Risco geopolítico domina negócios globais
www.bomdiamercado.com.br
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[13/06/25]
… O petróleo saltava quasse 10% e os futuros de NY registravam fortes perdas, ontem à noite, após Israel ter lançado ataques em grande escala a instalações nucleares do Irã. Netanyahu disse que as operações continuarão por quantos dias forem necessários. Fontes do governo israelense dizem que esse não é um ataque de um dia só. Investidores corriam para o dólar, iene, Treasuries americanos e títulos do Japão. Comunicado da Casa Branca informou que os EUA não estão envolvidos. Os riscos geopolíticos devem dominar o ambiente dos negócios globais. Na agenda dos indicadores, sai a preliminar de junho do sentimento do consumidor americano de Michigan e, aqui, o volume de serviços, em meio à crise entre governo e Congresso, no confronto aberto.
… Em mais um susto para o Planalto, Hugo Motta foi ao X no final da manhã, após a reunião de líderes, para anunciar a decisão de pautar na 2ªF a urgência de um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) para derrubar o novo pacote do IOF da Fazenda.
… “Conforme tenho dito nos últimos dias, o clima na Câmara não é favorável para o aumento de imposto com objetivo arrecadatório para resolver nossos problemas fiscais.” A notícia causou espanto, já que as novas medidas haviam sido combinadas com Haddad.
… Causou espanto e causou confusão também, porque se o Congresso derruba o novo decreto do IOF, publicado na noite de 4ªF, passaria a valer o primeiro decreto, que começou essa briga. Agora, estão vendo um jeito de derrubar os dois decretos de uma vez só.
… O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, está cuidando da logística, afirmando que “pagadores de impostos não podem continuar sendo surrupiados por esse governo irresponsável que não quer conter gastos.” Motta voltou a ceder às pressões.
… Horas antes, Haddad reforçava aos jornalistas que está disponível para discutir com o Congresso as medidas alternativas ao IOF. “Estou 100% disponível para visitar os presidentes [das Casas], os líderes, as bancadas. Quantas horas precisar.”
… O ministro defendeu as medidas do IOF por terem a vantagem de entrar em vigor imediatamente, o que representaria uma salvaguarda das contas públicas. “Óbvio que o IOF tem dimensão regulatória, mas ela tem uma arrecadação importante.”
… Ele considera natural algum tipo de reação negativa, seja de setores, de parlamentares da oposição, afirmando que os lobbies são mais rápidos e atuam com muita força, mas ainda acreditava que, com diálogo, ganharia apoio. Até do agro e da construção civil.
… Rebatendo as críticas à tributação de 5% para LCAs e LCIs, disse que “o agro nunca cresceu tanto como agora, nós vamos para o terceiro plano safra de crescimento”, e que “metade da construção civil é Minha Casa, Minha Vida, que tinha acabado no governo anterior”.
… O ministro citou novas fontes para complementar as receitas com as medidas do atual decreto do IOF e MP, que devem ficar em torno de R$ 10 bilhões este ano, como dividendos extraordinários das estatais, e a venda de petróleo de áreas do pré-sal não contratadas.
… E ainda manifestou a esperança de que as isenções tributárias, estimadas em R$ 800 bilhões, possam ser reduzidas em até 10%.
… Haddad insiste que as medidas da MP não representam aumento de impostos, mas “correção de distorções”, e que, em relação ao setor financeiro, o que está sendo feito é uma equalização da tributação. Mas já era tarde demais para bater na mesma tecla.
… Brasília pegava fogo e, em Mariana (MG), o presidente Lula reconheceu em discurso um “clima muito ruim” na Câmara.
… Respondendo às críticas de que seu governo não faz cortes de gastos, Lula disse que não foi eleito para “fazer benefícios para os ricos”, que “recebem R$ 860 bilhões em isenções fiscais e o Brasil vive uma sina desgraçada de que pobre tem que nascer e morrer pobre”.
… Em Fórum da Fiesp, o presidente Josué Gomes da Silva resumiu o quadro que parece sem saída…
… “Todos entendemos que as contas públicas não podem permanecer como estão, há o consenso do que fazer, mas não há consenso do como fazer. Cada um de nós quer que o ajuste das contas públicas seja feito no vizinho. Ninguém abre mão de nada.”
… O pior desfecho nesse cenário seria uma mudança da meta fiscal, que já começa a ser considerada no mercado.
MUITO POUQUINHO – Estudo da XP aponta que os cortes de gastos propostos na MP, como perícia médica online no INSS, a inclusão do Pé-de-Meia no piso da Educação e o controle no acesso ao Seguro Defeso devem render apenas R$ 2 bilhões em 2025.
… Para 2026, a economia com esses primeiros itens indicados pela Fazenda poderiam ser de R$ 4,8 bilhões.
SACO SEM FUNDO – Ninguém abre mão de nada e, sempre que dá, querem um pouco mais, como a mais nova pressão de parlamentares que decidiram atrelar a isenção do IR ao maior número de deputados na Câmara e à recuperação de verbas do orçamento secreto.
… A Comissão Mista de Orçamento aprovou, nesta 5ªF, um projeto que abre caminho para a aprovação da isenção do IR até R$ 5 mil, mas sem a compensação que deve taxar os mais ricos – conforme proposta do governo – e com os dois “jabutis” incluídos.
… A ideia é que o governo estime no Orçamento de 2025 e nos Orçamentos dos anos seguintes o impacto da criação das novas vagas dos deputados, elevadas de 513 para 531, com um custo de receita de R$ 64,8 milhões ao ano.
… A CMO também alterou o projeto para recuperar R$ 2 bilhões em verbas do orçamento secreto, autorizando que obras com problemas técnicos, como falta de licitação e licenciamento ambiental, e municípios inadimplentes com a União, recebam esse dinheiro.
… Além disso, serão contempladas outras emendas direcionadas por deputados e senadores para seus redutos eleitorais.
LESADOS DO INSS – Governo pediu ao STF autorização para abrir crédito extraordinário para pagar indenizações às vítimas de descontos indevidos do INSS, solicitando que o valor não seja incluído nos limites de gastos nos anos de 2025 e 2026.
MAIS AGENDA – Pesquisa Broadcast aponta alta de 0,2% para o volume de serviços prestados em abril, na mediana das estimativas, após crescimento de 0,3% em março. As estimativas variam de recuo de 1,0% a expansão de 0,8%. O dado será divulgado às 9h.
… Confirmadas as expectativas, este será o terceiro mês consecutivo de expansão, na esteira da recuperação da confiança do consumidor, do mercado de trabalho aquecido e de medidas pontuais de estímulo, como a liberação do FGTS e do crédito consignado privado.
… Nesta 5ªF, a Pesquisa Mensal de Comércio trouxe uma queda nas vendas do varejo ampliado (-1,9%) em abril maior do que a mediana das estimativas (-1,4%). Mas o indicador não foi suficiente para reforçar as apostas em manutenção da Selic.
… Pesquisa da Agência Estado apurou que o mercado está dividido para o Copom da próxima semana, com 27 Casas esperando que o BC mantenha o juro estável em 14,75%, enquanto 21 instituições acreditam em um último ajuste de 25pbs, para 15% (abaixo).
… Nos EUA, a preliminar de junho do sentimento do consumidor medido pela Universidade de Michigan sai às 11h, com previsão de que tenha melhorado para 53,5 (de 52,2 em maio). Junto saem também as expectativas inflacionárias para um ano e cinco anos.
… Às 14h, a Baker Hughes informa o número de poços e plataformas de petróleo em operação nos Estados Unidos.
… Na Zona do Euro, dados da balança comercial e da produção industrial abrem o dia (6h), ambas referentes a abril.
GOLPE PELAS COSTAS – A sabotagem de Motta, com a promessa de colocar o decreto do IOF em pauta, quando tudo o que Haddad precisava era de um tempo para negociar alternativas, levou o câmbio para a defensiva.
… Diante do clima pesado em Brasília, o dólar aqui desperdiçou a chance de embarcar na queda firme da moeda americana lá fora, desencadeada pela inflação fraca nos EUA, que projeta até três cortes de juro pelo Fed.
… A virada do dólar no mercado doméstico para alta coincidiu com o momento da postagem do presidente da Câmara, avisando que vai jogar para votação o projeto de decreto legislativo que derruba o aumento do IOF.
… Depois de ter tocado mínima de R$ 5,525 mais cedo, a divisa americana zerou a queda e passou raspando em R$ 5,56 na máxima do dia (R$ 5,5591), antes de fechar perto da estabilidade (+0,07%), cotada a R$ 5,5421.
… Há dificuldade do dólar para furar o piso informal de R$ 5,50, mesmo com o carry trade favorável ao Brasil, por conta da confusão gerada pelas mudanças no IOF, resumiu Eduardo Velho (da Equador) ao Broadcast.
… Em meio aos ruídos domésticos, só restou ao real passar o dia olhando de longe o índice DXY afundar 0,71% em NY e furar a linha dos 98 pontos (97,927), no menor patamar em três anos, de olho na pressão dovish sobre Powell.
… Um dia depois de os preços ao consumidor americano (CPI) terem vindo comportados, o PPI confirmou que está tudo sob controle. A alta de 0,1% da inflação ao produtor em maio contra abril veio abaixo do esperado (0,2%).
… O indicador reforçou a percepção de que a política protecionista dos EUA ainda não atingiu em cheio os custos.
… Mas Trump, que nunca se cansa de aprontar, já veio ontem com o papo de que as tarifas sobre automóveis importados, hoje em 25%, podem subir em breve, em mais uma das ameaças para embolar a guerra comercial.
… O republicano informou ainda que pretende mandar cartas nas próximas duas semanas para os parceiros comerciais dos EUA definindo tarifas unilaterais antes do prazo final de 9 de julho e que é “pegar ou largar”.
… Em entrevista à CNBC, aproveitou também para xingar Powell de “idiota” e insinuar que “talvez eu seja obrigado a tentar alguma coisa” para forçar o Fed a reduzir as taxas de juros, embora tenha descartado demitir Powell.
… O mercado anda tão convencido que a inflação não é obstáculo do Fed, que já se animou a projetar ontem não apenas dois, mas três desapertos monetários, incluindo outubro no cronograma que já previa setembro e dezembro.
… Beneficiado em duas frentes, pela fraqueza do dólar com o Fed mobilizado para cortar o juro no 3Tri e pela sinalização do BCE de que está chegando ao fim de seu ciclo de cortes, o euro subiu 0,79%, para US$ 1,1578.
… Nas máximas, escalou ao pico em quatro anos. A libra ganhou 0,43%, a US$ 1,3602. O iene foi a 143,56/US$.
ONDE HÁ FUMAÇA, HÁ FOGO – Em um rali impressionante, Petrobras vem exibindo altas expressivas há três pregões e hoje pode completar o seu quarto dia de ganhos, se depender da explosão do petróleo com Israel-Irã.
… Desde 3ªF, vinham rolando rumores no mercado, confirmados ontem por Haddad, sobre uma possível pressão do governo Lula para a distribuição de dividendos extraordinários pelas estatais, nos esforços para mirar a meta fiscal.
… Ao chegar ontem à Fazenda, Haddad mencionou as medidas em estudo para cobrir o rombo das contas públicas.
… Além dos dividendos extraordinários, citou o projeto de lei que autoriza a venda de petróleo de áreas do pré-sal não contratadas adjacentes aos campos de Mero, Atapu e Tupi, enviado no final do mês passado para o Congresso.
… As ações ON da Petrobras subiram 2,76% (R$ 34,25), entre os maiores ganhos do dia, assim como as PN (+2,25%; R$ 31,75), ajudando a embalar o Ibovespa e ofuscar o impacto da investida da Câmara ao decreto do IOF.
… Perto dos 138 mil pontos, o índice à vista da bolsa doméstica subiu 0,49% e fechou aos 137.799,74 pontos, com giro de R$ 28,6 bilhões, acima das médias recentes. Além da Petrobras, os bancos também colaboraram ontem.
… Bradesco liderou o setor, com +1,42% (ON, a R$ 14,28) e +0,98% (PN, a R$ 16,48). Itaú PN subiu 0,77%, para R$ 36,61, e BB ON ficou praticamente estável (+0,09%), a R$ 21,42. Na mão contrária, Santander caiu 0,86% (R$ 29,91).
… Vale perdeu 0,66% (R$ 52,83), seguindo o minério de ferro na China, em leve queda de 0,21%. De seu lado, o petróleo Brent acionou realização de lucro, depois do salto de 4% na véspera, e caiu 0,59%, a US$ 69,36 por barril.
… Mas hoje já é outro dia, com o bombardeio em larga escala lançado por Netanyahu às bases nucleares do Irã.
O RACHA DO COPOM – O duelo das apostas, entre pausa e nova alta de 0,25pp da Selic na semana que vem, continua rolando solto, projetando um resultado imprevisível para a reunião de política monetária da próxima 4ªF.
… De última hora, o Santander mudou ontem o seu call, de manutenção para um aperto adicional. Segundo o banco, embora a inflação venha surpreendendo para baixo, a atividade segue forte, particularmente o mercado de trabalho.
… “Nesse contexto, o BC pareceu desconfortável com o mercado precificando uma certeza de não aumento [do juro] e ativamente direcionou as expectativas para um aperto”, escreveu o economista Marco Antonio Caruso.
… O profissional faz parte da corrente do mercado que leu os últimos comentários de Galípolo pelo viés hawkish.
… A curva do DI operou sob volatilidade ontem, diante da proximidade do Copom e do barulho do IOF, mas os contratos futuros dos juros acabaram fechando perto dos ajustes, devolvendo a pressão observada pela manhã.
… No fechamento, o DI para janeiro de 2026 marcava 14,845% (contra 14,890% no pregão anterior); Jan/27, 14,185% (de 14,235%); Jan/29, 13,535% (de 13,570%); Jan/31, 13,690% (de 13,700%); e Jan/33, 13,740% (13,760%).
… Lá fora, as taxas dos Treasuries caíram com a inflação sem sustos do PPI e as novas ameaças tarifárias de Trump, que mantiveram posições defensivas nos títulos do Tesouro, como deve acontecer hoje com o ataque de Israel/Irã.
… O retorno da Note de 2 anos recuou a 3,903%, de 3,942% na véspera, e o de 10 anos, a 4,354%, contra 4,415%.
… Com Trump botando as garras de fora novamente, as bolsas em NY subirem pouco, mas não deixaram de expressar o alívio com o esvaziamento das pressões inflacionárias, que pode contratar ciclo maior de queda do juro.
… O Dow Jones subiu 0,24%, a 42.967,62 pontos; o S&P 500 ganhou 0,38%, a 6.045,25 pontos; e o Nasdaq, +0,24%, para 19.662,48 pontos. Boeing despencou 4,79% com o acidente na Índia que deixou um único sobrevivente.
EM TEMPO… Na Folha, a JBS e seu braço portuário, a JBS Terminais, avaliam colocar de pé o plano para leilão de concessão do novo megaterminal no porto de Santos, o Tecon 10, que deve ocorrer até o final de 2025.
TELEFÔNICA aprovou a distribuição do valor líquido de R$ 170 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,0524 por ação, com pagamento até 30/4/26; ex em 24/6.
BANCO MASTER. O BRB entregou ao BC essa semana a documentação completa sobre o escopo da compra da instituição, apurou a Broadcast. Com isso, o prazo de 360 dias para análise da operação começou a correr.
MRV informou que fará a 29ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, no valor de até R$ 750 milhões…
… Ainda segundo a empresa, o Conselho de Administração autorizou a recompra de até 6.082.426 de ações ON da companhia; plano de recompra terá vigência até 12/12/26.
NEOENERGIA aprovou a distribuição de R$ 264 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,2174 por ação ON, com pagamento em dezembro; ex em 18/6.
AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!
*com a colaboração da equipe do BDM Online
AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.
Comentários
Postar um comentário