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Millôr Fernandes

 Millôr, que definiu o Brasil como o 'país do oximoro', ganha biografia que vai além da figura pública

Historiadora Andréa Queiroz apresenta novo trabalho após dez anos de árdua pesquisa

Por Nelson Lima Neto

06/12/2025 10h00  

O jornalista Millôr Fernandes em seu ateliê, em Ipanema — Foto: Leonardo Aversa / 21-09-1994


Esta e outras frases célebres da crônica nacional têm a assinatura de Milton Viola Fernandes, o grande Millôr Fernandes (1923-2012), que ocupa a prateleira mais alta do jornalismo. O carioca que fez de Ipanema seu quintal tem sua trajetória contada no livro “De Milton a Millôr: a trajetória de um jornalista ipanemense, pasquiniano e sem censura” (Appris), da historiadora Andréa Queiroz, cujo lançamento acontece neste sábado, no Cafezin Trem das Gerais, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio. A obra é o resultado de dez anos de pesquisa que vai além da figura pública, apresentando desde o menino órfão do Méier até o intelectual que transformou humor em crítica e marcou a imprensa alternativa.


“Acredito que Millôr, ao lado de outros cronistas de sua geração, foi um dos grandes criadores da ‘Cultura do Carioquismo’, que apresentava o Rio de Janeiro como metonímia do Brasil, justamente num período em que a cidade era a capital federal”, afirma a autora, que também detalha no livro a suposta invenção do jornalista: o frescobol (foto).


Millôr foi um jornalista artesanal, como define a Andréa. Aprendeu o ofício tendo começado na revista O Cruzeiro como contínuo, e assim foi conhecendo todo processo produtivo.


Não é possível ignorar, também outra grande invenção junto da patota d’O Pasquim, a chamada “República de Ipanema”. Ele projetou em suas crônicas a sua Ipanema ideal, onde fez morada — o escritor virou escultura na orla do bairro — e deixou o seu legado, e que muitas vezes se contrastava com a Ipanema real.


A autora aproveita para listar outras três frases marcantes do mestre:


“Livre pensar é pensar.”

“Sou um carioca de algema. Não me vejo em outro lugar que não seja o Rio.”

“Nós, os humoristas, temos bastante importância para ser presos e nenhuma para ser soltos.”

Por falar em Millôr...

O mestre dizia que vivíamos no país do oximoro — expressões formadas por termos de sentidos opostos, como “o grito do silêncio”. Costumava citar o exemplo da Escola Superior de Guerra: sendo de “guerra”, não poderia ser “superior”. É o caso do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), que faz lobby contra o projeto que eleva a taxação da jogatina. Sendo “jogo”, não poderia ser “responsável”. Com todo respeito.

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