*Rosa Riscala: Sangue-frio à espera da resposta do Irã*
… Os mercados surpreenderam na abertura dos pregões asiáticos, com perdas moderadas aos ataques dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã, neste sábado. O petróleo Brent registrou alta de 5%, pouco acima de US$ 80, uma pressão bem razoável, diante das previsões mais alarmistas de que pode […]
… Os mercados surpreenderam na abertura dos pregões asiáticos, com perdas moderadas aos ataques dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã, neste sábado. O petróleo Brent registrou alta de 5%, pouco acima de US$ 80, uma pressão bem razoável, diante das previsões mais alarmistas de que pode ir a US$ 100 se os conflitos no Oriente Médio se agravarem. Investidores ainda buscavam os ativos de segurança, como dólar e Treasuries, mas sem pânico, à espera de uma reação do Irã que possa atingir o fluxo de energia. Ainda há poucas informações sobre o que se deve esperar como consequências. A principal expectativa é se o Irã fechará o Estreito de Ormuz, por onde passa 20% do petróleo que abastece o mundo, o que pode gerar uma crise com efeitos inflacionários às economias globais.
… Na Bloomberg TV, Bob McNally, presidente da Rapidan Energy Advisers, explicou que o mercado está “um pouco imune a perturbações geopolíticas” e que deve reagir com certa moderação, pelo menos, até que os fluxos de petróleo sejam afetados.
… “Tivemos vários alarmes falsos. A invasão russa da Ucrânia foi um deles. Os preços do petróleo dispararam, mas não houve interrupção. Os traders esperam para ver se o Irã retaliará. Até agora, ninguém puxou o gatilho. Se não o fizerem, o preço se reverterá.”
… Um primeiro sinal de que a situação pode não sair do controle foi a reação dos aliados do Irã, que condenaram veemente o ataque dos Estados Unidos, mas limitaram-se à manifestação retórica, inclusive China e Rússia, sem oferecer apoio efetivo.
… Israel não mostra disposição para diminuir os ataques ao Irã após a ação em Fordow, Natanz e Isfahan, mas o papel dos EUA na guerra parece indefinido. As declarações de Trump soam contraditórias sobre o que seu governo pretende fazer a partir de agora.
… Em seu primeiro pronunciamento, ainda no sábado à noite, o presidente americano exigiu que o Irã parasse de atacar Israel e voltasse à mesa de negociações. “Ou haverá paz ou haverá tragédia para o Irã”, disse ele, ameaçando com novas ações militares.
… Já outras fontes da Casa Branca, inclusive o vice-presidente, JD Vance, dizem que os EUA não estão em guerra com o Irã, mas com o seu programa nuclear. “Não queremos uma mudança de regime [como Israel quer]. Não queremos prolongar isso.”
… Trump diz que as instalações nucleares foram “totalmente destruídas” pelas bombas lançadas pelas forças americanas, mas as imagens de satélite não comprovam isso. Isso pode fazer a diferença para o Irã? A AIEA diz que não há sinais de contaminação radioativa.
… Em postagem nas redes sociais, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araqchi, classificou os ataques dos EUA às instalações nucleares como “ultrajantes”, prometendo que eles terão “consequências eternas”.
… O parlamento iraniano pediu o fechamento do Estreito de Ormuz, segundo a TV estatal iraniana. Tal medida, no entanto, não poderá ser realizada sem a aprovação explícita do Líder Supremo, o Aiatolá Ali Khamenei, que não disse nada até agora.
… Teerã poderá, também, optar por outras retaliações, como atingir a infraestrutura de petróleo de fornecedores rivais no Oriente Médio, entre os quais, Arábia Saudita, Iraque ou Emirados Árabes. Riad e Bagdá já manifestaram preocupação com o ataque dos EUA.
… O Irã poderia ainda promover ataques a navios no Mar Vermelho, contando com rebeldes houthis baseados no Iêmen.
… Se as hostilidades se intensificarem, as capacidades de produção de petróleo de Teerã poderão ser alvos, incluindo o importante centro de exportação da Ilha de Kharg. Tal medida elevaria os preços do petróleo bruto, o que os EUA talvez queiram evitar.
… Nos últimos meses, a OPEP+ vem flexibilizando as restrições à oferta em ritmo acelerado, buscando recuperar participação de mercado, e, mesmo assim, seus membros ainda têm mostrado capacidade ociosa substancial que poderia ser reativada.
… O mercado de petróleo tem sido afetado pela crise desde que Israel atacou o Irã há mais de uma semana, com os contratos futuros em alta, os volumes de opções disparando junto com as taxas de frete e a curva de futuros se deslocando para refletir as tensões.
… O Oriente Médio responde por cerca de um terço da produção global de petróleo bruto, e preços mais altos e sustentados aumentariam as pressões inflacionárias em todo o mundo. O ataque dos EUA pode ser uma conflagração do conflito.
… Investidores testam o sangue-frio, mas estão atentos e qualquer movimento pode desencadear uma rápida e brusca mudança.
… Ainda na Bloomberg, Helima Croft, chefe de estratégia global de commodities do RBC, alerta que não se pode dizer que o pior já passou.
… “Pode levar alguns dias ou até semanas para discernir a resposta iraniana a este ataque sem precedentes às suas instalações nucleares e ao seu pessoal-chave. Uma expansão mais ampla [do conflito] ainda não pode ser descartada neste momento.”
… Analistas avaliam que, embora os representantes de Teerã, como Hezbollah e Hamas, estejam enfraquecidos, não foram eliminados.
… Hoje, reunião de emergência da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está marcada para discutir o ataque ao Irã, enquanto o ministro das Relações Exteriores iraniano, Seyed Abbas Araghchi, deve se encontrar com Putin.
AGENDA DA SEMANA – O testemunho de Powell no Congresso dos EUA – amanhã (3ªF) na Câmara e 4ªF no Senado – vem a calhar para comentar o agravamento da guerra Israel-Irã e os riscos de alta do petróleo e pressões inflacionárias.
… A semana terá ainda as falas de vários outros membros do Fomc, que tendem a seguir a linha de cautela, com exceção de um ou outro integrante mais dovish, como Christopher Waller (hoje), que defende a possibilidade de corte de juros a partir de julho.
… Entre os indicadores nos EUA, o PCE de maio na 6ªF pode estar comprometido pelas novas expectativas para o petróleo. Um dia antes, na 5ªF, a leitura final do PIB/1Tri americano deve confirmar a retração provocada pelas importações antecipadas às tarifas.
… Hoje, várias prévias do índice PMI composto de junho serão divulgados, na Zona do Euro, Alemanha, França, Reino Unido e EUA (10h45). No Japão, o indicador subiu de 50,2 em maio para 51,4, indicando expansão.
… A presidente do BCE, Christine Lagarde, tem três pronunciamentos previstos para a semana, o primeiro deles hoje (10h), e também deve comentar sobre o agravamento dos conflitos no Oriente Médio e os riscos inflacionários com o eventual encarecimento do petróleo.
… Entre os Fed boys, além de Waller (5h), falam hoje Michelle Bowman (11h), Austan Goolsbee (14h10) e Adriana Kugler (15h30).
… Ainda nos EUA, saem as vendas de casas usadas em maio (11h) e na Zona do Euro, a prévia da Confiança do Consumidor de junho (11h).
NO BRASIL – A expectativa é para a ata do Copom (amanhã), que elevou a Selic de 14,75% para 15%, e descartou cortes do juro este ano, avisando, inclusive, que pode voltar a subir o juro se as expectativas inflacionárias não convergirem para a meta de 3%.
… A semana ainda tem indicadores importantes, como os dados das transações correntes de maio (4ªF), o IPCA-15 de junho (5ªF) e dados do emprego, com o Caged e a taxa de desemprego do IBGE (6ªF). Na 6ªF, também será divulgado o IGP-M de junho.
… Hoje, mais uma pesquisa Focus (8h25) atualiza as projeções do IPCA, com destaque para as expectativas futuras, e da Selic. Um pouco antes (8h), sai o IPC-S semanal. E, às 15h, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulga o saldo semanal da balança comercial.
… Em Brasília, o Congresso pode ter mais uma semana esvaziada pelas festas juninas, quando parlamentares permanecem em suas bases, mas com o ministro Fernando Haddad de volta das férias, podem surgir novidades sobre a política fiscal.
MEDINDO FORÇAS – Apesar da promessa do Copom de manter os juros elevados por período “bastante prolongado”, em vez de apenas “prolongado”, como na comunicação anterior, o mercado foi para cima do BC.
… Insensível à intenção do comitê de Galípolo de afastar a perspectiva de cortes precoces da Selic até a metade do ano que vem, parte da curva do DI se lançou à especulação de que a taxa básica já possa cair em jan/2026.
… É verdade que esta aposta mais ousada deve ser corrigida no caso de o choque externo da guerra explodir os preços do petróleo nestas próximas semanas a ponto de configurar sério risco à pressão inflacionária doméstica.
… Também a ata do Copom ainda pode virar esta onda dovish, que desafia o conservadorismo do comunicado.
… Mas no pregão regular da última 6ªF, um dia antes de os EUA atacarem o Irã, cálculos ao Broadcast do economista Carlos Lopes (do Banco BV) indicaram no DI um terço de chance de a Selic cair 25pb em janeiro.
… A probabilidade maior, no entanto, ainda se concentra em um relaxamento em abril. Março também tem adeptos.
… Entre os bancos, o JPMorgan está mais arrojado do que os próprios traders, antecipando queda do juro em dezembro/25, com a Selic terminando 2026 em 10,75%, ou seja, redução acumulada de 4,25pp. A expectativa intermediária segue em 12,50%.
… Uma grande vantagem de o Copom ter adotado um tom superhawkish é que acabou se protegendo contra o cenário ainda altamente incerto em relação ao conflito no Oriente Médio e protecionismo econômico de Trump.
… A trégua nas tarifas recíprocas termina em 9 de julho e a demora nas negociações acende o sinal amarelo.
… Na volta do feriado de Corpus Christi, a curva do DI só respeitou o recado duro do Copom na ponta curta, com alta das taxas. Já o trecho médio e longo recuou, acreditando que o ciclo de aperto acabou e antecipando cortes.
… No fechamento, o DI para Jan/26 subiu a 14,960% (de 14,868% no ajuste anterior) e o Jan/27, a 14,270% (de 14,250%). Já o Jan/29 caiu a 13,390% (de 13,550%); Jan/31, a 13,510% (13,705%); e Jan/33 a 13,590% (13,771%).
… A primeira reação do câmbio ao Copom firme, que eleva o diferencial de juro e reforça a atração de k externo no curto prazo, foi de alívio no dólar para R$ 5,4696 na mínima pela manhã. Mas o bom humor não durou.
… A falta de medidas concretas na reunião entre diplomatas europeus e iranianos, realizada em Genebra, e o desprezo de Trump às negociações (“o Irã não quer conversar com a Europa”) deixaram o mercado na defensiva.
… O dólar zerou toda a queda observada na primeira metade do dia e fechou em alta de 0,44% (R$ 5,5249).
DORMIU VENDIDO EM RISCO – Já de largada na 6ªF, o Ibovespa tinha contratada a reação negativa ao plano do Copom de manter a Selic alta por muito tempo. Ao longo do dia, a tensão externa só aprofundou a cautela.
… O índice à vista da bolsa doméstica queimou 1.600 pontos e fechou em baixa de 1,15%, na faixa dos 137 mil pontos (137.115,83). O volume financeiro de R$ 31,3 bilhões foi inflado pelo exercício das opções sobre ações.
… Os interesses dos vendidos, em dia de vencimento, derrubaram a Vale (ON, -2,58%, a R$ 49,92), apesar da alta de quase 1% do minério. Petrobras PN caiu 0,27% (R$ 32,82), mas ON avançou 0,45% (R$ 35,91).
… Os papéis dos bancos recuaram em bloco: Itaú, -0,52% (R$ 36,64); Bradesco PN, -0,84% (R$ 16,62); Bradesco ON, -1,11% (R$ 14,29); Santander unit, -2,03% (R$ 29,47); e BB ON registrou desvalorização de 2,11% (R$ 21,35).
… Lá fora, apesar da turbulência com o Irã, o petróleo Brent realizou lucro (-2,33%; US$ 77,01) e praticamente zerou tudo o que saltou no pregão anterior (+2,8%). Mas hoje, já abriu a US$ 81,40, em alta de 5,7%.
… Pressão defensiva à vista também para o dólar, que na 6ªF se ajustou em queda ao comentário do Fed boy dovish Christopher Waller, defendendo que os EUA têm condição de cortar o juro já na próxima reunião, no mês que vem.
… Para ele, o efeito das tarifas deve ser pontual e não causar inflação persistente. Trump deve ter aplaudido a defesa pelo alívio na política monetária, mas a opinião de Waller não é compartilhada por todos os seus colegas.
… Tom Barkin (Fed/Richmond) reverberou a falta de pressa de Powell em reduzir a taxa de juros e recomendou que não seja ignorada prematuramente a hipótese de um pico da inflação nos EUA, que segue acima da meta.
… Na mesma linha de pensamento, Mary Daly (Fed/São Francisco) projetou o horizonte de um corte mais para frente. “Espero mais o outono [setembro a novembro nos EUA] do que julho”, disse, segundo o ForexLive.
… Apesar da divisão interna no Fed, o índice DXY do dólar testou uma queda com a fala dovish de Waller.
… Caiu 0,20%, a 98,707 pontos. O euro ganhou 0,21%, negociado a US$ 1,1525. O HSBC espera que a moeda do bloco europeu suba para US$ 1,20 no 4Tri, com a política tarifária e fiscal de Trump desestabilizando o dólar.
… A libra recuou 0,11%, a US$ 1,3448 no último pregão, e também o iene fechou em queda, a 146,12/US$.
… Num misto de reação ao corte de juro defendido por Waller em julho e ao clima de alerta com o Irã, caíram os juros dos Treasuries de 2 anos (3,905%, de 3,934% antes do feriado nos EUA) e 10 anos (4,379%, de 4,384%).
… No ambiente de esperar para ver o que poderia rolar no final de semana em relação ao conflito do Oriente Médio, as bolsas em NY anularam os ganhos iniciais e exibiram alguma procura por posições defensivas.
… Dow Jones estável (+0,08%, a 42.206,82 pontos); S&P 500, -0,22% (5.967,82); e Nasdaq, -0,51% (19.447,41).
EM TEMPO… Pressionada pelo ala baiana do governo (Rui Costa e Jaques Wagner) e o ministro Alexandre Silveira, a VALE mantém estudos para comprar a mineradora Bamin, sediada na Bahia, segundo O Globo…
… Altamente endividada, a Bamin estaria precisando de investimentos bilionários, estimados em US$ 5,5 bi.
MINERVA. Conselho aprovou homologação de aumento de capital de R$ 2 bilhões, por meio da emissão de 386,8 milhões de novas ações ON, e atribuição de 193,4 milhões de bônus de subscrição como vantagem adicional.
TENDA recebeu R$ 159,0 milhões em primeira etapa de securitização de certificados de recebíveis imobiliários (CRI), emitidos pela Opea Securitizadora, em sua 448ª emissão, com distribuição realizada pela Galapagos.
TRACK&FIELD informou que seu conselho de administração aprovou a distribuição de juros sobre capital próprio (JCP) no valor bruto total de R$ 9,8 milhões, a R$ 0,064 por ação PN. Ex na próxima 5ªF.
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