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Despedidas (3). Cardim falando de NY

A rigor, nos não estamos nos despedindo de Nova York, nos estamos nos despedindo de Manhattan. Fernanda ate’ que menos, ja’ andou mais para fora da ilha, um pouco para Astoria, Queens, onde ficam os supermercados que vendem coisas brasileiras, inclusive algumas que ja não encontrávamos no Brasil ha’ anos (como os dadinhos Quarto Centenário: quem for paulista e pelo menos da minha geração sabe do que estou falando), e um pouco, bem menos, pelo Brooklyn. Eu saio da ilha meio arrastado e me lembro de ter feito isto duas vezes nestes dois anos. Uma noite para ir ao BAM (Brooklyn Academy of Music) ver Isabella Rossellini e Jeremy Irons apresentarem uma biografia de Ingrid Bergman), outra para ir a casa de um velho amigo (na verdade, filho de velhos amigos). NY se divide em 5 boroughs: Manhattan, Bronx, Queens, Brooklyn e Staten Island. Staten Island, do outro lado da foz do Hudson, e’ o que menos tem a ver com a cidade, quase nunca se ouve falar e quando se ouve, não é boa coisa. Queens e Brooklyn, como boa parte de Manhattan, foram áreas de imigração forte, Queens continua sendo. E’ um bairro meio folclórico, especialmente por causa da comunidade judia, que Neil Simon costumava retratar em suas pecas, e depois pelos russos, que trouxeram consigo sua mafia. Brooklyn se gentrificou e virou área boemia. O Bronx continua sendo a area mais barra pesada, renda baixa, onde se concentra a comunidade negra, nos projetos habitacionais que se faz aqui pelo menos desde os anos FDR. Pois e’, nisso tudo, estamos e ficamos a esmagadora maior parte do tempo em Manhattan, que e’ afinal a ideia que todo mundo faz realmente de NY. Quando se visita, se percebe que e’ uma cidade cara. Quando se vive aqui, se percebe que e’ uma cidade cara pra cacete. Alugueis são sempre, uniformemente muito altos (quando aparece uma exceção, em geral não vale a pena olhar, porque e’ um buraco). E nao se pode pensar muito. Se voce disser ao corrector que vai pensar, o cidadão que esta’ parado atras de você ja grita “I’ll take it”. Eu nao estou exagerando, nos perdemos um ou outro imóvel quando chegamos porque resolvemos conversar a respeito! E’ obvio que morar em Manhattan teria de ser caro, mas e’ caro mesmo assim. Vale a pena, mas e’ caro.
Manhattan e’ um lugar para se andar. A cidade e’ basicamente plana, ou com ondulações tao leves que na maior parte das vezes nem se percebe que se esta’ subindo e descendo. As exceções sao poucas. Uma característica curiosa daqui e’ que nao tem um “centro”. Ha’ cidades onde o centro e’ pequeno, ha’ lugares com mais de um centro (como SP, que tem o novo e o velho). Manhattan simplesmente nao tem centro em nenhum sentido. Ha’ naturalmente os lugares onde ha’ mais gente, por causa do numero sempre muito grande de turistas que inundam areas especificas, como a Times Square, para alegria dos batedores de carteira e outros que vivem de tomar dinheiro dos visitantes. Mas nao ha’ centro, a cidade e’ uma coleção de bairros com suas características que servem todos de centro para alguma coisa. O Village e’ um centro, o Soho e’ um centro, o Upper East Side, onde vivemos, e’ outro centro, e ha’ muitos outros. A propria palavra que se usa para designar centro em qualquer outra cidade, downtown, aqui quer dizer downtown mesmo, a parte sul da cidade. Depois vem midtown e o uptown (onde tem o Upper West Side, do outro lado do Central Park) e o Upper East Side, onde estamos nos. Nos costumamos andar muito, mas quase sempre pelo lado leste. Manhattan nao e’ uma cidade europeia, onde se vai tendo surpresas quando se caminha, porque tudo e’ curvo e meio Escondido. Aqui e’ uma grade. Das avenidas é possível ver uma ponta e as vezes as duas. E’ a escala enorme de tudo que e’ fascinante, misterio mesmo nao tem. E, naturalmente, quando se quer simplesmente relaxar, vai-se ao Central Park, que cobre da rua 60 a rua 120, por ai vai. Tem florestas, lagos, ate’ cachoeiras (eu nao vi, Fernanda, quem anda muito mais por aqui, quem viu num passeio guiado). Nos estamos a uma quadra e meia do East River, ao lado da estação do bondinho para a Roosevelt Island, onde vamos com alguma frequência levar as crianças para brincar e andar de skate. De vez em quando escolhemos algum outro ponto da ilha para andar pelas ruas e Fernanda tirar as milhares de fotos que acumulou aqui. Para quem nasceu e cresceu em cidades grandes (a menor cidade em que vivi foi Campinas, nos anos 70, e assim mesmo por ano e meio) aqui é uma delicia.

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