quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Jacques Wagner

 Em meio às articulações nos bastidores em torno da aprovação do PL da Dosimetria, o líder do governo no Senado Federal, Jaques Wagner (PT-BA), pediu a parlamentares da oposição para “amolecer o coração” em torno da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF) – que ainda precisa ser confirmada pela Casa. Jaques Wagner disse a pelo menos dois colegas que havia feito “um gesto” ao não colocar empecilhos na aprovação do PL da Dosimetria, que acabou aprovado sem dificuldades pela Casa nesta quarta-feira (17), com 48 votos favoráveis e apenas 25 contrários – todos os nove senadores do PT rejeitaram o texto, que deve encurtar o tempo de prisão de Jair Bolsonaro e resultar na liberdade de centenas de outros condenados pelo Supremo nas investigações dos atos golpistas do 8 de Janeiro. Em troca, pediu aos oposicionistas para “amolecer o coração” com Messias, que enfrenta forte rejeição na Casa, especialmente da tropa de choque bolsonarista. Messias foi chefe de gabinete de Wagner. Em público, o líder do governo disse que pediu apoio da oposição para a análise de um texto considerado prioritário pela equipe econômica, que trata do aumento da tributação de bets e fintechs. O petista afirmou à imprensa que fez o acordo com a oposição sem consultar o presidente Lula ou a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann – e afirmou que “quem tá na política tem que se arriscar”. A oposição vê Messias como “quadro ideológico” do PT e “homem de confiança” de Lula e Dilma Rousseff e pretende constrangê-lo na sabatina revisitando um dos episódios mais emblemáticos da Operação Lava-Jato: a divulgação de um áudio, de março de 2016, em que Dilma avisa Lula que “Bessias” vai lhe entregar o termo de sua posse como ministro da Casa Civil. A nomeação de Lula acabou suspensa pelo ministro do STF Gilmar Mendes, o que pavimentou o caminho da queda do governo Dilma. ‘Peru de Natal’ A postura de Wagner de não criar empecilhos para a aprovação do PL da Dosimetria foi duramente criticada pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), integrante da base lulista na Casa. “Estou exercendo o meu quarto mandato nesta Casa. Mas nunca vi, numa questão transcendental como essa, alguém, em nome do governo, fazer um acordo e dar peru de Natal ao golpismo”, disse Renan. Para superar resistências internas no Senado, aliados de Messias acreditam que ele vá contar com um apoio importante, mas silencioso para conseguir a aprovação: o da bancada evangélica do Senado. Um estudo do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), aponta que a bancada evangélica saltou de 7 para 13 senadores entre as eleições de 2018 e 2022. Conforme informou o blog, lideranças evangélicas apostam na indicação de Jorge Messias para reforçar o “bloco conservador” do Supremo – e, assim, impedir o avanço do que chamam de “pauta de costumes”, como a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, o uso de banheiro por transexuais e a proibição da presença de crianças e adolescentes em paradas do orgulho LGBTQIA+. Caso supere a resistência no Senado e obtenha os 41 votos necessários para confirmar a sua indicação, Messias ocupará a vaga aberta com a saída de Luís Roberto Barroso, que decidiu antecipar a aposentadoria em outubro. Pesa a favor de Messias o histórico de votações no Senado. Na história da República, apenas o presidente Floriano Peixoto teve indicações rejeitadas pela Casa — cinco ao todo, todas em 1894, entre elas a do médico Barata Ribeiro, que batiza rua no bairro de Copacabana, no Rio.

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