quinta-feira, 8 de junho de 2017

Despedidas (5)

Nesses dois anos, exceto, naturalmente, pelas idas ao Brasil, que contam cada vez menos como lazer, nos praticamente nao viajamos. Muitas razoes para isso. A primeira e’ que, estando em NY, a vontade de ir a outros lugares e’ normalmente menor. Nao se fica entediado aqui, procurando outros lugares para ver. Ha’ um efeito atracao, e’ claro, ha’ outros lugares que da’ vontade de ver ou rever, mas nao ha’ o efeito expulsão, a compulsão de ir para outro lugar para fugir de onde se esta’. Fernanda queria (re)ver outros lugares, certamente nao por tedio de ficar aqui, antes pelo contrario, ela gosta de NY ainda mais do que eu. Quando vivíamos em New Jersey nos anos 80, com uma bolsa do CNPq, as possibilidades de vir a NY eram limitadas. Mesmo assim, nao se passavam muitas semanas antes que Fernanda pusesse uma maca (eu nao tenho acentos, e’ apple aqui) na bolsa, pegasse o trem e viesse passar o dia na cidade (eu tinha menos liberdade por causa das exigências do doutorado). Mas, enfim, ha’ sempre uma boa razao para ficar na cidade. Por outro lado, viajar com crianças e’ sempre muito mais complicado (agora nem tanto, ja que ambos os pirralhinhos passaram para uma fase em que a estrutura necessária para fazer uma viagem e’ menor). A carga a transportar, qualquer que seja o destino ou a duracao da viagem, nao era facil (ficar longe deles, ainda mais dificil). Terceiro, o custo de viajar por aqui e’ muito alto. Trens são caros, nem sempre confiaveis (a Amtrak esta’ sempre com um pe’ na cova, e frequentemente com todos os quarto), hoteis tambem, e precos sao sempre mais altos nas ocasiões mais propicias a viagens. Esse custo, e’ claro, e’ alto tambem porque as distancias aqui sao muito maiores (em comparacao com Portugal, onde zanzamos muito mais pelo pais). Por ultimo, ha’ o habito familiar, que Madalena tambem ja absorveu, de que toda viagem envolve um complexo e prolongado processo de planejamento que geralmente se conclui quando ja’ e’ tarde demais e tem de ser reiniciado do zero quando outra meta e’ definida. 
A excecao, para nos, acabou sendo, e assim mesmo em pequeno numero, o vale do Hudson, onde temos amigos extremamente proximos. Agora mesmo acabamos de voltar de um fim de semana mais longo por la’ (ha’ um monte de fotos de passaros, comida, especialmente a feijoada que Fernanda preparou no sabado, e pessoas sendo postadas aqui no fb postadas pela Fernanda e pela Madalena desse fim de semana). A regiao, onde fica o Bard College, onde lecionei nesses dois anos, e’ muito bonita, especialmente na primavera, como agora, e no outono, quando as folhas amarelam e envermelham e as arvores se preparam para hibernar no inverno. Numa dessas idas, visitamos em Hyde Park, a casa onde nasceu Franklin Roosevelt, que se tornou um parque nacional e onde estao enterrados ele e Eleanor Roosevelt. Foi uma visita muito emocionante para nos, a casa onde vivia a familia e para onde FDR sempre ia, quando nao estava em Washington ou em Warm Springs, a estacao de aguas onde ele tratava sua polio. FDR e seu tempo na presidencia americana, onde enfrentou uma depressao e a Guerra, ha’ anos sao meu interesse intelectual mais forte, mas a conexao vai alem disso, focalizando o cidadao que enfrentou os piores momentos do seculo vinte, mantendo o sistema politico aberto, enquanto o mundo se consumia no nazi-fascismo ou era engolfado pelo stalinismo.
No final, minha memoria de viagens desta vez vai ser preenchida pela imagem das margens do Rio Hudson por onde ia, todas as quartas-feiras, meu trem para Rhinecliff, onde me esperavam para me levar ao Levy Institute. Eu ainda tenho uma viagem a fazer para la’, em duas semanas que vem, mas a rigor essa despedida ja foi feita, quando o semestre acabou.

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