 2,50%), mas a mensagem na entrevista de Lagarde (10h45) pode ser de maior cautela. Já em NY, às vésperas do payroll, dados mais fracos do relatório ADP estimularam as apostas em uma queda de 75pbs da taxa americana este ano, o que levou o dólar a derreter. Enquanto isso, o jogo de Trump com as tarifas mantém os mercados no modo “barata voa”. Ontem, as incertezas favoreceram o real, com o câmbio negociado na faixa de R$ 5,75, e queimaram prêmio na curva de juros. Hoje, é outro dia.
… A volatilidade virou rotina e ninguém sabe para que lado vai virar no próximo lance do imprevisível presidente dos Estados Unidos.
… A decisão de conceder isenção de um mês às três grandes montadoras (Ford, GM, Stellantis) foi considerada pela Capital Economics um “tanto decepcionante”, já que os sinais dados pelo secretário de comércio, Howard Lutnick, eram de um alívio mais amplo.
… Mais uma vez, o entusiasmo com a medida considera que essa pode não ser a palavra final de Trump, que, segundo a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, está “aberto a ouvir sobre isenções adicionais”. Assim, o mercado vai vivendo um dia de cada vez.
… No balanço da maré, resta ao investidor se apegar aos dados econômicos, que são mais confiáveis. E nesta semana, são os números do emprego que estão servindo de bússola para calibrar as expectativas sobre os juros americanos.
… Nesse sentido, o relatório ADP, nesta 5ªF, deu força para quem acredita que o Fed agirá com mais ousadia neste ano, com um corte de 75 pontos-base. A criação de 77 mil vagas no setor privado em fevereiro veio bem abaixo da previsão da FactSet (+143 mil).
… A ferramenta do CME Group projeta a retomada das quedas do juro, que já foi postergada até setembro, no Fomc de junho, em 83%. A probabilidade de manutenção dos juros em 2025, até outro dia no cenário, está agora quase zerada, em apenas 1%.
… A perspectiva de juros mais baixos animou as bolsas em Wall Street, junto com os índices de atividade que tiveram quedas menores do que o esperado, com o PMI de Serviços se mantendo em território de expansão (51 em fevereiro) e o ISM avançando a 53,3.
… Também o Livro Bege, divulgado à tarde, ajudou a sustentar o bom humor, citando leve aumento na atividade em janeiro nos EUA. No pano de fundo, completou o quadro o sentimento de wishful thinking de que Trump ainda estaria blefando com as tarifas.
O BRASIL E AS TARIFAS – A uma semana da data para os EUA efetivarem a sobretaxa de 25% no aço (12/03), o presidente executivo do Instituto Aço Brasil espera que o País consiga recompor o acordo de cotas de exportação fechado em 2018 com os americanos.
… Ao Broadcast, Marco Polo de Mello Lopes manifestou confiança na conversa que o vice Geraldo Alckmin terá hoje com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. A reunião por videoconferência está agendada para o final da tarde (17h30).
… O setor siderúrgico aposta na função estratégica que o aço brasileiro exportado exerce na indústria dos EUA para manter o acordo, que permite a exportação anual de 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado e 687 mil toneladas de laminados, sem sobretaxa.
… No ano passado, das 5,6 milhões de toneladas de placas de aço importadas pelos EUA, 3,4 milhões de toneladas foram do Brasil.
… Como o produto é usado pela indústria americana e, portanto, complementar à produção de lá, o setor acredita que a gestão Trump irá reconhecer a importância econômica de manter o acordo fechado há praticamente oito anos.
… Outra carta na manga é a posição brasileira de grande importador de carvão siderúrgico dos EUA, que somaram US$ 1,4 bilhão no ano passado. No comércio dos principais itens da cadeia do aço, os dois países detêm uma corrente de comércio de US$ 7,6 bilhões.
… Segundo o Estadão, o governo Lula avalia que o foco dos EUA para aplicação de tarifas está no etanol e tende a não afetar, no momento, outros produtos agropecuários, como carnes (risco considerado baixo) e café (risco zero).
FRIGORÍFICOS – Já para o Goldman Sachs, uma escalada da guerra comercial entre EUA e China deverá trazer impactos para o setor de proteína animal na América Latina, com as tarifas chinesas sobre a soja americana impulsionando os custos de ração no Brasil.
… Neste caso, haveria um impacto negativo para a BRF. Em relação à JBS, a suspensão temporária das importações de carne bovina pela China representa menos de 5% do seu faturamento, que pode ser compensado redistribuindo as exportações por outras plantas.
… A tensão comercial se intensificou nos últimos dias com o anúncio das tarifas sobre produtos do Canadá, México e China, e a retaliação da China com tarifas entre 10% e 15% sobre produtos agrícolas norte-americanos, incluindo soja, carne suína e bovina.
… No caso das tarifas a produtos canadenses e mexicanos, o Goldman avalia que o impacto sobre o mercado de carne bovina americano deve ser limitado, uma vez que apenas 2% da oferta de gado dos EUA vem de fora do país.
… Entretanto, as represálias ainda não detalhadas do México podem afetar as exportações norte-americanas de milho e frango.
… O Canadá poderia potencialmente usar as exportações de petróleo e gás como alavanca nas negociações se as tarifas dos EUA sobre as importações canadenses aumentarem, disse a Ministra das Relações Exteriores canadense, Melanie Joly.
… O país está prometendo impor tarifas sobre importações americanas no valor de 155 bilhões de dólares canadenses, mas até agora não sugeriu que reduziria as exportações de commodities importantes para os EUA ou imporia tarifas sobre elas.
MAIS AGENDA – Dois dados fechados da inflação em fevereiro devem acelerar: o IPC-Fipe (5h), para 0,45%, contra 0,24% em janeiro, e o IPC-S (8h), para 1,21%, de 0,02%, segundo as medianas de pesquisa Broadcast.
… Às 12h30, o BC informa o resultado semanal do fluxo cambial. Os diretores do BC Diogo Guillen e Paulo Picchetti participam a partir das 9h30, em São Paulo, de duas rodadas de reuniões trimestrais com economistas.
… Tesouro faz leilões de venda de títulos prefixados, com oferta de LTN para 1º/10/2025, 1º/4/2027, 1º/1/2029 e 1º/1/2032, e para NTN-F, com vencimentos para 1º/1/2031 e 1º/1/2035. As quantidades serão divulgadas antes dos leilões (11h).
GLEISI – Disse ontem ao G1 que não ingressará no governo Lula para “guerra” e negou que entrará em rota de colisão com a agenda de Haddad. “Fui nomeada para cuidar da articulação política e garantir 2026 [eleição] e não da economia.”
LÁ FORA – Um dia depois da leitura fraca da pesquisa ADP, o auxílio-desemprego nos EUA (10h30) deve registrar queda de 7 mil pedidos, a 235 mil. Saem ainda a balança comercial/janeiro (10h30) e estoques no atacado (12h).
… Dois integrantes do Fed falam em eventos públicos: Christopher Waller (17h30) e Raphael Bostic (21h).
… Depois da coletiva do BCE, Lagarde discursa em vídeo gravado (12h35). O BC da Turquia decide juro às 8h.
LAVOU A ALMA – Quando até Trump ajuda, é grande a chance de dar tudo certo no mercado, que ainda contou ontem com os gatilhos adicionais de otimismo do ciclo de cortes do Fed e da meta ambiciosa do PIB na China.
… A sinalização da Casa Branca de aliviar, ainda que temporariamente (um mês), as tarifas sobre importações de veículos do Canadá e do México, dentro do acordo do USMCA, esvaziou a percepção de risco nos negócios.
… A consolidação da aposta de que o Fed vai retomar em junho o relaxamento monetário e que, no acumulado do ano, poderá cortar os juros em até 75pb também contribuiu para melhorar o clima entre os investidores.
… Para completar, a perspectiva do governo de Pequim de crescimento chinês de 5% este ano animou.
… O dólar voltou do Carnaval derretendo quase 3%, para a faixa de R$ 5,75, e afundando junto a curva do DI.
… Diante do combo positivo do dia, o real foi a moeda que mais subiu ontem no mundo. O dólar à vista fechou em baixa de 2,71%, cotado a R$ 5,7560, devolvendo boa parte de tudo o que avançou semana passada (+3,24%).
… Acompanhou o tombo em escala global. O índice DXY despencou 1,36%, aos 104,353 pontos, com Trump e a ADP. O euro saltou 1,60%, para US$ 1,0798, sob a pressão do aumento dos investimentos em defesa militar.
… A libra esterlina ganhou 0,84%, negociada a US$ 1,2897, e o iene subiu para 148,77/US$. A divisa norte-americana também levou a pior contra o dólar canadense (1,4343/US$) e o peso mexicano (20,3954/US$).
… Desarmados pelo alívio no câmbio, os juros futuros ignoraram o avanço dos rendimentos dos Treasuries e devolveram quase 30pb no trecho longo. O boletim Focus sem novidades nem sustos ajudou no ambiente leve.
… Jan/26 caiu a 14,785% (de 14,980% antes do carnaval). Todas as demais taxas voltaram a furar 15%: Jan/27, 14,765% (de 15,055%); Jan/29, 14,750% (15,045%); Jan/31, 14,840% (15,130%); e Jan/33, 14,820% (15,090%).
… Lá fora, o investidor dispensou o apelo pela proteção dos Treasuries e abriu espaço para as taxas subirem. O yield da Note de 2 anos foi a 4,001%, contra 3,932% na véspera, e o de 10 anos fechou a 4,279% (de 4,202%).
… As montadoras se destacaram nas bolsas em NY com altas expressivas. GM escalou 7,21%; Ford, +5,81%; e Stellantis, +9,24%. Mas o ânimo com o alívio temporário das tarifas nos automóveis pode ser posto à prova.
… Seja como for, na primeira leitura positiva e no impulso da perspectiva do Fed dovish, o Dow Jones subiu 1,14% (43.006,59 pontos), o S&P 500 ganhou 1,12% (5.842,63 pontos) e o Nasdaq, +1,46% (18.552,73 pontos).
… O Ibovespa quis ir no embalo, mas tudo o que conseguiu foi uma alta modesta de 0,19%, aos 123.035 pontos, com giro de R$ 20 bilhões, porque as perdas de quase 2,5% do petróleo roubaram o fôlego da Petrobras.
… Na sétima queda consecutiva, o papel ON desabou 4,61% (R$ 37,25) e PN, -3,65% (R$ 34,62). O Brent/maio caiu 2,44%, a US$ 69,30, com a retomada de produção da Opep+ em abril e os estoques maiores nos EUA.
… Além disso, as negociações para um acordo de paz entre a Ucrânia e a Rússia, com a mediação dos EUA, voltaram ao radar após Volodymyr Zelensky indicar disposição de trabalhar sob a “forte liderança” de Trump.
… O recuo consistente da Petrobras ofuscou o bom desempenho da Vale (ON, +0,80%, a R$ 55,59), com a China mirando o alvo de crescimento de 5% este ano, e a performance positiva dos bancos, que subiram em bloco.
… Bradesco PN registrou +2,05% (R$ 11,47); Bradesco ON, +1,83% (R$ 10,55); Banco do Brasil ON, +1,68% (R$ 27,77); Itaú, +1,50% (R$ 32,40); e Santander engatou valorização de 1,43% (R$ 25,55), na máxima do dia.
EM TEMPO… LOJAS RENNER informou que o Grupo Schroders adquiriu 1.673.268 de ações da companhia, passando a deter 53.610.471 de ações ou 5,059% do total.
EZTEC. BlackRock reduziu participação na companhia de 5,18% das ações ON para 3,43% do total, passando a deter 7.582.246 de papéis do tipo.
ENEVA, por meio da Parnaíba II Geração de Energia, recebeu aval para operar comercialmente unidade geradora 3, de 92,25 MW de potência, da usina termelétrica MC2 Nova Venécia 2, em Santo Antônio Lopes, no Maranhão.
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