News 02 0311

 NEWS - 03.11


Haddad busca apoio de senadores para PEC de corte de gastos / Governo quer DRU transitória para manejo do orçamento até a estabilização da trajetória da dívida pública- Folha SP 2/11


Marianna Holanda / Adriana Fernandes


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), aproveitou uma reunião com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e outros senadores na quinta-feira (31) para buscar apoio à PEC (Proposta de Emenda Constitucional) em elaboração pelo governo com medidas de corte de gastos.


No encontro, Haddad defendeu a necessidade de uma medida para autorizar transitoriamente o manejo do orçamento até a estabilização da trajetória da dívida pública em relação ao PIB (Produto Interno Bruto).


A área econômica do governo discute aproveitar a PEC para prorrogar a DRU (Desvinculação de Receitas da União) para incluir as medidas de corte de despesas, segundo pessoas a par das discussões no governo


A DRU, que hoje permite ao governo usar livremente 30% das receitas com impostos e taxas vinculados a despesas, acaba no final deste ano. Há uma discussão no governo para fazer uma DRU transitória sob novos termos, que permita remanejar os recursos carimbados para a área de saúde e educação, que hoje estão blindados.


O tema principal do encontro era o projeto de regulamentação do mercado de carbono —governo e Congresso buscam acordo para votá-lo antes da COP 29 (29ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), que ocorrerá entre os dias 11 e 22 de novembro no Azerbaijão.


Segundo relatos, a PEC do governo surgiu na conversa, e os parlamentares sinalizaram apoio a medidas para controlar os gastos.


A reunião ocorreu na residência oficial do Senado. Contou com a presença do senador Efraim Filho (União-PB), do ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), e dos relatores do projeto do mercado de carbono na Câmara, Aliel Machado (PV-PR), e no Senado, Leila Barros (PDT-DF).


"Há uma grande preocupação com o aumento da dívida pública em relação ao PIB. É preciso qualificar o debate e buscar o equilíbrio fiscal pelo lado das despesas e não pelo lado de arrecadar", disse à Folha o senador Efraim Filho (União-PB), um dos participantes da reunião.


Segundo ele, a recepção dos senadores foi positiva à necessidade de medidas de cortes de gastos.


Os detalhamentos da proposta ainda estão sendo acertados. Apesar da pressão de investidores e de integrantes do mercado financeiro, o presidente Lula (PT) não tem pressa para apresentar as medidas, segundo auxiliares.


A proposta foi discutida amplamente com ele pela primeira vez nesta semana, em uma reunião no Palácio da Alvorada.


As previsões de crescimento da dívida para um patamar superior a 80% do PIB têm alimentado as incertezas fiscais e levado a uma escalada dos juros futuros e do dólar, que fechou nesta sexta-feira (1) cotado a R$ 5,869, o maior patamar para a moeda norte-americana desde o início da pandemia.


A forte alta veio em resposta à proximidade das eleições presidenciais dos Estados Unidos e à tensão sobre uma possível vitória de Donald Trump. Há ainda preocupação sobre o rumo das contas públicas brasileiras.


Como os parlamentares já sinalizaram o esgotamento da agenda de aumenta de arrecadação para o ajuste fiscal, há uma avaliação entre lideranças parlamentares de que o espaço hoje é maior para mudança em medidas nas regras de correção dos pisos de saúde e educação, que foram defendidas pela área econômica, mas que sofrem resistências do próprio presidente Lula.


O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sinalizou em entrevista à Folha apoio às mudanças nas vinculações de receitas para as duas áreas. Ele disse que "vem alertando para um problema sério", que é o impacto dos pisos de saúde e educação e também da vinculação ao salário mínimo dos benefícios da previdência nas despesas públicas.


"Não estou entrando no aspecto se é justo ou não. Só que eles aumentam a despesa e pressionam muito o discricionário [despesas que o governo pode ou não executar, de acordo com a previsão de receitas, como custeio e investimento]. A saúde no último ano aumentou R$ 50 bilhões. Isso pressiona todo o recurso discricionário do governo, investimento e tudo. O teto vai ser pressionado. O arcabouço está aí e tem que cumprir as metas", afirmou Lira.


 


Atenção total- Lauro Jardim – O Globo 3/11


Fernando Haddad tem dito a interlocutores que tem até o dia 14 de novembro para ter a atenção total de Lula para definir a PEC do corte de gastos. Porque, depois disso, vem feriado, G20 e a visita de Xi Jinping a Brasília.Mas nesta semana é Haddad quem não dará total atenção ao pacote: vai viajar à Europa.


 


Alckmim defende corte de gastos e fim da reeleição a Jorge Kajuru- O Globo 2/11


Por Naira Trindade — Brasília


Geraldo Alckmin vai defender o corte de gastos e o fim da reeleição, com um mandato de cinco anos a partir de 2030, em entrevista a Jorge Kajuru, no seu retorno à Rede TV. A entrevista vai ao ar amanhã, às 22h30 , no PODK Liberados. Alckmin é o primeiro convidado e a intenção é levar Lula no próximo.


 


Oposição critica viagem de Haddad à Europa em meio a indefinições sobre corte de gastos / Parlamentares ouvidos pela CNN avaliam que momento atual é de "crise"- CnnBrasil 3/11


Cristiane Noberto / Danilo Moliterno


Em meio à incerteza sobre a entrega de um pacote de corte de gastos do governo, deputados de oposição reagiram à viagem do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para a Europa na próxima semana.


Parlamentares ouvidos pela CNN criticaram a ausência do chefe da equipe econômica no momento que avaliam ser de crise.


O vice-líder da oposição na Câmara, Marcel Van Hattem (Novo-RS), afirma que o governo “não cumpre o próprio arcabouço” e diz que, antes de viajar para “vender” o Brasil lá fora, Haddad “precisa arrumar a casa”.


“O governo, infelizmente, está cumprindo a cartilha do PT: gasto sem responsabilidade e desrespeito com qualquer tipo de trava. Não cumprem nem o próprio arcabouço fiscal que criaram, muito mais frágil do que o teto de gastos anteriormente vigente. Haddad vai ao exterior vender o quê, para quem? Precisa arrumar a casa primeiro, mas a viagem talvez demonstre justamente isso: que aquilo que deveria ser prioridade não será feito.”


Já o vice-líder do PL, deputado Domingos Sávio (MG), diz que o país está enfrentando uma “grave crise econômica” e atribui isso à “gastança irresponsável” da administração atual.


De acordo com ele, apesar do aquecimento da atividade privada e do esforço da população, o governo continua a agravar o déficit fiscal, com projeções preocupantes para os próximos anos.


“Fazer uma viagem para a Europa, no momento em que todos esperavam dele uma atitude concreta para apresentar soluções para o equilíbrio fiscal, sem sequer apontar um compromisso importante que esteja agendado, comprova o que todos nós sempre alertamos: o governo do PT não mostra responsabilidade com o interesse do país. Não tem limite com a gastança, não se dispõe a fazer sacrifícios, não se dispõe a fazer cortes que garantam um equilíbrio fiscal, e é isso que, infelizmente, faz com que o país perca uma grande oportunidade, enquanto o Brasil poderia ser a bola da vez”, afirmou.


Procurada pela CNN, a assessoria do Ministério da Fazenda não respondeu.


Para o presidente da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), deputado Joaquim Passarinho (PL-PA), Haddad não vai, de fato, entregar um pacote de cortes de gastos “viável”.


“Primeiro, eu não acredito que o Haddad vai, de fato, trazer um pacote de cortes de gastos viável. Não é o que está no DNA deste governo, este tipo de medida. Acho que a viagem dele à Europa demonstra falta de compromisso com essa agenda. […] A gente não viu ninguém do governo defendendo, de fato, essa agenda, porque, de novo, não está no DNA deles. Reduzir os gastos poderia levar eficiência para a economia. E não bastaria apresentar o pacote, se não articular. Não dá para acreditar que a base do PT apoiaria um pacote como este”, afirmou.


O vice-líder da minoria na Câmara, Rodrigo Valadares (União-SE), também criticou a viagem do titular da Fazenda e pontuou a alta do dólar, que atingiu a marca de R$ 5,90, a maior alta desde a pandemia, como um dos fatores de preocupação.


“A alta do dólar para R$ 5,90 é uma tragédia anunciada, e Haddad resolve viajar no meio dessa crise. Essa decisão evidencia um governo sem direcionamento, que negligencia o impacto do câmbio na vida das pessoas. A economia brasileira precisa de um ministro presente, e não de alguém que foge das responsabilidades”, disse.


Agentes econômicos têm pressionado o governo para apresentar medidas que sejam viáveis para a sustentabilidade das regras fiscais do país. Isso porque, na avaliação deles, o governo tem feito ajuste das contas apenas pelo lado das receitas, enquanto os gastos continuam a aumentar.


Na última terça-feira, Haddad afirmou que não tinha um prazo para apresentar as propostas, o que fez com que o dólar começasse a trajetória de alta, fechando em R$ 5,87 na sexta-feira (1º).


 


Há sinais claros de descontrole das contas do governo, e ajustes não devem ocorrer neste ano, dizem economistas / Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, só deve ocorrer um ajuste fiscal mais significativo em 2025- CnnBrasil 3/11


Carol Raciunas


Na última semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que ocorre uma “forçação boba” para que o governo apresente ao Congresso um conjunto de medidas para corte de gastos.


A conduta do atual ministro tem sido questionada por parte do mercado. Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, Haddad foi hábil em aprovar a reforma tributária e alguns ajustes na arrecadação, mas o grande ajuste que ainda falta é nos gastos.


Para o economista, mesmo que Haddad sinalize querer lidar com o ajuste dos gastos, existe uma resistência do governo.


“Já se vão dois anos, é difícil imaginar que um grande ajuste fiscal vai acontecer ainda. Vai ser algum paliativo de corte de gastos para 2025, talvez na casa de R$ 50 bilhões, que levaria o déficit para 0,25% do PIB.”


Vale destacou ainda que, sob estas condições, só deve ocorrer um ajuste fiscal mais significativo em 2025.


“Até 2026 devemos ter uma alta de 12 pontos percentuais na dívida pública bruta. Sem nenhum cenário de crise, isso não se justifica”, apontou.


Para Daiane Gubert, head de assessoria de investimentos da Melver, a situação atual também não está favorável para a economia brasileira.


“Existem sinais claros de descontrole fiscal e a consequência já é totalmente percebida. Ela é ditada pelo mercado com títulos da dívida pública rondando os 13% e inflação a cerca de 7%”.


As medidas atuais, segundo Gubert, devem ter impacto generalizado. “O risco, o dólar e a inflação sobem. E, com isso, esse círculo vicioso deprime a economia brasileira”, avalia.


 


Opinião do Estadão - Protelando o ajuste fiscal / Sem data para a revisão de gastos, governo tenta ganhar tempo com PEC para prorrogar a DRU- Estadão 3/11


Por Notas & Informações


Se ainda havia alguma esperança de que o governo anunciaria de uma vez um pacote de revisão de gastos públicos, a viagem do ministro Fernando Haddad à Europa pôs por terra qualquer chance de que isso ocorra no curto prazo. Defensor de medidas que fortaleçam o arcabouço fiscal, Haddad passará a semana fora do País e voltará apenas no dia 9 de novembro. Durante sua ausência, é improvável que as discussões avancem e que um plano concreto seja divulgado.


O contexto reforça a falta de prioridade com que o tema é tratado pelo presidente Lula da Silva, o que, a bem da verdade, não surpreende ninguém. A questão é que o governo gerou expectativas de que algo havia mudado e de que o presidente estava convencido sobre a necessidade do pacote para recuperar o grau de investimento, sobretudo após melhora da nota de crédito brasileira pela Moody’s, a primeira desde 2017.


Mas o País continua andando em círculos em debates cuja solução o governo tenta adiar. O arcabouço fiscal, que limita o avanço dos gastos a um crescimento real de 2,5% ao ano, tem sido incapaz de frear a velocidade de algumas das principais despesas do governo. O teto não vale para os pisos constitucionais da Saúde e da Educação, vinculados às receitas, nem para os benefícios previdenciários, cujo piso acompanha a variação do salário mínimo.


Ambas as políticas tendem a consumir um espaço cada vez maior no Orçamento e a estrangular as despesas discricionárias. Esse diagnóstico não vem de hoje, mas do fim de agosto do ano passado. Na votação do arcabouço fiscal, os pisos constitucionais, cujo crescimento havia sido limitado à inflação desde 2017 com a aprovação do teto de gastos, voltaram a acompanhar as receitas, que têm tido um desempenho expressivo neste ano.


Em paralelo, o Congresso aprovou a medida provisória enviada pelo Executivo que tornou lei a política de valorização do salário mínimo. Além das aposentadorias e pensões, o mínimo também é piso para benefícios assistenciais, abono salarial e seguro-desemprego e pressiona cada vez mais as despesas.


Já faz, portanto, mais de um ano que a equipe econômica sabe disso e tenta consertar as falhas estruturais do arcabouço fiscal, enquanto parte do governo age como se esses problemas não existissem. Há quem acredite que essas despesas não deveriam se adaptar ao arcabouço, mas que o arcabouço é que precisa mudar para dar um jeito de comportá-las.


Foi esse mesmo dilema que enfraqueceu o teto de gastos até levá-lo à inanição. A mais nova esperança da equipe econômica é aproveitar a prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), que depende da aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), para incluir medidas que enfrentem gastos estruturais no texto.


Flexibilizar a alocação de recursos e permitir seu uso para outras finalidades certamente ajudará o governo, mas não resolverá o problema de fundo. Desde 1994, quando ainda se chamava Fundo Social de Emergência (FSE), a DRU tem sido desidratada e seu alcance, cada vez mais reduzido. Será preciso ir além dessa vez.


 


Análise: Alta do dólar ameaça se tornar fonte de pressão inflacionária relevante / Na semana anterior ao Copom, moeda americana termina cotada perto de R$ 5,87- Valor 2/11


Sergio Lamucci


A alta do dólar caminha para se tornar mais uma fonte de pressão inflacionária relevante, num momento em que o mercado de trabalho aquecido permite aumentos maiores dos preços de serviços e as cotações dos alimentos passaram a subir com mais força, especialmente devido a problemas climáticos. Com as incertezas persistentes sobre a trajetória das contas públicas e o cenário externo adverso para países emergentes, a moeda americana saiu de R$ 5,4469 no fim de setembro para R$ 5,8698 na sexta-feira (1º), uma alta de 7,8%. No ano, o salto do dólar já é de 21%.


Na semana que vem, o Comitê de Política Monetária (Copom) vai se reunir para definir o rumo da Selic, e a aposta dominante é numa aceleração do ritmo de alta para 0,5 ponto percentual (p.p.) – em setembro, o colegiado do Banco Central (BC) elevou a taxa em 0,25 ponto, de 10,5% para 10,75% ao ano.


Se o câmbio se consolidar na casa de R$ 5,70 ou R$ 5,80, as projeções de inflação vão subir, especialmente para 2025, o que pode levar o BC a estender o ciclo de alta da Selic. Até o momento, o consenso de mercado do Boletim Focus, do Banco Central (BC), aponta um dólar de R$ 5,45 no fim deste ano e de R$ 5,40 no fim do ano que vem.


O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, dá uma medida de como uma moeda americana mais cara influenciaria as suas estimativas para a inflação. Se em 2025 o dólar ficar na média em R$ 5,70, em vez dos R$ 5,30 que ele espera atualmente, a previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025 sobe de 4% para 4,6% — ou seja, acima do teto da banda de tolerância da meta, de 4,5%. No caso da projeção para o IPCA deste ano, um dólar cotado a R$ 5,70 até dezembro faria a estimativa da LCA aumentar de 4,5% para 4,6%. A consultoria prevê um câmbio de R$ 5,50 no fim de 2024.


A moeda americana tem sido impulsionada, de um lado, pela incerteza fiscal, especialmente porque não há uma estratégia do governo para conter a expansão das despesas obrigatórias. Nesse cenário, as projeções para a dívida pública são de alta contínua ao longo dos próximos anos, sem perspectiva de estabilização como proporção do PIB. A dívida bruta, que terminou 2022 em 71,7% do PIB, deve fechar 2026 em 84,1% do PIB, um aumento de 12,4 pontos percentuais em quatro anos, prevê a Instituição Fiscal Independente (IFI).


Nesta semana, em meio a informações desencontradas, a equipe econômica indicou que vai apresentar medidas de ajuste das contas públicas por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Não está claro, porém, o que será apresentado, e nem quando isso vai ocorrer. Uma opção que deve ser usada é aproveitar a necessidade de prorrogar a Desvinculação de Receitas da União (DRU), mecanismo que dá mais flexibilidade ao governo para manejar o orçamento, incluindo outras iniciativas para enfrentar o problema fiscal. Outra ideia cogitada é definir para as despesas obrigatórias um limite de alta de 2,5% acima da inflação, o teto de crescimento de gastos do arcabouço fiscal.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que baterá o martelo sobre as medidas a serem anunciadas. Como ele tem mostrado resistência a iniciativas de cortes ou redução do ritmo de crescimento de gastos, a expectativa é que o pacote a ser apresentado não seja dos mais ambiciosos. Na sexta-feira (1), também azedou o humor dos investidores a informação de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vai viajar para a Europa na semana que vem. Com isso, as medidas não deverão sair nos próximos dias.


Pressão externa


Além das incertezas sobre as contas públicas, a alta do dólar no mercado internacional e o aumento das taxas dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) têm contribuído para pressionar o câmbio por aqui. O movimento do dólar e dos juros de longo prazo nos EUA reflete a percepção de que o ex-presidente Donald Trump é ligeiramente favorito para vencer Kamala Harris na eleição presidencial, pela avaliação de que o republicano deve adotar políticas que tendem a gerar mais inflação. Para países emergentes como o Brasil, significa mais pressão sobre o câmbio e sobre os juros.


Esses fatores têm levado à alta do dólar por aqui, num movimento que parece exagerado quando se analisa a situação das contas externas e a diferença já elevada entre os juros externos e internos. Uma eventual vitória de Kamala nas eleições americanas pode gerar alguma valorização da moeda brasileira, avalia Romão. As incertezas em relação às contas públicas brasileiras, porém, parecem ser o principal motivo para a alta do dólar. Para que haja um recuo mais significativo da moeda americana, é preciso que o governo anuncie medidas mais firmes para combater a expansão das despesas obrigatórias, o que continua a ser uma grande incógnita. A consolidação da moeda americana em níveis elevados teria efeitos negativos sobre os índices de preços e as expectativas de inflação, com consequências evidentes sobre o ciclo de alta da Selic.


Aluguéis e passagens aéreas mais caras


A pressão do dólar mais caro aparece de modo claro nos bens industriais, diz Romão. Para ele, os preços desses produtos devem subir 2,4% neste ano e 3% no ano que vem. São variações não muito fortes, mas que representam uma aceleração em relação ao 1,1% registrado pelo grupo no ano passado. Se o dólar se mantiver na casa de R$ 5,70 ou R$ 5,80, as estimativas para a inflação dos bens industriais vão, obviamente, subir. Romão lembra ainda que uma moeda americana mais alta também influenciaria os preços de alguns serviços – os aluguéis corrigidos pelo Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), por exemplo, poderiam sofrer alguma pressão, já que o indicador é bastante afetado pela alta do dólar – o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) tem peso de 60% no IGP-M. O dólar caro também pode bater na formação de preços das passagens aéreas, nota o economista da LCA.


Há também impacto do câmbio sobre os alimentos, mas o que tem mais impulsionado os preços desses produtos é a questão climática, afirma Romão. O grupo alimentação no domicílio, que teve deflação de 0,5% em 2023, pode subir mais de 7% neste ano, com influência significativa dos preços das carnes. A seca e os incêndios em áreas produtos adicionaram pressão às cotações da carne bovina – e antes do que se esperava.


Para completar, os serviços mais sensíveis à demanda ganharam força no IPCA-15 deste mês. No acumulado em 12 meses, esse grupo acelerou de 4,61% em setembro para 5,08% em outubro. Um mercado de trabalho aquecido ajuda a explicar o comportamento desses serviços.


Nesse cenário, ainda que não haja um quadro inflacionário explosivo, um dólar nas alturas é tudo o que a economia brasileira não precisa. O cumprimento da meta de 3% ficará ainda mais distante, e mais juros poderão ser necessários para combater pressões sobre os preços.


 


 


Piora no cenário econômico fará BC acelerar ritmo de alta da Selic para 0,5 ponto, dizem economistas/ Risco fiscal e desvalorização do câmbio colocam pressão sobre decisão do Copom nesta quarta (6)- Folha SP 3/11


Nathalia Garcia


Com a piora no cenário econômico nos últimos 45 dias, o Copom (Comitê de Política Monetária) deve acelerar o ritmo de alta de juros nesta quarta-feira (6) para 0,5 ponto percentual, elevando a taxa básica Selic a 11,25% ao ano.


Economistas ouvidos pela Folha veem necessidade de um choque maior de juros para levar a inflação para a meta devido a uma série de fatores, sobretudo ao risco fiscal.


Depreciação cambial, diante de incertezas no ambiente internacional com as eleições nos EUA, piora adicional nas expectativas de inflação e resiliência da atividade econômica colocam pressão adicional sobre a decisão do colegiado do Banco Central.


Na última sexta (1º), a cotação do dólar chegou a R$ 5,868, refletindo a inquietação do mercado financeiro enquanto o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não anuncia seu pacote de medidas de corte de gastos. Isso somado às incertezas acerca da votação eleitoral nos EUA, com a possibilidade de vitória de Donald Trump.


No encontro de setembro, o Copom considerou em seu cenário de referência o dólar a R$ 5,60. A forte alta da moeda americana em um curto espaço de tempo traz impacto para as expectativas de inflação, que seguem se distanciando do centro do alvo de 3% –com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.


Claudio Ferraz, economista-chefe para Brasil do BTG Pactual, avalia o cenário para política monetária como bastante desafiador e diz que o distanciamento das expectativas de inflação da meta vem de um longo período.


"Desde o ano passado, quando se discutiu o tema da revisão da meta, ficou uma cicatriz. Isso acabou se avolumando nas preocupações com o cenário fiscal e o ritmo de crescimento das despesas bastante significativo", afirma.


Na visão dele, um "mero anúncio" do governo não será suficiente para convencer o mercado e melhorar as projeções. "Os detalhes vão ser muito importantes. Mas, no estágio atual, é importante não só os detalhes, mas o avanço concreto das medidas", diz.


O BTG admite rever seu cenário para o tamanho total do ciclo de alta de juros caso persistam as dificuldades no cenário fiscal e o ambiente externo fique mais adverso. Quanto à comunicação, Ferraz espera que o Copom deixe seus próximos passos em aberto.


Para Leonardo Costa, economista do ASA, um dos motivos para o BC optar por uma alta de juros mais intensa é a inflação corrente –especialmente a de serviços–, que continua em um patamar bastante elevado. Olhando à frente, ele ressalta o reflexo do choque inflacionário sobre o preço dos alimentos como motivo de preocupação.


No horizonte, aponta também a questão fiscal como principal ameaça. "Ainda tem muita dúvida se o arcabouço se mantém de pé e não parece ter sido endereçado o risco fiscal de continuidade de crescimento da dívida pública", diz.


Em agosto, a dívida bruta do Brasil ficou em 78,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Já são 14 meses consecutivos de alta, trajetória iniciada em junho de 2023. O governo Lula já vê a dívida bruta acima de 81% do PIB a partir de 2026, último ano do mandato do presidente.


Heron do Carmo, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo) e especialista em inflação, afirma que não está descartada a possibilidade de o índice beirar 5% neste ano. No cálculo, ele leva em consideração a base comparativa de 2023, com IPCA mais baixo na reta final do ano, e a tendência de alta de preços de alimentos, principalmente da carne.


Conforme o boletim Focus da última segunda (28), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deve terminar o ano em 4,55%, acima do teto da meta perseguida pelo BC. Para 2025 e 2026, os analistas projetam 4% e 3,6%, respectivamente.


No "caldeirão", o professor vê pressões inflacionárias vindas de um crescimento mais forte da economia, de um cenário internacional "confuso" e da deterioração da situação fiscal.


"Tem que pelo menos gerar um resultado que faça com que a relação dívida/PIB não aumente no ritmo que vem aumentando e dar previsibilidade adiante. [...] É simplesmente ajustar a trajetória de gasto. Isso tem que ser feito o mais rápido possível, porque senão vai comprometer a trajetória da inflação para frente", diz.


Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, afirma que a nova rodada de depreciação cambial impõe pressão adicional na inflação no curto e médio prazo.


Se Trump for eleito presidente dos EUA, ressalta que a agenda inflacionária do candidato republicano pode atrapalhar o ritmo de corte de juros do Fed (Federal Reserve) e dar ainda mais força ao dólar ante as moedas de economias emergentes, como a do Brasil.


Ela também destaca que o país passa por um momento de vulnerabilidade por elevação do prêmio de risco [rentabilidade adicional cobrada pelos investidores no Brasil].


"O mercado está nessa ansiedade para conhecer o pacote fiscal e, do outro lado, o governo está ainda nessa fase de negociação e não dá muita clareza de quando vai ser anunciado. Então, existe um certo choque de expectativas e realidade", diz.


Em eventos em Washington, os membros do BC alertaram repetidas vezes que o risco fiscal adicionou prêmios às expectativas e aos preços de ativos e que, se não houver um choque positivo nas contas públicas, não será possível diminuir a Selic.


Além da questão fiscal, Rafael Cardoso, economista-chefe do departamento de Pesquisa Econômica do banco Daycoval, joga luz sobre a "dupla face" do mercado de trabalho aquecido e seu efeito sobre a inflação. "Se os salários para os trabalhadores é renda e, portanto, sanciona a demanda, da ótica do empresário, salário é custo", afirma.


Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de desemprego do Brasil marcou 6,4% no terceiro trimestre. O órgão associou a queda da desocupação ao cenário de atividade econômica e avaliou que há um aquecimento da economia via consumo.


Diante de todos os fatores que dificultam o trabalho do BC, Cardoso espera unanimidade entre os membros do Copom em torno de uma alta de 0,5 ponto percentual.


Para ele, é difícil ter uma divergência com voto favorável à manutenção do ritmo de 0,25 ponto e vê chance de discussão sobre um choque ainda mais intenso. "Mas entendo que diretores deveriam não gerar ruído nesse momento e reafirmar unanimidade", acrescenta.


 


Selic teria de subir a 15% para a inflação convergir para a meta, diz XP Asset / Em seu cenário básico, gestora projeta a taxa de juros em 13% em meados do próximo ano- Valor 3/11


Gabriel Caldeira


Para que a inflação convirja para a meta de 3% dentro do horizonte relevante da política monetária, o Banco Central teria de aumentar a taxa Selic para, pelo menos, 15% no atual ciclo de aperto monetário, observa o economista-chefe da XP Asset Management, Fernando Genta, cuja projeção oficial aponta para um juro básico bem menor que esse nível, em torno de 13% em meados do próximo ano.


Na visão de Genta, o ciclo de aperto teria de compensar não só a política fiscal expansionista, como também o efeito do último ciclo de queda dos juros, que levou a taxa Selic de um pico de 13,75% para 10,5% entre agosto de 2023 e maio deste ano.


“Não acho que esses 15% são exagerados. O problema é o quanto de desinflação a gente tem que colocar numa economia que está crescendo acima do seu potencial”, diz o economista, que já foi secretário adjunto no Ministério da Economia. Para ele, o BC vai optar por uma convergência mais longa da inflação à meta, com um ciclo de aperto mais contido.


No cenário-base da XP Asset, a Selic deve subir para 13% até a primeira metade de 2025, em um ritmo de elevação de 0,5 ponto percentual — a começar pela reunião do próximo dia 6. “Quando eu olho o atual conjunto de informações, acho que ele deveria fazer ainda mais rápido, mas as sinalizações dos diretores não vão nessa direção”, afirma o economista, para quem o BC deve manter os juros nos níveis mais altos desse ciclo até o fim do ano que vem.


Na avaliação de Genta, mesmo com uma política monetária mais restritiva dentro das projeções do relatório Focus, as estimativas de inflação do BC devem apresentar nova deterioração quando forem apresentadas na próxima semana.


Em um ambiente de “dinâmica de atividade forte no Brasil, expectativas desaconradas e inflação corrente acima da meta”, o Copom tem os ingredientes necessários para acelerar o ritmo da alta de juros, diz Genta. Isso não significa, porém, que a comunicação deve adotar um tom mais duro que indique o ritmo de 0,5 ponto como padrão daqui em diante.


“Uma vez que o presidente do BC (Roberto Campos Neto) insiste em dizer que há excesso de prêmio [nos ativos], me surpreenderia alguma coisa no comunicado que sinalizasse uma aceleração”, diz Genta. Para ele, são “confusas” as observações recentes de Campos Neto sobre a possibilidade de algum exagero no prêmio de risco fiscal precificado pelo mercado.


“O hiato do produto [medida de ociosidade da economia] foi substancialmente revisado para cima. O BC apontou a política fiscal, o mercado de crédito e o mercado de trabalho — que derivam do expansionismo fiscal — como as principais causas. Se o BC realizou essa mudança abrupta por causa do fiscal, tenho muita dificuldade em entender o presidente do BC falando que o mercado está exagerando o prêmio de risco”, enfatiza o economista da XP Asset.


Cenário econômico para o BC ficou mais desafiador desde setembro, diz Bahia Asset / Gestora carioca projeta taxa de juros em 13% em meados do próximo ano- Valor 2/11


Gabriel Caldeira


A desancoragem contínua das expectativas de inflação em relação à meta de 3%, um mercado de trabalho ainda aquecido e a incerteza externa derivada da eleição presidencial nos Estados Unidos formam um conjunto de fatores que torna o cenário atual mais desafiador para a condução da política monetária em comparação com a conjuntura da última reunião do Copom, em setembro, na avaliação do economista-chefe para Brasil do Bahia Asset Management, Luiz Felipe Maciel.


Por isso, Maciel acredita que o BC acelerará o ritmo do ciclo de aperto monetária a 0,5 ponto percentual na próxima quarta-feira, 6 de novembro, e, com altas de igual magnitude, levará a Selic para 13% no ano que vem, mantendo a taxa nesse nível ao menos até o fim de 2025.


“[O BC] Vai ter que continuar a falar duro para tentar trazer as expectativas de inflação para a meta o mais forte que conseguir”, diz Maciel. O economista espera que as projeções de inflação do Copom subam mais na semana que vem, mesmo com o relatório Focus contemplando uma Selic mais elevada. Ele destaca a taxa de câmbio, que depreciou, e a força do mercado de trabalho, que pressiona os salários e tende a dar mais fôlego à inflação de serviços.


Além disso, Maciel não enxerga uma diminuição do estímulo fiscal relevante em 2025, o que deve manter a economia aquecida e a inflação, pressionada. “Há estímulos em benefícios à população mais propensa a gastar. Tem uma injeção fiscal ainda em curso, estados e municípios também estão gastando”, diz. Se o governo entregar um ajuste fiscal relevante, no entanto, o BC poderia ter algum alívio. “Seria um primeiro sinal concreto, desde que o governo assumiu, de que os gastos podem ser menores.”


De qualquer forma, na conjuntura econômica atual, o balanço de riscos da inflação aponta para juros ainda mais elevados do que a projeção de 13% do Bahia Asset, avalia Maciel. “Com a taxa de desemprego indo a 6%, todo mundo vai ter que revisar as projeções de inflação”, avalia.


 


José Roberto Mendonça de Barros- Desaceleração da China é inevitável- Estadão 3/11


Retomo meu último artigo: a desaceleração da China é inevitável e terá grandes consequências na arena global e em nosso País. Vejam os leitores que há várias semanas o governo chinês vem soltando medidas para reativar os mercados, sem grande sucesso.


Outro indicador do ceticismo dos analistas, com o qual concordo e que reputo importante, é a fraqueza do mercado de petróleo. Mesmo com todo o pacote chinês, a cotação do Brent não descola dos US$ 70 por barril. A demanda por óleo vem sendo revisada para baixo e parece claro que, ante o mínimo sinal da possibilidade de um cessar-fogo no Oriente Médio, veremos os preços irem para a faixa dos US$ 65 – vale lembrar que a Arábia Saudita começará a bombar mais produto a partir de setembro. Não será a demanda chinesa que vai sustentar o mercado.


Mas, a meu ver, a acelerada queda da população e seu envelhecimento são o centro do problema. Os jovens não querem ou postergam os filhos porque têm idosos para sustentar e têm receio de não poder pagar os custos de uma boa educação, especialmente em um momento de alto desemprego dos recém- formados. A projetada queda de 200 milhões de pessoas até 2054 é sem precedentes num país onde a renda per capita ainda é baixa. O temor de ficar velho antes de ficar rico parece ter fundamento.


Com isso, o consumo interno tende a crescer mais lentamente, ao contrário do que acontece em outros países da Ásia, até porque parte dos investimentos estrangeiros antes canalizados à China agora busca Índia e outros destinos na região.


Ao mesmo tempo, a preocupação com segurança tem limitado a expansão de empresas inovadoras. As exportações também terão mais dificuldades de crescer porque, especialmente nos países ricos, uma ativa política de bloqueio de comércio está se desenvolvendo. Isso é particularmente visível no segmento de carros elétricos e de matérias-primas básicas.


Somando tudo, a economia chinesa irá desacelerar lentamente para a faixa de 4% ao ano. Por outro lado, a população americana seguirá crescendo: a ONU estima que, entre 2023 e 2050, passará de 343 milhões para 380 milhões de habitantes.


O consumo e o PIB vêm se expandindo de forma robusta e o progresso técnico tem sido impressionante.


Apostar que a China será a ganhadora na arena global, sobrepujando um “império decadente”, parece um lance excessivamente ousado. Melhor faria o Brasil cultivar relações amistosas e construtivas com todos os líderes globais.


 


Infraestrutura: BNDES acumula R$ 78 bilhões em aprovações de crédito ao setor / Maior parte R$ 40,8 bilhões) foi concedida entre janeiro e setembro deste ano- Painel S.A- Folha SP 3/11


O BNDES retomou o apoio aos projetos de infraestrutura e, de janeiro e 2023 a setembro deste ano, aprovou R$ 78,3 bilhões, mais do que os R$ 67,9 bilhões acumulados entre 2019 e 2022.


Somente neste ano, o banco deu aval para R$ 40,8 bilhões em crédito ao setor –8% mais do que todo o ano de 2023 (R$ 37,6 bilhões). Na série histórica, iniciada em 1995, o maior valor aprovado para a infraestrutura foi registrado em 2014 (R$ 50,8 bilhões).


Hoje, o banco compete com instituições comerciais no financiamento à infraestrutura. Mesmo assim, busca ampliar essa carteira, especialmente com a nova política industrial, que permite oferta de juro subsidiado (TR, a Taxa Referencial) para projetos ligados à transição energética, por exemplo.


"As obras de infraestrutura, do saneamento às rodovias, são essenciais para impulsionar outros setores, estimular a produção industrial e escoar a produção agrícola", disse o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.


Com Diego Felix


 


Indústria retoma espaço no BNDES sob Lula e ensaia ultrapassar o agro / Movimento é observado após plano de crédito e subsídios voltado ao setor e melhora na atividade- Folha SP 3/11


Fábio Pupo


Após o governo Lula (PT) lançar um plano de crédito e subsídios à indústria, o volume de empréstimos aprovados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao setor é o maior em relação ao total em oito anos. De acordo com a instituição, o volume liberado de janeiro a setembro supera o montante destinado ao agronegócio –algo que não se via desde 2016.


O movimento é observado em meio à melhora da atividade no setor e à maior procura por financiamento após a criação das linhas do plano Nova Indústria Brasil, lançado em janeiro. A demanda dobrou neste ano, na comparação com um ano antes.


Apesar de a fotografia ser comemorada pelos representantes da iniciativa privada, o cenário para o ano que vem ainda é visto com cautela. Entre as causas, estão desde motivos já presentes há muitos anos –como a falta de competitividade e a concorrência com a China– até fatores mais recentes como o atual ciclo de aumento da taxa básica de juros (a Selic).


José Luis Pinho Leite Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, afirma que a instituição está em um processo de gradual retomada do apoio ao setor após os números observados nos últimos governos.


"Nos anos anteriores aos do governo do presidente Lula, a indústria foi totalmente deixada de lado. O BNDES deixou de apoiar o setor industrial no sentido não só de financiamento, porque diminuiu muito, mas também deixou de ter uma diretoria que olhava para a indústria", afirma.


Ele diz que, no acumulado de janeiro a setembro, o setor contou com 27% de todo o crédito aprovado pelo BNDES –em comparação, a agropecuária ficou com 26%. No mesmo período do ano passado, a ordem era inversa. O campo ficou com 31% e as fábricas, com 18%.


"Estamos nos reaproximando do setor industrial sem deixar de apoiar os outros. Não queremos deixar de apoiar o agro nem a infraestrutura", afirma. "O agro também demanda máquinas e equipamentos do setor industrial. Não queremos deixar de apoiar isso".


A maior aprovação, no entanto, não aproxima os números aos do passado. Em meados dos anos 1990, por exemplo, a indústria liderava as aprovações e chegou a obter mais de 50% dos recursos concedidos pela instituição (ao longo dos anos, a infraestrutura passou a ser a campeã).


"Você não sai do nada e volta ao que era lá em 2010, no governo Lula, que era 40% [de aprovação para a indústria]. Você vai caminhar aos pouquinhos. E é isso que nós estamos fazendo", afirma Gordon.


Os números observados até meados do ano mostram que os segmentos de alimentos e bebidas (25% do total à indústria), mecânica (18%), química e petroquímica (12%) e transportes (12%) lideram as aprovações no setor.


A maior atenção à indústria vem no momento em que o BNDES como um todo tem emprestado mais. Nos últimos 12 meses até junho (último período com dados completos consolidados), foram aprovados R$ 208 bilhões aos diferentes setores. O valor representa o dobro do verificado dois anos antes (a preços constantes).


O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou em evento no Palácio do Planalto o momento de aumento de investimentos do setor. "Depois de muito tempo, presidente [Lula], é a primeira vez que a indústria lidera o crescimento nesse último trimestre. E o investimento lidera o crescimento", disse na quarta-feira (30).


Mário Sérgio Telles, superintendente de Economia da CNI (Confederação Nacional da Indústria), afirma que o aumento que vem sendo observado neste ano é influenciado pela atividade mais aquecida no país e por um "efeito psicológico" gerado pelo plano do governo —com empresas buscando mais o BNDES devido ao anúncio.


"O BNDES tinha se fechado bastante para todos os setores e as aprovações tinham caído muito", diz. "É um momento de inflexão importante, com demanda maior, um mercado de trabalho crescendo e concessões de crédito avançando. As aprovações para a indústria cresceram significativamente em 2023 e estão crescendo neste ano em relação ao mesmo período do ano passado", afirma.


Apesar disso, ele faz ressalvas sobre a condição geral do setor e afirma que o custo de financiamento é apenas um dos grandes problemas da indústria. "Não é um momento espetacular. Longe disso", afirma.


Dados compilados pela CNI mostram que produção, faturamento, emprego e intenção de investimento na indústria cresceram nos últimos meses. A utilização da capacidade instalada, por outro lado, mostra uma melhora em agosto ainda com margem de elevação sem pressão nos preços.


"Você tem problema tributário, custo de energia, custos de infraestrutura e, vamos lembrar, nos últimos 15 anos tivemos a crise do Lehman Brothers e um crescimento muito grande da concorrência chinesa. Essa conjunção de fatores é que resultou nessa perda de competitividade da indústria brasileira", afirma.


Robson Gonçalves, economista e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), diz que os números vistos agora não necessariamente representam uma tendência e que o país vive um cenário de desindustrialização.


"O BNDES sozinho não conseguiria mudar isso. Você precisaria de uma política industrial. O governo anunciou uma; mas, depois disso, as importações de aço e vidro, por exemplo, aumentaram. O material de construção vindo do exterior praticamente dobrou em relação há alguns anos. Isso é desindustrialização", afirma.


Para ele, o cenário é de incertezas. "A demanda de recursos de longo prazo do BNDES exige que haja projetos de investimento. E, para que haja esses projetos, as empresas têm que ter um horizonte de investimento no qual confiam", diz.


"O que está tendo é um ambiente de negócios de incerteza do cenário internacional, de política econômica, das brigas recentes entre governo e Banco Central, de briga entre Legislativo e Judiciário. Nada disso ajuda."


Empresas fazem até rodízio de equipes por falta de mão de obra qualificada / Apenas na construção, reclamação por escassez de mão de obra é a maior em dez anos, aponta FGV; queixa atravessa setores- Folha SP 3/11


Douglas Gavras


Reflexo de um mercado de trabalho aquecido, a falta de mão de obra qualificada no país tem desafiado diferentes setores a buscarem alternativas para manter e aumentar a produção.


Em setembro, o Brasil abriu 247.818 vagas formais, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, com saldo positivo em todos os estados.


O cadastro considera apenas vagas formais e mostra que o setor de serviços liderou essa abertura de oportunidades, com 128,4 mil postos, seguido pela indústria (59,8 mil), comércio (44,6 mil) e construção (17 mil). A agropecuária perdeu 2.000 postos.


Mas agora, assim como na década passada, a construção civil é um dos primeiros a sentir os efeitos da falta de trabalhadores capacitados, e a série histórica de uma sondagem feita com empresas pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) ajuda a dimensionar o problema.


Em setembro deste ano, 29,4% dos empresários da construção apontaram a escassez de mão de obra qualificada como fator que limita o desenvolvimento de negócios —é o patamar mais alto desde o fim de 2014.


Os anos pré-crise de 2014 a 2016 foram de aquecimento do mercado imobiliário —e a consequente falta de trabalhadores. Os jornais na época registravam oferta de vagas para engenheiros recém-formados, a vinda de profissionais de outros países e aumentos salariais para toda a cadeia da construção.


"Desde o ano passado, a falta de mão de obra qualificada voltou a ganhar relevância e se manteve como limitação para as empresas", diz Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV Ibre.


"O período até 2013 foi de grande crescimento do setor imobiliário, com Minha Casa, Minha Vida, obras da Copa e das Olimpíadas. Era uma economia que estava crescendo. Agora, o ritmo é mais lento, mas as preocupações do setor começam a crescer."


Em julho, a instituição perguntou ao setor o que as empresas estavam fazendo para contornar a dificuldade de contratação. No total, 33,1% disseram ter aumentado a remuneração, 51,5% investiram em treinamento e 46% adotaram rodízio de equipes, deslocaram trabalhadores entre obras, por exemplo.


De acordo com Gustavo Siqueira, vice-presidente de recursos humanos para América Latina na fabricante para o mercado de construção Saint-Gobain, o foco está em reter e atrair profissionais qualificados por meio de um ambiente de trabalho positivo, desenvolvimento de colaboradores e ações concretas.


O grupo oferece trilhas de desenvolvimento contínuo para competências técnicas.


"Buscamos sempre manter as contratações como prioridade em nossas atividades, mesmo trazendo cada vez mais tecnologia e inovação ao setor. Nossas estratégias de desenvolvimento de pessoas não só preenchem as lacunas de habilidades, mas também contribuem para a retenção e motivação da nossa equipe", diz.


Segundo Tatiane Cardoso de Paula, diretora de RH da Saint-Gobain Canalização, o grupo também tem investido em treinamentos e iniciativas de desenvolvimento, entre as quais um programa de mentoria para jovens talentos da organização.


Apesar do problema, Castelo ressalta que é preciso olhar em perspectiva e considerar que o mercado de trabalho aquecido reflete o contexto de investimentos já realizados.


"A tendência é que a construção permaneça aquecida ainda por algum tempo, mas o aperto nas regras de crédito imobiliário e o aumento dos juros devem ter um efeito de arrefecimento lá na frente."


O mercado de consumo mais forte também anima as calçadistas, apesar de uma redução prevista no comércio internacional com a queda das compras da Argentina e a concorrência com os asiáticos.


"O nosso problema também é a falta de mão de obra capacitada", diz João Marcelo Fernandes, gerente de Recursos Humanos da Kidy. Após o período crítico durante a pandemia, ele conta que a marca produz 16 mil pares por dia, e surgiu a necessidade de contratar pessoal.


Com isso, a fabricante optou por renovar cargos, deixando-os mais atrativos para que os funcionários mais novos permaneçam na empresa e busquem posições internas, além de contar com um programa de capacitação do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).


"Temos planos para 40 novos aprendizes, com um programa de apadrinhamento." As medidas para contornar a falta de profissionais com múltiplas capacitações ainda incluem formar auxiliares que em determinado período vão para as mesas de corte, serigrafia e injeção. Também há incentivo à formação universitária da equipe, diz.


Dados da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) a partir do Caged mostram que o setor encerrou agosto com saldo positivo de 12,4 mil postos.


"A falta de pessoal capacitado está acontecendo no nosso e em outros setores. Quando há uma dificuldade de contratação, o problema tem origens positivas, mas pode ser uma dor de cabeça", diz o presidente-executivo da entidade, Haroldo Ferreira.


"É similar ao que ocorreu até 2013, o que mudou é que hoje há também possibilidade do candidato ir trabalhar nas plataformas digitais —e isso é uma concorrência para indústria de transformação."


"Com a indústria 4.0, ocorreu um boom tecnológico e a necessidade de mão de obra que nós temos, ligada à tecnologia, é a mesma que o supermercado e o mercado financeiro têm", diz João Alfredo Delgado, diretor-executivo de Tecnologia da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).


A indústria passou a concorrer com todos os setores pelo mesmo tipo de profissional, avalia.


Segundo ele, as empresas do setor têm investido em programas de aprendizagem industrial e buscam se aproximar da mão de obra mais jovem. "Não sei se a geração Z quer uma carreira de longo prazo, mas ela ainda tem uma visão distorcida da indústria. Vejo pelos meus filhos, que adoram jogos, mas não percebem que o maior parque de diversões é a indústria, onde eles podem receber para programar robôs reais."


Semana de leilões tem R$ 24 bi de investimento em rodovias, saneamento e escolas / Economistas avaliam que União e governos estaduais tiveram bons resultados com certames, apesar de falta de concorrência no Piauí- Foha SP 3/11


Pedro S. Teixeira


A série intensa de leilões realizada ao longo da semana terminou nesta sexta-feira (1º) com arrecadação de R$ 3,76 bilhões pela União e os governos de São Paulo e Piauí, além da garantia contratual de R$ 24,15 bilhões em investimentos em escolas, rodovias e saneamento.


As empresas, em contrapartida, poderão explorar pedágios em Minas Gerais e São Paulo, a cobrança pelo serviço de água e esgoto no Piauí e a venda de bilhetes lotéricos em território paulista.


Os resultados foram considerados positivos para os governos estaduais e o federal por economistas consultados pela Folha.


Para o fundador da Inter.B Consultoria, Claudio Frischtak, avançar nas concessões é fundamental para tratar do déficit em saneamento básico e infraestrutura. "O Estado brasileiro não tem os recursos para investir e é necessário atrair o capital privado."


O professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP Paulo Feldmann defende que os leilões geram melhores propostas para a administração pública do que as licitações, mas ressalva que o governo precisa ter cautela para manter concorrência. "O caso da Eletropaulo, da qual eu fui presidente na época da privatização, mostra que a concessão pode gerar um monopólio ruim para o consumidor."


Nas últimas semanas, se intensificaram as críticas à distribuidora de energia Enel pelos prolongados períodos sem luz em São Paulo após tempestades. No fim do mês passado, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) intimou e empresa num processo relacionado ao apagão que afetou 3,1 milhões de clientes na Grande São Paulo e deixou residências até seis dias sem luz.


Nos leilões da B3 nesta semana, o menos disputado foi o relacionado à concessão dos serviços de água e esgoto do em 222 municípios do Piauí, que teve apenas uma proposta, da Aegea, que já administra o saneamento da capital, Teresina. O grupo ofereceu um desconto de 1% sobre a tarifa básica mais o pagamento da outorga mínima de R$ 1 bilhão, saindo ganhador do certame.


"O caso do saneamento é idêntico ao da eletricidade, são poucas empresas no mercado e menos ainda com interesse de atuar em locais afastados", diz Feldmann.


Frischtak, por outro lado, avalia que as condicionantes do marco do saneamento básico farão a companhia ampliar o atendimento a regiões descobertas há anos pela estatal Agespisa. "O valor da outorga é pouco relevante, ajuda os cofres dos estados, mas o que interessa é ter um serviço mais capacitado para o usuário e isso é garantido pela concessão", afirma.


O ativo que gerou mais interesse foi a Rota Sorocabana, leiloada na quarta-feira (30), sob disputa de quatro concorrentes que já atuam no setor de infraestrutura.


O lance da concessionária CCR de R$ 1,601 bilhão representou um ágio de 168% sobre o lance mínimo estipulado pela Secretaria de Parceria em Investimentos do Estado de São Paulo, em R$ 597,5 milhões. Com volume de investimentos de R$ 8,8 bilhões e extensão de 460 km, a Rota Sorocabana faz parte dos 1.800 km de rodovias qualificadas no PPI-SP (Programa de Parcerias de Investimentos do Estado de São Paulo).


Nesta sexta-feira (1º), Tarcísio afirmou que sua equipe planeja atrair R$ 20 bilhões em investimento privado até o fim deste ano. "Estamos falando de uma gestão que vai trazer, em todos os setores, no industrial, na infraestrutura, mais de R$ 1 trilhão nos próximos anos."


O ministro Renan Filho (Transportes), que nesta semana ressaltou à Folha ter realizado mais leilões em um ano e meio do que Tarcísio nos quatro anos de governo Jair Bolsonaro (PL), comandou a venda dos direitos de exploração da Rota do Zebu. O trecho liga as cidades mineiras de Uberaba e Betim, na Grande Belo Horizonte. O certame se encerrou com o arremate da gestora Kinea, por um deságio sobre a tarifa básica de 15,3%. O projeto determina ainda R$ 4,4 bi em investimentos.


Atores conhecidos do público por outras atividades também se destacaram. A firma Engeform Engenharia Ltda, que gere os cemitérios de São Paulo, foi a escolhida pelo governo estadual para construir 17 novas escolas em um ano e meio. Será ainda responsável pela manutenção das sedes por 23 anos e meio.


O das escolas aconteceu na terça-feira (29), sob protestos dos sindicatos.


A previsão é que durante todo o contrato, o governo do estado pague R$ 3,38 bilhões para o consórcio. Em contrapartida, a empresa terá que investir, segundo cálculos do secretariado de Tarcísio, R$ 1,1 bilhão para a construção das escolas e gastar R$ 1,25 bilhão para a manutenção.


O certame já foi judicializado e chegou a ser suspenso pela Justiça, mas liminar sobre o tema foi derrubada pelo presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Fernando Antonio Torres Garcia.


O leilão da Loteria do Estado de São Paulo, por sua vez, teve como protagonista o ex-secretário de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria do antigo ministério da Economia, Alexandre Manoel da Silva, que atuava sob o comando de Paulo Guedes. O certame abriu caminho para a criação da loteria estadual, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de 2020 permitir a concorrência dos entes federativos com a Caixa.


Ainda no governo de Michel Temer (MDB), em 2018, Silva representou a presidência no debate que levou à legalização das apostas esportivas no Congresso em dezembro daquele mesmo ano. Ele foi exonerado em março de 2020 em ato administrativo assinado pelo ex-ministro da Casa Civil Walter Braga Neto.


Com investimento português, Silva retorna ao tema das apostas, agora como ator interessado. O estado, que cobrará uma taxa de 35% sobre as receitas da loteria, espera levantar R$ 3,4 bilhões com a atividade com previsão de inauguração para 2025.


A cifra indica que os negócios devem render R$ 6,3 bilhões ao consórcio Aposta Vencedora liderado por Silva. O governador Tarcísio diz estar certo de que os valores serão ainda maiores.


Veja resultados dos leilões na B3:


Novas escolas em SP (lote 1)


Investimento: R$ 2,35 bilhões

Prazo: 25 anos

Custos para governo: R$ 3,38 bilhões

Serviço de esgoto e água do Piauí


Investimento: R$ 8,6 bilhões

Prazo: 35 anos

Outorga: R$ 1 bilhão

Rota Sorocabana (SP)


Investimento: R$ 8,8 bilhões

Prazo: 30 anos

Outorga: 1,601 bilhão

Rota do Zebu (MG)


Investimento: R$ 4,4 bilhões

Prazo: 30 anos

Deságio no pedágio: 15,3%

Loteria Estadual (SP)


Prazo: 15 anos

Outorga: R$ 600 milhões

Fontes: SPI (Secretaria de Parcerias em Investimentos de São Paulo), Governo do Piauí e Ministério dos Transporte


 


Sem licença para Foz do Amazonas, Petrobras volta a investir na Bacia de Campos para elevar reservas / Empresa prepara plano que deve superar US$ 22 bilhões para revitalizar região. Área, que já foi a maior produtora de petróleo e gás do país, completa 50 anos de descoberta neste mês- O Globo 3/11


Bruno Rosa


A Bacia de Campos, que já foi a principal região produtora de petróleo do país, completa neste mês 50 anos de sua descoberta prestes a recuperar um lugar de destaque na estratégia de crescimento da Petrobras.


Apesar do avanço do pré-sal na Bacia de Santos, a região entre o litoral do Rio e o do Espírito Santo voltou a figurar como aposta prioritária da estatal para elevar suas reservas em meio às incertezas sobre a licença ambiental para explorar a área chamada de Foz do Amazonas, na Margem Equatorial, no litoral norte do país, que já foi negada uma vez.


Na semana passada, um parecer de técnicos do Ibama recomendou a rejeição do recurso da Petrobras, mas o órgão encaminhou novos questionamentos à estatal antes de decidir.


Enquanto responde, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, quer acelerar os investimentos na revitalização da Bacia de Campos, que levou a Petrobras a desenvolver alta tecnologia de produção em águas profundas e colocou a estatal no mapa global do petróleo.


Com essa fronteira petrolífera, em dez anos a companhia triplicou sua produção, até então majoritariamente terrestre, passando de 200 mil barris por dia para 600 mil entre 1974 e 1984.


Agora, segundo a própria Magda, especializada em engenharia de reservatórios, há um potencial de tirar dali a mesma quantidade de óleo e gás produzidos desde os anos 1970, com novos poços, técnicas de revitalização de poços maduros e o reaproveitamento de plataformas, cujas aposentadorias foram suspensas.


Na indústria do petróleo, obstáculos geológicos impedem a retirada de todo o conteúdo dos reservatórios. A Petrobras avalia que é possível tirar mais.


— A produção de Campos tem hoje um fator de recuperação de 17% no seu total. Entendemos que pode produzir nos próximos 40 a 50 anos quem sabe a mesma quantidade de petróleo que produziu até hoje. Estamos voltados para o aproveitamento da Bacia de Campos — disse Magda, recentemente em evento.


A executiva quer acelerar um plano de revitalização da bacia, que ganha corpo desde a década passada, quando a companhia era liderada por Graça Foster. O antecessor de Magda, Jean Paul Prates também iniciou esforços na região, que hoje responde por 20% da produção própria da estatal, cerca de 450 mil barris por dia.


Levando em conta as áreas já em produção, a intenção é alcançar 600 mil até 2028. Para isso, a expectativa é que a Bacia de Campos receba investimentos superiores aos US$ 22 bilhões do último plano de negócios da Petrobras, que está finalizando o novo, para o período 2025-2029, e deve apresentá-lo em dezembro.


Uma das iniciativas é a instalação de cinco novas plataformas nos campos Marlim Leste/Sul, Jubarte, Albacora, Barracuda-Caratinga e Raias Manta e Pintada. A Petrobras já tem hoje em Campos 37 plataformas e 327 poços em 14 campos. Prevê 100 novos poços, que serão interligados às novas unidades de produção e às já instaladas.


Nove áreas devem passar a receber aportes, e a empresa vai buscar novas oportunidades nos campos de produção. “O programa de revitalização da Bacia de Campos é o maior de recuperação de ativos maduros em águas profundas no mundo”, limitou-se a Petrobras em nota.


Enquanto aguarda o sinal verde do Ibama na Margem Equatorial e avança nos estudos do potencial da Bacia de Pelotas, no litoral sul do país, Magda tem dado o tom da nova estratégia que envolve tirar mais de Campos: “Toda gota de petróleo importa”.


Custo é desafio


Recentemente, a executiva revelou que a estatal iniciou estudos para reaproveitar em Campos plataformas que seriam descartadas, como P35, P37, P47 e P19.


Segundo o gerente-geral da Unidade de Negócios de Exploração e Produção da Bacia de Campos da Petrobras, Alex Murteira Celen, a P-51, uma plataforma do tipo submersível, também terá sua vida útil estendida em Marlim Sul.


Ela produz 30 mil barris diários a 175 quilômetros de Macaé em uma profundidade de 1.250 metros. Terminaria a vida útil em 2034, mas, com reforma e manutenção, ficará no mar até 2052. Já estão aprovados investimentos de US$ 600 milhões até 2048.


Luiz Hayum, analista principal de E&P da Wood Mackenzie, vê desafios do plano, sobretudo, na contratação de novas plataformas, cujos preços subiram 40% desde 2021:


— Vemos dificuldades para contratar novas plataformas. Esses projetos (de revitalização) têm margens (de lucro) menores, pois não são tão rentáveis quanto os do pré-sal, e há pouco espaço para absorver custo maior. Soma-se a isso a falta de licença para Foz, o início do estágio exploratório na Bacia de Pelotas e o menor volume de descobertas no pré-sal nos últimos anos. Estamos vendo um problema de renovação de portfólio. Assim, a Petrobras vê novas oportunidades nos campos maduros.


Outros especialistas veem na Bacia de Campos espaço para recuperação adicional, também em curso nas áreas de outras petroleiras, como Shell, Brava, Prio e Equinor. Estima-se que, até hoje, só cerca de 15% de todo o petróleo depositado na região foram extraídos, metade da média de outras regiões produtoras no mundo, como o Golfo do México e o Mar do Norte, que superam 30%, segundo avaliação de Hayum.


Especialistas lembram que, com as novas tecnologias para vencer obstáculos geológicos, a produtividade das áreas em Campos pode elevar o volume recuperável para 40%.


A Petrobras cita o caso do campo de Marlim, onde está a P-51. Com a revitalização, estima ali 860 milhões barris adicionais: “O número considera o total a ser produzido até 2048, previsto para o final do prazo de concessão. Antes da revitalização, a expectativa era de que a produção de Marlim se encerrasse em 2025 com a devolução”, diz a empresa.


Fronteira tecnológica


Segundo consultores, uma vantagem em termos de custo é perfurar novos poços onde já há infraestrutura. Além disso, a Petrobras está na fronteira de tecnologias para revitalizar campos, como as novas técnicas de sísmica 3D e 4D, que capta informações constantemente e permite conhecer a trajetória do petróleo no reservatório, o uso de inteligência artificial na reavaliação de estratégias e a reinjeção de gás e água para facilitar a extração.


Para Rodrigo Almeida, analista do Santander, projetos de revitalização estarão cada vez mais presentes no Brasil, na Petrobras e nas outras petroleiras. Esse esforço não era feito porque havia sempre uma nova fronteira de alta produtividade adiante.


Campos, por exemplo, levou a Petrobras a deixar campos terrestres em segundo plano e acabou passando pelo mesmo ocaso com a descoberta do pré-sal e o deslocamento da maior parte da produção para a Bacia de Santos nos anos 2000.


— Na Europa, a recuperação é maior pois é a única opção. Por isso as empresas desenvolveram técnicas para maior extração. Agora, vemos esse esforço aqui, para otimizar o que temos diante do impasse na Foz do Amazonas.


 


Bacia de Campos pode ter 25 novos blocos leiloados em 2025 / Seis áreas estão no polígono do pré-sal e serão concedidas no regime de partilha de produção. Outras 19 devem ser licitadas modalidade de concessão de oferta permanente- O Globo 3/11


Bruno Rosa


A Bacia de Campos, hoje com 62 áreas produtoras e outros 17 blocos em fase de exploração, tem novas áreas a serem descobertas. No leilão da Agência Nacional do Petróleo (ANP) que deve ocorrer no ano que vem, serão incluídos seis novos blocos, que estão dentro do polígono do pré-sal, sob o regime de partilha.


Além disso, a ANP aprovou na última quinta-feira a indicação de 19 blocos exploratórios na Bacia de Campos para eventual inclusão na Oferta Permanente de Concessão.


Segundo Roberto Ardenghi, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), a busca por mais petróleo na Bacia de Campos é um movimento de todas as grandes petroleiras.


Para ele, com as novas técnicas de reaproveitamento e gerenciamento de reservatórios, a produção nos campos pode subir dos atuais 450 mil barris diários para 800 mil nos próximos anos.


— Está cada vez mais raro encontrar novas reservas. A última grande descoberta foi o pré-sal, há dez anos. Infelizmente ainda não temos licença para a Foz do Amazonas. Então, faz sentido estratégico focar na Bacia de Campos. A Petrobras possui tecnologia para aumentar essa produção. Campos tem um petróleo mais viscoso, o que dificulta a extração. Por isso, a parcela recuperável é menor (cerca de 15%) em comparação com onde o petróleo é mais leve, como no pré-sal. Com as novas técnicas de estimulação, podemos ver o volume recuperável chegar a mais de 40% — diz.


Ardenghi ressalta que o fato de já haver infraestrutura e conhecimento das reservas ajuda a reduzir os custos de operar na região:


— Campos é relevante. Se não fosse, a ANP não colocaria em leilão.


 


PT tentou relatoria do Orçamento, mas aceitou LDO em negociação de apoio a Motta / Parecer da Lei Orçamentária Anual de 2026 deve ficar com União Brasil- Painel – Folha SP 3/11


Danielle Brant/ Ranier Bragon


O PT tentou negociar a relatoria da LOA (Lei Orçamentária Anual) de 2026 em troca do apoio ao candidato Hugo Motta (Republicanos-PB) na disputa pela presidência da Câmara, mas acabou tendo que aceitar a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), segundo integrantes do partido.


Durante as negociações, o PT foi informado de que a relatoria da LOA deve ficar com o União Brasil, embora o MDB ainda pleiteie o posto. Por isso, o partido aceitou relatar a LDO, que fixa os parâmetros para elaborar e executar o Orçamento do ano seguinte.


Neste ano, a relatoria da LDO e da LOA ficaram a cargo dos senadores Confúcio Moura (MDB-RO) e Angelo Coronel (PSD-BA), respectivamente —os dois projetos precisam ser votados até o fim do ano sob pena de o governo iniciar 2025 com limites à execução orçamentária.


Além da LDO, a negociação pelo apoio de Motta envolveu a indicação a uma vaga no TCU e também a avaliação do partido de que era necessário dar governabilidade ao presidente Lula (PT) em seus dois últimos anos de mandato.

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