domingo, 21 de setembro de 2025

Eduardo Affonso

 Distinção entre esquerda e direita é roupa que não serve mais


Eduardo Affonso, O Globo (20/09/2025)


São farinha do mesmo saco quem comemorou o assassinato de Marielle e quem acha que o tiro letal em Charlie Kirk melhorou o mundo


Aprendemos nos livros de História que os termos “esquerda” e “direita” nasceram na França, no fim do século XVIII: na Assembleia Nacional, os partidários da monarquia se sentavam do lado direito, e os simpatizantes da Revolução, do lado oposto. Desde então (grosso modo), esquerdistas são associados a democracia, coletivismo, internacionalismo, intervencionismo estatal e desejo de mudança; a direita, a elitismo, individualismo, nacionalismo, livre mercado e apego a que as coisas continuem do jeito em que estão. Hoje, isso virou um balaio de gatos.


A mesma esquerda que investiu contra o dicionário, considerando que o verbo “judiar” perpetuava o preconceito contra os judeus, embarcou de mala e cuia no antissemitismo. A pretexto de defender os palestinos, fez de Israel — única democracia do Oriente Médio — seu inimigo preferencial. E qualquer coisa é pretexto para que o antissemita enrustido saia do armário: bastou o ministro Luiz Fux divergir da condenação aos golpistas do 8 de Janeiro para que os piores epítetos fossem associados à sua origem judaica. Tivesse o voto sido do ex-ministro Joaquim Barbosa, veríamos os antirracistas rasgarem as cartilhas em que exibem suas virtudes igualitárias. Viesse a divergência de Cármen Lúcia, adeus sororidade e feminismo; no mínimo ouviríamos que lugar de mulher é no tanque e no fogão. Flávio Dino que ouse divergir, para ver o que é gordofobia. Parte da esquerda só é progressista até a página 2 — isso se as letras forem grandes, e as margens bem largas.


A direita, que bancou 21 anos de ditadura — com censura, tortura e prisões arbitrárias — tomou para si a defesa da (sua) liberdade de expressão. Faz-se de vítima da “ditadura da toga” — logo ela, que deitou e rolou com a ditadura da farda. Trocou a soberania por uma enorme bandeira americana e, depois de acusar os adversários de defender bandidos, aderiu em massa à blindagem dos delinquentes com assento no Congresso.


A turma da diversidade fez das feiras literárias um feudo de sua panelinha — e sobe nas tamancas quando alguém de seu campo é excluído. Pessoas “de bem” exigem que sejam expurgados das bibliotecas públicas livros que não rezem pelo seu catecismo. E ambos os lados reduzem a arte ao proselitismo – anticapitalista, antiwoke etc. Ninguém ainda ateou fogo, mas os fósforos já estão na mão.


São farinha do mesmo saco quem comemorou o assassinato de Marielle Franco e quem acha que o tiro que matou Charlie Kirk tornou o mundo um lugar melhor. Aliás, Kirk, que fazia turnês para debater com quem discordava dele, era chamado de fascista; Márcia Tiburi se recusou a conversar com quem não pensa da mesma forma que ela; e manteve a aura de antifa.


O pensador Augusto de Franco coloca a questão não em termos de esquerda ou direita, mas de liberais e iliberais. Os primeiros podem ser progressistas ou conservadores, mas defendem democracia, liberdade, pluralidade e preferem as reformas à ruptura. Os segundos são populistas, com um pé no autoritarismo e uma queda pela hegemonia — que é o golpismo por outros meios.


Visto por esse ângulo, Lula, Bolsonaro, Trump, Putin, Orbán, Ortega, Bukele, Maduro estão todos sentados do mesmo lado. Do outro — dos que prezam o diálogo e acham que a sociedade deve controlar o governo, não o contrário —, o que mais tem é cadeira vazia.

Leitura de domingo

 *Leitura de Domingo: BC diz que teto para dívida/PIB gera problemas graves à política monetária*


Por Célia Froufe


Brasília, 19/09/2025 - Senadores e assessores receberam mensagens extraoficiais do Banco Central apresentando pontos negativos e as "consequências graves" de uma possível aprovação da proposta do senador Renan Calheiros (MDB-AL) de dar mais credibilidade às contas públicas. Como mostrou a Broadcast, o relator do projeto que limita o endividamento da União, senador Oriovisto Guimarães (PSDB-PR) incluiu um limite de 80% para a dívida bruta em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).


Segundo as mensagens vistas pela Broadcast, os assessores e parlamentares foram alertados de que a proposta leva ao enfraquecimento institucional e de reputação do Banco Central. O texto alega que o BC pode ficar limitado à venda de títulos para administrar liquidez bancária e que pode comprometer controle da Selic, além de gerar "problemas graves" à política monetária e à estabilidade financeira.


A mensagem, que é informal e não está em qualquer documento oficial da instituição, revela que as "consequências da aprovação desta lei são bem graves para o BC". Dois aspectos da proposta chamam mais a atenção. O primeiro seria o de que a lei, se aprovada, leva "claramente ao enfraquecimento institucional do BC", pelo fato de a instituição não poder mais contar com a cobertura de resultados financeiros negativos pela União, que é feita por meio da emissão de títulos pelo Tesouro Nacional. Assim, a instituição teria que operar com patrimônio líquido negativo "a perder de vista". "Isso tem impacto na reputação do BC para alcance de seus objetivos."


O outro aspecto é considerado ainda mais grave, conforme as mensagens que chegaram aos senadores: o BC poderia ficar limitado no uso da venda de títulos para administrar a liquidez bancária e manter a taxa Selic perto da meta de juros estabelecida pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Isso aconteceria, conforme o texto, assim que o limite do endividamento fosse alcançado, uma vez que a venda adicional de operações compromissadas implicaria em aumento do endividamento bruto, indicador utilizado pela lei para controle. "Isso aconteceria, mesmo o BC tendo uma carteira de títulos bem ampla disponível para uso em compromissadas", trouxe a mensagem.


A conclusão é a de que o controle da taxa Selic estaria, assim, comprometido e que isso traria também problemas graves não só para a condução da política monetária, mas para a estabilidade financeira. Outros aspectos da proposta ainda podem trazer limitações ao Banco Central. Um dos exemplos citados foi o uso de instrumentos cambiais.


"A prestação de garantias na B3 para execução dos swaps cambiais do BC é feita com TPF (taxa Ptax). Adicionalmente, quando o BC implementa ações para fortalecimento das reservas internacionais, são injetados reais na economia que devem ser esterilizados para controle da taxa Selic. O limite de endividamento certamente traria constrangimentos à aplicação dessas operações no mercado cambial", explicou o texto aos senadores.


Como alternativa a essa proposta, para preservar a capacidade institucional de o BC alcançar seus objetivos de política monetária e de estabilidade financeira, a mensagem sugere que se exclua a autoridade monetária de qualquer limite de endividamento na própria lei. Além disso, a mensagem cita a importância de aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) autorizando o BC a emitir títulos próprios e eliminar qualquer restrição ao uso do instrumento para fins de política monetária.


Contato: celia.froufe@estadao.com


Broadcast+

Fabio Giambiagi

 Meninada, não percam esse artigo.

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A agenda oculta da anistia


Fabio Giambiagi Economista · 19 set. 2025


Eu pensava que quem vencesse o PT teria como prioridade fazer um forte ajuste, mas parece que me enganei


No debate sobre a anistia a Jair Bolsonaro, chama a atenção a ênfase com que a questão tem sido colocada por aqueles que afirmam que “não acreditam que existam elementos para ele ser condenado” e que, por isso, indultá-lo seria a “primeira coisa” que fariam se fossem eleitos para a Presidência da República. Eu pensava que, caso vencesse as eleições, o candidato que derrotasse o Partido dos Trabalhadores (PT) teria como prioridade aprovar um forte ajuste, mas parece que me enganei, à luz da bizarra prioridade já explicitada.


O problema não se limita à falta de compromisso dos maiores representantes da oposição em priorizar o desafio fiscal. Imaginemos que Lula tivesse sido vencedor das eleições de 2018, que em 2022, sendo presidente, enfrentasse Bolsonaro e que, perdendo a eleição, se negasse a aceitar o resultado. Indo além: imaginemos que Lula assistisse aos “companheiros” promoverem acampamentos Brasil afora até que, uma semana depois de Bolsonaro ser empossado, uma turba de baderneiros invadisse o Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), quebrando tudo e exigindo a nomeação de Lula no lugar do presidente escolhido pelas urnas.


Caro leitor, honestamente: o que pensaria de quem, em nome de uma “pacificação nacional” ( sic), pregasse a anistia aos vândalos, começando pelo líder? O que diria se, caso, neste Brasil hipotético, Fernando Haddad tivesse sido eleito governador de São Paulo no mesmo pleito de 2022, ele viesse a público dizer, com ar angelical, que não vê “elementos para condenar ninguém” pela destruição de nada menos que a sede dos Três Poderes da República?


A agenda oculta da anistia é uma decorrência lógica da atitude deste grupo político: a noção de que a eleição só vale quando eles vencem. Neste caso, teremos de reconhecer que quem deseja transformar o Brasil numa Venezuela – onde a eleição só pode ser vencida por Nicolás Maduro – é o bolsonarismo. Ou, por isonomia, teremos de dar ao PT, caso ele perca, o mesmo direito de invadir o Planalto, o Congresso e o STF – haveria anistia para eles também?


Não deixa de ser curioso que a atitude apontada neste texto seja manifestada por aqueles que dizem defender versões extremas do liberalismo. Na Argentina dos anos 70, dizia-se que a esquerda peronista queria repetir a Revolução Cultural Chinesa “sem revolução, sem cultura e sem chineses”. Já o bolsonarismo defende uma espécie de “liberalismo austríaco bras i l ei r o”, s em l i berali s mo, sem austríacos e, uma vez que o bolsonarismo hoje é comandado desde os Estados Unidos, aparentemente também sem brasileiros. •

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Teto da dívida pública

 *Senado discute teto para dívida pública e governo teme risco de moratória*


Na prática, se limite for atingido, não poderá haver novas despesas financeiras, o que inclui colocação de papéis para rolagem e também pagamento de juros


Um projeto de resolução em tramitação no Senado que estabelece um teto para a dívida bruta está causando preocupações em integrantes da equipe econômica do governo porque, na prática, poderá representar uma moratória da dívida pública.


A proposta define um teto para a dívida bruta equivalente a 80% do Produto Interno Bruto (PIB) ou seis vezes e meia o valor da receita corrente líquida da União acumulada nos doze meses imediatamente anteriores à sua apuração. Apenas a dívida bruta da União entraria no limite.


O que preocupa os economistas do governo é que, na prática, se esse limite for atingido, o governo estará impedido de fazer novas despesas financeiras, o que inclui a colocação de papéis para a rolagem da dívida vencida e também o pagamento de juros.


A interpretação de técnicos do governo é que a proposta limitaria, inclusive, a realização de operações compromissadas pelo Banco Central, que é um dos instrumentos utilizados para retirar o excesso de dinheiro em circulação na economia e manter a taxa Selic na meta estabelecida pelo Comitê de Política Monetária (Copom). As compromissadas integram o conceito de dívida bruta da proposta, que usa o conceito adotado pelo Banco Central.


O projeto de Resolução do Senado n° 8 é de autoria do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e de outros sete senadores e tem chances de ser colocado para votação na próxima terça-feira na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. A proposta conta com parecer favorável do relator, o senador Orivosto Guimarães (PSDB-PR).


A proposta regulamenta o artigo nº 52, inciso VI, da Constituição, que determina que “o Senado Federal, no âmbito de suas competências privativas, deve fixar, por proposta do presidente da República, limites globais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.


Também regulamenta o artigo nº 30, inciso I, da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que diz que, no prazo de 90 dias, o Presidente da República “submeterá ao Senado Federal proposta de limites globais para o montante da dívida consolidada da União, Estados e Municípios, cumprindo o que estabelece o inciso VI do art. 52 da Constituição”.


Apesar de previstos na Constituição e na LRF há décadas, o governo e o Congresso Nacional evitavam a sua regulamentação porque, na prática, abririam a possibilidade de um calote na dívida pública e a extinção do principal instrumento de controle da inflação pelo Banco Central.


Se entrar em vigor, a moratória da dívida pública poderia acontecer em poucos anos, receiam economistas do governo — e a tendência seria uma crise nos mercados desde já, porque haveria uma rejeição à compra de papéis que no futuro poderiam deixar de ser honrados pelo Tesouro.


O parecer de Guimarães inclui no limite de 80% do PIB apenas as dívidas da União, excluindo Estados e município, que têm limites próprios. Hoje, a dívida bruta do governo geral se encontra em 77,6% do PIB, dos quais 74,1% do PIB se referem às dívidas da União.


Segundo projeções do mercado reunidas no boletim Focus, a dívida bruta deverá fechar o ano em 80% do PIB, incluindo União, Estados e municípios. Não há projeções de mercado no Focus apenas para a dívida bruta da União. Mas é possível que a parte da dívida apenas da União ultrapasse 80% do PIB em até três anos, considerando que a projeção do mercado para a dívida bruta total é de 84,1% do PIB em 2026, 87,3% do PIB em 2027 e 89,4% do PIB em 2028.


Em vários momentos, economistas e parlamentares chegaram a defender um teto no endividamento público como forma de disciplinar os gastos do governo, mas desistiram diante da realidade de que o débito federal sobe devido a fatores que fogem do controle dos formuladores e executores do Orçamento.


A dívida bruta sobe quando há, por exemplo, uma desvalorização cambial ou uma alta de juros para combater um surto inflacionário. Também pode crescer mais rapidamente nas recessões, quando o PIB passa a crescer mais lentamente em termos nominais. A única variável diretamente sob controle do governo é o resultado primário, que tem metas definidas pelo Congresso.



https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/09/18/senado-discute-teto-para-dvida-pblica-e-governo-teme-risco-de-moratria.ghtml

Uma farsa

 No dia 28 de agosto de 1979, um comerciante de Cruzeiro D'Oeste, no Paraná, Carlos Henrique Gouveia de Mello -nome falso- conseguiu finalmente assumir sua verdadeira identidade, que havia abandonado cinco anos antes.

O sujeito em questão era José Dirceu, que 20 anos depois se transformou num dos homens mais poderosos do Brasil e líder do partido mais corrupto do país: o Partido dos Trabalhadores.

28 de agosto de 1979 foi o dia em que foi sancionada a Lei da Anistia pelo regime militar, e ao lado do Zé Dirceu, na Câmara, estavam, em 1999, 20 anos depois, ao menos outros oito parlamentares punidos durante o regime militar e beneficiados pela lei.

Outros anistiados, a começar por Fernando Henrique Cardoso, chegaram também ao poder e ao Executivo.

ALoysio Nunes Ferreira e José Serra viveram no exílio durante quase todo o regime militar e só voltaram ao Brasil anistiados.

Serra fugiu do Brasil em 1965, exilou-se no Chile, e só retornou ao Brasil em 1977, com direitos políticos cassados, em razão de uma condenação de prisão -3 anos- recebida em 1966.

José Dirceu, José Genoíno, Milton Temer, Nilmário Miranda e Waldir Pires foram alguns dos anistiados que pertenciam ao PT.

Outros, como Fernando Gabeira, do PV, pertenciam a outros partidos de esquerda.

lula, preso em 1980, recebeu aposentadoria -R$ 12,5 mil-  como anistiado desde 1993 por perder os direitos sindicais e ter sido destituído do cargo de presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de SBC.

dilma rousseff, ex guerrilheira, foi anistiada em 2023 e recebeu uma indenização de R$ 400 mil por abusos sofridos durante o regime militar.

Notável é o fato de que todos os anistiados, inclusive dilma -que fazia parte do grupo guerrilheiro Colina- participaram de sequestros, assassinatos, roubos a bancos e luta armada.

Nada sequer parecido com o crime hediondo de pichar uma estátua, por exemplo.

dilma escondeu os relatórios sobre a situação de sua prisão de todas as formas, e até hoje ninguém tem acesso a eles.


Mas são os donos do poder de hoje que, ontem anistiados, são os mais ferozes combatentes da anistia a patriotas inocentes, condenados num processo ilegal e rasteiro.

Essa é a essência e o DNA dos covardes de esquerda: usar a realidade e falsificá-la de acordo com sua conveniência.

Mesmo que isso signifique negar, hoje, o que apoiou ontem. 

@schmittpaula

O mundo em 2025

 O mundo em 2025


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O jornalista e acadêmico uruguaio Leonardo Haberkorn deixou o cargo de professor no Programa de Comunicação da Universidade ORT, em Montevidéu. Sua despedida foi um alerta para todos os educadores do mundo:


CARTA DE DESISTÊNCIA


Depois de dezenas de anos lecionando, dei hoje a minha última aula nesta universidade. (...) Cansei de lutar contra os celulares, contra o WhatsApp e o Facebook. Eles me derrotaram, eu desisto, jogo a toalha. Cansei de falar de assuntos que me apaixonam diante de jovens que não conseguem tirar os olhos do celular e receber selfies.


É verdade que nem todos são assim. Mas há cada vez mais alunos desse tipo em todas as aulas. Até três ou quatro anos atrás, a proibição de usar o celular durante os noventa minutos de aula ainda surtia efeito — nem que fosse para que o aluno se sentisse culpado.


Isso acabou. Talvez seja eu... talvez eu tenha me desgastado e esteja cansado desse combate. Talvez até esteja errado. Uma coisa, porém, é certa: muitos desses jovens não têm consciência do quanto é ofensivo e prejudicial o que eles fazem. É cada vez mais difícil explicar como o jornalismo funciona para pessoas que não o consomem ou não veem sentido em se informar.


Esta semana na aula surgiu o tema da Venezuela. Só um aluno em vinte conseguiu explicar os fundamentos do problema. Só o básico, do resto ele não fazia a menor ideia. Perguntei se eles sabiam o nome do uruguaio que estava no meio da tempestade. Obviamente, nenhum deles sabia.


Perguntei-lhes se sabiam quem era o uruguaio Luis Almagro (secretário-geral da OEA). Silêncio. Por fim, do fundo da sala, uma jovem gaguejou: "Ele não é o Ministro das Relações Exteriores?"


 “O que está acontecendo na Síria?” Silêncio. (...)


“Qual partido é mais liberal, ou mais à esquerda nos Estados Unidos, os democratas ou os republicanos? Silêncio.


"Você sabe quem é Vargas Llosa?" Sim!

“Alguém aqui já leu um livro dele?" Ninguém.


Tentar conectar pessoas tão desinformadas com o básico do  jornalismo é complicado. É como ensinar botânica a alguém de um planeta onde não existe vida vegetal. 


No exercício em que os alunos tiveram que sair para procurar uma notícia nas ruas, um deles voltou com esta notícia: “Jornais e revistas ainda são vendidos!” (...)


Existe um momento em que o jornalista funciona contra você. Porque você é treinado para se colocar no lugar de outras pessoas, cultiva a empatia como ferramenta básica de trabalho. Esses alunos ainda têm a mesma inteligência, simpatia e cordialidade de sempre, e a culpa dessa situação não é só deles. A falta de cultura, o desinteresse e a alienação não nascem por conta própria.


A curiosidade deles morreu aos poucos, a cada vez que um professor deixou de corrigir seus erros ortográficos. Aos poucos, lhes ensinaram que tudo tem mais ou menos o mesmo valor. E quando você percebe que eles também são vítimas, acaba baixando a guarda quase sem se dar conta.


Nesse momento o aluno mau é aprovado como mediano; o medíocre passa por bom; o aluno simplesmente bom, nas poucas vezes em que consegue uma boa nota, é celebrado como se fosse brilhante. Não quero mais fazer parte desse círculo perverso. Nunca fui assim e me recuso a ser.


Sempre gostei de fazer bem feito tudo que faço, com o melhor de minha capacidade. (...) Vejo rostos apáticos. Desinteresse. Um rapaz largado, olhando o Facebook. O ano inteiro foi igual. (...)


Silêncio. Silêncio. Silêncio. Nessas horas, o que eles mais queriam é que eu terminasse a aula.


Eu também. 


texto:  Leonardo Haberkorn

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: Quase todo o bom nas últimas 24 h, portanto o receio de um corte relevante pelos níveis alcançados parece mais visceral que objetivo. Agora, o apoio vem das empresas e dos bancos centrais, além da Fed. Mas hoje deverá respirar e realizar alguns lucros, que seria são.


EMPRESAS. Nvidia tomará ca.4% em Intel e ambas desenvolverão em conjunto uma infraestrutura para IA e chips para PCs, movimento que deve ser interpretado como dirigido a ganhar a simpatia da Administração Trump, porque Nvidia não tem nada a ganhar com isso. Até parece um plano de resgate para Intel, que ontem subiu +23% (Nvidia +3,5%, o que é difícil de explicar). Mas o importante é que esse movimento impulsionou toda a tecnologia (+1%), particularmente semicondutores EUA (+3,6%). Além disso, Crowdstrike +13% após anunciar no seu Dia do Investidor um bom guidance de vendas (+20%) ao integrar IA nos seus produtos. Para rematar a tecnologia em positivo, Netskope +18% no seu OPV. Mas além da tecnologia, temos Fedex +5% em aftermarket após publicar a bater estimativas e voltar a dar guidance. guidance.


BANCOS CENTRAIS. Noruega (Norges) baixou ontem -25 p.b., até 4,00%, como esperado, mas insinuou que continuará a baixar (inflação +3,5%). Reino Unido (BoE) repetiu em 4,00% com 7 votos a favor de manter vs. 2 a favor de baixar, absolutamente como esperado, porque tem a inflação em +3,8%. Mas o bom (para o mercado de obrigações e, por extensão, para as bolsas) é que irá reduzir mais lentamente o seu gigantesco balanço desde outubro: -70.000 MGBP/ano vs. -100.000 MGBP. E esta madrugada, Japão (BoJ), que avança no caminho diferente (subiu taxas de juros, etc.) repetiu em 0,50% (7 vs. 2, que queriam subir), mas irá reduzir o seu balanço ao vender os ETFs de bolsa que tem no balanço a um ritmo de 330.000M Y/ano (apenas 1.900 M€) desde 3.700 MY/ano até agora (isto é, significativamente) e REITs (imobiliário) 5.000 MY/ano (tão pouco quanto 29 M€/ano). Isto significa que irá reduzir, mas muito lentamente. Nota-se que tem receio que o mercado se ressinta, como o resto dos bancos centrais. Estes movimentos não mudam a situação: os gigantescos balanços dos bancos centrais e as suas posições nas obrigações dos seus próprios governos convertem-lhes em árbitros das yields das obrigações, o que protege o mercado de quedas importantes.


CONCLUSÃO: Hoje há Freaky Friday (vencimento de futuros e opções sobre índices e ações), que começará na Europa às 11 h e continuará em Wall St. às 13:30 h. Os futuros vêm despistados depois das subidas de ontem, mas apresentam aspeto em baixa, com bolsas negativamente influenciadas pelo aumento das yields das obrigações nas últimas horas. Seria uma realização de lucros natural (-0,1%/-0,3%) para uma semana que está a ser tão boa como a anterior para as bolsas, na ordem de +1,5%, apesar de na segunda-feira parecer que arrefeceriam de forma espontânea. Mas não. A semana volta a ser boa, com provável realização de lucros hoje, sem isso que signifique algo. Até esta modesta realização de lucros nas yields das obrigações (a aumentar) é sã.


NY +0,5% US tech +1% US semis +3,6% UEM +1,6% España +0,3% VIX 15,7% Bund 2,74% T-Note 4,13% Spread 2A-10A USA=+55pb B10A: ESP 3,29% PT 3,13% FRA 3,54% ITA 3,55% Euribor 12m 2,160% (fut.2,276%) USD 1,177 JPY 173,9 Ouro 3.647$ Brent 67,3$ WTI 63,3$ Bitcoin -0,4% (116.778$) Ether -1,2% (4.535$) 


FIM

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...