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Anderson Correia

 Sobre as Defesas de Tese

Tenho visto muita ineficiência nas defesas de tese. Queria relatar algumas delas aqui e gostaria de saber se vocês já passaram por isso. Acho que isso afeta a qualidade da pós-graduação Brasileira.

Em primeiro lugar, a escolha dos membros da banca, baseada muito no relacionamento e não na competência. Nós temos hoje tantas ferramentas disponíveis para inserir palavras-chave sobre os temas da defesa e encontrar os melhores especialistas, mas tantos orientadores insistem em trazer os amigos e colegas do próprio network, às vezes pessoas que não tem expertise, nem independência para fazer as avaliações do trabalho. E porque não pensar em gente da indústria também?

Sobre o momento da defesa em si, percebo que muitos não entendem seus papéis. Há membros que esquecem que estão ali para avaliar os candidatos e ficam tentando provar que sabem do assunto. Ao invés de fazer perguntas aos candidatos, querem dar uma palestra sobre o tema. Ora, se alguém foi convidado para uma banca, é porque teoricamente é reconhecido. Vejo gente que gasta mais de uma hora na arguição, irritando todo mundo. E o pior é que não faz uma pergunta sequer, nem vai direto ao ponto nos assuntos mais importantes. Faça um favor a todos, se você for convidado para uma banca, fale pouco, pergunte mais e busque avaliar aquilo que está escrito na tese e que foi apresentado: você está em um exame de tese, portanto, seja um examinador. O show não é teu, mas sim do candidato.

Outro ponto, tem gente que não sabe medir a dimensão do trabalho. Querem ineditismo de um trabalho de mestrado. O nome já diz: "dissertação de mestrado", então é para dissertar... As grandes descobertas estarão no doutorado. Não se pode cobrar algo profundo demais de quem fez um trabalho em nível de mestrado, com muito menos tempo e recursos de pesquisa.

Finalmente, sobre as sugestões para a tese. Não é papel da banca reescrever o trabalho, mas avaliá-lo. Se está ruim, que seja reprovado, mas de resto, respeite o trabalho escrito. Tem banca que quer mudar o título da tese, que horror. É uma propriedade intelectual do formando, não deveria ser alterado por pessoal que vem avaliar. E tem gente que fica sugerindo inserir capítulos a mais, ou fundir outros. Membro de banca não é orientador do trabalho. Ficar fazendo estas sugestões é até ofensivo. Um doutorando gasta 4 anos escrevendo um trabalho e vem alguém que nem se envolveu com o estudo sugerindo mutilar o documento. Discordo totalmente.

E o pior de tudo: o orientador traíra. Vê o aluno sofrendo inúmeros ataques da banca e na hora da sua fala, ao invés de defender o orientado e ajudar na explicação, continua os ataques, pulando do outro lado da cerca, como se o trabalho não tivesse nada a ver com ele. Isso é vergonhoso.

Eu já participei de pelo menos umas 100 bancas e vi estas gafes na maioria delas.

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