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Fabio Alves

 FÁBIO ALVES: QUEM AINDA SEGURA O REPASSE CAMBIAL SOBRE OS PREÇOS?

Ao longo dos últimos meses, o dólar pulou de R$ 5,30 para R$ 5,60 (a cotação de referência na última reunião do Copom) e, na sexta-feira passada, fechou a R$ 5,8694, acumulando alta de 7,42% nos últimos trinta dias e de quase 21% desde o início deste ano. Fica difícil não imaginar, com o dólar nesse patamar, sobre o repasse da depreciação cambial para os preços da economia. O alívio de hoje, com o dólar recuando ao redor de 1%, para a faixa de R$ 5,81, pode ter vida curta. É visto mais como uma trégua, depois de o ministro Fernando Haddad ter cancelado sua viajem à Europa. Se quando o dólar tivesse atingido R$ 5,60 e tivesse recuado um pouco ou mesmo tivesse se mantido nesse patamar, talvez o tema de “pass-through” do câmbio não começasse a ficar tão evidente. Mas agora, caso Donald Trump vença a eleição e o pacote de cortes de gastos do governo Lula não agrade ao mercado, não seria mais possível imaginar a moeda americana cedendo desse patamar atual. E o agravante é o ambiente econômico no Brasil, mais aquecido do que se esperava. Com os números do último Caged (criação de mais de 247 mil vagas de trabalho com carteira assinada em setembro) e da Pnad Contínua (com a taxa de desemprego no trimestre até setembro caindo para 6,4%, a menor para o período de toda a série histórica do IBGE), o espaço é maior para as empresas repassarem para os preços de serviços e de bens a alta no dólar. Isso porque está cada vez mais evidente de que a moeda americana mudou de patamar em relação ao real brasileiro. Sem falar no aumento da massa de renda e dos dissídios salariais acima da inflação, o que vem mantendo a demanda aquecida. Um renomado economista, em conversa com esta coluna, diz acreditar que o repasse cambial aos preços ao consumidor ainda não está tão óbvio, porém já esteja acontecendo nos preços agropecuários no atacado, que, além do câmbio, refletem outros fatores, como as secas e queimadas. “Se o dólar ficar nesse nível, o IPCA grita, sim, mas leva um tempo”, argumenta a fonte acima. “A esperança é que o nível do dólar ceda, mas haja reza.” Só para lembrar: o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) acelerou a 1,52% em outubro, após alta de 0,62% em setembro. Com esse resultado, o índice acumula alta de 5,59% nos últimos 12 meses. Em destaque no IGP-M de outubro: o avanço do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M), com alta de 1,94%, após subir 0,70% em setembro. Vale também ressaltar o que disse o comunicado da última reunião do Copom. Entre os três riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas, o Copom destacou o seguinte: “Uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada”. Ou seja, no comunicado da sua última reunião, o Copom questionava se o nível do dólar naquela ocasião seria persistente ou temporário. E naquele Copom, a cotação de referência foi de R$ 5,60. De lá para cá, não só o dólar não recuou, como agora já ultrapassou o patamar de R$ 5.80. Portanto, se o ambiente externo (leia-se, o desfecho da eleição presidencial americana) e o cenário interno (leia-se, o pacote de corte de gastos do governo) não registrarem uma melhora, fica difícil ver o dólar abaixo de R$ 5,80. Nesse caso, o tema “repasse cambial aos preços ao consumidor” poderá ganhar um destaque maior entre os analistas. Já os agentes econômicos poderiam até ter esperado para ver o que poderia acontecer quando o dólar ainda era negociado ao redor de R$ 5,60. Mas se a moeda americana ficar por mais tempo na faixa de R$ 5,80, fica difícil ver empresários e outros agentes econômicos represando o repasse cambial. (fabio.alves@estadao.com) Fábio Alves é jornalista do Broadcast

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