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A agenda oculta da anistia
Fabio Giambiagi Economista · 19 set. 2025
Eu pensava que quem vencesse o PT teria como prioridade fazer um forte ajuste, mas parece que me enganei
No debate sobre a anistia a Jair Bolsonaro, chama a atenção a ênfase com que a questão tem sido colocada por aqueles que afirmam que “não acreditam que existam elementos para ele ser condenado” e que, por isso, indultá-lo seria a “primeira coisa” que fariam se fossem eleitos para a Presidência da República. Eu pensava que, caso vencesse as eleições, o candidato que derrotasse o Partido dos Trabalhadores (PT) teria como prioridade aprovar um forte ajuste, mas parece que me enganei, à luz da bizarra prioridade já explicitada.
O problema não se limita à falta de compromisso dos maiores representantes da oposição em priorizar o desafio fiscal. Imaginemos que Lula tivesse sido vencedor das eleições de 2018, que em 2022, sendo presidente, enfrentasse Bolsonaro e que, perdendo a eleição, se negasse a aceitar o resultado. Indo além: imaginemos que Lula assistisse aos “companheiros” promoverem acampamentos Brasil afora até que, uma semana depois de Bolsonaro ser empossado, uma turba de baderneiros invadisse o Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), quebrando tudo e exigindo a nomeação de Lula no lugar do presidente escolhido pelas urnas.
Caro leitor, honestamente: o que pensaria de quem, em nome de uma “pacificação nacional” ( sic), pregasse a anistia aos vândalos, começando pelo líder? O que diria se, caso, neste Brasil hipotético, Fernando Haddad tivesse sido eleito governador de São Paulo no mesmo pleito de 2022, ele viesse a público dizer, com ar angelical, que não vê “elementos para condenar ninguém” pela destruição de nada menos que a sede dos Três Poderes da República?
A agenda oculta da anistia é uma decorrência lógica da atitude deste grupo político: a noção de que a eleição só vale quando eles vencem. Neste caso, teremos de reconhecer que quem deseja transformar o Brasil numa Venezuela – onde a eleição só pode ser vencida por Nicolás Maduro – é o bolsonarismo. Ou, por isonomia, teremos de dar ao PT, caso ele perca, o mesmo direito de invadir o Planalto, o Congresso e o STF – haveria anistia para eles também?
Não deixa de ser curioso que a atitude apontada neste texto seja manifestada por aqueles que dizem defender versões extremas do liberalismo. Na Argentina dos anos 70, dizia-se que a esquerda peronista queria repetir a Revolução Cultural Chinesa “sem revolução, sem cultura e sem chineses”. Já o bolsonarismo defende uma espécie de “liberalismo austríaco bras i l ei r o”, s em l i berali s mo, sem austríacos e, uma vez que o bolsonarismo hoje é comandado desde os Estados Unidos, aparentemente também sem brasileiros. •
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