domingo, 21 de dezembro de 2025

Mercados emergentes entram em 2026 com expectativas elevadas após ano forte

O que pode estar em andamento é uma mudança mais estrutural nos fluxos globais de investimento, com gestores buscando diversificar para além dos EUA


Por Bloomberg


Os mercados emergentes estão prestes a iniciar 2026 como uma das apostas preferidas de Wall Street, com gestores de recursos apostando que um novo ciclo de entrada de investimentos está em curso. A corrida de capital para o setor neste ano a melhor desde 2009 considerando todos os ativos de mercados emergentes — é um sinal de que mais investidores estão voltando a alocar recursos em uma classe que ficou em segundo plano após anos de desempenho morno.


Pela primeira vez desde 2017, as ações de mercados emergentes superam as dos EUA; o diferencial entre os rendimentos dos títulos emergentes e os dos Treasuries americanos caiu para o menor nível em 11 anos; e estratégias de carry trade — que basicamente envolvem tomar empréstimos em ativos de menor rendimento para financiar compras em ativos de maior retorno — registraram os melhores ganhos desde 2009.


O entusiasmo pelo setor ficou evidente na recente conferência de investimentos do Bank of America em Londres. O banco reuniu 300 investidores em 170 encontros e encontrou praticamente nenhum pessimismo em relação aos mercados emergentes. O veredicto de David Hauner, chefe de renda fixa emergente do BofA, foi direto: “Os pessimistas de emergentes entraram em extinção”.


O que pode estar em andamento é uma mudança mais estrutural nos fluxos globais de investimento. Gestores de portfólio buscam diversificar para além dos EUA e, ao mesmo tempo, se mostram cada vez mais atraídos pelos avanços dos países em desenvolvimento na redução do endividamento e no controle da inflação.


É uma reviravolta que poucos previram. Até pouco tempo atrás, investidores evitavam essa classe de ativos após anos de retornos fracos e com o temor de uma guerra comercial liderada pelos EUA. Gestores tinham dificuldade para vendê-la a clientes, enquanto fundos hedge diziam enxergar as melhores oportunidades justamente em apostar contra os mercados emergentes.


“2025 foi um ponto de inflexão”, afirmou Sammy Suzuki, chefe de ações de mercados emergentes da AllianceBernstein, em Nova York. “Há um ano, a pergunta era se os mercados emergentes eram sequer investíveis, mas isso já não é mais algo que ouvimos.”


*Mais espaço para alta*


Bancos como JPMorgan Chase & Co. e Morgan Stanley se juntaram ao coro otimista, prevendo que os mercados emergentes se beneficiarão da fraqueza do dólar e do boom de investimentos em inteligência artificial. O JPMorgan projeta até US$ 50 bilhões em entradas em fundos de dívida emergente no próximo ano.


“Uma de nossas melhores ideias continua sendo manter dívida local de mercados emergentes”, disse Bob Michele, chefe global de renda fixa do JPMorgan Asset Management. “Devemos ter um pouco de valorização de preços, receber o carry e acreditamos que as moedas emergentes ainda têm algum potencial de alta.”


O Morgan Stanley também recomenda que clientes mantenham títulos em moeda local e aumentem posições em dívida emergente denominada em dólar. O BofA espera que os títulos emergentes em moeda forte repitam os retornos de dois dígitos deste ano.


Um fator-chave pode ser o posicionamento: apesar da valorização recente, os fluxos de investimento ainda são relativamente modestos. ETFs dos EUA focados em ações emergentes absorveram quase US$ 31 bilhões em 2025, segundo estimativas da Strategas Securities. Fundos de dívida emergente captaram mais de US$ 60 bilhões, de acordo com dados da EPFR Global compilados pelo BofA — mas isso vem após saídas de US$ 142 bilhões nos três anos anteriores. Ou seja, os mercados emergentes ainda estão sub-representados nos portfólios globais.


“O ano marcou o retorno dos alocadores de ativos após um período brutal de cinco anos”, disse Todd Sohn, estrategista sênior de ETFs e análise técnica da Strategas, em Nova York. “Muitos perceberam que estavam excessivamente expostos a ações americanas de grandes empresas de crescimento e buscaram diversificação global.”


Enquanto isso, a participação dos mercados emergentes nos principais índices globais de ações e títulos segue em alta. As ações ganharam mais de um ponto percentual de peso em relação aos mercados desenvolvidos, aproximando-se de 13% no índice Bloomberg World Large & Mid Cap, enquanto a dívida emergente também aumentou sua participação no Bloomberg Global Aggregate Total Return Index.


Para Rajeev De Mello, da Gama Asset Management, os investidores finalmente estão voltando a se engajar com os mercados emergentes, mas ainda há espaço para avançar rumo a um “sobrepeso mais significativo”.



*A questão do dólar*


A recuperação deste ano pode estar mascarando vulnerabilidades da classe de ativos. A China, presa a um ciclo deflacionário, pode representar um desafio ao exportar excesso de capacidade para outros países em desenvolvimento, pressionando as indústrias locais.


Mas o maior teste está no dólar. A queda de 8% da moeda americana neste ano ajudou a impulsionar os ativos emergentes, mas muitos acreditam que ela pode se recuperar caso o Federal Reserve entregue menos cortes de juros do que o esperado. Estrategistas do Citigroup, por exemplo, aconselham clientes a comprar apenas ativos emergentes capazes de resistir a uma eventual valorização do dólar.


Ainda assim, o banco projeta retornos totais de 5% para os títulos emergentes no próximo ano. Michele, do JPMAM, também mantém posições otimistas em ívida emergente; ele espera que os rendimentos reais “muito elevados” continuem atraindo investidores mesmo em um cenário de dólar mais forte.


Por ora, o dinheiro segue entrando: fundos de dívida emergente captaram US$ 4 bilhões na semana encerrada em 17 de dezembro, o maior fluxo semanal desde julho. E, se os mercados emergentes resistirem a mudanças no dólar e na política do Fed, investidores mais cautelosos podem se convencer de que uma realocação estrutural está de fato em curso, segundo Suzuki, da AllianceBernstein. “Essa incerteza oferece aos investidores uma janela de oportunidade para entrar”, disse ele. “Quando todos acreditarem nisso, pode ser tarde demais.”


https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/12/21/mercados-emergentes-entram-em-2026-com-expectativas-elevadas-apos-ano-forte.ghtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário

EMBRAER ENCARANDO AIRBUS E BOEING

 *O QUE É PRECISO PARA A EMBRAER CRIAR UM AVIÃO QUE CONCORRA DIRETAMENTE COM BOEING E AIRBUS?* Por Luciana Dyniewicz, do Estadão  São Paulo,...