*O Dilema de Tinbergen*
Os mercados globais alternaram momentos de otimismo e cautela ao longo da semana, em um ambiente marcado pela divulgação de indicadores que reforçaram a tese de desaceleração suave da economia americana. Embora os dados de atividade sigam apontando perda de fôlego, a leitura predominante é a de que o ajuste ocorre de forma controlada, o que mantém o Federal Reserve em posição delicada: por um lado, a inflação ainda não convergiu; por outro, o mercado de trabalho começa a emitir sinais mais claros de moderação.
Os índices PMI e ISM mostraram continuidade da expansão no setor de serviços e contração leve na manufatura, compatível com uma economia que ainda cresce, mas em ritmo menos intenso. A leitura foi reforçada pelo relatório de emprego do setor privado, que registrou redução do número de trabalhadores — sinal relevante para um Banco Central que tem enfatizado a necessidade de ver moderação não apenas na inflação, mas também na demanda por mão de obra. Já o PCE, principal métrica de inflação acompanhada pelo Fed, exibiu alívio adicional, reforçando a trajetória de desinflação corrente sem caracterizar uma queda abrupta nos preços.
Na Ásia, o destaque ficou com a estreia da Moore Threads, vista como potencial “Nvidia chinesa”, que disparou 425% em seu IPO. O desempenho renovou o interesse em semicondutores domésticos e reforçou a prioridade estratégica do governo chinês em ampliar a autonomia tecnológica, em um momento em que a competição global por liderança em IA e chips avança para uma nova fase. O evento ajudou a sustentar o humor nos mercados continentais, enquanto o Japão devolveu parte dos ganhos recentes em meio às expectativas de normalização gradual da política do Banco do Japão — movimento que segue sendo um dos principais condicionantes da liquidez internacional.
O conjunto de dados e eventos levou a uma reprecificação relevante das curvas de juros. O Treasury de 2 anos avançou 1,9 ponto percentual na semana, para 3,6%, enquanto o de 10 anos subiu 3,0 pontos percentuais, para 4,1%, pressionando ativos de duration mais longa. O dólar também refletiu esse ajuste, recuando 0,5% no agregado. Ainda assim, os índices acionários mostraram resiliência: o S&P 500 avançou 0,3%, o Nasdaq ganhou 1,1%, o Dow Jones subiu 0,5% e o Russell 2000 teve alta de 0,8%. Na Europa e em mercados emergentes, o ambiente também foi de recuperação, com o DAX e o índice de emergentes subindo 0,8% cada. Na Ásia, os principais índices permaneceram positivos, com exceção do Nikkei, que recuou 1,1%. Entre os ativos reais, o ouro caiu 0,4% e o petróleo recuou 0,3%.
*A Fenda Brasileira*
No Brasil, o noticiário político voltou a exercer papel central. O anúncio de Flávio Bolsonaro como candidato da direita provocou forte reação negativa nos mercados. A leitura dominante foi a de que sua entrada na disputa acentua a fragmentação do campo conservador, diminuindo a probabilidade de consolidação de uma candidatura competitiva contra o presidente Lula. O impacto foi imediato: o Ibovespa registrou queda diária de 4,31%, a maior desde 2021.
Do lado macroeconômico, o PIB do terceiro trimestre trouxe variação de 0,1%, ligeiramente abaixo das expectativas, sinalizando os efeitos cumulativos de uma política monetária restritiva por período prolongado. Em evento público, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reiterou que o atual conjunto de sinais mistos recomenda postura conservadora. A expectativa majoritária é de manutenção da Selic em 15% na reunião do Copom, com possibilidade de início do ciclo de cortes apenas em 2026.
Nos mercados, a abertura dos juros refletiu o ambiente externo e doméstico: o DI para 2030 subiu 3,7%, para 13,4%, enquanto o DAPQ30 avançou 1,3%, para IPCA+7,7%. Ao fim da semana, o Ibovespa acumulou queda de 1,1%, e o dólar avançou 1,9%, chegando a tocar R$ 5,48 em seu nível máximo.
Qualquer necessidade estou à disposição.
Um abraço, Breno - Rubik Capital
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