*Abertura: Mercado reage a IOF e comunicado de Haddad em meio à cautela em NY antes de feriado*
São Paulo, 23/05/2025
Por Silvana Rocha e Maria Regina Silva*
OVERVIEW. Um comunicado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o aumento do IOF fica no foco local. Palestras do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e do diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, Paulo Picchetti, no XI Seminário Anual de Política Monetária, promovido pela FGV IBRE, no Rio de Janeiro, também são destaques da agenda local nesta sexta-feira. Nos EUA, três dirigentes do Federal Reserve discursam e o mercado de Treasuries fecha mais cedo, às vésperas do feriado americano de Memorial Day, na segunda-feira,
NO EXTERIOR. Os índices futuros de Nova York amenizam as perdas diante de sinais de retomada das negociações tarifárias entre os EUA e seus parceiros comerciais. No entanto, a cautela fiscal persiste, pressionando os juros dos Treasuries e o dólar, em meio à expectativa por declarações de dirigentes do Fed antes do feriado e pela votação no Senado do projeto de orçamento de Donald Trump, um dos motivos para a recente perda do rating “triplo A” dos EUA pela Moody’s. Em meio às movimentações nos mercados, os EUA e a China tiveram o primeiro contato telefônico oficial desde a suspensão das tarifas e Trump conversou hoje com o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, sobre a ida do ministro japonês da Revitalização Econômica, Akazawa Ryosei, a Washington para uma nova rodada de negociações comerciais. A União Europeia e os EUA planejam conversa hoje sobre tarifas em meio a divergências. A presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou que as ameaças comerciais dos EUA podem ser oportunidade para as relações entre Canadá e UE. As bolsas europeias sobem majoritariamente, impulsionadas por dados positivos da Alemanha, cujo PIB foi revisado para cima, e do Reino Unido, onde o varejo superou expectativas.
POR AQUI. Os mercados locais seguem reagindo ao aumento do IOF anunciado pelo governo, que abrange seguros, crédito para empresas e câmbio, e o recuo do Ministério da Fazenda na alta do IOF para fundos nacionais no exterior (leia mais abaixo em O Que Sabemos). O ETF EWZ, principal fundo de índice brasileiro em Nova York, caía 1,31% no pré-mercado por volta das 6h46, indicando uma abertura negativa para o Ibovespa. O ADR do Itaú também recuava 0,91%; o da Petrobras cedia 0,76%, pressionado também pelo petróleo fraco, e o da Vale subia 0,52%, apesar da perda de 1,31% do minério de ferro na China. Pesquisa da XP com 60 investidores institucionais indica expectativa de forte desvalorização do real, com o dólar podendo chegar a R$ 5,85 na abertura. No entanto, a exclusão do IOF sobre operações de comércio exterior e fluxos de investimento estrangeiro pode moderar a reação no câmbio e juros, assim como a queda do dólar e dos retornos dos Treasuries no exterior. Galípolo fica em evidência, após o ministro Fernando Haddad afirmar que as medidas fiscais não foram negociadas com o Banco Central, contrariando declaração do secretário-executivo Dario Durigan. Haddad fará comunicado à imprensa às 8h15, em São Paulo.
NA POLÍTICA. Ambientalistas dizem que o Marco do Licenciamento Ambiental é o maior retrocesso legal em 40 anos. Para eles, é certo que o texto aprovado pelo Senado - que voltou para análise da Câmara dos Deputados - será judicializado nos próximos meses. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que o pedido de urgência para a votação do texto preocupa e que, se o Congresso não reparar o PL do Licenciamento, sua pasta trabalhará mecanismos no Executivo. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, manteve a prisão preventiva do general Walter Braga Netto no processo do golpe e a defesa do general disse que vai recorrer.
AGENDA.
GALÍPOLO E DIRIGENTES DO FED EM DESTAQUE - Nos EUA, os dirigentes do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, e de Kansas City, Jeffrey Schmid, participam de bate-papo às 9h30; e a diretora do Fed, Lisa Cook discursa em Conferência Anual de Mulheres em Macroeconomia às 13h. O resultado das vendas de moradias novas no país em abril será publicado às 11h. O mercado de Treasuries fecha às 15h. Na Alemanha, a dirigente do BCE, Isabel Schnabel, também discursa às 13h. No Brasil, a terceira previa do IPC-S de maio sai às 8h. O presidente do BC, Gabriel Galípolo, profere palestra às 14h; e o diretor de Assuntos Internacionais, Paulo Picchetti, às 16h30. O presidente Lula recebe o presidente de Angola, João Lourenço, que faz viagem de Estado ao Brasil, às 10h. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reúne-se em São Paulo com a presidente do Conselho de Administração da Magalu Cloud, Luiza Helena Trajano, às 10h. Às 18h, a montadora chinesa GAC faz o lançamento da marca no Brasil, com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin.
O QUE SABEMOS.
IMPACTO DO IOF - O governo federal publicou no início da noite de ontem edição extraordinária do Diário Oficial da União (DOU) com mudanças no decreto do IOF. As mudanças abrangem três eixos: seguro, crédito para empresa e câmbio. De acordo com o Ministério da Fazenda, os ajustes no IOF podem gerar impacto na arrecadação de R$ 20,5 bilhões em 2025 e de R$ 41 bilhões em 2026. Dentre as mudanças, o tributo passará a incidir sobre entidades abertas de previdência complementar e outras entidades equiparadas a instituições financeiras.
EM TESE: EM TESE: O aumento inesperado do IOF para uma série de operações feita ontem pelo governo deve ofuscar o também surpreendente anúncio de contenção de R$ 31,3 bilhões em despesas do Orçamento para tentar cumprir a meta de déficit fiscal zero prevista para o ano. A expectativa é que a arrecadação com as novas alíquotas do tributo alcance R$ 20,5 bilhões este ano e a R$ 41 bilhões em 2026. Os valores dão a dimensão do impacto da proposta, que vai atingir não só empresas, como disse a Fazenda, mas também as pessoas físicas, principalmente por meio do mercado de câmbio. A medida poderia ajudar o Banco Central a conter o crédito e a combater a inflação, mas como foi algo grandiosos e inesperado, assustou e seu efeito ser negativo. Para o presidente da ABBC, entidade que representa os bancos médios e de nicho, Leandro Vilain, o aumento do IOF elevará o custo do crédito e terá impacto negativo na atividade econômica. A Warren avalia que o decreto tem dimensões amplas e o fato de o efeito fiscal estimado pelo governo ter pouco detalhamento representa um novo risco no cenário. A economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro, diz que o anúncio da alteração nas alíquotas do IOF não visou a harmonização das políticas fiscal e monetária, como afirmaram o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, e o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas. Já o economista da XP Investimentos Tiago Sbardelotto, a elevação do IOF tem a vantagem de reforçar o trabalho da política monetária. O economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, por sua vez, avalia que as mudanças no IOF trazem uma receita adicional que terá impacto "bastante relevante" para o fiscal em 2026, pois trará um impacto de encarecimento do crédito - potencialmente tendo efeito na concessão dos empréstimos.
REBAIXAMENTO DA SABESP - O UBS BB elevou o preço-alvo da Sabesp de R$ 118 para R$ 136, 17,3% acima do fechamento de ontem na B3. As perspectivas positivas, entretanto, não são suficientes para manter a recomendação, que passou de compra para neutra.
EM TESE: As ações da Sabesp podem reagir positivamente à elevação, ainda que acumule ganhos fortes em 2025, de quase 35%. Mesmo após a privatização, o UBS BB avalia que o papel da empresa ainda tem espaço para subir. A Sabesp era negociada ontem na faixa de R$ 118 ante R$ 67 antes da oferta. Mas, com iniciativas de redução de custos, oportunidades de crescimento, otimização da estrutura de capital e crescimento orgânico, há ainda um potencial de valorização de cerca de 15% em relação ao preço atual das ações, segundo o banco. As perspectivas positivas, entretanto, não são suficientes para manter a recomendação, que passou de compra para neutra.
OVERNIGHT.
CONSULTA SOBRE IOF - O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, foi consultado pelo Palácio do Planalto sobre sua avaliação a respeito das medidas anunciadas ontem pelo Ministério da Fazenda relacionadas ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A "consultoria" foi feita antes de a pasta recuar das novas alíquotas sobre transferências de recursos destinadas à aplicação em fundos de investimento no exterior e de manter em 1,1% a alíquota sobre remessas destinadas a investimentos por pessoas físicas. Sua avaliação teria sido "decisiva", segundo fontes. Porém, no X, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que nenhuma medida fiscal anunciada pela nesta quinta-feira pasta foi negociada com o Banco Central.
EMISSÃO - O conselho de administração da Vale aprovou ontem, por unanimidade, a 11ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, no valor de R$ 6 bilhões. A emissão será realizada em três séries, com prazos de sete anos, dez anos e 12 anos, respectivamente. Os títulos terão valor nominal unitário de R$ 1.000.
BANCO PAN - O Banco Pan informou que Leonardo Ricci Scutti renunciou ao cargo de diretor de Relações com Investidores nesta quinta-feira. André Luiz Calabro, que ocupa também o posto de diretor presidente da companhia, foi indicado para substituí-lo.
GRIPE AVIÁRIA - O Ministério da Agricultura descartou a ocorrência de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em um aviário comercial de Ipumirim, no oeste de Santa Catarina. Ao mesmo tempo, há 12 investigações de suspeita de gripe aviária em andamento no País, conforme atualização mais recente da plataforma de Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves. Os dados foram atualizados às 19h de ontem e indicam que as coletas de amostras já foram realizadas, mas ainda não há resultado laboratorial conclusivo.
LCIS E LCAS - O Conselho Monetário Nacional reduziu o prazo mínimo de vencimento das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) emitidas sem a previsão de atualização por índice de preços de nove meses para seis meses. As mudanças foram deliberadas em reunião ordinária do CMN ontem. O CMN também elevou os porcentuais de recursos de diferentes fontes que devem ser aplicados obrigatoriamente ao crédito rural, o que é conhecido como exigibilidade.
ACORDO FECHADO - A Unigel Participações celebrou acordo com a Petrobras em audiência no Tribunal Arbitral da Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional (CCI), que prevê o encerramento de todos os contratos entre as partes, inclusive os contratos de arrendamento das plantas de fertilizantes (FAFENs), localizadas na Bahia e em Sergipe. Com isso, será restabelecida a posse dessas unidades pela estatal em data a ser definida pelas partes.
ALINHAMENTO COMERCIAL - O vice-secretário de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, e o vice-ministro executivo das Relações Exteriores da China, Ma Zhaoxu, conversaram por telefone. Durante a ligação, as autoridades reconheceram a importância do relacionamento bilateral para os povos de ambos os países e do mundo, discutiram uma ampla gama de questões de interesse mútuo e concordaram sobre a importância de manter as linhas de comunicação abertas.
RETROCESSO NOS EUA - O setor de energia solar em telhados, que já enfrentava dificuldades, sofreu um golpe potencialmente fatal depois que a Câmara dos Representantes aprovou uma versão mais rígida do amplo pacote de impostos e gastos do presidente Trump. O projeto de lei elimina importantes créditos de energia renovável, como esperado, mas inclui disposições mais rigorosas e prazos mais breves para as mudanças, o que foi considerado sombrio para energia solar em telhados. E segundo a Reuters, Trump assinará ordens executivas na sexta-feira com o objetivo de impulsionar o setor de energia nuclear.
PENNY - O governo dos EUA está eliminando gradualmente o centavo, o penny, cujo uso já dura mais de dois séculos. O Departamento do Tesouro deixará de colocar novas moedas de um centavo em circulação no início do ano que vem. Depois disso, não haverá centavos suficientes para usar em transações corriqueiras em dinheiro, e as empresas precisarão começar a arredondar para cima ou para baixo os valores.
AMEAÇAS COMERCIAIS - A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que "em toda ameaça há uma oportunidade" e que as tarifas dos Estados Unidos podem servir para melhorar as relações entre o Canadá e a União Europeia. Aliás, hoje a União Europeia e os EUA pretendem fazer um balanço das negociações tarifárias bilaterais, informa a Bloomberg.
E NOS MERCADOS.
TREASURIES - Os rendimentos dos Treasuries operam em baixa, estendendo perdas de ontem, enquanto investidores nos EUA aguardam dados sobre vendas de moradias novas e comentários de autoridades do Federal Reserve (Fed). Por causa do feriado de Memorial Day, que os EUA comemoram na segunda-feira, os negócios no mercado de Treasuries serão encerrados mais cedo hoje. Às 7h33, o juro da T-note de 2 anos caía a 3,984%, ante 3,992% no fim da tarde de ontem em Nova York. O rendimento da T-note de 10 anos recuava a 4,526%, após 4,540%, e o do T-bond de 30 anos diminuía a 5,033% (de 5,052%).
FUTUROS DE NY - Os índices futuros das bolsas de Nova York operam em queda modesta, após o fechamento divergente e de variações contidas de ontem, em dia de agenda fraca antes do feriado de Memorial Day. Às 7h34, no mercado futuro, o Dow Jones cedia 0,12%, o S&P 500 caía 0,05% e o Nasdaq tinha recio de 0,06%.
EUROPA - As bolsas europeias operam sem direção única na manhã desta sexta-feira, tentando se recuperar parcialmente de perdas de ontem, na esteira de dados locais positivos e enquanto investidores aguardam novidades de negociações tarifárias dos EUA. O PIB da Alemanha cresceu mais do que inicialmente estimado no primeiro trimestre. O setor varejista do Reino Unido, por sua vez, garantiu aumento mensal de 1,2% nas vendas de abril, surpreendendo analistas que previam queda no período. Às 7h36, a Bolsa de Londres subia 0,02%, a de Paris caía 0,47% e a de Frankfurt avançava 0,20%.
PETRÓLEO - Os contratos futuros do petróleo operam com indefinição após perdas recentes, quando foram pressionados por temores de que a Opep+ implemente um novo grande aumento em sua produção em julho, em um momento em que o mercado já enfrenta excesso de oferta. Às 7h38, o barril do petróleo WTI para julho subia 0,05% na Nymex, a US$ 63,95, enquanto o do Brent para agosto tinha alta de 0,10% na ICE, a US$ 61,26.
MOEDAS - O dólar opera em baixa significativa antes moedas de outras economias desenvolvidas, revertendo ganhos de ontem, após a revisão para cima no PIB alemão e o desempenho melhor do que o esperado do varejo do Reino Unido. Às 7h39, o euro subia US$ 1,135, ante US$ 1,128 no fim da tarde de ontem em Nova York. A libra avançava a US$ 1,349, de US$ 1,3428, e o dólar caía a 143,31 ienes, ante 144,00 ienes na véspera. Já o índice DXY do dólar - que acompanha as flutuações da moeda americana em relação a outras seis divisas relevantes - tinha queda de 0,62%, a 99,34 pontos, após alta de 0,40%, a 99,96 pontos ontem.
ÁSIA - As bolsas asiáticas fecharam sem direção única nesta sexta-feira, enquanto investidores seguiram avaliando os efeitos das políticas dos EUA nas áreas fiscal e comercial. O índice japonês Nikkei subiu 0,47% em Tóquio e o Hang Seng avançou 0,24% em Hong Kong, enquanto os mercados de Seul e de Taiwan registraram perdas apenas modestas, com baixa de 0,06% do sul-coreano Kospi e declínio de 0,09% do Taiex. Na China, o Xangai Composto recuou 0,94% e o menos abrangente Shenzhen Composto caiu 0,89%. Na Oceania, o S&P/ASX 200 da bolsa australiana subiu 0,15% em Sydney.
*colaborou Sergio Caldas
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