2021 na pressão
A "biruta" dos mercados deu
uma endoidada por estes dias. Tanto os ativos globais, como os domésticos
volatilizaram fortes, por variadas razões.
No Brasil, o mercado de ações ingressou numa
espiral de realizações (seis pregões seguidos de queda do B3) e o dólar deu uma
"esticada" a R$ 5,41. Por outro lado, no mercado de juro a curva
curta deu uma estabilizada e a longa declinou um pouco. A justificar isso uma
leitura mais "dovish" do Banco Central, devendo antecipar o processo
de aperto monetário, depois de comunicado da ata do Copom e da retirada do
termo "foward guindance" na reunião. Isso reforça a tese de que o
juro Selic nominal a 2% ao ano não representa o momento econômico que vivemos.
Está claramente fora do equilíbrio. Há, inclusive, no mercado os que consideram
a taxa mais apropriada para o momento, com pressões inflacionárias derivadas do
câmbio esticada, em algo próximo a 4,5% ao ano.
Neste contexto de ajuste, provocado
por essa mudança de leitura, ainda existe alguma expectativa em saber como o
governo deve financiar a extensão do auxilio emergencial, pensando na
neutralidade sobre o teto de gastos. Será possível? Paulo Guedes já levanta
esta possibilidade da volta do auxílio pelo período de dois a três meses, até
completar o ciclo de vacinação em massa da população. Mas será que o ciclo
completo de vacinação em massa só deve durar três meses. E qual a
sustentabilidade da dívida pública e do déficit, em trajetória explosiva?
O fato é que esta segunda onda (ou
vaga, como dizem em Portugal) da pandemia vem se mostrando mais rigorosa do que
a primeira, entre março e abril do ano passado. O mundo passa por uma prova de
resistência ainda mais pesada, com o vírus se espalhando mais rapidamente e
sofrendo estranhas mutações, da Amazônia, do Reino Unido, da África do Sul,
entre outros lugares.
Soma-se a isso, por aqui no Brasil
ruídos causados pela total falta de governabilidade do presidente Bolsonaro. A
todo momento são declarações intempestivas dadas, tensionando ainda mais as
relações em sociedade. O que é fato é que ele não consegue pacificar os vários
extratos sociais, sua relação com a imprensa, sempre em confrontação e
bate-bocas. Em plena pandemia, quando as várias esferas de governo, os
representantes da sociedade, deveriam estar unidos e fortes, o que se observa é
o contrário, dissipação e acusações mútuas.
Para piorar, na ausência deste apoio
emergencial, a popularidade de Bolsonaro só cai. Pesquisas de opinião indicavam
que a avaliação "regular a bom" recuou ainda mais, de 32% para 26% e
a "ruim a péssimo" aumentou, assim como o indicador de rejeição.
Várias carreatas aconteceram nas capitais por estes dias, além de panelaços.
No mundo político, às vésperas das eleições no
Congresso dos seus presidentes, muito se comenta sobre a possibilidade de
colocar em plenário os pedidos de "impeachment" (os pedidos já passam
de 61!). A "fratura exposta ideológica" na sociedade, por variadas
razões, se mantem ou só piora. Não parece haver sinal de consolidação. Em
leitura figurativa, cresce, isso sim, o receio da perda do membro!
Pela leitura de muitos, para que o processo
de “impeachment” avance, o presidente precisa estar na lona em termos de popularidade,
sem apoio parlamentar, com mobilização popular contrária, ou então envolvido em
algum caso de corrupção. Na verdade, é o conjunto destes fatores, da obra, a
definir seu destino. Não nos parece que tenha chegando a tanto, mas pelo “andar
da carruagem”, mantidas as condições de temperatura e pressão atuais...Não será
surpresa se ele não completar seu mandato.
No plano global, alguns fatores devem ser lembrados.
Temos o avanço da Covid e o processo de vacinação muito lento em diversos
países, movimentos especulativos de “hedge funds” ocorreram por estes dias, o
que fizeram o índice de volatilidade VIX disparar e há incertezas sobre a
dimensão do pacote fiscal norte-americano anunciado. Por lá, as declarações do
presidente do Fed, Jerome Powell, não agradaram o mercado. Apesar do banco central
americano ter feito o que se esperava nesta semana, mantendo o juro e os
programas de suporte, o chairman do Fed disse que ainda há "um longo
caminho a ser percorrido" para alcançar as metas de inflação e emprego.
Enfim, neste momento não existem motivos
para estarmos otimistas ou confiantes. Ainda vivemos um período crítico, de
transição e incertezas sobre o futuro. Pairam dúvidas sobre o ritmo de
vacinação, disponibilidade de insumos, e normalização da economia global e daí,
dos mercados. Difícil saber para que direção se guiar.
O momento é de espera.
Vamos conversando.
Julio Hegedus Netto, Economista,
Doutorando UÉvora
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