Pular para o conteúdo principal

Fabio Alves

 O euro já subiu ao redor de 5% em relação ao dólar apenas nos primeiros doze dias de março, mas há muitos analistas apostando que o ganho da moeda do bloco europeu ainda vai longe diante da crise de confiança nos Estados Unidos com a errática política econômica do presidente Donald Trump. No fim da sessão de negócios ontem em Nova York, o euro estava sendo negociado no patamar de US$ 1,09. Mas não são poucos os que projetam agora um euro bem mais forte ante o dólar no fim de 2025. Nas novas projeções de Athanasios Vamvakidis e de Michalis Rousakis, analistas de câmbio do Bank of America (BofA), o euro deve terminar 2025 cotado a US$ 1,15 (em comparação com a estimativa anterior de US$ 1,10). Para o fim de 2026, os analistas do BofA preveem um euro a US$ 1,20 (ante US$ 1,15 anteriormente). Obviamente, as projeções antigas do BofA já estavam no campo mais otimista em relação ao euro, mas agora mais e mais analistas estão migrando para uma visão de um euro fortalecido ao longo deste ano. Isso porque o outro lado da questão é a virada na Alemanha e na União Europeia como um todo para acabar com as restrições fiscais para gastos com defesa e para impulsionar os investimentos em infraestrutura. Com isso, não somente é esperado um dilúvio de emissões de dívida pública na Alemanha para financiar esses gastos, como também uma taxa mais acelerada de crescimento econômico com a injeção desses estímulos. A conclusão de muitos analistas é: adeus ao chamado “excepcionalismo americano”, isto é, a tese de um desempenho superior da economia dos EUA, além dos ativos americanos, sobre outras regiões do mundo, como a zona do euro, a China e o Japão. Nos últimos dias, com a queda nos índices de confiança dos consumidores e nas sondagens de sentimento de empresários, muitos analistas vêm revisando para baixo suas estimativas de crescimento do PIB dos EUA não somente para o primeiro trimestre deste ano, como também para o ano inteiro de 2025, a exemplo do banco Goldman Sachs, que cortou sua projeção do PIB americano na média de 2025 de 2,4% para 1,7%. “A quebra das posições ['trade'] do excepcionalismo dos EUA, num momento em que a Alemanha e a China estão anunciado estímulos, é um catalisador perfeito para moedas subvalorizadas voltarem a ganhar terreno”, argumentam Andrea Cicione e Daniel Von Ahlen. “Moedas cíclicas com um ‘carry’ positivo e bancos centrais com postura ainda ‘hawkish’ terão mais espaço para se apreciarem ante o dólar.” Na opinião dos estrategistas de câmbio do banco Société Générale, o iene japonês e o euro assumiram o bastão de refúgio ao risco em meio ao ambiente de maior nervosismo dos investidores sobre o impacto das medidas de Trump, especialmente na adoção de tarifas de importação, na economia americana, resultando em possível recessão. Segundo os estrategistas do Société Générale, o próximo catalisador para uma valorização do euro ante o dólar será a votação da proposta do novo chanceler alemão Friedrich Merz para afrouxar o chamado “debt brake” e reformar as regras fiscais do país. Essa votação tem o prazo final no dia 25 deste mês. E, se a proposta for aprovada, o euro ganhará novo impulso ante o dólar. Assim, os investidores devem acompanhar com uma lupa as próximas divulgações de indicadores de atividade e sondagens de sentimento empresarial e do consumidor nos EUA. Quaisquer surpresas para baixo, azedando o humor dos investidores, poderão servir de pressão de baixa sobre o dólar e maior suporte ao euro. Por outro lado, surpresas para cima na inflação dos EUA poderão aumentar as apostas de que o Federal Reserve (Fed) não corte tanto os juros neste ano como o precificado atualmente, o que favorece o dólar. Todavia, o cenário atual favorece o euro ante o dólar. (fabio.alves@estadao.com) Fábio Alves é jornalista do Broadcast

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BDM 181024

 China e Netflix contratam otimismo Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato* [18/10/24] … Após a frustração com os estímulos chineses para o setor imobiliário, Pequim anunciou hoje uma expansão de 4,6% do PIB/3Tri, abaixo do trimestre anterior (4,7%), mas acima da estimativa de 4,5%. Vendas no varejo e produção industrial, divulgados também nesta 6ªF, bombaram, sinalizando para uma melhora do humor. Já nos EUA, os dados confirmam o soft landing, ampliando as incertezas sobre os juros, em meio à eleição presidencial indefinida. Na temporada de balanços, Netflix brilhou no after hours, enquanto a ação de Western Alliance levou um tombo. Antes da abertura, saem Amex e Procter & Gamble. Aqui, o cenário externo mais adverso influencia os ativos domésticos, tendo como pano de fundo os riscos fiscais que não saem do radar. … “O fiscal continua sentado no banco do motorista”, ilustrou o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, à jornalista Denise Abarca (Broadcast) para explicar o pa...

Falsificação chinesa

 ‘Luxo fake’: por dentro do mercado trilionário de roupas e bolsas de grife falsificadas na China No topo do ranking de Países que mais movimentam o mercado de produtos falsificados, metrópoles do país asiático são um polo de venda de réplicas ilegais de gigantes como Prada, Chanel, Hermès, Dior e outras Wesley Gonsalves XANGAI - Em um inglês quase ininteligível e com um sorriso no rosto, Li Qin, de 60 anos, aborda turistas que caminham pela avenida Sichuan, região central de Xangai, na costa leste da China. Quase sussurrando ela diz: “Bags? Louis Vuitton, Chanel, Prada?”, enquanto mostra um cartão com imagens de algumas bolsas falsificadas. No centro de compras da cidade, a vendedora trabalha há 20 anos tentando convencer o público - quase sempre ocidental - que caminha pela região a visitar sua loja de réplicas de bolsas de luxo, um mercado gigantesco na China. O Estadão visitou lojas de roupas, bolsas e sapatos falsificados na maior cidade do país asiático para entender como fun...

Milei, Javier

 Revista inglesa exalta Milei e diz que libertário conduz “experimento extraordinário” na Argentina 'The Economist' afirma que Milei tem o programa 'mais radical' de liberdade econômica desde Margaret Thatcher, no Reino Unido, na década de 80. Confira! https://direitaonline.com.br/milei-economist-revista/ Nosso WhatsApp                                                                                      ENTRE                          https://chat.whatsapp.com/D2yv50GH5VLBxcHlRZorVi