São Paulo, 06/03/2025
Por Luciana Xavier e Silvana Rocha*
OVERVIEW. A quinta-feira de agenda enxuta traz a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), seguida de fala da presidente da instituição, Christine Lagarde. Nos Estados Unidos, são esperados discursos de dirigentes do Federal Reserve (Fed) e os pedidos de auxílio-desemprego, em véspera do relatório oficial de emprego, o payroll. No Brasil, os diretores do Banco Central Diogo Guillen (Política Econômica) e Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais) participam das reuniões trimestrais com economistas, em São Paulo. O vice-presidente Geraldo Alckmin conversa por videoconferência com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick.
NO EXTERIOR. Os futuros de Nova York acentuaram as perdas na última hora e caem mais de mais de 1%, afetando também as bolsas europeias. A queda de 15,50% das ações da Marvell pesa no Nasdaq futuro. Como pano de fundo para cautela estão as tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a vários países e ameaças de tarifas que ainda virão. A ofensiva é a mais dura em mais de um século, desde a Grande Depressão, segundo o site Barrons. Em meio ao temor das tarifas comerciais, o BCE deve cortar hoje os juros mais uma vez, de 2,75% parta 2,50% diante o fraco desempenho da economia da região e expectativa de que a inflação vá para perto da meta de 2% até o final do ano. Na zona do euro, as vendas no varejo caíram 0,3% em janeiro ante dezembro, abaixo da previsão de estabilidade. Mas as bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em alta, refletindo a expectativa de mais medidas de estímulo na China e após Trump adiar tarifas para certas montadoras.
POR AQUI. O sinal negativo em NY deve afetar o apetite no Ibovespa em dia de queda do minério de ferro e alta modesta do petróleo. O EWZ, principal fundo de índice (ETF, na sigla em inglês), brasileiro negociado em Nova York caía 0,33% no pré-mercado às 7h15. Já o dólar tem sinais mistos ante moedas emergentes e ligadas a commodities, mas sobe ante o peso mexicano, a lira turca e o rand sul-africano. As tarifas de Trump seguem no radar, mas o governo Lula decidiu não responder ontem à nova menção do presidente americano Trump à cobrança de tarifas excessivas pelo Brasil e à ameaça de adoção de reciprocidade. Na reunião de hoje, Alckmin deve falar com Lutnick sobre as tarifas anunciadas pelos EUA que devem afetar produtos brasileiros, em especial o aço e alumínio, cuja sobretaxa já tem previsão de entrar em vigor na próxima quarta-feira, 12. O etanol também está no radar.
NA POLÍTICA. A Procuradoria-geral da República (PGR) negou pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para estender o prazo de apresentação de defesa sobre a denúncia de tentativa de golpe de Estado. O prazo termina nesta quinta-feira. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou o arquivamento de inquérito que investigava o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), por suposta omissão nos atos golpistas de 8 de Janeiro. O governo federal e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), travam uma disputa pública pelo controle do Aeroporto de Cargas de Anápolis, cidade a 60 quilômetros de Goiânia.
AGENDA.
BCE E SEGURO-DESEMPREGO NOS EUA EM FOCO - A agenda desta quinta-feira traz a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), às 10h15, seguida de fala da presidente da instituição, Christine Lagarde (10h45). Nos EUA, saem pedidos de auxílio-desemprego dos EUA (10h30), balança comercial de janeiro (10h30), estoques no atacado (12h). São esperados ainda discursos do diretor do Fed, Christopher Waller (17h30); do presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic (21h). A Cúpula especial do Conselho Europeu se reúne para discutir sobre Ucrânia e defesa. Aqui tem o IPC-S de fevereiro (8h) e os leilões do Tesouro de LTN e NTN-F (11h).
O QUE SABEMOS.
ENEVA - A Eneva, por meio da Parnaíba II Geração de Energia, foi autorizada a operar comercialmente a unidade geradora 3, de 92,25 megawatts (MW) de potência, da usina termelétrica MC2 Nova Venécia 2. Ao todo, a usina soma 270,47 MW e localiza-se em Santo Antônio dos Lopes, no Maranhão. O empreendimento está em operação desde outubro de 2023 e tem gás natural como fonte. O aval para a unidade 03 foi publicado nesta quarta-feira, 05, no Diário Oficial da União.
EM TESE: O aumento da capacidade de geração pode ser interpretado como um sinal de crescimento, de potencial aumento nas receitas e lucros da empresa e deve ser bem recebido, com efeito positivo nas ações. Fortalece sua posição no mercado de energia e a percepção do investidor sobre execução de projetos e o modelo de negócios. A usina com gás natural é uma adição relevante, pois pode ajudar a equilibrar a matriz energética, principalmente em momentos de maior demanda. A publicação do balanço do 4º trimestre está prevista para 20 de março. A ação ordinária (ENEV3) carrega perdas de 1,35% em 30 dias; alta de 11,11% em 2025 e queda de 3,70% em um ano.
OVERNIGHT.
IPC-FIPE - O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a inflação na cidade de São Paulo, subiu 0,51% em fevereiro, de 0,24% de janeiro e ganho de 0,23% na terceira quadrissemana do mês passado, segundo a Fipe. O resultado ficou dentro das estimativas do Projeções Broadcast, que variavam de queda de 0,30% a alta de 0,62%, mas acima da mediana, de +0,45%.
DIVIDENDOS - As empresas brasileiras distribuíram 9% menos dividendos em 2024 em relação a 2023, impactadas por uma queda de 28,7% no último trimestre, segundo a Janus Henderson. No total, foram pagos US$ 22,4 bilhões, com a Petrobras representando quase metade (US$ 10,83 bilhões), seguida pela Vale (US$ 4,16 bilhões). Entre os emergentes, a China liderou, com alta de 17,8% nos dividendos, atingindo um recorde de US$ 62,7 bilhões.
TARIFAS - O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, disse que várias empresas procuraram o governo em busca de isenções de tarifas, mas que a melhor maneira de evitar a tributação é mediante o investimento no país.
PETRÓLEO - O Citi prevê queda nos preços do petróleo em 2025, pois o aumento da oferta, especialmente da Opep+, deve superar o crescimento da demanda global. A decisão da Opep+ de elevar a produção reforça a expectativa de excedente no mercado. Além disso, a pressão de Donald Trump por preços mais baixos também aumenta esse risco. No longo prazo, o banco destaca que a Opep+ pode reativar sua capacidade ociosa devido ao baixo investimento no xisto dos EUA, que pode persistir mesmo com cortes de impostos.
ALEMANHA - O acordo para reformar a regra fiscal na Alemanha indica um possível estímulo de 1% a 2% do PIB nos próximos dois anos, segundo a Capital Economics. Isso poderia aumentar o crescimento do PIB em até 0,5 ponto porcentual em 2026 e pressionar a inflação de salários e preços. O Lombard Odier prevê que as reformas fiscais da Alemanha impulsionarão o crescimento do PIB da zona do euro, com maior impacto em 2026. Para a Eurasia, a reforma da regra fiscal deve ser aprovada este mês pelo atual parlamento alemão.
AIR FRANCE-KLM - A Air France-KLM divulgou um prejuízo líquido de 63 milhões de euros no quarto trimestre de 2024, bem menor do que a perda de 256 milhões de euros apurada em igual período de 2023. Já o resultado operacional da companhia aérea franco-holandesa passou para lucro de 396 milhões de euros, revertendo prejuízo de 56 milhões de euros de um ano antes, enquanto a receita cresceu 6,4%, a 7,88 bilhões de euros. Os resultados superaram as expectativa de analistas, que previam lucro operacional de 160 milhões de euros e receita de 7,72 bilhões de euros, segundo consenso fornecido pela própria empresa.
E NOS MERCADOS.
TREASURIES E FUTUROS DE NY- Os rendimentos dos Treasuries longos ampliam valorização de ontem, enquanto os índices futuros das bolsas de Nova York recuam, após Wall Street fechar com ganhos de mais de 1%. Investidores aguardam dados econômicos dos EUA, incluindo pesquisa semanal sobre pedidos de auxílio-desemprego, além de comentários de autoridades do Federal Reserve (Fed). Decisão de juros do Banco Central Europeu (BCE) e eventuais anúncios tarifários do governo Trump também estão no radar. Às 7h30, o juro da T-note de 2 anos caía a 3,993% (de 4,001% no fim da tarde de ontem), o da T-note de 10 anos avançava a 4,302% (de 4,279%) e o do T-bond de 30 anos aumentava a 4,593% (de 4,569%). No mercado futuro, o Dow Jones caía 0,82%, o S&P 500 recuava 0,97% e o Nasdaq tinha perda de 1,16%.
BOLSAS EUROPEIAS - As bolsas europeias operam sem direção única nesta quinta-feira, enquanto investidores aguardam decisão do Banco Central Europeu (BCE), que provavelmente cortará seus juros básicos mais uma vez. Londres e Franbkfurt ampliaram perdas após decepção com as vendas no varejo em janeiro na zona do euro, abaixo das previsões. Às 7h32, a Bolsa de Londres caía 0,92%, enquanto a de Paris cedia 0,38% e a de Frankfurt avançava 0,34%.
MOEDAS - O dólar recua frente outras moedas de países desenvolvidos, ampliando fortes perdas de ontem. Investidores aguardam decisão de juros do Banco Central Europeu (BCE), dados dos EUA e eventuais anúncios tarifários do governo Trump. Às 7h32, o euro estava a US$ 1,0794 (de US$ 1,0798), a libra cedia a US$ 1,2878 (de US$ 1,2899). O dólar caía a 147,96 ienes (de 148,77 ienes). Já o índice DXY do dólar - que acompanha as flutuações da moeda americana em relação a outras seis divisas relevantes - tinha queda de 0,12%, a 104,17 pontos.
PETRÓLEO - Os contratos futuros do petróleo operam em alta modesta na madrugada desta quinta-feira, em um provável movimento de recuperação técnica depois de acumularem perdas por quatro sessões consecutivas. Às 7h34, o barril do petróleo WTI para abril subia 0,45% na Nymex, a US$ 66,64, enquanto o do Brent para maio avançava 0,42% na ICE, a US$ 69,58.
BOLSAS DA ÁSIA - As bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em alta nesta quinta-feira, em meio a expectativas de mais medidas de estímulo na China e após o presidente dos EUA, Donald Trump, adiar por u mês a aplicação de tarifas de 25% para montadoras do mercado do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA). Na China, o índice Xangai Composto subiu 1,17%, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 1,81%. Após o encerramento dos negócios, autoridades chinesas prometeram mais incentivos monetários e fiscais, incluindo cortes de juros e compulsórios e medidas para estimular o consumo. Em Hong Kong, o Hang Seng saltou 3,29%, atingindo o maior patamar em três anos. O japonês Nikkei subiu 0,77% em Tóquio. O sul-coreano Kospi avançou 0,70% em Seul. Na contramão, o Taiex caiu 0,68% em Taiwan. Na Oceania, o S&P/ASX 200 recuou 0,57% em Sydney, na terceira queda seguida.
*Colaborou Sergio Caldas
Contatos: luciana.xavier@estadão.com e silvana.rocha@estadao.com
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